Tinha lido esta "história" no Público de ontem. Entre nós, e por causa de um ministro da educação nacional que não perdia um no trajecto entre a sua casa e o ministério, Salazar mandou fechar todos os urinóis que ficavam no percurso do ministro. Manteve, naturalmente, o ministro. Em Paris, Madame De Gaulle acabou com eles por causa da deriva promíscua que provocavam. Nenhuma interdição nacional ou internacional foi suficiente para conter o urinol na sua função estritamente utilitária e fisiológica. A "fruta" que muitos adeptos formais do consenso sexual não encontram em casa, pode, muitas vezes, estar literalmente à mão num urinol. O que tem acontecido a incautos como este respeitável senador republicano, é deitarem a mão ao alvo errado. Um filme português recente, O Fantasma, inclui uma fellatio explícita que tem lugar num repelente urinol. Passou a ilustração cinematográfica o que já se sabia. Em Os Maias - o episódio do irmão indolente que fornicava com a irmã melancólica - o "problema" não residia tanto no incesto como no saber-se que perpetravam o acto. A tal cena do filme, bem como os depoimentos dos supostos "undercover" que andam atrás de mãos audaciosas ou a reacção destes predadores pseudo incoentes, valem mais justamente pelo "saber-se" do que pelo que em si representam. O senador continuaria feliz com a sua loira mulher de óculos escuros, mesmo que a sua mãozinha desvairasse por aqui ou por ali, desde que não se soubesse. O interdito é tão afrodisíaco como a política, e vice-versa. Quando se cruzam num urinol, acaba fatalmente por saber-se. Dava um romance.
5 comentários:
... o «machista-gay» nos urinóis do S. Jorge, com o olho ferrado na «coisa» do colega do lado :
- «Acho que estou a conhecê-lo ... o Sr não costuma fazer xixi nos urinóis do Rossio ?».
Meu caro João Gonçalves, leu todo o enredo deste assédio frustrado? Não lhe pareceu estranho que o senador Craig tenha sido condenado a... pagar uma multa apenas porque estendeu o pé esquerdo e tocou no pé direito do polícia com ar de rapazinho muito clean que estava no urinol ao lado? O senador será uma besta mas, sinceramente, já ouvi milhares de histórias melhor contadas!
Só por curiosidade morbida, Salazar mandou fechar os ditos urinóis, porque:
- o ministro, á custa disso, chegava atrasado ás reuniões?
- por motivos semelhantes aos do senador americano?
- tinha a mesma opinião da Madame De Gaule?
- outros motivos. Quais?
Já agora, o ministro não alterou o trajecto para um urinol ainda aberto, ou não usou o WC dum Café, porquê?
Não é verdade que o Doutor Salazar tenha mandado fechar algum urinol por causa desse saudável hábito do citado ministro da Educação Nacional, aliás um ilustre professor catedrático da Faculdade de Letras, que foi também presidente do Instituto de Alta Cultura. Os urinóis em Lisboa começaram a ser sistematicamente encerrados na vigência da III República e hoje, quem tiver necessidade, tem de fazer o chichi nas calças ou na rua.
De resto, o Doutor Salazar nunca se incomodou com as preferências sexuais dos seus ministros (teve ministros gays em quase todos os seus governos) desde que elas se revelassem discretas e não provocassem escândalo público. Tal, em conformidade com o seu lema "em política o que parece é"; logo, se não parecia, não era.
E para terminar, o urinol de frequência do referido ministro era o extinto urinol do Rossio. Foi nesse urinol que ele uma vez foi preso por se ter intrometido com um marinheiro que não apreciou a solicitação. Conduzido à esquadra do Rossio, que ficava então no Teatro Nacional D. Maria II no sítio onde hoje está a livraria (isto foi, é claro, muito antes do incêndio do Teatro), identificou-se como ministro da Educação e foi, naturalmente, de imediato libertado, com as desculpas da polícia, ao que suponho.
De resto, a III República, aliás como a I, é na prática muito mais puritana que o Estado Novo. É útil recordar (num outro registo que não gay) a proibição durante a I República da peça "Mar Alto", de António Ferro, que motivou um abaixo-assinado de protesto, subscrito por diversas figuras ilustres do tempo, entre as quais Fernando Pessoa.
Ok!
Pouco importa se mandou, ou não, fechar!
O que importa, á lição salazarenta de "em conformidade com o seu lema "em política o que parece é"; logo, se não parecia, não era."
Não se queixem, portanto, dos que:
- parecem que atacam o Deficit, mas aumentam-no;
- parecem que educam, mas aumentam o abandono escolar;
e por aí fora, visto assim fazia o seu feitor Salazar.
Já agora, "Conduzido à esquadra do Rossio, ... , identificou-se como ministro da Educação e foi, naturalmente, de imediato libertado, com as desculpas da polícia, ao que suponho."
Suponha, que ele identificava como "Mesteiral Serralheiro". Seria de imediato libertado, com desculpas?
E o marinheiro, teve alguma medalha pela defesa "indiscreta(?)" dos bons costumes?
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