Só li um ou dois títulos e consigo imaginar o que a blogosfera do "partido único universal" escreveu ou escreverá sobre o debate Palin/Biden. Um acaso de menos sono permitiu-me ver a coisa no computador. Nada do que eu poderia colocar aqui substitui esta prosa de Reinaldo Azevedo na Veja. É isto mesmo. Sem tirar nem pôr.
«Não duvidem de que todas as pesquisas de opinião dirão que o democrata Joe Biden venceu o debate travado ontem à noite com a republicana Sarah Palin, ambos candidatos à Vice-Presidência dos EUA: ele na chapa de Barack Obama, ela, na de John McCain. Comecemos pelo óbvio: não, não houve desastre. Mesmo os que responderam às enquetes da democratíssima CNN consideraram, com a esmagadora maioria de 84%, que ela foi “melhor do que a expectativa”. Isso é importante e quer dizer, sim, alguma coisa: há 15 dias, insiste-se em caracterizar Sarah como uma estúpida, uma cretina da pior espécie, capaz de declarar guerra à Rússia e de reduzir seu apreço pela ecologia ao batismo de uma das filhas com o nome de uma baía. Num caso, trata-se de uma mentira em sentido clássico: o oposto da verdade. No outro, transformou-se uma nota de bom humor numa resposta técnica.Quem ganhou, de fato, o debate de ontem? Ninguém. Os dois alternaram bons e maus momentos. Poder-se-ia dizer que ela venceu se considerarmos que se imaginava que saísse dali para casa, tendo de ser substituída na chapa. E ela esteve longe disso. Mas ela também perdeu, não é? Afinal, não ter tido uma vitória acachapante para quem está sob tanta pressão pode ser considerado uma espécie de derrota. A questão, no entanto, é saber: havia alguma possibilidade de ela “vencer”, ainda que tivesse quebrado as pernas de Biden? Não. Sua derrota já estava decidida. O debate, como ela mesmo apontou, teve mais passado do que futuro. Biden fez questão, o que foi apontado com propriedade por Palin, de passar o tempo emitindo juízos de valor sobre o governo Bush, o mais impopular da história. Combatia menos a adversária presente do que o atual presidente, tentando atribuir a McCain a condição de mero estafeta de Bush, continuador da sua obra. É mentira! Mas e daí? Se Sarah era mesmo uma besta, vai ver teve o “Estalo de Vieira”. Afinal, conseguiu sustentar um debate com um dos mais experientes senadores democratas e dar-lhe algumas invertidas até muito duras — e sem saber, afinal, o que viria lá da mediadora, que não decepcionou: ajudou muito o democrata. Explico essa questão em particular antes que avance. Gwen Ifil indagou como seria o governo de cada um dos presentes caso viesse a faltar o titular. É evidente que se trata de um foguete atirado contra Sarah Palin. E é fácil entender por quê. Sim, McCain tem uma vice pior do que ele; e Obama, um vice melhor. Entenderam ou preciso desenhar? Obama eleito, caso morresse, seria substituído por um senador experiente. Mas sabemos que, digamos, McCain está mais perto do fim do que o democrata, ao menos por causas naturais. Assim, tenha sido este o intuito ou não, a pergunta funcionava também como um alerta. Sarah saiu-se bem na resposta, afirmando, genericamente, que levaria adiante um governo baseado nos mesmos princípios. A pauta, por mais que se negue, era democrata. Veja-se outra questão: o aquecimento global. Há uma diferença nada sutil entre indagar sobre medidas para conter o problema e fazer como fez Gwen: é ou não o homem que está aquecendo o planeta? O consenso, que não é cientifico, mas apenas político, reza que sim. Ocorre que há gente séria às pencas que sustenta que o fator humano é apenas uma das causas. E foi essa a resposta de Sarah, que lembrou que seu Estado tem um fundo de combate ao aquecimento. Biden entrou com tudo: sim, é inequivocamente o fator humano. É o que o “consenso” quer ouvir. No item sobre questões de comportamento, Gwen deixou, por exemplo, o aborto de lado para discutir o casamento gay. A republicana afirmou que reconhecia, como casal, a união do homem com a mulher, mas que não se opunha à concessão dos direitos civis aos homossexuais. E ambos acabaram dizendo, sem diferenças, que não defendem o “casamento gay”. É evidente que Sarah tinha a grande desvantagem de ser ali a representante do partido de George W. Bush. E Biden, macaca velha, não perdeu a chance de falar menos de futuro do que de passado. Tentou caracterizar McCain como a continuidade da política beligerante de Bush. Embora seja ele, reproduzindo fala de Obama, a sugerir que os EUA podem fazer uma intervenção no Paquistão, ainda que à revelia do governo daquele país. A abordagem dos jornais desta sexta, aposto, mundo afora, parecerá saída de uma mesma máquina de produzir análises — e, de certo modo, isso é mesmo verdade. Vai-se dizer, com contrariada benevolência, que Sarah evitou o vexame ou coisa parecida. Vale dizer: ele era já um dado da equação, que precedia o confronto em si. Tivesse ocorrido, seria exibido com todas as letras. Como não ocorreu, então vai se dizer qualquer coisa como: “É, vexame não houve, mas Biden foi muito melhor”. Convenham: tal análise já estava pronta antes do debate. »
8 comentários:
Caro Dr. Gonçalves:
Vejo, ouço e leio e não consigo acreditar.
Sarah Palin disse um grande rol de generalidades, fugiu a perguntas directas, refugiou-se em temas a que já se tinha referido…. de tudo resultando uma candidata que nada disse de substantivo e que apenas papagueou slogans criados pela respectiva equipa...
Enfim, uma candidata, afinal, apenas em exploração da sua telegenia (sorriu o mais que lhe foi possível, piscou o olho de forma cool, cumprimentou os que lá na escolinha da zona estavam a ver o debate!…) e que se quis pretensamente acessível à “main street”, mas postiça, confrangedora na sua inautenticidade de candidata à VICE – PRESIDÊNCIA dos EUA…
Para quê negar a evidente impreparação da Senhora? Não é evidente que, no plano político e enquanto governadora do seu estado, ela representa o exemplo acabado do princípio de peter?
Será eficaz negar uma evidência?
É bom não esquecer que ela acredita em bruxas! Depois de a "conhecer" também eu passei a acreditar. Bom, agora a sério, não vi o debate e já ouvi as duas versões: Biden ganhou, Palin ganhou. Andam toda a gente a perceber cada vez menos sobre isto. Á medida que se aproximam as eleições mais subjectivas e parciais ficam as opiniãos. É normal.
os totalitários organizam «manifestações expontâneas» com 15 de antecedência.
o pib português será 1/2 do previsto pelo governo do largo do rato.
o conde drácula anda com cara de enterro laico e socialista. o «nosso 1º» continua sempre em festa. o manelzinho mete pena.
«os pobres que paguem a crise»
radical livre
Tudo muito cauteloso.
É só "empates técnicos".
Talvez fosse bom chamar um 'pedro magalhães' qualquer para esvaziar o preservativo da prudência...
Sabe o que eu acho ou se calhar é sentimento não sei!
Somos todos uns elitistas revoltados e cheios de solidão, falamos e não fazemos nada!
O povo não nos lê,dão-lhes uns pcs, ficam felizes e votam!...
Se quiser publique João Gonçalves, senão guarde.
Gosto muito do seu blog
Cumprimentos MDB
Hummm, não é comum, fazer isto... mas vai lá espreitar o meu texto sobre o debate e colateralidades do debate ... Bem, ver as Fotos compensa a chatice de fazer o clik. Vale.
Words words words...Obama vai ganhar e o resto são tretas de desesperados.
Ganhe um ou outro a actuação será provavelmente idêntica. Não percebo tanta campanha por Obama ou contra McCain
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