2.10.09

ERA SUPOSTO?

Quando se candidatou, Cavaco disse que, perante a mesma informação, era perfeitamente natural que duas pessoas diferentes pudessem convergir. A informação era - é - o país, a sua situação, à luz do que está a acontecer, o seu empobrecimento diário. Cavaco pensava em Sócrates que não conhecia. Teve três anos e tal para conhecer. Isto porque do lado do PS, devidamente infernizado pelo ressentimento "soarista", nunca se acreditou verdadeiramente em Cavaco. A confiança, segundo a melhor filosofia (e a vida), pressupõe convergência de expectativas. A retórica política chama-lhe cooperação institucional ou, na versão mais sofisticada, estratégica. Quer dizer tudo e nada. Se olharmos para a "história" de Cavaco e de Sócrates, para as respectivas biografias, vemos que não está lá nada que autorize qualquer convergência de expectativas, qualquer confiança. Vasco Pulido Valente, depois de dedicar o grosso da crónica de hoje a verberar Cavaco, conclui, melancolicamente, que «os portugueses ficaram a saber que ele não confia no primeiro-ministro. E, agora, de certeza, o primeiro-ministro nele.» E era suposto?

Adenda: Em compensação, esta senhora jornalista (a provedora da deontologia da classe), enquanto tal, não tem dúvidas sobre com quem é que se deve "convergir". É a mesma trupe que "convergiu" no referendo ao aborto, que "converge" com Costa em Lisboa, que "convergirá" até onde for preciso para impor o seu extraordinário pensamento (?). Único, evidentemente.

3 comentários:

Paulo Carvalho disse...

A importância de se chamar f.

http://povileu.blogspot.com/2009/10/importancia-de-um-f.html

Anónimo disse...

A srª provedora da deontologia, nas horas vagas, e chefe da claque em full time, escolheu um título exemplar: «os limites da decência».

E também identifica em termos cabais as pautas de decência porque se rege, por exemplo no seguinte trecho:

«Mas duas semanas passadas sobre a revelação do mail que sem apelo nem agravo mostra como o seu assessor tentou plantar num jornal, "a partir da Madeira", uma suspeita de "vigilâncias", não sabemos, nós, o povo que o Presidente representa e em nome do qual admite e demite, se Lima foi realmente demitido ou se ainda está a trabalhar para nós e a fazer o quê.»

Obviamente que o mail em que alguém diz o que outro lhe disse mostra «sem apelo nem agravo» o que a srª provedora conclui. Sendo irrelevante que isso nada diz sobre a veracidade das suspeitas, bem como o facto de o mail (protegido pelo segredo das comunicações) ter sido acedido e divulgado contra a vontade do seu autor.

Já num caso em que uma pessoa grava uma conversa com um agente de uma empresa que conseguiu através das suas diligências a aprovação em tempo recorde, e ultrapassando anteriores indeferimentos de um projecto imobiliário, por parte de um governo já depois de eleições perdidas pelo dito cujo, e este informa que o sucesso foi logrado através do encaminhamento de importâncias monetárias para o generoso governante que viabilizou o projecto DEVE CONCLUIR-SE QUE:
- Se trata de uma campanha negra contra o governante;
- É inocente da campanha o sr. agente da empresa que presta as informações, apesar de no mesmo passo estar a confessar um crime. Daí que o animal feroz ferido se deva atirar contra outros, os que divulgam a conversa;
- Também não interesa que a conversa tenha sido gravada por outro interlocutor inglês que a disponibilizou à polícia inglesa;
- O alvo são os vergonhosos jornalistas que divulgaram o video da conversa sobre um assunto que nada interessa.
- E se a justiça portuguesa atender à mesma é porque são uns bandidos (se arquivar o caso são os portadores da verdade).
- Sua Excelência não tem de dar explicações, apenas deve gritar campanha negra, campanha negra, e até tem direito a uns desvios homofóbicos acusando aqueles de quem não gosta de travestis...

Pedro Pais

Anónimo disse...

Estou convencido que Cavaco sabia o que dizia, mas não disse (tudo) o que sabe. Suponho que para não revelar fontes. Os sistemas públicos são pouco fiáveis e, face ao exposto, não me admiro que estivesse a ser espreitado. Já houve queixas de juízes, no mesmo sentido, e não se viu tal burburinho que, para a teoria militar, se chama a "exploração do sucesso" e que o povo tão bem ilustra com o "malhar o ferro enquanto está quente".
Esta senhora, como diria La Palice, é o que é. Quando isto normalizar sumirá.