Prosseguem, no Sol, as "memórias" de José Hermano Saraiva. No fascículo desta semana vem o desaparecimento, em Março de 1993, do irmão António que marcou gerações de portugueses interessados minimamente nesta treta. Mas também lá vêm as habituais picardias decorrentes do - graças a Deus - espírito petulante do autor. Sobre um assessor presidencial de Mário Soares, Saraiva escreve o seguinte: "Respondi, portanto, ao tal senhor do telefone, que um pedido presidencial é um assunto sério e não se trata pelo telefone. Devia, pois, enviar o convite escrito, preto no branco, e depois se veria. Aí o dialogante identificou-se: era o eng.º José Manuel dos Santos, nós até já nos conhecíamos de qualquer parte, etc. Confirmava-se a minha desconfiança: em Portugal toda a gente pode chamar-se José Manuel dos Santos.". Mais adiante, e a propósito das gentes que frequentam as escolas secundárias, Saraiva dá-nos um retrato muito fidedigno e actual: "Penso que ainda são bípedes mas já não são racionais. A percentagem de jovens deste tipo, que já nem sabe falar e vive numa penumbra instintiva, que não consegue atingir o patamar da consciência plena e responsável, é cada vez maior". Finalmente, e agora do irmão António, por ele citado, acerca de licenciaturas - um assunto tão depressa dentro como fora da "ordem do dia" -, esta reflexão: "Por este caminho, acabamos por anexar a certidão de licenciatura ao registo de nascimento. Nascem todos srs. drs., e não se fala mais nisso." Aprende-se muito com os velhinhos.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
5.8.07
O CARUNCHO

Afinal, não são canhões, não é a revolução nem sequer um presidente da república como devia ser que mina definitivamente os "alicerces" da democracia, vulgo, parlamento. "A casa-mãe", como os melhores dos nossos jacobinos lhe gostam de chamar, está prenhe de caruncho. Não apenas o humano, mas o real, o da madeira que anda silenciosamente a roer o velho mosteiro de São Bento. Apesar de tudo, sempre é bicho mais nobre que as ratazanas que corroem impiedosamente o Convento de Mafra. Para se perceber melhor por que é que o caruncho se dá bem com a matéria em causa, não resisto a transcrever um comentário de um leitor acerca de um daqueles deputados que, por virem de tão longe, já se confundem com o madeirame infectado.
"Caro JG / para seu conhecº:
Na oportunidade de ter trazido aqui o nome deste personagem do nosso tempo (MA), descarrego aqui um pequeno apontamento sobre o que o Presidente Eanes teve de lhe aturar. Um dos murros na mesa que lamentavelmente não quis ou pôde dar.
Na oportunidade de ter trazido aqui o nome deste personagem do nosso tempo (MA), descarrego aqui um pequeno apontamento sobre o que o Presidente Eanes teve de lhe aturar. Um dos murros na mesa que lamentavelmente não quis ou pôde dar.
Expresso/Revista - “AÇORES, ABRIL E DEMOCRACIA” (não publicado) “Ainda se sente senhor dos Açores? – Nunca me senti senhor dos Açores” «De presidente da AR a último romântico do 25 de Abril, um retrato público da segunda figura do Estado, naturalmente com relevância para as suas funções públicas, tal é a imagem proporcionada pela revista do Expresso (27Mar04). Trinta anos depois do golpe militar que levou à instauração da democracia, vão assentando as figuras de marca do novo regime, entre as quais o mais antigo deputado da Nação, presidente da AR trinta anos após. Não pode separar-se a condição humana e a personalidade de cada um dos seus comportamentos públicos, ainda e mesmo que no desempenho de actividades no governo democrático da sociedade... Quando no decorrer de uma visita do presidente da republica ao arquipélago no inicio da década de oitenta, o então presidente do governo regional não resistiu a manifestar a sua personalidade íntima perante o primeiro magistrado da Nação. Pelas oito horas da manhã e uma hora antes de uma missa... Um jovem governante local, subindo desabridamente as escadas e com impropérios em voz alta, dando azo à sua indignidade perante o presidente da jovem republica democrática portuguesa. Exactamente o primeiro magistrado da Nação, que no final do dia anterior e após as cerimónias oficiais, ousara ter tido um encontro com um cidadão local das suas relações e que constaria do grupo de pessoas das ilhas não gratas do governante do arquipélago. Excitado e colérico pelo sucedido na noite anterior, talvez atingido na sua dignidade e autoridade locais com a forma de proceder do seu ilustre visitante, assim se iniciou esse dia de exercício do poder democrático. Pesem as palavras de apelo à calma da primeira dama ali presente e a impassibilidade de outros presentes, o senhor das ilhas assim iniciava esse novo dia do programa de estadia... Chegados ao templo, foram os dois participar no acto religioso na capela como dois bons cristãos...o ajudante de campo, ainda que antigo crente religioso...no exterior e afastado...durante o ofício religioso, na contemplação da natureza da ilha e de igual modo da natureza democrática dos governantes do novo regime. Até hoje e graças a Deus». Lisboa, 10Abr04 BM "
4.8.07
DOS LIVROS - 8

