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15.2.11

É MESMO ASSIM


Algumas reverências da "direita" viram há tempos em Luís Amado uma "hipótese" para o lugar de Sócrates. Amado, cuja perspicácia política é praticamente nula, levou-as a sério e, pior do que isso, levou-se a si próprio a sério. Cada frase sua era vista como um oráculo (o que diz tudo acerca das elites políticas caseiras) e, sobretudo, como um putativo ataque a Sócrates. Como lhe competia, Sócrates não permitiu que o sapateiro fosse além da chinela. E Amado ficará para a pequena história como um esquecível MNE, mero burocrata executante de mandatos superiores. Ora o nosso Amado esteve presente num Conselho de MNE's da União Europeia no qual foi apresentada uma moção de condenação às perseguições religiosas. Os representantes dos vinte e sete estados-membros apenas "mantiveram uma troca de pontos de vista sobre a liberdade de religião e de crença porque cinco países membros, entre os quais Portugal, vetaram a moção. Há matérias acerca das quais a correcção política deixa de o ser para passar a alarvidade política. Levar a laicidade ao extremo de "igualizar" coisas que não são, de todo e historicamente, equivalentes, limitando a liberdade religiosa por omissão, fica mal a qualquer pessoa de bem. Mas a um pusilânime não fica nem bem nem mal. É mesmo assim.

10.11.10

FASCISMO CONTEMPORÂNEO


A liberdade religiosa está cada vez mais ameaçada na Espanha do senhor Zapatero, pífio epígono da "república das bananas" que deu azo à sangrenta guerra civil tão bem descrita no livro indispensável de Hugh Thomas. Agora é a Igreja do Vale dos Caídos. Desde o dia 3 de Novembro, os monges beneditinos e os paroquianos são obrigados a celebrar missa num pinhal fora do complexo. O vice-presidente do sr. Zapatero, um tal Rubalcaba, enviou a Guardia Civil para impedir o acesso à basílica. Não dá para ir até lá dar uns beijinhos na boca, como em Barcelona?

30.11.09

TENHAM PACIÊNCIA


Uma das coisas mais fascinantes de Istambul - Istambul, toda, é uma das cidades mais fascinantes do mundo - é a profusão de mesquitas. E onde há mesquitas, há chamamento para as orações. O cruzamento desses sons é outra das coisas fascinantes de Istambul. Isto serve para dizer que aprecio mesquitas. É um lugar de culto como outro qualquer e que me merece todo o respeito. O mesmo que me suscita o resultado de uma consulta popular, vulgo referendo. Os suiços decidiram-se pela suficiência dos minaretes construídos nas suas mesquitas. Não querem mais. Por consequência, levantou-se imediatamente o coro internacional dos padroeiros da correcção política para atacar a decisão suiça. O argumentário é conhecido.Todavia, se existe país que dispensa lições destes curandeiros é a Suiça. Esta gente, no fundo, só suporta a democracia de que se reclama dona quando a democracia "vota" a seu favor. Tenham paciência.

25.10.09

O FREI E O ESTALINISTA

O inevitável e inimitável frei Bento Domingues, no seu artiguinho semanal, defende, a propósito de Saramago, um "confronto na afabilidade" e cita um autor para defender o estafado diálogo entre crentes e não-crentes. O nosso frei é um multiculturalista que usa, por acaso, uma veste sacerdotal. Saramago é um falso multicuralista escondido, sem ser por acaso, numas vestes estalinistas. Quer dialogar com isto?

11.5.09

PAR DÉLICATESSE


Quando um tipo qualquer falou em massacre perpetrado por Israel na Faixa de Gaza, Ratzinger abandonou uma reunião com líderes religiosos cristãos, judeus e muçulmanos que decorria na Terra Santa. Nem já o Papa resiste a um gesto politicamente correcto para não desagradar àquela boa rapaziada do costume a qual, como sabemos, é muito propensa a "diálogos". Par délicatesse, naturalmente.

