«O antigo líder do CDS Freitas do Amaral considerou ontem um "grande elogio" ser acusado por "adversários da democracia", como Marcelo Caetano, de ter contribuído para a sua consolidação, em vez de alinhar nos "golpismos de direita". A sua reacção surge na sequência da divulgação de um lote de cartas que Marcelo Caetano escreveu quando estava exilado no Brasil depois do 25 de Abril, e que serão leiloadas na próxima semana. Várias missivas endereçadas a um destinatário chamado António falam de Diogo Freitas do Amaral, então líder do CDS, a quem se refere como seu "antigo discípulo" e que se sentia decepcionado com ele. Marcelo classifica Freitas como "devoto de Salazar", segundo revelou ontem o Diário de Notícias. "Pelo relato que me foi feito, as figuras políticas mais atacadas nessas cartas são as do dr. Mário Soares e a minha própria, ao mesmo tempo que os nomes mais elogiados como sendo capazes de fazer regressar, por via militar, Portugal ao regime da Constituição de 1933 são os generais António de Spínola, Galvão de Mello e Kaúlza de Arriaga", referiu Freitas do Amaral à Lusa. Por isso, continuou, é "natural" que Marcelo Caetano se tenha sentido "desiludido" consigo. "Não lhe levo a mal porque estava profundamente deprimido no seu exílio no Brasil. De resto, sinto-me em muito boa companhia junto do dr. Mário Soares e considero um grande elogio ser acusado por adversários da democracia de ter contribuído para a consolidar em Portugal", acrescentou ainda Freitas do Amaral.» Reproduzo na íntegra a notícia do Público. Porque ela retrata perfeitamente a "dimensão" do ex-colaborador científico de Marcello Caetano, esse sim, um intelectual puro mas desprovido de talento e de oportunismo políticos. Um tipo que recusa a sua biografia tal como ele mesmo a escreveu sempre como quis - desde jovem procurador à Câmara Corporativa a ministro de Estado de um governo socialista - é um degradado da espécie humana. Uma das coisas que devemos a Mário Soares (duplamente, em 1986 e em 2005) é ter impedido este duvidoso vertebrado de ter sido presidente disto.
17 comentários:
"Este duvidoso vertebrado"
"desde (...) a ministro de Estado de um governo socialista"
Cargo que abandonou, por sinal, por padecer de problemas na coluna vertebral, segundo o próprio.
Por sinal, esse tal ex-procurador à Câmara Corporativa sente-se bem não só na companhia de Mário Soares como na de Odete Santos e Francisco Louçã.
Sobre a coluna vertebral do ex-presidente da AG da ONU nada a acrescentar, já sobre a dívida a MS,em 1985 sem dúvida (lembro-me de na altura ter dito mais ou menos o mesmo), já em 2005 não diria tanto e lá para 2010 não sei se não vai fazer parte da comissão de honra... ou em 2010...
Há “invertebrados” que padecem da coluna.
O João do Portugal dos Pequeninos ao tomar conhecimento, ontem, pelo Público, de um lote de cartas que Marcelo Caetano escreveu quando estava exilado no Brasil [algumas dirigidas a um António, que serão leiloadas na próxima semana e nas quais se refere a Freitas do Amaral como a sua “grande decepção”] e que Freitas comentou, considerando «um grande elogio ser acusado por adversários da democracia» escreve “das boas” mas ainda assim – abençoados corações! – titula o escrito de “Duvidoso Vertebrado”.
Não sei onde está o real motivo para o fel nem descortino razões para as dúvidas caracterológicas. Nem todos nos podemos recordar de tudo o que interessa quando nos interessa pelo propósito. Mas eu lembrei-me! e fui buscá-lo – o livro - ali à estante. “Cartas particulares a Marcello Caetano”, prefaciado e organizado por José Freire Antunes, Publicações D. Quixote, de 1985.
Pág. 218 - Quem leu (a carta) não pode hoje estranhar nada.
Dela transcreverei pois o que entendo ser bastante para nos dizer, face ao que conhecemos hoje, do “homem”, do “democrata convicto” e do “papel” que se propôs desempenhar à época em proveito do “embrulho” para o regime.
Lisboa, 13 de Junho de 1970
Senhor Presidente
e meu Exmo. Amigo
(...) o que me levou, embora com muita pena, a não poder assumir as funções de colaboração no pelouro doutrinário da ANP (...) convite tão amável e honroso.
(...) agradeço, muito penhorado a V. Exa. ter-se lembrado (...) para um cargo de tamanha responsabilidade, cuja importância e necessidade todos reconhecemos (...)
Em segundo lugar, determinou-nos a convicção de que, na actual conjuntura universitária, a acumulação de um cargo marcadamente político forneceria decerto o pretexto desejado pelos estudantes extremistas para introduzir agitação nas nossas aulas (...) poderia ficar comprometido o respeito pela nossa probidade científica (...)
Pelo muito respeito e grande admiração que lhe devotamos, os quais só aumentam a mágoa que nos invade (...)
Os mais ardentes votos de felicidades na prossecução da grande obra que vem desenvolvendo a bem de Portugal (...)
Amigo muito grato e dedicado
DFAmaral
Acha necessário dizer mais o que quer que seja do carácter deste “convicto democrata” que escreve ao “hediondo fascista”?