Aproveitem as "férias grandes" não apenas para a displicência a para a idiotia familiar - é nestas alturas que as melhores famílias descobrem que albergam no seu "seio" uma autêntica família Adams - mas para ler. E para descobrir ou redescobrir esses anti-heróis eternos que habitam em nós como danados: Raskolnikov, Julien Sorel, Fabrizio del Dongo ou Emma Bovary. E para perceberem que o lixo que deixam acumular nas prateleiras lá de casa e que tomam por livros, não é nada.
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3.8.07
O VETO
Contrariamente ao que fez com a lei da televisão, e para perpétuo desgosto da Fernanda Câncio, Cavaco vetou o estatuto dos jornalistas preparado pelo sapiente ex-esquerdista dr. Santos Silva. Este apareceu com aquele ar de quem engoliu uma vassoura e lá terá de inventar qualquer coisa que altere o essencial do que propôs e o PS aprovou, já que foi por causa dessa essência que o presidente se pronunciou. Dominar tudo e todos ao mesmo tempo não pode durar o tempo todo. Como dizia o Lincoln*, sempre tão reclamado pelos liberalóides de alpercatas da pátria, pode enganar-se muita gente durante muito tempo, mas não se pode enganar toda a gente durante todo o tempo. Se não foi ele que disse e se não é bem assim, fica a ideia. Habituem-se.
*Emendado depois do comentário de um leitor. Esta é uma forma de aplaudir o PR sem me babar.
*Emendado depois do comentário de um leitor. Esta é uma forma de aplaudir o PR sem me babar.
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O ASSUNTO
O assunto "licenciatura do primeiro-ministro" está, em aparência, terminado. Zelosa, por exemplo, foi assim que "A.S.L" o deu na notícia sobre o assunto publicada ontem no Diário de Notícias, zeloso pasquim oficiante do regime, agora transformado num misto dormente de 24Horas com O Crime. No Público, falava-se da análise da PGR a um documento que só poderia ter existido em 1998 e não em 1996, data da licenciatura (sem aspas, dadas as conclusões da investigação da minha amiga Cândida Almeida) e nada mais. As televisões também não foram mais longe e, naturalmente, o próprio "não esperava outra coisa". Como é que o assunto que fez tremer o regime - já quando foi de Macau/Melancia, Soares dizia aos próximos que "o fogo passou perto" - a ponto de ter mudado o "registo" do desempenho de todo o governo daí em diante, se inclina tão rapidamente* perante um breve comunicado em A4 que, no fundo, no fundo, só trata da superfície das coisas, e de apenas de algumas delas?
*"Quem gostar de ser enganado e manipulado leia os títulos (a maioria, mas não todos) e as fontes governamentais sobre o arquivamento do inquérito da Procuradoria centrado num único documento da saga do diploma de José Sócrates. (O Público diz com ironia: "comunicado apenas refere conclusões sobre a alegada falsificação de um certificado emitido em 1996 num impresso que só podia existir depois de 1998"). Quem não gostar de ser enganado leia o resto e o que falta esclarecer."
2.8.07
GENTE SEM PALAVRA
Mais importante do que o dinheiro é a palavra. A palavra dada. Estive atento à entrevista de Dalila Rodrigues a Mário Crespo, a directora de saída do Museu de Arte Antiga, mais uma "vítima" dos dois estranhos comissários instalados na Ajuda em nome da "cultura" oficial. Bairrão Oleiro, o presidente do Instituto dos Museus e Conservação desde 2002 - fui à posse dele, ao referido Museu, nessa altura, em representação da direcção do São Carlos de que fazia parte - nem sequer é mau rapaz. É - prova-o o decurso do tempo - um sobrevivente. E, como reza a história, um sobrevivente em cargos de nomeação política deve fazer de morto. Bairrão nem precisava prestar-se a este mau serviço: chamar a directora do Museu e despedi-la com um mês de antecedência com a desculpa de que ela "pôs a boca no trombone". De facto, talvez em Abril de 2005, colocou-se a hipótese de ser indicado para vice-presidente do então Instituto Português de Museus. Duas a três conversas com Isabel Pires de Lima, uma das quais num almoço agradabilíssimo, foram adiando o propósito. Até hoje. Recordo que alguém bem informado em matéria de PS me soprou que Oleiro, apesar de posto no cargo por um governo PSD/CDS, era efectivamente do PS. Que eu o "tratasse bem". Nunca o cheguei a conhecer. Coisas de gente sem palavra, tão diferente dos representados nos painéis da foto.
DEUS NÃO DORME
SAFA
Ao ler o "Diário da República" em atraso, apareceu-me a nomeação do dr. Mário Soares para presidente de uma coisa chamada "comissão para a liberdade religiosa". Nada como um socialista, laico, republicano e jacobino para garantir a liberdade de culto. Safa, como diria o outro.
DEMOCRACIA "CAROLINÁCEA"
Há dias começou a rodagem de mais um filme português. Em si, a coisa nada teria de especial. Mais trampa, menos trampa, já pouca diferença faz a não ser no dinheiro proveniente dos impostos que os subsidiam. Que me lembre, fiquei-me pelo "Delfim", do esposo da dra. Maria João Seixas, com argumento trabalhado por Vasco Pulido Valente a partir da obra de Cardoso Pires. Este tal filme cuja rodagem começou há dias é baseado noutra "obra", a "autobiografia" da sra. D. Carolina Salgado. A própria, devidamente "segura" pelos agentes da PSP que a protegem - de quê? - e que nós pagamos (parece que a gémea da senhora também queria), assistiu in loco e comentou, embevecida, as primeiras filmagens. Foi - e é - "notícia". É claro que quanto mais a família Salgado aparece, mais eu gosto do sr. Pinto da Costa. Estas coisas da cama têm este senão. Por vezes, pagam-se caras e arrasta-se a manta por uma eternidade. Dizia um amigo meu que "amor que pica, sempre fica". Esta veio para ficar. Que fique, mas que não exagere em fazer passar-nos a todos por tolos. Carolina e Cia. são apenas mais um dos diversos efeitos perversos da democracia. Basta olhar para os escaparates dos jornais e das revistas para, em segundos, apreender o país. De frivolidade em frivolidade, a sociedade portuguesa "aporcina-se". Mais uma razão para detestar esta democracia "carolinácea".
1.8.07
UNS PARA OS OUTROS
Esta tarde, o eixo Praça do Município-Praça do Comércio era um local mal frequentado. Os cortesãos do regime, por consequência, do PS, concentraram-se para a posse de António Costa como edil de Lisboa. Costa começou, aliás, muito bem com a aliança com o quinto ou sexto classificado na miserável eleição que lhe deu a vitória, o senhor do "Bloco". Faltam só os "cidadãos" de Roseta, mas esses vêm já a seguir. Costa deu, assim, na cidade, um estatuto de respeitabilidade ao BE que, no meu jargão, significa entregar o ouro ao bandido. Estão muito bem uns para os outros.
O QUE PARECE, É
Deixou de haver motivo para encerrar a Universidade Independente, apesar de o comunicado da PGR não falar uma única vez no estabelecimento que produziu a licenciatura em causa. Tecnicamente, a licenciatura do primeiro-ministro existe depois de 27 inquirições, de 2 buscas e da recolha de variada documentação em todo o lado menos na UNI. Politicamente, o que parece, é. E parece que, afinal, o primeiro-ministro é engenheiro e que o engenheiro é primeiro-ministro. Está bem assim e não podia ser de outra maneira.
DA MUSEOLOGIA
Dalila Rodrigues, a directora do Museu Nacional de Arte Antiga, foi varrida pela tutela pelo interposto director do Instituto Nacional de Museus, Bairrão Oleiro. Colocou condições o que evidentemente esta gente não gosta. Vai ser substituída por Paulo Henriques, do Museu do Azulejo, velho e silencioso cortesão nestas andanças e com uma linda vista para o Tejo.
Adenda: Enganei-me no apelido do Paulo e agradeço ao leitor que me chamou a atenção. Todavia, todos os caminhos vão dar quase sempre aos mesmos, desde a costa do Castelo, passando pela Gulbenkian e acabando nas Janelas Verdes.
Adenda: Enganei-me no apelido do Paulo e agradeço ao leitor que me chamou a atenção. Todavia, todos os caminhos vão dar quase sempre aos mesmos, desde a costa do Castelo, passando pela Gulbenkian e acabando nas Janelas Verdes.
31.7.07
CHUMBADA

