3.1.10

HOMENS


Passaram cinquenta anos sobre a "fuga de Peniche". É um "marco" na história do PCP. O derradeiro capítulo do terceiro volume da biografia política de Cunhal, escrita por Pacheco Pereira, descreve-a perfeitamente. Para quem a história só conta desde ontem, este episódio nada significa. Tal como nada diz àqueles que nasceram dentro deste regime das "facilidades" e das banalidades. O PC que conhecem é muito diferente do PC das prisões do Estado Novo e da clandestinidade. É um PC receoso de perder para a demagogia pequeno-burguesa, não operária e radical-chique do BE. É um PC que dá o benefício da dúvida a coisas como a stasis "socrática" que o despreza. Os homens que desceram as muralhas de Peniche, há cinquenta anos, eram de outra fibra, independentemente de tudo. Eram, acima de tudo, homens.

17 comentários:

Eduardo Freitas disse...

Talvez que, em seguida, alguém se venha a lembrar de evocar Júlio Fogaça, as circunstâncias da sua prisão, nesse Verão de 1960, e a sua expulsão do PCP, às mãos de Álvaro Cunhal, no ano seguinte, a pretexto de comportamento incorrecto, eufemismo para homossexualidade. Seria adequado aos tempos que correm.

Anónimo disse...

Há quem diga que não se tratou propriamente de uma fuga....teria sido mais um simulacro de fuga, consentida por Salazar, para se livrar do fardo de ter Cunhal preso em Peniche. O João o que acha? Foi fuga a sério ou simulacro de fuga?

radical livre disse...

tanto quanto sei esta estória é "conversa para boi dormir".

há relatos de amigos que nem refiro no meu diário temático.
dois que se não conheciam mencionam os mesmos factos de igual modo. um era amigo pessoal de Cunhal e estiveram juntos na clandestinidade; o outro esteve algum tempo com ele em Praga

Charles Maurras da Action Française
disse nos anos 30
«em politica o que parece, é»

Anónimo disse...

É verdade que o soldado da GNR que colaborou na fuga e que fugiu com eles; foi depois, por eles, assassinado?

J.Costa

radical livre disse...

na última ceia de Natal estive a falar com o genro dum médico que
observou santa catarina eufémia. não observou qualqquer sinal de gravidez.

as fantasias partidárias não são para levar a sério
muito menos as do pcp e de Cunhal, dq quem ouvi muita coisa.
uma colega de curso disse que era um homem cheio de encanto para as mulheres, mas muito distante.

só me interessa os factos,
mas cada um pode acreditar no que quizer

Anónimo disse...

Depois do prof. Saraiva ter dito que Salazar era um democrata e Pedro Marques Lopes duvidar que fosse de direita, e dos comentários que acabo de ler, não me admirarei se aparecer algum comentador a afirmar que o fascismo nunca existiu, que Peniche era um hotel e a PIDE alguma instituição de apoio social.

fado alexandrino. disse...

Eram homens que veneravam um sistema social que gostava muito de mandar os outros homens que não pensavam como eles para a morte através dos campos de reeducação.
Gostavam do sistema de pensamento único. Estavam bem uns para os outros.

Nuno Castelo-Branco disse...

Este episódio é alvo de muitas interpretações. Até já se disse que "a fuga" se deveu a um acordo entre a PIDE e o KGB. Os arquivos soviéticos talvez tenham qualquer coisa acerca disso.

Anónimo disse...

Não. Foi para Praga, se não me engano, onde, ao que parece, acabou naturalmente os seus dias.

Anónimo disse...

Um ditador, mesmo que lute contra outra ditadura, não deixa de ser um ditador. Era o caso de Cunhal.

Anónimo disse...

Uma pessoa de família, já falecida, pessoa esta com muita simpatia pelos comunistas (insuspeita portanto) embora se afirmasse socialista, politizada, inteligente e culta, contava pouco depois do 25/4 que o motorista (guarda prisional?) que conduziu o carro onde escapou Cunhal, se suicidou na Checoslováquia pouco tempo depois por não conseguir viver sob aquele regime e principalmente ou sobretudo pelos remorsos terríveis que o assolavam por ter atraiçoado a Pátria. Quem nos contou esta versão dos factos sabia o que dizia, repito, porque fazia parte das tertúlias de estudantes comunistas e socialistas (sem ser militante de qualquer destes partidos). Sofreu pelo facto e tanto assim foi que na crise estudantil de 69 foi espancada pela Pide, a par de muitos outros estudantes, espancamento esse que originou - a família crê - as consequências físicas graves de que veio a sofrer anos mais tarde e que lhe provocaram uma morte precoce.

Sobre a famigerada fuga (heróica), mas afinal parece que fictícia, que só se efectivou após o regime ter deixado Cunhal acabar o seu curso superior tranquilamente, também se comentou essa versão, pois claro e esta familiar não a desmentiu. Seria bom, como diz o Nuno e bem, saber através dos arquivos da antiga U.Soviética a verdade dos factos para avaliarmos com isenção o que realmente se passou. A verdade não prescreve.
Maria

Unknown disse...

Fernando Dacosta, no livro "As Máscaras de Salazar" ,lança luz sobre essa "fuga".
Quanto à hagiografia que por aí circula sobre Cunhal , omite o óbvio : o homem foi um dos primeiros portuguese a ter sucesso numa grande multinacional.
Começando por baixo,diligetne,serviçal,obsequioso perante os aministradores delegados da casa-mãe, intrigando junto destes para afastar rivais porventura mais bem colocados,lá foi subindo - sempre atento á política do CEO de momento (tendiam a ficar por lá bastante tempo...)- e, quando sùbitamente as barreiras do mercado peninsular caíram, foi por sua vez nomeado Administrador Administrador Delegado de Portugal&Colónias ,sabendo de antemão que, num futuro próximo, o título lhe ficaria por metade...Uma história de "sucesso" que se justa bem aos nossos dias.

João Cunha disse...

Exacto, foi o senhor presidente do conselho que o deixou fugir, este malandro, deste comunista, deste futuro ditador, que se não fosse a acção de grandes homens deste país teria transformado este país numa ditadura cruel, e teríamos assim perdido assim todos estes anos, desta excelente democracia, deste país enormemente desenvolvido sem desigualdades, com tantos homens de valor, como o sr Sócrates, o Sr Silva, o sr Loureiro, o sr Vara, o sr Valentim, entre outros grandes portugueses que só "dignificam" este país, ao contrário deste comunista...

Anónimo disse...

Conversas da treta.
Não passam de saudosos do Salazarismo,que nunca lutaram pela liberdade.
Coitados.
jojoratazana

Anónimo disse...

Sim ,tudo muito boas versões, principalmente as da família da Maria. O problema é que Cunhal licenciou-se em 1940, vinte anos antes da fuga de Peniche que a Maria diz ter sido pouco posterior à formatura. Continue a ouvir os seus com todo esse sentido crítico e não se preocupe com as entorses.

Anónimo disse...

Imagina o Dr. Salazar, preso na radiosa União Soviética do Dr. Cunhal, a ser autorizado pelo camarada Estaline a ir defender a sua tese de licenciatura sobre as virtudes do corporativismo e da doutrina social da igreja e a ser aprovado com distinção?

Anónimo disse...

"Sobre a famigerada fuga (heróica), mas afinal parece que fictícia, que só se efectivou após o regime ter deixado Cunhal acabar o seu curso superior tranquilamente"

"Parece que" brilhante.
Tiago Mota Saraiva