31.10.09

NO MEIO DE NÓS

«Basta imaginar a carreira típica de um corrupto. Começou por se inscrever num partido (no PS ou no PSD, evidentemente). Ou tinha influência, própria ou da família, ou conseguiu arranjar um "protector" (um empresário, um advogado, alguém com prestígio ou com dinheiro) para se promover a presidente da concelhia ou a qualquer cargo de importância. Daí passou para a administração central, para a Câmara do sítio ou, com muita sorte, para uma empresa pública. Com o tempo chegou a uma situação em que podia "pagar" os "favores" que até ali recebera e fazer novos "favores", em que já participava como sócio. Entretanto conhecia mais gente e alargava pouco a pouco os seus "negócios". Se punha o pé fora da legalidade, punha com cuidado, bem protegido por amigos de confiança e pretextos plausíveis. Um dia, por fidelidade ao chefe, "trabalho" no partido (financiamento directo ou indirecto) e recomendação de interesses "nacionais", foi chamado ao governo: a secretário de Estado, normalmente. No governo, proibiu ou permitiu conforme lhe convinha ou lhe mandavam e convenceu outro secretário de Estado ou mesmo um ministro mais "versado" ou "ingénuo" a colaborar na sua "obra". Torcendo uma regra aqui, explorando uma ambiguidade ali, a sua reputação cresceu. Não precisava agora de se mexer. Era, como se diz no calão da tribo, um "facilitador". A iniciativa privada gostava dele, o "sector público" gostava dele, o alto funcionalismo (a quem, de quando em quando, dava uma gorjeta) gostava dele. Ninguém lhe tocava. O corrupto ascendia à respeitabilidade. E anda, por aí, no meio de nós.»

Vasco Pulido Valente, Público

13 comentários:

Gorete disse...

Gostei do texto.

Anónimo disse...

Brilhante. Vasco Pulido Valente está a surpreender-me, pela positiva.

O corrupto é um "facilitador"! Bem visto.

radical livre disse...

na passada noite houve 3 ataques à bomba (em lisboa) contra a esquadra de polícia da quinta da cabrinha.

vinha na páginas dos anúncios do quase falido dn (35 mil exemplares/dia. perde 30% no último ano )

no oásis socialista toca-se a internacional
«de pé, ó vitimas da fome»

Anónimo disse...

falta o garganta funda e mani pulite.ah este último está de luto por simpatia...

Garganta Funda... disse...

Os governantes, as eminências pardas do sindicato bancário-empresarial «negócios públicos/lucros privados» e os comentadores «tudólogos» que enfeitam as pantalhas da Tugalândia, vêm há muito tempo (ou talvez desde sempre) a sustentar a peregrina ideia que agora é a hora do "Estado"; é a hora do "investimento público"; é preciso reforçar o «estado social" e outros chavões típicos do jargão da «nomemklatura sucialista» que nos tem "governado".

A verdade é que todos esses apelos à intervenção do Estado saldam-se a m/l prazo em dívidas, mais impostos, mais corrupção, mais miséria.

Já Georges Clemanceau afirmava no início do sec.XX: «A França é um país extremamente fértil: plantam-se FUNCIONÁRIOS e crescem os IMPOSTOS».

Parafraseando o ilustre estadista gaulês: Portugal é um país extremamente fértil: fomenta-se o «investimento público» e crescem os CORRUPTOS.

Elementar, meus caros.

Quanto mais intervenção do Estado na economia e na sociedade, há mais corrupção, impostos e miséria.

Portugal há décadas que anda sob esse ciclo vicioso, a que alguns coveiros da pátria têm chamado "designíos nacionais».

(Não sei se já repararam, mas Portugal tem uma economia e um peso do Estado muito superior à antiga Jugoslávia do marechal Tito.
É só consultar as estatísticas.)

Anónimo disse...

Imagine-se se este escândalo do vara e cia se tinha dado antes das eleições! Será que o PS teria os 36%? De facto vivemos num País de impolutos em que a corrupção é um fait diver sem consequência. Apenas a consequência que já ninguém acredita em causas mas em interesses e cada qual tenta safar-se como pode.

javali disse...

O que VPV diz já nós sabemos. Como é que corremos com eles?

Anónimo disse...

sr. radical livre;

É Quinta DO Cabrinha!

Lura do Grilo disse...

Chama-se ascensão fulgurante. Temos que dar nomes sérios a coisas que não as são.

josé ricardo disse...

Vasco pulido Valente é um puro sangue lusitano, embora já oportunamente arraçado. julga, por isso, que está à-vontade para espezinhar estas personagen sem pedigree. no outro dia foi Saramago; agora, Armando Vara.

Anónimo disse...

Nesta cultura de empresa,"Empata" é antónimo de "Facilitador".
Cumprimentos,

Carla Jané

Anónimo disse...

E a câmara de Gouveia, também envolvida nesta última bagunça, foi oportunamente assaltada...

Unknown disse...

Faltou referir o papel da "justiça" na perpetuação do "status quo".
Quanto a andarem entre nós...(é voz corrente que chegam a primeiro-ministro...).