Foi dolorosa, pareceu-me, a prestação da ministra da Educação no Parlamento. Quando penso em alguns nomes - deste e do outro regime - que a antecederam no cargo, pior é praticamente impossível. Maria de Lurdes até nem tinha começado mal. Depois perdeu-se por causa de querer meter o professorado todo no mesmo saco de gatos. A seguir demonstrou que, afinal, o "monstro" acéfalo da 5 de Outubro permanecia, inerme, no alegre fomento da idiotia nacional logo a partir da idade do bibe. Os episódios sucessivos com os exames nacionais são dignos do Burundi e não de um país que preside à União Europeia. Finalmente, a ministra caiu na esparrela de ir ao Parlamento defender um processo administrativo indefensável, com um argumentário tosco que algum assessor lhe pôs à frente dos olhos. Tentou a dialéctica e a técnica do ovo e da galinha. Insulto? Processo? Processo? Insulto? O que é mais grave? Se era assim tão grave, punisse e não arquivasse. Era intelectualmente mais honesto do que a conversa que manteve com os deputados sobre o assunto. Isto para não falar da triste figura dos deputados do PS que usam a cabeça como tapete para o governo limpar os pés. Maria de Lurdes é uma estrela cadente deste governo. Se ainda não percebeu isso, vai a tempo de meter explicador. Nem sequer precisa de exame nacional. Está chumbada.
GOVERNO MENOS MÁRIO LINO
E se, para além da fórmula correcta "Portela mais um", se introduzisse outra que decorre da primeira, "governo menos Mário Lino"?
O SENTIMENTO DE DIGNIDADE PRÓPRIA
"Há coisas e pessoas a quem não se responde por um sentimento de dignidade própria: eu não responderei (...). Há pessoas que desconhecem que pode haver na alma dos outros coisas inolvidáveis e sagradas que a gente esconde cuidadosamente das vistas dos tolos e dos maus, porque não podem compreendê-las nem são capazes de senti-las."
in Oliveira Salazar, "A minha resposta (no processo de sindicância à Universidade de Coimbra)", Inéditos e Dispersos - I - Escritos Político-Sociais e Doutrinários (1908-1928), Bertrand Editora
DE COSTA A CONTRA-COSTA

Por falar em dr. Costa, parece que se estreia amanhã como presidente da Câmara de Lisboa. E parece que fará "maioria" com a "esquerda" da esquerda, com o sr. Fernandes, meio vereador, meio oposição, e com Roseta, que acha que vai fazer realmente coisas pela cidade. É evidente que um político profissional como o dr. Costa só tem uma ideia na cabeça acerca de Lisboa. É ganhar a CML daqui a dois anos com a tal maioria absoluta que lhe faltou em meados de Julho. A CML é o reduto político do dr. Costa, tal como foi no passado, com sucesso para Sampaio e com quase nenhum sucesso para Soares que sempre imaginou que era um grande político e uma imensa figura nacional. Nunca foi nenhuma das duas coisas. Costa é mais peixe de águas profundas, como diria o outro. Costa liberta-se, na Praça do Município, da tutela socrática e do cortejo dos socráticos. Costa, enquanto prepara a CML-2, prepara-se para o que der e vier. É mais um sapo no caminho do majestático secretário-geral. Talvez se repita a saga do sapo e do boi, desta vez com mais sorte para o sapo. O decurso do tempo o dirá.
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30.7.07
UM BOM RAPAZ
Extraordinário retrato da representação nacional feito pelo Miguel. Por acaso apanhou um bom rapaz, o "Tó Zé", ódio de estimação do futuro presidente da CML, o dr. Costa. Mas é isso. Não passa de um bom rapaz, como tantos outros, cujo estofo é feito de tanto terem roçado os rabiosques pelos estofos dos sofás das secções das respectivas seitas noites a fio. E não foi a ler livros.
TERRITÓRIO OCUPADO

