17.1.04

O CENÁRIO E A CAUSA


Por que não...?

Estive a folhear o álbum de fotografias e de verbetes escritos com o nome de Pedro Santana Lopes e que a cristã-nova Zita Seabra acaba de publicar. Trata-se de uma "obra" auto-encomiástica em que participam alguns dos "empregados" de Lopes, destinada a celebrar o seu suposto contributo para o engrandecimento cultural da Pátria, de Lisboa à Figueira da Foz, passando pelo Parque Mayer. Não falta na capa o cliché do "visionário", a apontar para um horizonte indefinido, ao lado de um arquitecto famoso. Como aqui disse, coube a Agustina apresentar este livro e o elogio do autor, a man for all seasons, na palavra da escritora. Para quem o já tinha considerado "imaturo", houve um pequeno avanço também ele adequado aos tempos. A esta "obra" parece que outras se vão seguir, na mesma linha de auto-satisfação narcísica. A Manuel Maria Carrilho, que foi ministro da Cultura, a "obra" pareceu-lhe mais um livro de um empreiteiro ( até as casas de banho do São Carlos são referidas! ) do que um balanço sério de mandatos políticos. Na resposta, Lopes desafiou Carrilho a apresentar a sua obra, numa confusão abstrusa entre o betão e uma estratégia coerente de sustentação das actividades ditas culturais. Escudado no seu séquito "cultural" pimba, embalado pela pela sua boa estrela mediática e empurrado pelos seus múltiplos chevaliers servants, Santana Lopes precisa de ter pela frente quem permanentemente lhe desmonte o cenário. Até porque tanta aparição começa a cansar. Não se votou nele para ser pivot dele próprio nas televisões ou nas revistas light. O anúncio da disponibilidade de Carrilho para esse combate é algo que saúdo. A cultura é um longo trabalho de exigência e de sofisticação que deve atravessar todo o trabalho político. Não chega ter "causas" e "casas" de cultura. É antes fundamental que a cultura seja ela mesmo uma causa da política e não apenas um cenário de ocasião.

Sem comentários: