Dá-me ideia, por alguns comentários já produzidos a propósito de Foucault, que o respeitável público (como se diz no circo) não percebeu o objectivo da coisa. O que não deixa de ser revelador. Uns porque não o percebem, outros porque não o querem perceber e alguns porque reduzem um dos maiores pensadores do século XX à sua vida privada. A dada altura, Foucault interrogou-se sobre se a sua obra não passaria de ficção. Mas depois explicou o que quis dizer com isso. Vá lá, cresçam.
Adenda: A coisa é mais grave do que eu previa embora me ria bastante (para dentro, claro). Não, esta questão da ficção é mesmo do Foucault (há quem tenha dito o mesmo de Heidegger pois o analfabetismo funcional está perfeitamente globalizado). Quanto às alusões ao "Pêndulo" - uma obra de ficção de Umberto Eco - apenas recordo o nome de um físico chamado Léon... Foucault. Parece que saíram todos do piquenique Tony Carreira/António Costa/Zé. Por amor de Deus.
7 comentários:
Para o Foucault ser chamado justamente pensador, para lá dos textos mais conhecidos (e talvez com mais razão do que em alguns desses), bastaria o seu curso de 1981/82 no Collège de France: a Hermenêutica do Sujeito.
Esse não é do Sartre?
Vou confessar-me ignorante de Foucauld, não o Charles de... beatificado por João Paulo ii ou por Bento xvi... O grosso volume que se me estraviou -- achá-lo-ei por ventura? -- do «Estruturalismo» me desmotivou embora por acesso indirecto de Prado Coelho, Eduardo e de Gandra, Fernando e outros me foi dado «pescar» um nadinha desse resíduo post-fenomenológico que toda a gente sabe é o estruturalismo. Não vou arrazoar mais... Porque não falamos antes de Barthes? Ou de Husserl? Ou de Edit Stein?
Um desafio de "Pendulação", ou das "Correntes" ,..., pois a "ignorância é atrevida".
A
Rui
Fazendo coro com o seu respeitável público, aqui vai mais uma achega:
Diria que, quando escrevo, utilizo o que Foucault * considera as formas prévias de continuidade (tradição, livro e obra), ou seja, todas as sínteses “que se não problematizam e que se deixam valer de pleno direito”, as quais, no entanto, não acredito ser sempre possível “colocar em suspenso”, como preconiza o autor.
Assim, colocando em suspenso o texto escrito e a oralidade, ambicionaria poder apresentar este comentário com as novas tecnologias do conhecimento e da expressividade numa rábula representada em holografia, que substituísse a minha presença física, o discurso escrito e a sua apresentação oral. Num ritual cumprido com uma cenografia virtual que albergasse o autor do blog e o seu comentador numa hipótese plausível de realidade, tão idêntica à ilusão quanto necessário.
Aí e então, além da advertência de Foucault, seguiria a de Baudrillard que denuncia como estamos expropriados dos nossos desejos pela sua própria realização:
“… é preciso ser ainda mais positivo que o positivo para dar contas da positividade total do mundo e simultaneamente da ilusão dessa positividade.” **
* Foucault, M. - L’árchéologie du savoir, Gallimard, 1969, p 37
** Baudrillard, Jean - O crime perfeito (1995) - Relógio d’Água, 1996, p 95
MJ
"...apenas recordo o nome de um físico chamado Léon... Foucault."
Que foi o primeiro a PROVAR que o nosso planeta se move.
Uma questão com milénios e alguns queimados pelo caminho.
Mas claro, isso aprende-se "metendo explicador".
E como "apenas recorda" o nome se calhar tb lá estava no piquenique do Tony Carreira.
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