Quem anda pelo Algarve - eu andei nas últimas semanas -, mesmo que seja cego, surdo e mudo não pode deixar de reparar no efeito devastador da "modernidade" e dos autarcas, essa genial invenção do "25 de Abril". Torres, rotundas, casas construídas em locais inverosímeis, assassinato premeditado do litoral à conta de condomínios de luxo e de hotéis de patos-bravos, e outras badalhoquices, são a paisagem. Não contente com isto, Sócrates foi a Lagos prometer mais hotelaria. Lá estava o inefável dr. Patrão, do instituto do turismo e seu ex-chefe de gabinete, por sinal irmão de um "industrial" do sector e íntimo do assessor de sua excelência para o turismo, o sr. Luís Pinto, por sua vez um rapaz também muito interessado na matéria. O turismo é uma indústria que talvez deva ser cultivada desde que se perceba onde começa a rapacidade e termina a indústria. O Algarve, salvo raríssimas excepções, é a vítima mais evidente do chico-espertismo autoctóne e alheio. Como se não bastasse esta maciça destruição ambiental, a ASAE, ex-inspecção das actividades económicas, anda por lá a farejar "bolas de berlim" e a maravilhosa aguardente de medronho feita em casa. O Algarve, profundo ou superficial, é, literalmente e em todos os sentidos, território ocupado.
29.7.07
AQUI NÃO
Quando questionaram - salvo erro, António Ferro - Salazar acerca da censura, este foi sucinto na resposta: "tentamos reduzir a sua acção ao indispensável". Neste blogue pratica-se assumidamente a censura dos comentários, reduzindo-se o corte ao mencionado "indispensável". E faz-se isso porque o blogue é meu e eu - só eu - defino o que é e o que não é editável. Por exemplo, comecei por rejeitar o anonimato e agora admito algum. Neste, como noutros aspectos, sou bastante mais democrata do que outros bloggers declaradamente mais democratas do que eu e ilustres membros do sistema que não aceitam qualquer comentário. No resto, sou um anti-democrata convicto. Quem quiser escrever - repito-o - vai ao Blogger e segue os três passos constitutivos de um blogue. Aqui não.
NASCER COM COLUNA
"Isto da coluna, nada como já nascer com ela." Quatro anos do Nova Frente, um blogue de pensamento. Os melhores vão ser os próximos quatro. Believe me.
SIMPLESMENTE HELENA
Em condições normais, Helena Lopes da Costa nunca teria chegado a sair de casa onde a esperava, certamente, muito louça para lavar. Só que Helena decidiu-se pelo regime e pela política. Começou, obscura, em Algés. Gatinhou com Isaltino Morais, fez parte de umas agremiações locais e acabou em presidenta da junta. A seu tempo, passou-se para Lisboa e, pela mão de António Preto com quem entretanto se zangou, aparece como a "número 2" de Santana Lopes na CML. Era uma vereadora "todo-o-terreno" com assessores para tudo e mais alguma coisa o que a tornou famosa. Nem sei por que é que o "escândalo" dos assessores foi todo transferido para Carmona. Não foi Helena quem inventou, por exemplo, o sr. Lippari? Foi. Não foi Helena quem colocou um batalhão de capachos "laranjinhas" em todo e qualquer buraco da CML? Foi. Até acabou premiada com o cargo de vice-presidente do PSD, no tempo de Santana, o que diz tudo acerca da plutocracia partidária, seja ela qual for. Varrida pelos rápidos ventos da política nacional, Helena dedicou-se à conspiração, umas vezes ao lado do inefável Santana, outras ao lado de Menezes, a face risível e possível de Santana em 2007. Agora aparece muito indignada- sim, esta gente sem vergonha na cara é muito dada a indignações - com o partido por causa das quotas que ela aparentemente paga aos magotes. Foi um hábito que deve ter aprendido com o António Preto, outro generoso cacique, que tratava amiude do assunto dos outros quando era presidente de secção e mesmo depois. Helena, e muitos outros como ela noutros partidos, são os principais responsáveis pelo asco progressivo a que muito justamente a maioria dos portugueses vem votando os partidos, não votando neles. Pensem nisso enquanto é tempo.
SIMPLESMENTE DINA

O escritor norte-americano Norman Mailer, insuspeito de não gostar de mulheres, manteve sempre com elas uma relação muito estranha. A uma delas chegou mesmo a dar umas facadas. Literais. Todavia é dele a mais bonita biografia de Marilyn Monroe e um outro livro em que ela aparece, Of Women and their elegance. Por causa das mulheres e da sexualidade, Mailer manteve grandes polémicas televisivas e escritas com o seu coevo Gore Vidal. Vidal apreciou sempre as mulheres, não exactamente pelos mesmos motivos de Mailer. Talvez por isso lhe tivesse tantas vezes atirado à cara a sua indisfarçável misoginia. Vem isto a propósito de uma extraordinária entrevista na Única à ex-mulher do antigo governador de New Jersey, um Jim qualquer coisa, democrata, que "saiu do armário" na pior altura para a "sua" Dina. Dina Matos, como o nome indica, é de cá. Aos dezoito anos levaram-na para os EUA. Felizmente, diz ela, já que Dina considerava insuportáveis "a história e a cultura portuguesas". Lendo a Dina e as perguntas idiotas que o sr. Jenkins, o correspondente do Expresso lhe coloca, percebe-se por que é que o Jim vagueava por livrarias e estações de serviço (sic) à procura de fruta. Dina deve ter sonhado com a Casa Branca, uma vez que o dito Jim era politicamente prometedor. Era, porque depois de um "caso" com um "segurança" (dele) israelita e de outras "suspeitas" que o sr. Jenkins e a Dina apreciam na entrevista, designadamente o habitual número da chantagem, o Jim declarou-se um "americano homossexual" (sic também). Agora vive alegremente com o "companheiro", dá lições de ética numa universidade qualquer e vende o seu livrinho de "confissões". Dina, uma quase Hillary até na "traição" - com a diferença nos pêlos no peito dos amantes de Jim -, respondeu na mesma moeda, ou seja, com um livro. E pretende, naturalmente, vender o melhor possível a figura de parva que andou a fazer no casamento. Como Dina Matos, existem por aí muitas "Dinas", só que as pobres não aspiram a nada a não ser tratar modestamente das suas casinhas não brancas. Pelo meio havia filhas, duas de casamentos diferentes, o que prova que não há nada mais fácil no mundo do que cuidar da natalidade e da fruta simultaneamente. De que é que estão à espera, portugueses?
DOS LIVROS - 7

