Na República da Irlanda está em vigor, desde meados do ano passado, uma lei que proíbe a “blasfémia”. Inicialmente, a lei era apenas destinada a proteger a doutrina cristã dos “blasfemos”, mas numa incursão pelo admirável mundo da igualdade, chegaram ao absurdo de aplicar esta lei a “blasfémias” relativas a qualquer religião. A lei é clara: qualquer religião. Mesmo uma como o comunismo ou o fascismo, creio.
Falando a sério, esta lei é um claro retrocesso civilizacional. Hoje, na Irlanda, um qualquer indivíduo que, segundo as autoridades, profira uma “blasfémia” intencional – avaliar a intenção é algo de extraordinário – fica obrigado ao pagamento de uma multa de 25.000€, um valor bem abaixo dos 100.000€ inicialmente propostos, a menos que prove, outra das especificidades da lei, a sua “inocência” – sim, leitor, há uma inversão do ónus da prova aqui.
Esta situação, que esperamos passageira, deveria servir para que, além de nos protegermos em relação a fanatismos destes, entendêssemos que os Parlamentos, aqui ou noutro lado qualquer, não são imunes à idiotice. Aliás, só mentes muito baralhadas podem considerar que os Parlamentos decidem melhor, em mais consciência e que, nestas matérias, nunca se enganam (motivo que nos leva a impedir a participação popular como aconteceu em Portugal há poucos dias). Esta lei foi decidida pelo Parlamento irlandês numa perfeita ilustração daquilo que os Parlamentos são: amostras de população, com a qual partilham algumas das mais básicas características, incluindo as más.
tmr
1 comentário:
Concordo consigo.
Creio que a lei nasce como resposta - uma má resposta - ao hábito actual de dizer tudo, seja o que for e, além do mais, inconsequentemente: posso ver, diariamente, o que para mim é mais sagrado, vilipendiado gratuitamente, pelos motivos mais fúteis.
A contenção que cada um deve praticar para não ofender o próximo desapareceu - e refiro-me a algo que não é auto-censura - mas o respeito por elementares princípios de decência.
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