4.2.09

O "BIZARRO PAVOR DA DÚVIDA"

Esta corajosa jornalista - sempre do lado certo da história e das coisas - vai ornamentar o novo canal cabo da TVI. Já agora, podiam levar com ela (mesmo sem ser de autocarro) o outro blogger que ela cita, um rapaz igualmente "certinho", daqueles que a esquerda tem para a troca com equivalentes da direita. Fala ela no "bizarro pavor da dúvida", tudo a propósito de uma palhaçada ligada a um "autocarro ateu" que aparentemente anda a passear por aí. Pena é que o mesmo alvoroçado sentimento não tivesse tomado conta dela quando, há dias, foi buscar Zola e Dreyfus por causa da "campanha negra" e dos "poderes ocultos" (se calhar também andam de autocarro e, por isso, estão atrasados). Aí já não havia dúvidas, muitos menos bizarras e pavorosas. Só certezas e um coitadinho. Razão tem o José Pacheco Pereira: «O maior ataque político feito aos jornalistas nos últimos tempos foi o discurso do Primeiro-ministro das "forças ocultas" e das "campanhas negras". Ainda estou à espera dos editoriais indignados, dos comunicados do Sindicato, dos artigos inflamados, das exigências de pedidos de desculpa.» O resto são punhetas a grilos.

19.1.09

O NEOPAGÃO, A FÉ E A RAZÃO


«Qual é hoje o alinhamento dos inimigos da Igreja? Seria preciso o génio do franco-britânico [Hilaire Belloc (1870-1953) o pequeno volume de 1929 Survivals and New Arrivals. The Old and New Enemies of the Catholic Church (reedição Tan Books, 1992; www.ewtn.com/library/ANSWERS/SURVIV.HTM)] para responder à questão, mas algo pode ser dito. A sua estrutura permanece válida. Não há dúvida de que a oposição principal dos anos 20 está reconduzida à condição de sobrevivente, enquanto o ataque avassalador vem agora do neopaganismo triunfante. A sua influência manifesta-se precisamente no aspecto que o autor antevira: o combate contra a família e a vida humana. Belloc não tinha dúvidas em 1929 de que o neopagão "toma o homem como um animal. Para já faz do casamento um simples contrato civil dissolúvel pelo consentimento de ambas as partes. Em breve terá de o fazer dissolúvel pela vontade de apenas uma. (...) Podemos dizer que a facilidade e frequência do divórcio são o teste da medida em que uma sociedade antes cristã avançou para o paganismo" (p. 137). É impressionante o rigor fotográfico com que a nossa sociedade foi retratada à distância. Talvez o leitor queria tentar a sorte na identificação dos recém-chegados. Belloc, pelo seu lado, identificou na linha que traçara um hiato, uma oportunidade inesperada: o embate da fé católica com o neopaganismo pode ter o mesmo desfecho que na Antiguidade teve o choque com a versão original. "Não posso acreditar que a razão humana irá permanentemente perder o seu poder. Ora a fé é baseada na razão, e em todo o lado fora da fé o declínio da razão é patente" (p. 167)

João César das Neves, via Povo

17.1.09

INTOLERÂNCIA E IGNORÂNCIA -3

«Os casais "inter-religiosos" que pressurosamente protestaram contra as divagações do sr. D. José são portugueses de Portugal, partilham da invertebrada cultura indígena, repetem a ortodoxia dominante da tolerância e do "diálogo" e muito presumivelmente não acham que têm a verdade "única" e a verdade "toda", como aqueles de quem o patriarca se queixa. Mas, para ir ao fundo da questão, o que é um católico ou um muçulmano que não tem a verdade "única" e a verdade "toda"?»

Vasco Pulido Valente, Público

Nota: A já habitual "voz do deserto", nestas matérias, desta vez montada num autocarro.

22.12.08

O PAPA E O "GENDER"


Bento XVI, na mensagem de Natal à Cúria de Roma, disse isto: «La fede nel Creatore è una parte essenziale del Credo cristiano, la Chiesa non può e non deve limitarsi a trasmettere ai suoi fedeli soltanto il messaggio della salvezza. Essa ha una responsabilità per il creato e deve far valere questa responsabilità anche in pubblico. E facendolo deve difendere non solo la terra, l’acqua e l’aria come doni della creazione appartenenti a tutti. Deve proteggere anche l’uomo contro la distruzione di se stesso. È necessario che ci sia qualcosa come una ecologia dell’uomo, intesa nel senso giusto. Non è una metafisica superata, se la Chiesa parla della natura dell’essere umano come uomo e donna e chiede che quest’ordine della creazione venga rispettato. Qui si tratta di fatto della fede nel Creatore e dell’ascolto del linguaggio della creazione, il cui disprezzo sarebbe un’autodistruzione dell’uomo e quindi una distruzione dell’opera stessa di Dio. Ciò che spesso viene espresso ed inteso con il termine “gender”, si risolve in definitiva nella autoemancipazione dell’uomo dal creato e dal Creatore. L’uomo vuole farsi da solo e disporre sempre ed esclusivamente da solo ciò che lo riguarda. Ma in questo modo vive contro la verità, vive contro lo Spirito creatore. Le foreste tropicali meritano, sì, la nostra protezione, ma non la merita meno l’uomo come creatura, nella quale è iscritto un messaggio che non significa contraddizione della nostra libertà, ma la sua condizione.» Todavia, as "agências" transmitiram que o Papa "comparou a heterossexualidade à protecção das florestas tropicais" e teria afirmado "que salvar a humanidade de comportamentos homossexuais ou transexuais é tão importante como salvar as florestas tropicais da destruição". Mesmo que não saibam italiano, tentem "ver as diferenças". Sobretudo na parte sublinhada. O Papa não acrescentou nenhuma "novidade" àquilo que é a posição da Igreja sobre estas matérias. A Igreja não tem de ser "correcta" e seguir os "tempos". A inversa também é verdadeira. Ratzinger não "obriga" ninguém a ser católico. O Papa fala para os católicos apostólicos romanos e não para os bites. Aliás, se não houvesse pecadores a Igreja seria esdrúxula. Não é por acaso que, na missa, se pede ao Senhor que não olhe aos nossos pecados mas sim à fé da Igreja. Ao Papa não compete fazer proselitismo, gender ou outro qualquer. Foi só isso que ele quis significar.

16.9.08

A IGNORÂNCIA É ATREVIDA

«Sarkozy, falando ao gosto do seu interlocutor [o Papa], adjectivou a laicidade, chamando-lhe positiva (porquê?) e disse que "prescindir das religiões (no plural) é uma loucura e um ataque à cultura". Esqueceu-se que muito mais de 10% da população francesa é agnóstica ou mesmo ateia e, entre ela, seguramente, está a maioria dos segmentos sociais mais cultos e intelectualizados...» Esta "sentença" pertence a Mário Soares, esse extraordinário produtor "ideológico" e "cultural" que, nos livros de entrevistas com Maria João Avillez, "resumia" a sua "ideologia" a "levar a água ao meu moinho...". Indignado com Sarkozy e, naturalmente, com o Papa que, na sua cabeça de regedor da I República, não passa de um perigoso reaccionário, Soares acha que Raztinger foi a França apenas para "falar" aos dez por cento "de praticantes católicos". Soares devia abster-se de se meter no que não sabe. E, entre duas sonecas e três entrevistas com Hugo Chávez, ler alguns dos livros do Papa. Esta acrimónia ignorante é tanto mais grave quando Soares preside a uma comissão qualquer sobre liberdade religiosa. Não lhe fica bem ser atrevido.