A propósito do derradeiro patriota - cada dia que passa tenho mais a certeza de que o é - seria bom que os herdeiros do Doutor Salazar e a Coimbra Editora se entendessem para que fossem reeditados os seis volumes dos "Discursos e Notas Políticas" do primeiro. São prosas que ultrapassam a circunstância - o Doutor Salazar, ao contrário dos papagaios de hoje, não era um homem de circunstâncias - e que dão testemunho de uma época longa da nossa história através de uma límpida retórica político-literária jamais recuperada. Para além disso, foram escritos pelo punho do próprio Doutor Salazar enquanto agora se reune um petit comité de pseudo sábios e de pseudo estrategas que preparam uns quantos papiros consoante as "especialidades" de cada um, deixando a alguém que saiba ler e escrever a "síntese" final que o venerando representante do regime lerá ao povo em teletexto. Salazar cultivava, entre outros, Vieira. A esta gente basta-lhes o primeiro escriba que articule minimamente duas frases. Também, tanto faz. Emissores e destinatários estão, nessa matéria, praticamente ao mesmo nível. E quanto menor for o ruído da presente retórica política, melhor. Não se deve maçar excessivamente as crianças.
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28.7.07
O MONÓLOGO INSTITUCIONAL DA VAGINA
Como ainda não tive tempo para ler o fascículo semanal das memórias de José Hermano Saraiva, não tenho tema. De qualquer forma, e ainda acerca do aborto, afigura-se-me que o "monólogo da vagina" passou a verdadeira questão constitucional e nacional. Já devo ter ouvido o Chefe de Estado a perorar sobre o mesmo assunto e com o mesmo argumentário alguma meia dúzia de vezes. Fora a repetição da entrevista de Sócrates na SIC Notícias. Pobre país.
27.7.07
ERA UMA VEZ NA MADEIRA
Desculpe que lhe diga, Fernanda, mas apesar de V. ter ido à Madeira, ainda não chegou à Madeira. Aquela tirada das queixinhas ao Mário Soares - realmente esta criatura prestou-se e presta-se às coisas mais deliciosas, como, por exemplo, ter para com Chávez uma complacência retórica que cá dentro não teve e não tem com tanta gente - é um must. Pena ele não estar nas mesmas funções para ver se recebia quem quer fazer queixinhas do senhor primeiro-ministro e do dr. Santos Silva. Adiante. Falta-lhe só uma nota de rodapé no seu esclarecedor artigo, escrito no melhor estilo Stephen King, onde se nota a falta da rábula de comer criancinhas com peixe espada preto e banana frita. É explicar aos leitores que os serviços de saúde da Madeira e dos Açores estão "regionalizados", como as finanças na primeira. Daí a circunstância de a sua amada lei do aborto dever ser aplicada ali com as nuances exigidas por este quadro constitucional e regional. Nem mais nem menos do que isto. O resto é mais da mesma fábula.
NO CENTENÁRIO DO ASSASSINATO DE D. CARLOS
Outra petição. A memória de um chefe do Estado assassinado por dois "heróis" republicanos e democráticos e vítima de conspiradores como Aquilino e Afonso Costa. Ao menos este foi posto na rua e interdito o seu regresso a Portugal, morrendo em Paris em 1937. Ao outro, espera-o o Panteão se o dr. Gama não tiver um acesso do bom senso que o costuma caracterizar.
O DERRADEIRO PATRIOTA
No dia 27 de Julho de 1970, faz hoje trinta e sete anos, desaparecia o Doutor António de Oliveira Salazar. Menos de quatro anos depois, na noite de 25 para 26 de Abril de 1974, o General António de Spínola, na RTP, anunciava o propósito, uma vez derrubado o regime do defunto, de manter a integridade da Nação "no seu todo pluricontinental". Em cerca de um ano, isto é, entre este anúncio e a independência da última colónia, Portugal cedeu gratuitamente a terceiros cerca de quinhentos anos de história. Spínola obviamente já tinha saído de cena. Para o efeito, o ministro dos negócios estrangeiros do novo regime e meia dúzia de ideólogos do MFA andaram um pouco por todo o lado a preparar a rápida transumância. A "correlação de forças" no terreno e fora dele, uma expressão tão cara ao PC, encarregou-se do resto. Valeu ao novo regime, uma vez encerrado abruptamente o ciclo colonial - sem sequer ter sido ponderado o ciclo "federal" proposto pelo antigo governador militar da Guiné - a circunstância de aquele ministro, já transformado em primeiro-ministro, e ao arrepio dos "conselhos" de brilhantes economistas que viríamos a conhecer mais tarde, ter solicitado a adesão de Portugal à então CEE. Foi este verdadeiramente o acto fundador desta outra fase da vida nacional, tal como, cinquenta anos antes, tinha sido o "28 de Maio" ou o discurso da Sala do Risco. Despojados de memória, de territórios ultramarinos, de "patriotismo" e enterrado com o Doutor Salazar um determinado registo geo-estratégico e geo-político, precisávamos rapidamente de nos agarrar a outra coisa que continuasse a justificar-nos enquanto nação. Essa outra coisa foi - é - a Europa. Salazar dizia de Marcello Caetano, seu involuntário sucessor, que era "um fraco". Era. Era-o tanto quanto foi um insigne jurista e um eminente professor. Caetano catalisou as direitas que julgavam poder escapar ao sortilégio do antigo catedrático de Coimbra. À sua sombra floresceram "alas liberais" e pusilânimes de diversas proveniências. Toda esta gente acalentou o sonho de uma direita "liberta" de Salazar: uma direita liberal, moderna e europeia. Tentaram isso com Marcello, tentaram isso, depois, com o PPD, com o PSD, com o CDS e com o PP. Este regime, com a pressa de se querer ver livre do espectro salazarento, não quis ou não soube interpretar Salazar. Preferiu escondê-lo, como se tivesse vergonha da história. Aquelas direitas partidárias também por causa do trauma do anti-fascismo. Durante os quarenta anos que governou Portugal, Salazar manteve a viabilidade do país como nação. Primeiro, preservando a independência e a integridade nacionais aquando dos conflitos espanhol e mundial de 39-45, sempre em absoluta consonância com a aliança inglesa. Depois, colocando o país na NATO, na OCDE, no Banco Mundial, no GATT e na EFTA, entre outros organismos internacionais. A terceiro-mundista ONU nunca suportou o nosso estatuto pluricontinental e apoucou o mais que pôde o regime, diminuindo a sua capacidade de acção internacional na defesa do Ultramar. Muitos compatriotas nossos, de cá e espalhados pelo mundo à conta da oposição a Salazar, juntaram-se a este coro de carpideiras emancipadoras. Salazar fez sentido enquanto não houve Europa e o país possuia uma fronteira ilimitada que ia para além do Atlântico. Salazar deixava de fazer sentido com a Europa e com um país periférico confinado à sua exígua fronteira terrestre, à burocracia demo-liberal de Bruxelas e aos negócios obscuros com as nomenclaturas que mandam nas ex-colónias. O país, esse, já tanto lhe faz ser governado por este ou por aquele, de plástico ou de plasticina, venha ele de fora ou de dentro, ou vá ele de dentro lá para fora. Em certo sentido, o Doutor António de Oliveira Salazar foi o derradeiro patriota.
26.7.07
ONDE PÁRA A PETIÇÃO?
Como ignoro se o dr. Jaime Gama abandonou ou não o propósito de colocar Aquilino Ribeiro no Panteão, ali a Santa Clara, é um bom momento para se saber do paradeiro desta petição.
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O OUTONO DOS PATRIARCAS

