«A questão é simplesmente que os portugueses deixaram de olhar para fora. Só contemplam o umbigo. Na ditadura, sonhavam com o império ou melhores dias. Depois, na era da liberdade, Portugal empolgou-se de valores abstractos. Na época do desenvolvimento assustou-se com as ameaças europeias. Até na era da facilidade se embebedou com benefícios do progresso. Agora deixou de ter impérios, ambições, desafios ou sequer desejos. Está mergulhado na intriga, palermice, acanhamento. Portugal não tem projectos, tem direitos. Não enfrenta a globalização, salva empresas. Não aumenta a produtividade, desinfecta as mãos da gripe A. Não se governa o País, aumentam-se a dívida, as polémicas e as manchetes da edição matutina. É a era do crime da Casa Pia, da tacanhez da ASAE e da teima do TGV, da euforia balofa do Euro 2004 e das escutas que nunca houve. São os anos que o gafanhoto devorou. Inventam-se "casos" e depois faz-se um caso de eles serem negados. Os responsáveis são criticados por desmentir o que nunca disseram. E passa-se ao caso seguinte no carrossel da vacuidade. Portugal viveu outras eras da mediocridade, em que esqueceu sonhos, perigos e até desejos para se perder em conflitos tolos e mexericos baixos, dançando na borda do vulcão.»
César das Neves, via Povo
César das Neves, via Povo
4 comentários:
-Tem graça que nesta cónica, nunca são mencionados os responsáveis pelo estado a que Portugal chegou.
-Quem se tem governado, desgovernado o país?
Li hoje no DN(onde podia ser?)o habitual artiguinho do sr.BB(Baptista,Basta!),mais uma prosa florentina desse especioso esmiúçador do dicionário de sinónimos,neste caso um odiento e imbecil ataque a Santana Lopes.O objectivo da miserável façanha parece claro:garantir,sem problemas,a manutenção da casinha camarária que outros camaradas do vencedor Costa lhe haviam concedido ha anos,em prejuízo dos verdadeiros necessitados.A política do social-compadrio do PS,neste caso a beneficiar o comunista reciclado Baptista,grande abichador de benesses discretas.
Retrato do "sitio" em corpo inteiro.
Um Senhor. A erupção do vulcão será quando a realidade se fizer convidada indesejada.
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