«(...) O que Sócrates conseguiu foi impor uma disciplina, e uma disciplina severa, ao Governo, à burocracia e ao partido. Como no comunismo clássico, Sócrates tem uma "linha" sobre qualquer assunto que interesse à saúde e sobrevivência da maioria. Ninguém sabe quem decide a orientação e os pormenores dessa linha. Provavelmente, o próprio Sócrates, com a sua eminência parda, Pedro Silva Pereira, um ou outro ministro (conforme a ocasião e o assunto) e um pequeno grupo de "peritos". Por natureza, a "linha" não pode "dar" muita informação. Se "desse", não entrava na cabeça dos gnomos que a repetem e, principalmente, do público em geral. Para cada pergunta (sobre o Orçamento, a oposição, o mundo) basta uma resposta: simples, curta, final. Não é grave se a resposta for falaciosa ou hipócrita, ou não for, como costuma suceder, resposta nenhuma: a insistência, a convicção e a unanimidade acabam sempre por convencer os tolos. Quem leu a longuíssima entrevista de Sócrates (na semana passada) ao Diário de Notícias ficou certamente espantado com a vacuidade da coisa. O primeiro--ministro, também ele, não saiu um milímetro da "linha" oficial: da crise financeira a Manuela Ferreira Leite disse e redisse o que diria um "militante consciente" (para usar a antiga expressão do PCP). E, no dia seguinte, na TVI, Augusto Santos Silva voltou a servir a ladainha. Pior ainda: ao fim de quatro anos, pouca gente escapou à "língua de pau" deste regime. Claro que, entretanto, a realidade desapareceu de cena. A realidade económica e financeira, e a realidade política. Os portugueses, por exemplo, estão longe de perceber o sarilho em que os meteram e a humilhação do Presidente da República é reduzida a uma insignificância e atribuída à democrática vontade do PS. Assim se começa.»
Vasco Pulido Valente, Público
Vasco Pulido Valente, Público
5 comentários:
"Os portugueses, por exemplo, estão longe de perceber o sarilho em que os meteram e a humilhação do Presidente da República é reduzida a uma insignificância e atribuída à democrática vontade do PS."
Mas eles ainda estão interessados em perceber?
Eu estou e sou português como "eles", porque os "eles" somos "nós".
um amigo reformador da geração do meu pai dizia:
«só sabemos como e quando começam as ditaduras»
mais uma.
arrium porrium
radical livre
Sem cultura não há democracia e as espectativas são pequenas como o Magalhães e o seu padrinho.
...e suspeitamos todos, sem o dizer abertamente, como se acabam certas "situações". Até já há quem rosne por aí, com ou sem fardas. Daí à mordedura, é apenas um salto.
Quando um comentador de futebol, de nome Oliveira e Costa, também admirador do Menino de Ouro, tem a confiança da SIC, Expresso e RR para dizer umas tretas sobre sondagens, faz tudo parte deste pacote de confundir os portugueses. Desta vez, a vítima daquele Costa foi o Jerónimo e o PCP, que desceram. Tudo estaria muito certo, seguindo o raciocínio de VPV, se o povo não fosse passar fome. Mas a reportagem sobre a miséria no Vale do Cávado, passada hoje no telejornal da Moura Guedes onde VPV foi repetir o que escreveu no Público, não é um jogo virtual do Magalhães Sócrates. É uma realidade triste que vai chegar a outras partes do país. Está provado que, quando a fome aperta, não é uma cartilha política que enche barriga. Como quem diz, não é com conversa fiada que se mata a fome.
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