Já percebi que está a ser formado na net uma espécie de rancho folclórico - de anónimos, claro - de apoio a Gabriela Canavilhas, a nova ministra da cultura. Não os quero desiludir. Um amigo enviou-me umas "reflexões sobre conceitos culturais" que a senhora divulgou nos Açores. Confesso que não consegui ler tudo. A prosa, aceitável para o actual ensino secundário, não "reflecte" sobre a cultura. Denota apenas o que vai na cabeça da autora acerca do tema. Nada que a recomende para um cargo que, antes de mais, é político. Aliás, o último que percebeu isto foi Carrilho. E o que é que vai na cabeça de Canavilhas acerca do termo "cultura" (as "reflexões" mais preciosas seguem a negro)? Por exemplo, «no sentido intrínseco, cultura são as manifestações civilizacionais que constroem o acervo estrutural do pensamento, que se reflectem na consolidação de uma sociedade esclarecida e que são a alavanca para o desenvolvimento da sensibilidade, do saber e do conhecimento, condições estas indispensáveis para o avanço das mentalidades e, por consequência, para o avanço para uma sociedade melhor sendo a cultura a preservação e a criação de valores.» Aliás, «a conotação cultura/saber remonta a desde que o homem assumiu a sua dimensão intelectual e reconheceu no conhecimento a alavanca do desenvolvimento civilizacional» porque, «quanto à associação cultura/sociedade, esta é produto das modernas antropologia e sociologia, nascidas em finais do século XIX e que sedimentam a abrangência da concepção de cultura ao espectro sociológico.» Extraordinárias alavancas. Para Canavilhas, «em qualquer delas porém, é inequívoca a sua transversalidade, a sua correlação inter-relacional e o sentido universal do conceito - aquele que define o homem na sua forma de estar no mundo e em tudo o que transporta com ele, de geração em geração.» A nossa ministra também possui, por assim dizer, uma "visão historicista" da coisa. Senão vejamos. «A natureza do objecto de arte e de culto é a sua permanência e durabilidade – a sua imortalidade advém da sua revisitação permanente ao longo dos tempos e do reconhecimento que lhes é dado da sua função de alicerces para novas criações. Afinal, em última análise, são os próprios destinatários que se encarregam de o determinar. nos tempos de hoje, a “alta cultura” (assim chamada por ter tido origem nas classes então dominantes – o clero, a nobreza, a aristocracia, os intelectuais), por oposição à denominada “baixa cultura”, oriunda do povo com transmissão oral, são ambas património cultural intrínseco reconhecível e indissociável, e sabemos bem quanto ambas devem uma à outra, porque se alimentaram reciprocamente através dos séculos.» É aqui que, segundo a ministra, entram as "interrogações". Ora reparem. «Quando tudo está incluído na mesma categoria como cultura – dos clássicos intemporais (eruditos ou tradicionais) ao rock e pop-rock mediáticos e ao cançonetismo popular, passando pelas orquestras ligeiras e cantores em play-back, do folclore para turistas às recriações históricas de rua, das expressões genuínas das nossas tradições aos desfiles etnográfico-turístico-religiosos de entretenimento colectivo, dos festivais de verão dedicados à juventude e das práticas recreativas amadoras às iniciativas profissionais institucionais - sempre com a comunicação social generalista a incluir tudo no mesmo pacote nos seus espaços culturais - , como fazer distinguir junto dos cidadãos o que é relevante para a percepção de uma estratégia de desenvolvimento cultural? E mais importante ainda, como fazer passar a mensagem aos destinatários de que nem tudo são “bens meritórios”, logo, subvencionáveis pelo erário público? E o derradeiro desafio: neste quadro, como explicar aos agentes culturais no sentido lato estas diferenças?» E como explicar à ministra da cultura o que é a cultura?
27 comentários:
De nos atirarmos para o chão à gargalhada.Uma tolinha vazia enchida à força com palavras sonantes sem nexo entre si.Em qualquer Universidade respeitável,coisa que não existe por cá,esta aluna nunca teria passado do primeiro ano por manifesta falta de cultura.Nem o Bac francês faria.Quanto ao piano, é pianista mas toca?Ganhou algum dos grandes concursos internacionais de piano?Entretanto, a grande pianista internacional Maria João Pires renunciou à nacionalidade portuguesa para protestar contra todos os maus tratos que sofreu às mãos do Sócretinismo...
