12.12.03

OS DONOS

O JPP já se referiu a isto outro dia. Decorre, entre o Dr. Portas e o Dr. M. Soares, uma espécie de "jogos florais" , cujo argumento se alimentou basicamente da forma como o primeiro tratou a esposa do segundo, na história da Cruz Vermelha. Na altura, aqui o escrevi, considerei - como continuo a considerar- totalmente ignóbil a forma como o lider do PP resolveu o assunto. Faz parte do estilo nouveau riche político tão em voga e tão "giro", que se distingue pela enorme delicadeza com que alguns dos actuais encavalitados no poder tratam quem não os acompanha ou quem não os aplaude. Nos últimos desenvolvimentos dos "jogos", o Dr. Soares "encostou" o Dr. Portas à direita extrema, por comparação com o Sr. Fini, que parece passar por uma fase de recuperação do seu proto-fascismo. E o Dr. Portas devolveu em trocos baratos, com mimos do género "Soares não é o dono da democracia", "quem manda é o povo" e que "tinha sido derrotado em três coisas, o filho que perdeu a Câmara, a mulher que perdeu a CV e o Dr. Sampaio que está em Bélem". Rematou com uma tirada original: o Dr. Soares é uma figura do passado, pressupondo-se que ele, Portas, representa o presente e o futuro gloriosos da Pátria. Não querendo comentar o delirante mau-gosto da diatribe, não creio nem que Soares seja do "passado", nem que o Dr. Portas simbolize o "futuro". Soares, sozinho, tem mais passado, presente e futuro em cima dele do que jamais Portas terá, e basta ficarmos pelo "presente". O respectivo fulgor resulta exclusivamente da circunstância de alguma opinião pública e de muita da que se publica, acharem piada ao registo "light and famous" em que emerge o lider popular. Isto não teria qualquer importância se não estivéssemos a falar da segunda ou terceira figura da coligação que nos pastoreia. Para ele, como para Santana Lopes, D. Barroso conta pouco e funciona, aos olhos dos dois, como uma espécie de "director geral" da "grande empresa" da qual ambos são os verdadeiros proprietários. O papel "pedagógico" relativamente à vida pública portuguesa que Mário Soares tem vindo a assumir, desde que saiu de Bélem, se outros méritos não tivesse, tem ultimamente este de ir chamando a atenção dos distraídos - uma amorfa maioria - para as performances destes nossos mediáticos "amiguinhos". Falo no plural, porque os comportamentos políticos daqueles dois homens - Portas e Santana - não são dissociáveis e confundem-se, como o futuro se encarregará de mostrar. Eu digo isto porque votei num deles e, em certo sentido, conheço os dois. Só que não votei para serem os "donos" disto, como eles, com preciosas e insuspeitas ajudas, se preparam efectivamente para ser, se ninguém os parar a tempo.

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