5.10.08

VIVA A REPÚBLICA


Digo o mesmo todos os anos. Vale a pena comemorar a República? Não vale. Contrariamente ao que a doutrina oficial propala, o que se sucedeu ao 5 de Outubro de 1910 foi a história de uma tirania pura, centrada e liderada pelo velho Partido Republicano Português que, em pouco tempo, conseguiu a proeza de "virar" o "país profundo" e algumas das suas hostes "moderadas" contra si. Pomposas e medíocres, arrivistas e oportunistas, melancólicas e dramáticas furiosas, as notabilidades do PRP e, depois, do Partido Democrático, arrasaram às suas próprias mãos a tão prometida República e o "povo" que ela majestaticamente iria servir. A probidade, a isenção e o alheamento dos "interesses" deviam ser os pilares do poder político "democrático" que é aquilo que chamam ao que temos ou que, em momentos de maior beatitude, nomeiam de "ética republicana". Ainda há pouco, para uma Praça do Município vazia, Cavaco apelava ao apego aos "valores republicanos" e instigava o país à "confiança" e à "resistência" às dificuldades, recordando os "fracos índices de crescimento económico" e que o que "é vivido pelos cidadãos não pode ser iludido pelos agentes políticos." Disse mais: "quando a realidade se impõe como uma evidência, não há forma de a contornar." Aí enganou-se. Mal virou costas, já Sócrates estava a "explicar" as suas extraordinárias "políticas sociais" (aqueles cêntimos a mais no abono de família, por exemplo) e a garantir o nosso privativo oásis. Sócrates é hoje o herdeiro mais evidente do irrealismo da I República. Como ela, explora uma fantasia sem alternativa aparente (esqueçam a dra. Manuela), dourada por uma eficiente máquina de propaganda que as "novas " tecnologias, de mãos dadas com as "velhas" (como o caciquismo e a intolerância acrítica), ajudam a manter. A avaliar pelos "estudos de opinião" e pelos "comentadores", a malta aprecia ser mantida assim, indiferente e mansa ao que se passa. Ou seja, merecemos o PRP do dr. Afonso Costa, o Estado Novo do Doutor Salazar e isto. Viva a República.

11 comentários:

dorean paxorales disse...

Bem dito.

Anónimo disse...

É uma data para esquecer. Não andámos muito longe das Checas espanholas e pelo que ouvi dos muito velhos, dos velhos que ouviram dos mais velhos que eles, nunca o país passou por tanta falta de decoro, arruaça e banditismo.

Anónimo disse...

Sorridente e bem disposto, Cavaco elogiou o Portugal Fashion e, sobretudo, as 'vinte caras bonitas' que desfilaram e ... e ele ali tão perto !

Percebe-se, agora, o mau humor e a má disposição que o Presidente 'ostenta' quando, durante e depois, recebe "certos caras" ... e muitos são nossos conhecidos !

Quanto à resenha histórica, de 'algum passado' e 'algum presente', concordo, em absoluto, com o autor.

Estamos a viver num feudalismo, digamos que ... mais 'civilizado' mas, de igual modo, tenebroso.

cristina ribeiro disse...

Repensar Portugal, voltarmos ao espírito que animou aqueles que seguiam a bandeira com uma cruz azul.

Ritinha disse...

Muito bem.

O Puma disse...

Entretante meu caro

Sócrates

ri-se

Anónimo disse...

Já só falta que o Cavaco comece a chorar como o Sampaio.
Entretanto o hipócrita do Sócrates "aplaude", a gozar com o pagode.
Não há dúvida de que estamos bem f... com esta gente.

Anónimo disse...

Para não falar no facto de que, urbanistica e paisagisticamente, nos últimos 90 anos Portugal passou de um país bonito e bem desenhado para uma cacofonia ordinária de barracas pindéricas - embora esse problema se tenha agravado terrivelmente depois dos anos 60. As "autonomias", o desrespeito a factores identitários de períodos anteriores (como mudar a cor da bandeira - e a que inclusivamente os republicanos mais inteligentes se opuseram de forma bastante vigorosa - ou mudar o nome a ruas e pontes cada vez que há um novo regime) apenas culmina na indiferença do povo sobre a sua própria história e, pior ainda, na indiferença sobre o seu destino. A próxima machadada (se calhar definitiva) vai ser o Acordo Ortográfico - o qual, não sendo pior que o de 1911, apenas recupera o espírito autoritário e estéril dos secretários. A nossa República tem sido isso - um afã de secretaria.

Anónimo disse...

Há dias, ouvi uma interessante preleção no CNC sobre a economia e as finanças no tempo de Marcelo Caetano, entre 1969 e 1973, relembrada por diversos protagonistas da época que elaboraram o 3º e o 4º plano de fomento e do crescimento económico à volta de dois dígitos que Portugal atingiu na altura, só comparáveis à Grécia e ao Japão.
Meter no mesmo saco os anos da República desde a sua implantação até aos nossos dias como algo que deveria ter sido evitado revela ligeireza e alguma leviandade. De facto a 1ª República poderia ter sido criada com ideais generosos embora os seus protagonistas pouco tivessem a ver com o País real. De facto, aquilo correu mal e por isso
lá apareceu o inevitável "salvador" da Pátria para meter as coisas na ordem à custa da limitação das liberdades e ilegalização dos partidos políticos.
Penso que, apesar de alguns desvios graves, a 3ª República tem sobrevivido mais ou menos bem com a integração na UE, apesar de alguns dos seus actuais dirigentes deixarem muito a desejar. Mas são as elites que temos. Os outros, os melhores, não querem saber do serviço público para nada mas o usufruir chorudos ordenados e mordomias. Daí as fragilidades do actual regime.

Anónimo disse...

Não quero deixar de manifestar a minha concordância com o anónimo das 12.22, até porque retoma e confirma o que coloquei num comentário de há dias sobre a suposta "repugnante 1ª República". Só não estou de acordo que este regime esteja frágil. Ao contrário da Monarquia e da própria 1ª República,onde estão as alternativas? A Esquerda está perfeitamente integrada,e toda a gente sabe que consiste apenas numa área de protesto,pois as suas hipotéticas soluções falharam estrepitosa e felizmente,restando-nos para higiénica lembrança a Coreia do Norte e Cuba. A Direita ou está dentro do regime, ou se exprime em forma extrema nos cavernícolas skins e Pintos Coelhos,que raramente arrebatam mais de vinte pessoas(?) para as suas mais entusiásticas manifestações,como a extraordinária comemoração da morte do Rudolf Hess,acontecimento apropriado para fazer vibrar as massas nacionais.Assim sendo, e por muito que custe ao autor deste blogue,o regime está sólido. Cheio de medíocres,certo,mas "podia ser de outra maneira"?

Anónimo disse...

enfim!...podem felizmente pavonearem e sonharem com perucas para tapar os insectos. VIVA A REPÚBLICA!