Foi de gente, com gente desta estirpe que se construiu a Democracia. É por cauda de gente desta estirpe que estamos como estamos e por saber com quem ando metido que só não os trato abaixo de cão porque não posso. Nem Homens conseguiram/conseguem ser! pelo menos isso.
Cumprimentos
David Oliveira
Acho que o Freitas do Amaral tem um grande complexo de ser associado politicamente a Marcello Caetano, porém acho que é uma pena.
Caetano foi não só um dos maiores intelectuais do séc. XX português como um grande político.
Penso que apenas teve azar na altura em que chegou ao poder, a conjuntura era má e a estrutura já estava podre.
Não nos podemos esquecer que foi durante o consulado de Caetano que se fizeram grandes progressos económicos e sociais: Porto de Sines, ADSE, segurança social para os agricultores, primeiras auto-estradas; exploração do petroleo em angola etc. Não o deixaram fazer mais.
Por mim, prefiro viver numa ditadura liderada homens sérios e inteligentes, do que viver numa democracia onde quem dirige são pessoas que apenas protegem os seus interesses (exemplo máximo: Durão Borroso)e os dos seus amigos.
Na altura chegava-se ao poder por mérito, agora por compadrio.
Tenho aquela edição das Cartas ( organizada pelo Freire Antunes) onde se pode ler a relação entre ambos. Fico com dúvidas sobre a "traição" ( embora não simpatize nada com Freitas), não percebi excatamente é que consistiu.
Por vezes, a sabedoria de um povo só pode avaliar-se muito "a posteriori".
A fraude Freitas, que nos últimos anos se revelou em todo o seu esplendor, foi sabiamente afastada pelo povo português na altura devida.
O sujeito não tem coluna vertebral nem senso nem vergonha.
Arrepia-me pensar na desgraça que teria sido para Portugal tê-lo posto em Belém.
Do que nos livrámos! E ainda há quem diga que Deus não existe...
O que é mais horrível é aquele estilo epistolar, tão gasto e tão convencional quanto o 'tipo bué da fixe' dos jovens assistentes de hoje! Jamais tratei os meus mestres - tão grandes ou maiores que Marcello - dessa forma lambuzada. Nem eles aceitariam, embora sejam desse tempo.
A carta aqui (em parte) transcrita por David Oliveira e o percurso zigzaguiante desta figura são suficientemente elucidativos. E, com servidores destes, chegámos a este "dia da fome" que, em Portugal, ilustra muito bem o trabalho de servidores deste quilate.
Muito bem,
Pelos vistos toda a gente conhece e conhecia estes "problemas de coluna", mas, mesmo assim, propuseram-no a candidato a PR.
E isto, num País que é basicamente um beco ....
Pergunta-se:
- com que objectivo?
- como é possível que quem o propôs ignorasse a dita "traição"?
- não será isso um sintoma do estado comatoso da direita?
"duvidoso vertebrado"
eh, eh, depois de ler isto vou-me deitar bem divertida.
É curiosa,toda esta indignação contra o Freitas. Sim mudou,e voltou a mudar,e última observação sobre as cartas do Marcello não lhe fica nada bem.Diga-se de passagem que o outro Marcelo, o R.S.,de cujo maquiavelismo tanto se fala,sempre se tem referido ao seu Mestre e padrinho com respeito pelo seu valor científico e moral.Mas prosseguindo,é óbvio que em épocas de bruscas transições é natural que apareçam casos destes,o que dada a radicalidade da mudança talvez não justifiquem tanto alarido. O Costa Gomes não era Chefe do Estado Maior General da F.A. semanas antes do 25/4? A Mª de Lurdes Pintasilgo não foi Procuradora à Câmara Corporativa? O Veiga Simão não foi ministro do Marcello (tendo iniciado a calamidade educativa que hoje continuamos a sofrer) e não foi mais tarde ministro de governos socialistas? Suponho que todos devemos recordar muitos exemplos do género em Portugal para não ir buscar inúmeros casos estrangeiros.É a vida,como dizia o Engº, mas só mergunto porque se encarniçam tão particularmente com o Freitas. Talvez alguem explique.
Como o "observador" diz e muito bem, quem foram os responsáveis pela candidatura de Freias do Amaral à Presidência da República? Porque é que Alvaro Cunhal, veio pedir aos comunistas para estes engolirem um "sapo" e votarem em Mário Soares? Afinal não foram só os comunistas que tiveram de engolir "sapos" (aqueles que obviamente votaram em Mário Soares), pois foram precisos alguns anos mais tarde para os da direita perceberem aquilo que os da esquerda já sabiam há muito. Engolam esta,... se conseguirem.
Mas uma miserável e oportunista estrela de vaudeville regimentesco. O Marcelo Caetano também era um troca tintas - em 1949 provou-o -, mas fica a anos luz desses pretensos discípulos. O fulano ainda não foi nomeado embaixador para mais uma qualquer boa vontade? O Sampaio não precisa de um adjunto?
Da direita e da esquerda, tendo esta última "governado" maioritariamente nos tempos de maior descalabro, com um pequeno intervalo de três anos, sem que apareçam quaisquer melhorias: a convergência é o que se vê e o desemprego, o ensino, a justiça, a saúde, a fome estão-nos a atirar para o terceiro mundo a grande velocidade. Quem está comatoso é o País, o que é muito pior!
Um escarro...
Já agora:
- quem irá licitar as cartas?
- quem as arrematará?
- por quanto?
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