Tem razão, Medeiros Ferreira. A blogosfera e os jornais fizeram mais pelo professor Charrua do que a sua insuportável langue de bois típica "da casa". Do regime, naturalmente, que ele já serviu como deputado. Só não o acompanho na celebração das "datas libertadoras". As do século XIX, ainda vá que não vá. Agora o "5 de Outubro", a data da implantação da ditadura "democrática" de outro Costa e respectiva camarilha, não calha muito consigo. Eu, por exemplo, sou mais "moderno". Ao Outono de 1910 preferirei sempre a Primavera de 1926.
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O PROBLEMA NACIONAL
A avaliar pelo que leio online, a grande preocupação do senhor primeiro-ministro - revelada na SIC - é que a lei do aborto, o único ex libris que ele faz questão de apresentar para se sentir da "esquerda moderna", se cumpra na Madeira. Talvez esteja mesmo a pensar em enviar umas fragatas, os submarinos do dr. Portas e umas pilecas de Mafra para obrigar ao cumprimento da dita lei. Bendito país cujo único problema nacional é o aborto. Que gente mais feliz.
25.7.07
O PS NO SEU LABIRINTO

Há três anos, por esta altura, os deputados Manuel Alegre, José Sócrates e João Soares disputavam a liderança do PS. Sabemos o resultado. Um ano e meio depois, Alegre, à revelia do homem que o derrotou no partido, obtinha um milhão de votos nas presidenciais. Soares, o pai e candidato oficial, era humilhado com menos de 15%. O Joãozinho, o Soares pequenino, nunca contou para nada nesta disputa. Por isso, nem ele nem o pai - este só muito timidamente criticou alguns "aspectos" da "situação" - podem falar demasiado alto contra o absolutismo democrático de Sócrates. Sobra Alegre que, politicamente, pouco conta a não ser possuir uma bela voz e alguma iconoclastia partidária. Daí o artigo do Público, um derrame melancólico sobre a liberdade e o medo que nenhum de nós hesitaria subscrever. Imagino que o senhor presidente em exercício não se tenha sentido afectado pela prosa já que nunca levou Alegre a sério. Eu também não levo, mas gosto de gente que não alinha em manadas acéfalas e oportunistas. Sócrates, em apenas dois anos, já conseguiu irritar muita gente, sobretudo gente que votou nele. Que é "dele". Apesar disso, continua impávido e sereno como um promotor de margarina contra o colesterol num supermercado. Ainda ontem saiu de um daqueles "balcões electrónicos" que lhe inventaram para "facilitar" a "sociedade civil" e a única coisa que lhe ocorreu dizer foi que aquilo é tão bom, tão bom que "até apetece comprar uma casa". Faltou-lhe, no entanto, prodigalizar o dinheiro para se comprarem as ditas casas. E é por aí - e pela petulância sem substância que o caracteriza - que Sócrates e os seus acólitos começarão a cair, mais cedo do que a fartação de Cavaco que só se sentiu a pouco mais de um ano de ele dizer que se ia embora. Ninguém fora do PS o vai derrubar. Ninguém. Porventura nem Cavaco, num eventual segundo mandato em que esteja vivo. É o seu imenso vazio que, um dia, acabará com ele de vez.
Nota: Isto foi escrito antes de uma entrevista de Sócrates a uma televisão. Como dizia o outro, para esse peditório já dei.
Nota: Isto foi escrito antes de uma entrevista de Sócrates a uma televisão. Como dizia o outro, para esse peditório já dei.
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O MUNDO DÁ MUITAS VOLTAS

O facto de alguém ser acusado num processo não faz dele imediatamente um criminoso ou um pária. Aliás, o processo ainda é o meio mais seguro - e o único adequado - para tratar questões como as levantadas, não politicamente, mas juridicamente, pelo apelidado "caso Portucale". Paulo Portas e os seus apaniguados sabem disso melhor que ninguém. Uma vez encontrei o Pedro Guerra, à altura jornalista no Independente, a ler tranquilamente, numa esplanada na Júlio Dinis, uma cópia bem gorda de algo que, pelo timbre, era manifestamente uma peça processual. O Pedro Guerra terá sido o derradeiro "herdeiro" de uma "escola" de "fazer jornalismo" monitorizada no Independente - e não só - que "vivia" da promiscuidade com as "fontes" judiciárias e de investigação criminal. A técnica é sempre a mesma. Primeiro crucificam-se os visados em "cacha alta" e nas primeiras páginas. Depois, ignora-se o curso do processo. E, finalmente, se ninguém é condenado mediante sentença transitada em julgado, nem que seja três ou cinco anos depois, tem, quando muito, direito a duas linhas na última página. Portas e os seus amigos vão agora passar pela "via sacra" que tão bem dominam. O Pedro Guerra, o da esplanada, acabou em assessor político de Portas, ministro da defesa. Devia ter aconselhado melhor o seu mentor.
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DOS LIVROS - 6