É por estas e outras que, ainda hoje, andamos à batatada com o local de nascimento de D. Afonso Henriques?, de Nun'Álvares Pereira?, existência ou não da escola de Sagres?, o autor dos Painéis de S. Vicente ou do Infante Santo?, etc..............
É por estas e outras que, apodrecem dezenas de km de documentos na Torre do Tombo, tá certo, quem sai de uma licenciatura a ler paleografia? A nossa História é uma manta de retalhos, quem quer saber? Subsídios de investigação não existem, até a Gulbenkian acabou com eles, só perduram nas biomédicas e em História ou História de Arte só para os amigos íntimos, sempre os mesmos. Pessoalmente, já fui injectada com cortisona depois de horas na Torre do Tombo e, quanto a publicação de investigação, estamos conversados. Política cultural estruturada, nunca ninguém o fez. Fui.
rebolei-me a rir com o ridículo dos chavões
o socialismo, qualquer que ele seja, é sempre totalitário.
não existe espaço para o individual. sinto-me oprimido.
as últimas eleições mostraram que milhões de orfãos esfomeados estão disponíveis para repar os ossos da débil economia do rectângulo.
Lembra-me vagamente a linguagem dos pedagogos e "didácticos". Cheia de construções impenetráveis, significados obscuros, relações improváveis, factos indemonstráveis uns corriqueiros outros, enfim .... um vocabulário de nicho de mercado elaborado de forma cuidada para intimidar "newcomers". Lemos, lemos, tornamos a ler e não resta nada.
Fazer menos que o ministro anterior é quase impossível, portanto ...
V. é uma besta ignara,
Só uma besta ignara era capaz de confundir a tradição popular, a riqueza do folclore com trampas de festivais rock.
E só uma besta era capaz de contrapor a esta enorme verdade que se chama património cultural, espectáculos de orquestras sinfónicas.
Mas é que é isso mesmo que diz, o que falta à cultura é voz política.
Já quanto à senhora, mais do que certos ou errados, os conceitos são, isso sim, de uma enorme vulgaridade.
Se ela considerou partilháveis estas redondices é porque acha que descobriu alguma pólvora, pelo que já dá para entender o que podemos esperar deste consulado...
Espero que toque piano melhor do que pensa, a ver pela amostra.
A finalidade desta espécie de raciocínio está claramente formulada nas últimas linhas: "Como fazer passar a mensagem aos destinatários de que nem tudo são "bens meritórios, logo, subvencionáveis pelo erário público"? Aqui está o cerne da questão. Vale para os Açores e vale para aqui. Vão-se preparando, pois, para uma repetição da legislatura anterior em matéria de cultura. Ou pior ainda.
Ó filhos, vão é bardamerda!
Não há pachorra!
Cambadazinha...
Caro João Gonçalves,
Uma pergunta que fica é como em plena sociedade do espectáculo, alavancada em tecnologia, a cultura vira secretaria de estado e a secretaria de estado (da ciência) vira ministro?
Carrilho perdeu para Gago ou terá o "engenheiro" ficado fiel à sua cultura que é no fundo incompatível com qualquer noção de cultura?
Cumprimentos,
Paulo
O título do post sumaria bem a tese. Que saudades do Bigotte Chorão, que definia assim a essência: aquilo em virtude do que uma coisa é o que é.
Cumprimentos,
Carla Jané
Ok, 'tá compreendido! 'tamos no campeonato perfeito.
O árbitro é Deus e em campo apenas dois adversários, de um lado os que sabem o que é "cultura", do outro os que não percebem patavina. É pá, malta, "ganda noia"! Ganhei o dia!
Essa "Zazie" - que me foi "recomendada" como uma especialista em "clássicos" - parece que não percebeu que o texto é da senhora ministra da cultura e que as comparações e distinções são dela. Nem lhe devia responder porque "zazie" equeivale a bosta, a nada,a um não nome e eu não sei dialogar com não coisas.
Este texto é todo um tratado. Bravo. "das expressões genuínas das nossas tradições aos desfiles etnográfico-turístico-religiosos de entretenimento colectivo" delicioso. Seja o preço do berbigão ou a cultura, o estilo é sempre o mesmo. O professor Boaventura ficaria orgulhoso.
Qual é a fonte deste texto?
Não basta citar; interessa, muito, saber onde outros o possam ler.
Sempre detestei e continuo a detestar aqueles bípedes que falam ou escrevem não para sabermos o que nos pretendem dizer, mas sim para mostrar, por indesmentível presunção e vaidade, que são imbecis com alguma erudição.
