7.1.10

UMA ABSTENÇÃO

Não vale a pena mergulhar numa crise epistemológica nacional por causa da aprovação, amanhã, no parlamento, daquilo que vai ser aprovado. Nem tão pouco por causa daquilo que vai ser rejeitado. Richard Rorty ensinou-me que a verdade não está diante de nós e eu não misturo a esfera pública com convicções religiosas. As minhas, na circunstância. Para mim, o casamento é um contrato. Não é um "sacramento" a menos que os intervenientes o entendam como tal. A partir daí é, com, entre outras, a consequência - pelo menos moral - da indissolubilidade salvo nos casos previstos no direito canónico. Mais importante do que os casamentos, porém, é a liberdade de não ter de casar. A legislação que vai ser aprovada não obriga ninguém a casar. Nem tão pouco, julgo, irá provocar um recurso maciço ao instituto do divórcio por parte de quem já está casado por se sentir "mal" num contrato que se supunha exclusivo para certo tipo de pessoas. Com isto não pretendo "relativizar" o termo casamento ao qual, aliás, não concedo a menor importância. Se há pessoas que se sentem mais felizes por poder "casar" e outras por poder "panfletizar" a pretexto daquela felicidade, deixá-las. Nenhuma união juridicamente relevante entre duas pessoas é "superior" a outra união juridicamente relevante entre duas pessoas. Isto implica direitos e deveres e não meras abstracções em programas eleitorais que ninguém leu. Daqui a dois dias já ninguém falará nisto e as estatísticas, a seu tempo, demonstrarão que, mais do que os "direitos", interessava a demagogia panfletária que entretanto se esgotou pelo que será preciso correr rapidamente atrás de outra. Aproveite esta, pois, a quem aproveitar. Eu abstenho-me.

Adenda: O argumentário de Pacheco Pereira na SICN acerca da possibilidade da emergência da pederastia num eventual processo de adopção por iniciativa de pessoas que coincidem no sexo e que vivem juntas é tão curioso como o número 69 é curioso para o dr. Mota Amaral.

15 comentários:

radical livre disse...

acabei de ouvir a canção malafemmena escrita pelo Principe Antonio de Curtis
recordo
«m'intussicato l'anima»
«te serve pe inganà»
mas
«nun te pozz scurdà»

as mulheres sempre foram tudo para mim: mães, companheiras, amantes, artistas, pensadoras, e por aí fora.

qualquer cor exterior é boa. não há monotonia. o interesse está no interior

dizia Gabriel Tarde «o que fica fora de nós é supérfluo»

Anónimo disse...

De facto a lei paneloka não é proibicionista. O grave destes "avanços" é que, na sociedade, há quem não precise de directrizes e regras estáveis para viver harmoniosamente com os outros. Penso que é o caso do JG. A maior parte do povo precisa. E a família e as instituições familiares tradicionais são uma peça fundamental para a maior parte das pessoas.

Começam a aparecer coisas esquisitas, mascaradas de inovações e de modernidade, em tudo o que mexe no que somos como gente. É preciso ter uma estrutura intelectual muito sólida para saber o que se é, independentemente das "novidades" que nos vão atirando para cima. E, na minha opinião, a maior parte das pessoas sente-se desconfortável e já não sabe porquê.

PC

Anónimo disse...

Outra.
Qual o problema se eles querem casar ? ( em tom de brincadeira séria, acho apenas que daqui a uns tempos, irão aumentar os processos de divórcio nos tribunais portugueses - e como tal, mais custos para nós, contribuintes...Ah! E vai ter que se aletrer, necessáriamente, esta recentíssima pérola legislativa que é a lei do divórcio - apesar de ser já um fruto deste PS, como sempre não está deleineada para compreender o divórcio de duas pessoas do mesmo sexo.....)

Diferente é a adopção - esta não pode ser encarada à luz do "apetite" da realizaçao pessoal - a adopção é um direito das crianças e há que ouvir estas....

Anónimo disse...

e nisso mostra não sei se sabedoria mas pelo menos alguma sensatez...

Anónimo disse...

a adenda por si só valia um post

Anónimo disse...

Esta malta «gay» tem vindo a reivindicar, apenas e só, a Norma. A adopção é uma mera questão de tempo. Aliás, já começaram a aparecer nos media debates acerca dos "novos conceitos de família" ... eheheehe ... por mim, "bon vent" !

Anónimo disse...