George Steiner, como todos os bons professores e ensaístas, é um grande escritor. Nem a "fixação" judaica, presente em todos os seus escritos, diminui - antes pelo contrário - a extraordinária capacidade que possui de nos pôr a pensar. O Silêncio dos Livros* é uma curtíssima reflexão sobre o papel do livro hoje. Retoma - em Steiner a persistência temática é a melhor evidência da sua coerência intelectual e da sua aristocracia de espírito, ambas qualidades em vias de extinção no mundo em que as elites se movem - coisas postas em letra de forma num livro bem mais antigo e, nem por isso, mais "desactualizado", No castelo do Barba Azul - algumas notas para a redefinição de cultura, traduzido na Relógio D'Água: "os livros bem-amados são a sociedade necessária e suficiente do indivíduo que lê a sós". Este Silêncio fala do essencial que nos anda a escapar por causa das "competências" (essa palavra hedionda do calão "eduquês") e do facilitismo. "A educação moderna cada vez se assemelha mais a uma amnésia institucionalizada. Deixa o espírito da criança vazio do peso das referências vividas. Substitui o saber de cor, que é também uma saber do cor(ação), pelo caleidoscópio transitório dos saberes efémeros. Reduz o tempo aos instante e vai instilando em nós, até enquanto sonhamos, uma amálgama de heterogeneidade e de preguiça." E quando se "cede aos valores veiculados pelos mass media ou ao matraquear da publicidade, como acontece hoje em dia na Europa ocidental, assistimos ao triunfo da mediocridade."
*seguido de Esse vício ainda impune, de Michel Crépu (Gradiva, 2007)
*seguido de Esse vício ainda impune, de Michel Crépu (Gradiva, 2007)
24.7.07
A ÁRVORE E A FLORESTA
O arquivamento do processo disciplinar do professor da DREN não arquiva a questão política de fundo. E a questão política de fundo tem a ver com a possibilidade efectiva de alguém poder ser perseguido, administrativamente ou através de qualquer outro procedimento, por uma coisa que não existe, o delito de opinião. O "caso Charrua" foi apenas um sintoma público do muito que se passa às escondidas. Margarida Moreira, a da DREN, é uma comissária política. E age e pensa como tal. Há muitos mais por aí doidos para se porem em bicos dos pés.
A PROMULGAÇÃO DO CONTROLO
Mais um lamentável frete do PR ao governo que passa por um atestado de indispensabilidade a essa anacrónica "entidade reguladora da comunicação" do sr. Azevedo e da professora doutora Serrano. Se é assim para a lei da televisão, é de esperar o pior em relação ao resto do "pacote" controleiro do dr. Santos Silva. Cavaco nunca percebeu bem o papel de uma comunicação social livre, sem os burocratas-delegados do poder a vigiar. E, pelos vistos, continua a não perceber - ou a não querer perceber - o que é bem mais grave.
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NÃO ESTÁVAMOS EM ÁFRICA

Ainda sobre os pequenitos e a propaganda do governo, a boa lembrança de um leitor acerca da diferença dos tempos, das personalidades e da ética pública, aquela a que apelidam de republicana:
"Anos 80/82. O oficial responsável pela aquisição de um lote de Citroens e de um super Citroen, topo de gama, para o PR, informa o PR: que a direcção da Citro gostaria de ter uma fotografia com o PR junto do carro. Resposta pronta ...diga-lhes lá que não estamos em África."
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QUESTÕES ABRUPTAS
O José Pacheco Pereira, apesar de ser do "sistema", nem por isso se coíbe, quando lhe dá a veneta, de o zurzir lá onde ele deve ser mais denunciado. Por exemplo, leiam-se no Abrupto as últimas prosas sobre as desatenções cavaquistas em matéria de liberdades públicas (honra e glória ao Paulo Gorjão), sobre o eterno retorno em Portas e sobre o servilismo de certos comentadores "especializados" em assuntos europeus acerca do "tratado reformador". Aqui JPP tem mais graça porque escreve ao lado deles e delas. É por causa destas e de outras que há quem gostasse de o ver fora do "sistema" ou, no limite, fora do seu próprio partido. Deste JPP e do dos livros*, é que eu gosto.
*A parte dos livros é uma private joke à espera de melhores dias. Dias...
AGITPROP

O mesmo país que preside à UE, que tresanda a "choques" tecnológicos por todo o lado - incluindo o aborto que apresenta quase como um novo "25 de Abril" -, que é governado pela "esquerda moderna" mas que não deixa reformar gente com doenças terminais, que oferece diariamente espectáculos de pequena e grande corrupção na sociedade dita civil, que faz da banal detenção de criminosos um "show", etc., etc. este mesmo país e o governo que o dirige prestam-se a esta palhaçada digna do pior terceiro-mundo. "A ideia era mostrar as potencialidades da utilização dos quadros interactivos numa sala de aula. Sentadas em carteiras, cerca de uma dezena de crianças respondiam ao “professor” e faziam os exercícios descritos no quadro, com ajuda do rato ou de uma caneta especial que faz as vezes de giz. Só que para além da sala improvisada no Centro Cultural de Belém havia algo mais encenado. Os “alunos” eram crianças que tinham sido recrutadas por uma agência de casting: a NBP, num trabalho que rendeu 30 euros a cada um, de acordo com o relato feito por um dos miúdos à RTP." Li no Público e acredito, até por ter prestado vagamente atenção à notícia na RTP. Instado nessa mesma peça a comentar a coisa, Sócrates lançou aquele olhar de "animal feroz" de quem não está para ser perturbado no seu sonho de grandeza por primitivismos jornalísticos. Sucede que foi ele quem propiciou o "momento Chávez", a fazer lembrar os pioneiros dos falecidos países de leste e de Cuba. A diferença é que estes miúdos foram pagos para a propaganda do governo com se estivesse. - e estavam - numa telenovela venezuelana. Não há meio deste pobre regime em fim de festa ter um pingo de vergonha na fuça.
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23.7.07
O PRESIDENTE DA JUNTA