Sempre detestei e ainda detesto os que falam ou escrevem não para se poderem fazer entender por quem os ouve ou lê, mas apenas para tentar mostrar, de uma forma estúpida e imbecil, uma erudição que não existe.
Lendo alguns dos comentários, produzidos por ilustres palestrantes e aqui publicados neste blogue de culto, fico com a impressão que a pasta da Cultura deve ser entregue a uma "sumidade" qualquer, titular de esotéricas cátedras e com uma vasta obra não publicada.
Meus amigos, diariamente o país assiste impávido e sereno, ao desfile impune dessas "sumidades" de diversos oficios e artes,pelas televisões, rádios, jornais e revistas.
Todos eles fazem diagnósticos apuradíssimos e preconizam projectos fantabulásticos.
Desde ganhar o campenato do mundo do pontapé na bola até à "finlandização" da atrasada e reaccionária sociedade portuguesa.
No entanto, todas essas "sumidades" e "especialistas em generalidades" na sua acção profissional ou no exercicio do seu "magistério" docente e/ou professoral, já revelaram na sua maior parte serem uns zeros à esquerda ou uns tristes "verbos de encher".
É muito comum assistir impunemente à peroração dessas "cabeças finas" que já passaram por diversos ministérios, institutos e organismos das mais variadas especialidades, fazendo diagnósticos muito "isentos" e "assertivos", olvidando intencionalmente que quando lá estiveram, nada fizeram, e pior, revelaram-se uns medíocres compulsivos.
Tudo isto a propósito da nomeação para a pasta da Cultura da nova Ministra, Drª Gabriela Canavilhas, que já demonstrou ser uma mulher de acção.
O que interessa é acção e ter uma visão multidisciplinar da Cultura.
Não a cultura das alfarrabistas ou dos conservadores de depósitos de peças e móveis cheios de pó e traça.
Nos Açores - uma região insular com um microcosmos cultural bastante interessante e exigente - ela deu continuidade e aprofundou essa relação biunívoca Cultura erudita/cultura popular ou elites culturais/sociedade em geral.
Também nos Açores há as tais "capelinhas" dos alfarrabistas e dos "tudólogos" da cultura, só que o tempo deles já passou à história.
Sempre critiquei tenazmente a acção politica do Sr.Sócrates como PM e cada vez tenho mais razões para exercer essa crítica.
Todavia, tenho o discernimento suficiente para dissociar a CULTURA (propositadamente com letra grande) da baixa politica partidária ou dos faits-diversos que todos os dias enfeitam os nossos OCS.
Nestas circunstâncias, aguardo a acção concreta da nova Ministra e espero que os "ministérios" mais politicos lhe facultem os meios necessários (financeiros e operacionais) para que a Cultura em Portugal não seja um departamento menor, uma nota de rodapé ou que seja um abrigo para intelectuais de café ou da treta.
Cultura é também acção.
Como açoriano desejo as melhores felicidades para a nova Ministra e espero que ela faça a diferença e não se deixe influenciar pela turma do "Nuno Cabral" e do "folclore transmontano"...
(Sendo o Dr. João Gonçalves um indivíduo com elevada craveira intelectual e que pauta a sua acção por exigentes princípios éticos e morais, espero sinceramente que ele, num futuro próximo, venha a ter boas razões, para reavaliar as suas primeiras "impressões").
Eu não disse que o problema é este.
Pois é. O Garganta Funda é o Doutor Pardal que também andou no Portadaloja a fazer propaganda da ministra/património cultural.
E ele tem tudo a ver com a minha crítica ao post.
O descabelamento complexado de se achar que folclore é coisa "para inglês ver" ou- como ele diz- peças cheias de pó e influências de folclore transmontano".
Pois é. Porque já o Sócrates disse naquele encontro de instrução aos pequeninos da blogosfera que cultura é cidade!
Cultura de cidade é o espectáculo- são os artistas e as ministras transformados em património desempoeirado- património "para inglês ver" e competir no "estrangeiro".
Como eles se incomodam com "alfarrabistas" (devia acrescentar com arquivos históricos) e com essa coisa antiga que não serve para tacho nem passeata a que chamam "peças e móveis cheios de pó e traça".
E viva a modernidade sem raízes, sem precisar de cuidar de passados ou memórias, porque a boa da cultura laica é isto- é festa onde eles são os grandes artistas em que vale a pena "investir".