O casamento é um contrato, sim, mas entre um homem e uma mulher. Se não for entre um homem e uma mulher, simplesmente não é casamento. É outra coisa qualquer. E outra coisa qualquer não pode ter os mesmos direitos e deveres que o casamento. Reconhecer os mesmos direitos é que é introduzir no sistema jurídico uma injustiça, porque se atribuem os mesmos direitos a coisas diferentes. Será que ninguém vê isto?

Garganta Funda... disse...

O «casamento gay» tal e qual como está a ser apresentado pelos proponentes socialistas e bloquistas é uma perfeita aberração jurídica e civilizacional.

Assim como, no meu entender,o aborto é um regresso às cavernas, este capricho duma élite burguesa ou duma alegada «modernidade», por razões e motivações obviamente diferentes, não passa dum recuo na civilização e no viver em sociedade.

Confundir e misturar os direitos e os deveres que todos os cidadãos sem excepção devem ter à face da Lei com a existência de «casamentos» burlescos e contranatura é um insulto à nossa inteligência e é uma ofensa àqueles (maioritários) que optaram por constituir família e que sempre deram estabilidade na sociedade, independentemente dos sistemas e regimes.

O argumentário que "valida" estes casamentos burlescos não é muito diferente daqueles que «validariam»
a endogamia, a poligamia, a poliandria, a bigamia, o swing amoroso e sexual entre casais, a pedofilia, a função social e profiláctica do adultério...

Temos à nossa frente um admirável mundo novo...

Garganta Funda (regressado do Quebec)

Eduardo Freitas disse...

Eh pá! Tantos Anónimos! Por que será?

São terrenos perigosos, estes.

Não obstante a perigosidade, pergunto-me que razões jurídicas poderão agora ser invocadas para inviabilizar uma relação poligâmica, nas variedades poligínica e poliândrica? Ou, até, as relações incestuosas? "Where to draw the line?"

Anónimo disse...

Esta polémica em torno dos casamentos gays teve o mérito da sociedade reconhecer e aceiar uma relação que há relativamente poucos anos era considerada contra natura e moralmente condenável. Casamento, união de facto, relações registadas etc, vão dar ao mesmo. Nisso estou 100% de acordo com o João. Chacun pour soi, Dieu pour tous!

Empédocles disse...

O casamento é um contrato civil entre 2 pessoas de sexo diferente - é milenária esta condição.
O matrimónio é o casamento elevado a sacramento: é celebrado pelos noivos perante Deus, que lhe confere uma dignidade e uma qualidade especiais. Claro que isto só se entende à luz da Fé.

hajapachorra disse...

Não se pode dizer o óbvio, que a adopção homo envolve um fortíssimo risco de pederastia. Mas a questão não é essa, a questão é que todas as crianças, mesmos as mais abandonadas têm direito a um pai e a uma mãe. Ninguém tem direiro a ter filhos, muito menos se não os quer ter. A homossexualidade não é uma questão privada, infelizmente. É um atentado ecológico. Contra-natura, como sempre se disse.

António Topa Gomes disse...

É a primeira vez que comento neste blog e por isso gostava, em primeiro lugar, de dar os parabéns ao autor.

Só uma pequena discordância quanto ao ninguém é obrigado a casar. Sou católico e, como tal, pretendia casar-me religiosamente. Ao dar esse passo fui obrigado a casar-me civilmente, mesmo não tendo qualquer interesse nisso, quanto mais não fosse, pela penalização fiscal.
A situação é ainda mais grave quanto a minha companheira, para usar uma terminologia actual, nem sequer era católica!

aisongamonga disse...

Finalmente, vai-se acabar a conversa sobre esta lei. Como cidadão comum, preocupado com o estado económico nacional, com o futuro dos que me são queridos e dos que me rodeiam, tenho observado como esta questão, no momento estéril, tomou conta dos debates nos orgãos de comunicação social e na maioria dos blogues.
Concluo que o socretino atingiu os seus objectivos de fazer divergir as atenções do que realmente interessa neste momento. Tenhamos consciência de que cada dia passado nesta "lúdica" discussão nos custa uns razoáveis milhões.
O Sr. JG tem razão, de facto este país assemelha-se a um lupanar, apesar da confusão de género.

João Cardiga disse...

1. "Where to draw the line?"

Quando a liberdade não consegue ser assegurada.

2. Pediestria

Esse risco não é um risco real ligado à homossexualidade mas sim a qualquer processo de adopção.

3. Casamento religioso

Honestamente julgo que não deveria existir essa obrigatoriedade. O casal é que decidia se queria ou não se casar civilmente.