4.1.10

SEM MEDOS



Acabo de ver, no canal noticioso do cabo da estação do regime, um «debate» entre João Semedo, um interessante deputado bloquista, e um engenheiro socialista cujo nome não memorizei. O tema era o casamento entre homossexuais e é interessante que para a estação pública apenas sejam discutíveis as teses destes dois senhores, que é como quem diz as teses dos partidos destes dois senhores. Isto apesar de eu concordar mais com eles que com os da outra banda nesta matéria, como bem se sabe. O ponto interessante foi o do referendo. Pessoalmente, se alguém me viesse pedir uma assinatura, eu recusaria, principalmente porque acho que o Parlamento tem legitimidade para decidir sobre esta matéria. No entanto, a partir do momento em que mais de noventa mil pessoas quiseram pedir o referendo e obrigando a lei a setenta e cinco mil apenas, penso que é inaceitável que o Parlamento recuse a consulta popular. O próprio argumento utilizado é absurdo: os senhores deputados, por um lado, dizem que a população não pode votar directamente sobre esta matéria e, por outro, dizem que têm legitimidade porque a população votou em programas que continham esta questão. Tese e antítese sem sequer um ponto final pelo meio. Além disso, uma votação no Parlamento o que é senão uma votação feita pelos representantes do povo, isto é, da maioria do povo? As maiorias não são legítimas às vezes e não é possível que os defensores da causa se coloquem numa posição arrogante, afirmando a sua convicção como verdade. Só perdem. Nesta matéria não pode haver ataque, mas sim persuasão – como é habitual nas mais importantes questões das democracias. Ao haver ataque puro e simples, ataque medroso e, principalmente, irracional, as partes hostilizam-se e torna-se cada vez mais complexo tratar o que, afinal, é simples. Se a população pediu um referendo, que haja referendo. Sem medos.

14 comentários:

alexandre o médio disse...

belo

Anónimo disse...

O referendo à medida da sondagem é outro dos sinais da podridão total. Quanto aos deputados, são representantes deles mesmos e do seu partido, o que no caso do PS significa que são representantes do senhor Sócrates, que tem neste tema uma grande vitória: tê-lo transformado numa forte e duradoura anestesia que aplicaram no rabo dos portugueses. Até são capazes de arranjar umas táticas bacocas para manter este assunto sobre a vida dos outros (curioso como se preocupam com ou outros e como os outros estão sempre todos do lado de lá) a rolar por mais uns meses à frente do BPN, do BCP, do défice e da dívida externa. Na cabeça do tal PS o Portugal do futuro são uns senhores e umas senhoras aos pares e de mãos dadas a umas criancinhas, que andam de TGV, estudam nas novas oportunidades, telefonam para a TSF, lêem o DN, compram os computadores pagos com o "dinheiro do PS" e não fazem a mínima ideia da gravidade da situação do país e do vazio e escuridão do nosso futuro colectivo.

Anónimo disse...

Venha o referendo! Estou em pulgas para votar "não". É que eu sou do contra. Contra o artificialmente correcto.

PC

Mani Pulite disse...

As esquerdas não querem o referendo por uma razão muito simples.Perdiam-no estrondosamente.Tudo o mais é conversa fiada para disfarçar outro facto também muito simples.As esquerdas sempre desconfiaram do voto popular.Sempre preferiram a acção das "vanguardas",sejam elas "proletárias" ou "homossexuais" consoante as épocas. Contra o Povo se necessário e muitas vezes a tiro.

Nuno Oliveira disse...

Se a lei a isso obriga, então não entendo onde está a dúvida... que seja feito o referendo.

Anónimo disse...

Pois é, mas a maioria que está no Parlamento e é favorável ao casamento homossexual voi votada por 53% dos portugueses e a "maioria" que pede um referendo corresponde a 39% por cento dos portugueses, Portanto...

Martins

Joao Cardiga disse...

Pessoalmente julgo que é uma questão de principio mais que qualquer outra coisa. O que está aqui em causa é a eliminação de um regime que feria um direito constitucional. É uma opinião pessoal, mas é como vejo esta questão.

Nesse sentido sou contra o referendo - direitos não se referendam!

P.S. Gostava de ver a argumentação a favor do referendo quem à bem pouco tempo argumentava que este não era um tema de relevância nacional.

Anónimo disse...

A reportagem ontem sobre o casamento do "presidente" da África do Sul com a sua 4ª consorte começa a fazer sentido entre "nós".
Considerando a população africana existente em Portugal, qual a razão para não se aceitar a "poligamia"?
Aliás não é isso que passa a toda a hora nas telenovelas lusas e (sub-)produtos afins.

A

Rui

Eduardo Freitas disse...

Também me parece evidente o que defende. Parabéns por o ter feito.

Nuno Oliveira disse...

Caro Martins,
Se a maioria que está no parlamento reflecte a vontade do povo, porque que é que tem medo de referendar?
Se não fosse um tema fracturante da sociedade, não estaria a criar tanta polémica!
Pergunto-lhe ainda, quantas pessoas das zonas rurais (muitas que votam no PC) votarão a favor do casamento gay?
O casamento não foi votado.
O que foi votado foi um monte de sabe-se lá o quê, que ninguém ainda conseguiu descrutinar para além de iniciar as obras do TGV e do APT-LX.
Discutido na campanha? HAHA
Mencionado baixinho, talvez. Passando logo para outros temas para não perder votos...

Prof.-Doutor disse...

Sr. Cardiga:
Esse "à bem pouco tempo" diz tudo sobre o seu grau de literacia e correspondente autoridade para falar seja do que for.

Tiago Moreira Ramalho disse...

João B. Sousa,

Ainda no Sábado vim de bem mais longe que isso. Não julgue livros pela capa...

Quanto à importância que os outros dão, é com eles. Eu dou alguma, apesar de tudo.

Cumprimentos

João Cardiga disse...

Caro Prof. Doutor,

gosto de pessoas que recorrem ao insulto como contra-argumentação.

E admiro bastante a sua capacidade de me analisar a partir de um simples erro.

Já agora e quando estiver interessado em discutir realmente este tema estarei disponível.

E obrigado pelo reparo. Uma desatenção de quem escreve rápido e sem fazer correcção do que escreve...

Nuno Castelo-Branco disse...

Sabes, Tiago, eles não pensam nas consequências dos actos e estão sempre a criar precedentes, tal e qual o sr. Sampaio fez com Santana. É que esta "estória" do referendo recusado, será um excelente pretexto para no futuro, outra maioria parlamentar se virar contra aqueles que hoje o são. É aquilo que se chama viver para a notícia imediata. Nunca pensam a médio prazo, quanto mais para décadas...?