Acabo de ver, no canal noticioso do cabo da estação do regime, um «debate» entre João Semedo, um interessante deputado bloquista, e um engenheiro socialista cujo nome não memorizei. O tema era o casamento entre homossexuais e é interessante que para a estação pública apenas sejam discutíveis as teses destes dois senhores, que é como quem diz as teses dos partidos destes dois senhores. Isto apesar de eu concordar mais com eles que com os da outra banda nesta matéria, como bem se sabe. O ponto interessante foi o do referendo. Pessoalmente, se alguém me viesse pedir uma assinatura, eu recusaria, principalmente porque acho que o Parlamento tem legitimidade para decidir sobre esta matéria. No entanto, a partir do momento em que mais de noventa mil pessoas quiseram pedir o referendo e obrigando a lei a setenta e cinco mil apenas, penso que é inaceitável que o Parlamento recuse a consulta popular. O próprio argumento utilizado é absurdo: os senhores deputados, por um lado, dizem que a população não pode votar directamente sobre esta matéria e, por outro, dizem que têm legitimidade porque a população votou em programas que continham esta questão. Tese e antítese sem sequer um ponto final pelo meio. Além disso, uma votação no Parlamento o que é senão uma votação feita pelos representantes do povo, isto é, da maioria do povo? As maiorias não são legítimas às vezes e não é possível que os defensores da causa se coloquem numa posição arrogante, afirmando a sua convicção como verdade. Só perdem. Nesta matéria não pode haver ataque, mas sim persuasão – como é habitual nas mais importantes questões das democracias. Ao haver ataque puro e simples, ataque medroso e, principalmente, irracional, as partes hostilizam-se e torna-se cada vez mais complexo tratar o que, afinal, é simples. Se a população pediu um referendo, que haja referendo. Sem medos.
14 comentários:
belo
O referendo à medida da sondagem é outro dos sinais da podridão total. Quanto aos deputados, são representantes deles mesmos e do seu partido, o que no caso do PS significa que são representantes do senhor Sócrates, que tem neste tema uma grande vitória: tê-lo transformado numa forte e duradoura anestesia que aplicaram no rabo dos portugueses. Até são capazes de arranjar umas táticas bacocas para manter este assunto sobre a vida dos outros (curioso como se preocupam com ou outros e como os outros estão sempre todos do lado de lá) a rolar por mais uns meses à frente do BPN, do BCP, do défice e da dívida externa. Na cabeça do tal PS o Portugal do futuro são uns senhores e umas senhoras aos pares e de mãos dadas a umas criancinhas, que andam de TGV, estudam nas novas oportunidades, telefonam para a TSF, lêem o DN, compram os computadores pagos com o "dinheiro do PS" e não fazem a mínima ideia da gravidade da situação do país e do vazio e escuridão do nosso futuro colectivo.
Venha o referendo! Estou em pulgas para votar "não". É que eu sou do contra. Contra o artificialmente correcto.
PC
As esquerdas não querem o referendo por uma razão muito simples.Perdiam-no estrondosamente.Tudo o mais é conversa fiada para disfarçar outro facto também muito simples.As esquerdas sempre desconfiaram do voto popular.Sempre preferiram a acção das "vanguardas",sejam elas "proletárias" ou "homossexuais" consoante as épocas. Contra o Povo se necessário e muitas vezes a tiro.
Se a lei a isso obriga, então não entendo onde está a dúvida... que seja feito o referendo.
Pois é, mas a maioria que está no Parlamento e é favorável ao casamento homossexual voi votada por 53% dos portugueses e a "maioria" que pede um referendo corresponde a 39% por cento dos portugueses, Portanto...
Martins
Pessoalmente julgo que é uma questão de principio mais que qualquer outra coisa. O que está aqui em causa é a eliminação de um regime que feria um direito constitucional. É uma opinião pessoal, mas é como vejo esta questão.
Nesse sentido sou contra o referendo - direitos não se referendam!
P.S. Gostava de ver a argumentação a favor do referendo quem à bem pouco tempo argumentava que este não era um tema de relevância nacional.
A reportagem ontem sobre o casamento do "presidente" da África do Sul com a sua 4ª consorte começa a fazer sentido entre "nós".
Considerando a população africana existente em Portugal, qual a razão para não se aceitar a "poligamia"?
Aliás não é isso que passa a toda a hora nas telenovelas lusas e (sub-)produtos afins.
A
Rui
Também me parece evidente o que defende. Parabéns por o ter feito.
Caro Martins,
Se a maioria que está no parlamento reflecte a vontade do povo, porque que é que tem medo de referendar?
Se não fosse um tema fracturante da sociedade, não estaria a criar tanta polémica!
Pergunto-lhe ainda, quantas pessoas das zonas rurais (muitas que votam no PC) votarão a favor do casamento gay?
O casamento não foi votado.
O que foi votado foi um monte de sabe-se lá o quê, que ninguém ainda conseguiu descrutinar para além de iniciar as obras do TGV e do APT-LX.
Discutido na campanha? HAHA
Mencionado baixinho, talvez. Passando logo para outros temas para não perder votos...
Sr. Cardiga:
Esse "à bem pouco tempo" diz tudo sobre o seu grau de literacia e correspondente autoridade para falar seja do que for.
João B. Sousa,
Ainda no Sábado vim de bem mais longe que isso. Não julgue livros pela capa...
Quanto à importância que os outros dão, é com eles. Eu dou alguma, apesar de tudo.
Cumprimentos
Caro Prof. Doutor,
gosto de pessoas que recorrem ao insulto como contra-argumentação.
E admiro bastante a sua capacidade de me analisar a partir de um simples erro.
Já agora e quando estiver interessado em discutir realmente este tema estarei disponível.
E obrigado pelo reparo. Uma desatenção de quem escreve rápido e sem fazer correcção do que escreve...
Sabes, Tiago, eles não pensam nas consequências dos actos e estão sempre a criar precedentes, tal e qual o sr. Sampaio fez com Santana. É que esta "estória" do referendo recusado, será um excelente pretexto para no futuro, outra maioria parlamentar se virar contra aqueles que hoje o são. É aquilo que se chama viver para a notícia imediata. Nunca pensam a médio prazo, quanto mais para décadas...?
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