Este "Zazie", ou é um zombie (figura muito típica, não do "folclore transmontano", mas sim do folclore afro-caribenho e muito ligado à "cultura" do voudu), ou deve estar com uma "pedrada" do caraças, não do pó dos livros, mas sim do pó oriundo de paragens exóticas dos «cocaleros».
Quanto ao Doutor Pardal, o único que conheci, salvo erro, chegou a ser Provedor do Contribuinte.
Zazie, vai abrir a porta da loja, pois a tua clientela noctívaga e draculiana deve estar a chegar...
Pois, não te agradou. Estás a contar ir na comitiva das obras de arte para trazeres muitos recuerdos.
Deixa lá que não és o único. Já temos artista Cayatte a ser pago a ouro por copiar um site à borla da Drupal para a República.
O único azar que tenho com agitadores como v.s é que é à vossa conta que temos o nosso património a apodrecer por não votar nem ter hipóteses de ser eleito.
E olha, palonço, em vez de andares para aí a trabalhar a berlinde e a dizer bacoradas, informa-te de quem foi Raymond Queneau.
O/A "Zazie" revela um desconhecimento atroz do que nós estamos a debater, e atribui ao signatário "modernices", às quais sou e estou completamente alheio.
Se V.Exª. visitar os Açores certamente constatará que aqui, duma forma geral, o Património natural e construido; as Bibliotecas; as diversas agremiações culturais e etnográficas, são protegidas e apoiadas.
Os Açores (uma região arquipelágica com +/-250.000 habitantes) tem cerca de 100 filármónicas com escolas de música associadas; dezenas de grupos corais (alguns com palmarés internacional, como o coral de S.José onde a actual Ministra da Cultura iniciou a sua actividade musical); orquestras de câmara e sinfónicas com participação dos três conservatórios; dezenas de grupos folclóricos e etnográficos; dezenas de grupos teatrais,etc, para além de se realizar inúmeras manifestações culturais e artísticas, desde exposições, colóquios, concertos de musica erudita e doutros géneros mais ligeiros ou universais, como o jazz.
É esta realidade que cá existe, aliás muito diferente daquela que predomina em Lisboa, onde a "coltura" se divide entre o S.Carlos e o ex-Parque Mayer, passando por algumas pimbalhadas patrocinadas pelo alcaide Costa.
Lembro-lhe que Angra é Cidade Património Mundial e é na Ilha Terceira que acontece a maior manifestação de teatro popular de todo o Mundo, pela época carnavalesca, com os famosos "bailinhos" e "danças de pandeiro".
Um outro dado curioso: a Ilha Graciosa, a ilha mais pequena a seguir ao Corvo, e com uma população de cerca de 5.000 almas, tinha inventariados, no princípio do século passado, cerca de 100 pianos de cauda.
Aconselho o/a comentador Zazie a sair dessas catacumbas de livros amarelecidos e pedras mortas, e viajar até aos Açores, e certamente verá e respirará cultura em acção e movimento.
Já agora, também quero testar a sua "coltura geral": informa-te quem foi o "João dos Ovos"....
Ciao,
Eu não disse que era o Pardal.
Desde ontem que lhe explico o meu nick e tolo ainda não entendeu o género.
Já te respondi noutro local. Vai dar banho ao cão porque tu nem mereces ser açoriano, se é que o és.
Tenho dúvidas- tudo o que dizes é paleio de via rápida à Jardim.
E desconheces por completo em que consistem os fesceninos; não mereces as tradições da Terceira nem a grande mais valia do povo açoriano- não querer ser moderno e ter raiva a quem o quer.
E não digas disparates. Lê aqui o que te disse a ti ou ao pardaloco que copiou a mesma propaganda à ministra.
Mais uma coisa Zazie:
Desintelectualiza lá essa merda do "fescenino".
Aqui nos Açores, e mais especificamente na Ilha Terceira (que não é a minha ilha), chamamos a isso "velhas", ou seja uma modalidade de cantigas ao desafio e que é herdeira directa das
cantigas medievais de escárnio e mal-dizer, nas quais a brejeirice e alguma obscenidade são pratos fortes.
Zazie, não te metas com o Garganta...
Tem o link do texto do Cocanha, tem as cantigas do Daniel Sá que eu linkei no post que também está no Portadaloja e nesse link aí atrás e tem o Google.
Claro que o riso das Velhas vem dos versos fesceninos.
E aqui o dono dos pequeninos, que tem a mania de insultar toda a gente que usa nick, é que estropiou tudo e me confundiu com uma digest de pipis que se julga bomba e muito inteligente.
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