4.5.06

MEDEIA AGORA

1. Estive ontem na estreia de Medeia, aqui referida. Toda a tragédia gira em torno da pulsão da morte como resposta à pusilanimidade (Jasão) e à sobranceria (Creonte e sua filha). Traição e vingança ecoam nos monólogos devastados da protagonista a quem Manuela de Freitas empresta o melhor das suas capacidades histriónicas. Permanecem intactos, na sua actualidade ou, para não fugir ao jargão, "modernidade", esses monólogos e a descrição da agonia do rei de Corinto e da sua filha feita por um mensageiro (Fernanda Lapa). Não é próprio da condição humana, dos "mortais", a felicidade, como explica o mensageiro. O Sol final, o deus que arrebata Medeia da sua dor perpétua, levando-a para fora de Corinto, não consente a Jasão (João Grosso) outro destino que não a expiação do assassínio da sua noiva e dos seus filhos às mãos de Medeia. Eis a tragédia em estado puro. Nenhuma contemplação dos deuses para com a "nossa" causa, a chamada "mortal". Era assim com Eurípedes. Continua a ser assim agora.
2. "Esta" Medeia é um trabalho incluído na programação de António Lagarto, substituído entretanto à frente do D. Maria II por Carlos Fragateiro e outro senhor cujo nome me escapa. Desta dupla apenas recordo uma entrevista semi-surrealista, estilo "Dupont et Dupond", dada à Visão há uns tempos. Continua sem se perceber o que é que ao certo paira na cabeça dos novos gerentes do Teatro, da mesma forma que não se entende a pressa da tutela em correr com Lagarto dessas funções. Para já, é ele quem vai garantindo a programação que a dita dupla gere. Depois de Medeia, "Bernardo, Bernarda", de Bernardo Santareno - que tem este ano direito a comemorações várias - também é um produto da direcção artística de A. Lagarto. Está na hora da ministra da Cultura ir ao teatro para evitar mais cenas tristes.

1 comentário:

Anónimo disse...

é pá a Medeia da Lapa foi má demais para ser verdade!