3.1.10

LUGARES-COMUNS

Com o devido respeito, não me parece adequado, nem sequer para efeitos meramente retóricos, comparar Lula com Cavaco. No primeiro caso, estamos perante um pobre de espírito arvorado em subtil o que normalmente produz desgraças políticas e perigosas como ele. No segundo, temos um presidente tolhido por um sistema constitucional absurdo que, até hoje, nenhum candidato presidencial ousou pôr em causa e que "obriga" a falar nas entrelinhas. Em Lula há loucura sem método. Em Cavaco nunca há loucura e sobra sempre algum método. VPV não estava seguramente à espera que o presidente decretasse na televisão o fim do regime. Pelo contrário, Cavaco usou os lugares-comuns da "família", "responsabilidade", da "legitimidade", da falta de desculpas e da hipótese de uma "situação explosiva" precisamente para que, se e quando chegar o gestalt switch, ninguém se queixe. Nem ele que deixou claro não alijar as suas que interpretei como o primeiro discurso da inevitável recandidatura. Cavaco não é um guerrilheiro alucinado nem, como se faz nos jornais, nos blogues ou nas televisões, um "massagista" de circunstância. Sócrates o seu regime "alulizado" hão-de sair de cena pela chamada e velhíssima natureza das coisas e porque se tornarão política e socialmente insustentáveis. Cavaco fez uma metonímia disto mesmo através de lugares-comuns. Nada mais.

6 comentários:

Anónimo disse...

O governo, que vai roendo tudo, se lhe derem tempo há-de roer também a parte do pouco poder que cabe ao PR, como já aconteceu com o Estatuto dos Açores. Mas terá sido por isso que o discurso foi contido: nestas incipientes democracias o poder "pode" ser usado sem grandes preocupações pela norma, como usa Alberto João, cujo exemplo poderia ter sido seguido. É que usar um exército convencional contra a guerrilha, não dá, como os seus assessores e a situação já o deveriam ter alertado.

Eduardo Freitas disse...

De onde se prova, mesmo que nos refiramos a pessoas de superior inteligência e erudição, com quem se está frequentemente de acordo, que de igual modo há ocasiões em que se pode estar em desacordo total.

É isto que certas "bandas" nunca compreenderão.

Lamentável texto, este.

radical livre disse...

no (o)caso do governo a tendência
vai na direcção do zero

o "circo sem pão" do pm
vai continuar

ele não sabe dirigir
o que resta um país

Anónimo disse...

Se o Cavaco se inspirasse um pouco nos seus antecessores xuxas, teria um caminho claro de actuação. Colocar o dito cujo, cujo nome não se pronuncia porque seria uma "cambala", no olho da rua, já no 1º semestre deste ano, A.S.A.P.

Quanto a o lula com o Cavaco, é o mesmo que comparar "peidos com marmelos". Acho esta expressão deliciosa, e já não a ouço há muito tempo, mas achei que ficava bem aqui... Acho eu.

PC

Cfe disse...

Sr. João Gonçalves,

Nem passaria pela cabeça fazer qualquer equivalência de Lula a Cavaco Silva mas há algo que a direita portuguesa e brasileira parecem ignorar: num jogo, debate ou disputa é necessário que haja consenso nos termos e nas regras utilizadas, sob pena de que o que está em questão não fique absolutamente esclarecido com os dois lados disputando jogos diferentes na mesma arena.

Lula, como Sócrates, não tem uma linha definida de desenvolvimento para os respectivos países. A eles interessam midiatizar a política, para ganhar sucessivas batalhas até sufocar os adver.., digo inimigos.

Cavaco Silva não pode tratar Sócrates como um cavalheiro. O 1º ministro tem de ser tratado da mesma maneira que trata os outros, pois, diante de um forte oponente em seus joguinhos, recuará.

Só quem está a disposto (e mostrar a intenção) de fazer a guerra e vence-la é que pode conseguir a paz. Caso contrário o inimigo sempre escarnecerá.

Anónimo disse...

O cinismo de VPV leva-o, por vezes, a cometer verdadeiros dislates, como o da crónica em questão. Preferir Lula a Cavaco Silva não pode ser senão um "boutade" que tem por finalidade provocar uma gargalhada sardónica