15.9.08

HUMILDADE DO HOMEM, HUMILDADE DE DEUS


«Paul n’annonce pas des dieux inconnus. Il annonce Celui que les hommes ignorent et pourtant connaissent : l’Inconnu-Connu. C’est Celui qu’ils cherchent, et dont, au fond, ils ont connaissance et qui est cependant l’Inconnu et l’Inconnaissable. Au plus profond, la pensée et le sentiment humains savent de quelque manière que Dieu doit exister et qu’à l’origine de toutes choses, il doit y avoir non pas l’irrationalité, mais la Raison créatrice, non pas le hasard aveugle, mais la liberté. Toutefois, bien que tous les hommes le sachent d’une certaine façon – comme Paul le souligne dans la Lettre aux Romains (1, 21) – cette connaissance demeure ambigüe : un Dieu seulement pensé et élaboré par l’esprit humain n’est pas le vrai Dieu. Si Lui ne se montre pas, quoi que nous fassions, nous ne parvenons pas pleinement jusqu’à Lui. La nouveauté de l’annonce chrétienne c’est la possibilité de dire maintenant à tous les peuples : Il s’est montré, Lui personnellement. Et à présent, le chemin qui mène à Lui est ouvert. La nouveauté de l’annonce chrétienne ne réside pas dans une pensée, mais dans un fait : Dieu s’est révélé. Ce n’est pas un fait nu mais un fait qui, lui-même, est Logos – présence de la Raison éternelle dans notre chair. Verbum caro factum est (Jn 1, 14) : il en est vraiment ainsi en réalité, à présent, le Logos est là, le Logos est présent au milieu de nous. C’est un fait rationnel. Cependant, l’humilité de la raison sera toujours nécessaire pour pouvoir l’accueillir. Il faut l’humilité de l’homme pour répondre à l’humilité de Dieu.»

12.9.08

PELA RAZÃO CONTRA O POSITIVISMO



«En ce moment historique où les cultures s’entrecroisent de plus en plus, je suis profondément convaincu qu’une nouvelle réflexion sur le vrai sens et sur l’importance de la laïcité est devenue nécessaire. Il est en effet fondamental, d’une part, d’insister sur la distinction entre le politique et le religieux, afin de garantir aussi bien la liberté religieuse des citoyens que la responsabilité de l’État envers eux, et d’autre part, de prendre une conscience plus claire de la fonction irremplaçable de la religion pour la formation des consciences et de la contribution qu’elle peut apporter, avec d’autres instances, à la création d’un consensus éthique fondamental dans la société

«Une culture purement positiviste, qui renverrait dans le domaine subjectif, comme non scientifique, la question concernant Dieu, serait la capitulation de la raison, le renoncement à ses possibilités les plus élevées et donc un échec de l’humanisme, dont les conséquences ne pourraient être que graves.»

Papa Bento XVI, Paris, Setembro de 2008

13.7.08

O PACTO COM DEUS


«O Papa chamou parte da hierarquia a Roma e, talvez devidamente esclarecido, o próprio cardeal-patriarca de Lisboa resolveu reconhecer uma certa "negatividade" na catolicismo indígena. Que espécie de negatividade? Inadaptação da Igreja ao tempo, deficiências na formação dos padres, má proclamação da "Palavra de Deus". Sem cânticos, nem homilias de "qualidade", por exemplo, a juventude acha a missa uma "seca" - como se o fim da missa consistisse em a divertir. De qualquer maneira, nada disto conta. Uma fracção importante dos fiéis pensa (e sempre pensou) que o problema é a natureza "retrógrada" da Igreja em matéria de género e de sexo. Por outras palavras, na doutrina sobre a homossexualidade e nos limites que o Papa põe e reitera ao papel institucional da mulher. Os "reformadores" exigem que a Igreja acompanhe o século (sem perder, evidentemente, o "núcleo da sua mensagem") e sonham com uma Igreja democrática e conciliar. Quem leu Ratzinger, como cardeal e como Papa, sabe que ele nunca aceitará essa aventura. Para ele, qualquer cedência diluirá a "mensagem" (e não só o seu "núcleo") e, tarde ou cedo, provocará um cisma.» Isto escreve Vasco Pulido Valente hoje e eu assino por baixo. Há mais de trinta anos que Ratzinger advertiu a Igreja para se preparar para viver em minoria, para maus tempos, para as "aflições" de que fala João (16:33). Por isso, valorizo mais o "pacto com Deus" (mencionado nas palavras seguintes de Alexandre O' Neill) do quaisquer manifestações de "vulgarização" da "mensagem " que a diluem, como espuma, na futilidade e na inutilidade do quotidiano da transigência videirinha. «O exílio interior pressupõe um corte total com os meandros por onde se movimentam os chamados carreiristas, sempre prontos à transigência. O exílio interior pede uma grande força de ânimo (e um nojo não menor), a alimentação constante de um ideal, um amor sem limites à verdade, o afrontar corajoso de uma envolvente solidão, um elevado espírito de sacrifício. O exílio interior tem algo parecido com a atitude mental dos místicos: o abandono dos pactos com este mundo mundanal para a preservação de um único: o pacto com Deus.»

