
No abrasileirado Expresso vem uma história edificante. Um rapaz de Esposende, com 23 anos, frequentou as "novas oportunidades" de Sócrates. Antes tinha desistido do liceu mas o referido Sócrates permitiu-lhe - com o seu irresponsável programa - obter a equivalência ao 12º ano numa rapidinha, com um exame de inglês. Acabou de ser admitido na universidade com 20 valores e concorreu em condições de igualdade com todos os outros que frequentaram a escolaridade obrigatória. Tornou-se, como explica o título da notícia, "o melhor aluno do país". No mesmo hebdomadário, Manuel Maria Carrilho é entrevistado a propósito da publicação do seu livro «E agora? - por uma nova República», da Sextante. Não é segredo para quem lê este blogue que Carrilho é das pouquíssimas pessoas por quem nutro uma profunda e sincera estima intelectual. Contrariamente à generalidade da trupe que tomou conta do PS, pensa. E pensar, para aquela como para as nomenclaturas dos outros partidos, é incómodo. As suas palavras, sem querer, "interpretam" a história do rapaz de Esposende e anunciam milhares de histórias como as do rapaz de Esposende: não se deve confundir certificação com aprendizagem. Afirma Carrilho que «seria incapaz de passar este período sem propor um desígnio para o país» (ninguém, no "activo", parece ter um a escassos meses de uma eleição presidencial) e esse desígnio é a «qualificação do território, das instituições e das pessoas.» Não é «o deslumbramento tecnológico» que, de pequeninos, começa a "treinar" as criancinhas para a facilidade e para o "tudo feito", agora ou quando lhes apetecer, em meia dúzia de meses. Carrilho representa o país na UNESCO mas, num certo sentido, é mais um "exilado", daqueles a que Jorge de Sena aludia na Guarda, em 10 de Junho 1977, num discurso previamente escrito em Paris - «o homem que se sente moralmente no direito de verberar com tremenda intensidade os erros ou vícios da sociedade portuguesa» por causa da sua «fidelidade a Portugal», um lugar onde as gentes «disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega ou do cinismo mais oportunista.»