Hoje é um dia histórico para a presidência portuguesa. O dr. Amado, um dos poucos homens com algum nível no meio dos que nos pastoreiam, abriu a chamada conferência inter-governamental para a elaboração do novo tratado europeu, o chamado reformador, o pequenino. E quer - aí já está "a variar" - aprovar a coisa até Outubro. Quem não perdeu pitada deste prolegómeno foi o dr. Barroso, que perorou imediatamente para jornais e televisões. O dr. Barroso quer voltar a casa com obra na labita. E cola-se, como uma lapa, à presidência de um Sócrates pouco experimentado nestas matérias. Se tudo correr bem, Barroso - não duvidem - aparecerá aos ombros dos seus próprios ombros. Se tudo correr mal, nomeadamente se Sarkozy se exceder no chauvinismo francês, se os amáveis gémeos polacos se reforçarem domesticamente e se Sócrates não tiver fôlego suficiente para tamanha opus, Barroso, como é seu timbre, dará uma desculpa esfarrapada para "descolar" do seu país de origem e continuar a tratar daquilo que ele trata melhor: a sua vidinha. Não suponha, pois, o governo português que Barroso anda por ali apenas para dar uma mãozinha amigável. Não anda. Barroso gosta demasiado da sua pessoa e da figura que quer fazer na comissão - e de que pretende fazer "download" para Portugal - para se preocupar com minudências. Na cabeça dele - e desde a altura da pensativa foto de 1975 - ele é que é o presidente da junta.
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A ELITE E O POVO
Estes e estas hipócritas que constituem a elite pátria e que não descansaram enquanto não liberalizaram o aborto até às 10 semanas de gestação, equiparando-o a um banal e mais cómodo meio de travar a concepção, foram agora a Espanha "copiar" o demagógico subsídio de natalidade. De repente, o povo e a elite que o pastoreia descobriram-se velhos. Velhos e envilecidos. Gente que não sabe cuidar dos vivos, que não respeita os seus mortos e que banaliza o aborto não merece um subsídio meramente político e propagandístico. Merece pagar uma taxa sobre o seu endémico oportunismo e sobre a sua crónica estupidez. A própria e a da elite. Com uma raça destas, não vamos decididamente a lado nenhum.
DOS LIVROS - 5
22.7.07
MENDES E OS OUTROS
O dr. Marques Mendes devia criar as condições para que os cento e vinte mil militantes do PSD se possam candidatar, querendo, ao seu lugar. Sobretudo propiciar - já que são muitos - que se "arrebanhem" em grupos, dirigidos por um militante mais "informado" que lhes pague as quotas até ao natal e que, em caso de necessidade, indique o seu endereço para os acolher. Há cerca de três anos abandonei o PSD. Enviei uma carta com o cartão ao secretário-geral e recebi uma amável carta em troca que me informava da "desfiliação". Mesmo assim, continuei, durante uns tempos, a ter as quotas em dia... Ou seja, alguém pagou, sem que eu lhe pedisse, as quotas que nem sequer já devia. E, antes disso, aquando de um congresso qualquer em que me interessava votar, dirigi-me à Lapa para pagar quotas em atraso. Paguei e, pouco tempo depois, devolveram-me o dinheiro porque, afinal, já tinham sido pagas. Só conto isto para que se perceba por que é que, eventualmente, Mendes acabe por ir sozinho às "directas". Não é bom para ele, nem para o partido, nem - concedo - para o país. Todavia, pior é eternizar os caciques e servir-se deles para constituir os chamados sindicatos de voto que ninguém controla. Menezes, no seu choradinho, "esqueceu-se" de mencionar esta evidência e estranho que Ferreira Leite, sempre tão firme e hirta, lhe tenha dado indirecta razão. O problema é outro. Todos, como bons cobardolas, "guardam-se" para umas quaisquer "vacas gordas" depois de 2009, à espera que Mendes perca estrondosamente contra a situação. Acontece que, com ou sem Mendes, não se vislumbra sucesso na direita em matéria de pastar a vaca, dado o estado anestesiado e bovino em que nos encontramos por obra e graça do novo senhor do dr. Júdice. Provem-me que qualquer das salvíficas alternativas a Mendes é melhor do que ele e depois falamos.
A PREBOSTE

A D. Inês Pedrosa escreve livros e crónicas nos jornais. Consequentemente é uma escritora portuguesa. Todavia, a sra. D. Inês passa mais tempo nas comissões de honra deste e daquele e em porta-voz de missionários políticos do que a escrever senão não escrevia as baboseiras que costuma escrever. O derradeiro delíquio "cívico" deste grande vulto nacional foi o apoio ao dr. Costa, futuro presidente da CML. Danada por os eleitores de Lisboa terem votado o acto eleitoral ao descrédito, a senhora, na sua croniqueta do Expresso, reclama por sangue. Fala em "gravíssimo desdém" pela democracia e exige a punição dos abstencionistas. A D. Inês - que supostamente deveria ser trinta vezes mais democrata do que eu - entende que os vilões que não votam deviam ser, por exemplo, excluídos dos empregos públicos e impedidos de se candidatarem a "bolsas". Fugiu-lhe logo o pé para aquilo que ela, e muitos como ela, melhor conhece: a prebenda, o premiozinho da treta sempre esmolado ao Estado que os carregue, a distinção pública por meia dúzia de parágrafos mal esgalhados. Esta literata de bolso não percebe que são justamente criaturinhas como ela - que contribuem com o seu bolsar em letra de forma para o estado a que isto chegou precisamente porque "vão a todas" - quem mais afasta as pessoas da coisa pública. O estalinismo norte-coreano tardio da D. Inês emparelha com a vocação esquerdina serôdia do dr. Júdice. Podem, por isso, contar com o desdém eterno, e em cada vez maior número e qualidade de portugueses, por esta coisa em forma de democracia a que a senhora se agarra como gato a bofe. E vá dar lições da dita e de cidadania para o raio que a parta. Aqui já estamos cheios de dondocas "intelectuais" como a senhora, nada, criada e inventada pelo sistema. A literatura portuguesa passa muito bem sem si. E esta coisa que passa por democracia também, muito obrigado.
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ABORTOS, UNI-VOS
Quem aterrasse, assim, de repente em Portugal, lesse os jornais e desse uma olhadela às televisões, podia pensar que aqui nunca se fez um aborto. A diarreia verbal que tem acompanhado a entrada em vigor da "nova "lei e respectiva regulamentação, a pseudo-novidade da coisa, só são comparáveis à corrida maciça às salas de cinema depois do "25" para ver filmes "eróticos". O cuidado que os dirigentes do SNS colocam na abordagem do tema, sobretudo a preocupação que evidenciam em "mostrar serviço", só pode ser consequência de uma má consciência qualquer misturada com o medo palonço de não desagradar aos "líderes de opinião". Parece que o único problema de saúde pública do país é o aborto, o aborto e mais o aborto. Grandes abortos é o que eles todos são.
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