5.4.08

UMA BELA AVENTURA

Com uns "headphones" onde aprecio o Ring de Karajan, leio este post e este de duas pessoas que não tenho por primitivas, antes pelo contrário. O Eduardo até faz o favor de ser meu amigo. Todavia, o mero sussurrar do nome do frei Bento eriça-me logo a carcaça. Se há alguém que tem o dever de ler e de situar os textos bíblicos no respectivo contexto histórico e teológico é ele. Ou ele - e a autora do livro - ignora o papel central da mulher no cânone católico, personificado, quer na figura da Mãe de Deus, quer em Maria Madalena ou nas famílias de Abraão e de Isaac, por exemplo? É evidente que os Evangelhos não constituem propriamente panfletos feministas a debater por mulheres mal resolvidas. Os Evangelhos dirigem-se a todos os seres humanos e não exibem distinções sexistas adequadas à "modernidade". Todo o homem ou mulher que quiser conformar-se com a Palavra do Senhor encontra ali um rumo seguro, corajoso e pacífico. O que não deve esperar é que seja a Palavra dos Evangelhos a "adaptar-se" ao curso das "modas" e ao "positivismo" democrático, manifestamente outra discussão. Quanto à "imagem" literária do cão e do osso - presumo que o crente seja o cão e o osso, a fé - usada para ilustrar a posição do autor do post, nem merece reparo dado o bom gosto revelado. Apenas lhe digo que ninguém "persiste" numa "crença" por critérios de "utilidade" ou de "inutilidade". Nos dias de hoje é mais incómodo ser católico do que qualquer outra coisa. A sua "imagem", aliás, é bem o reflexo disso. Mas descanse que é justamente esse incómodo que transforma a fé numa bela aventura.

3.4.08

«TEMPOS DE INCERTEZA»



1. Agradeço a um anónimo, a David Oliveira, a Nuno Mendes, ao Fado Alexandrino, a Maria Teresa Mónica, ao Eduardo Pitta, à Carla, ao Tomás Vasques e ao Pedro Aguiar Pinto a resposta pronta ao pedido do post anterior.


2. O texto da Constança Cunha e Sá é duplamente relevante já que avança ao arrepio do "correcto" jornalístico em vigor e repõe, de uma maneira insuspeita, a necessidade de uma reflexão séria sobre o papel da religião - no caso, da católica, nitidamente a maioritária entre nós - nestes "tempos de incerteza". Ao contrário daqueles que escrevem em abundância sobre a matéria, em jornais e em blogues, tão inchados de certezas e da "infalibilidade" das respectivas convicções "laicas", o cristão é alguém que está sempre a caminho, um nómada, um peregrino que dirige toda a sua vida para o futuro, que rejeita o conforto do quentinho "presencista" e, sobretudo, que duvida. O caminho do cristão obriga-o permanentemente à chamada "responsabilidade da esperança", como se pode ler na primeira Epístola de Pedro. E essa responsabilidade é simultaneamente pessoal e colectiva. A "Igreja deve estar onde o humano acontece", escreve a Constança citando o presidente da Conferência Episcopal Portuguesa. Nunca esteve, aliás, de outro modo.


3. «Tempos de Incerteza»


por Constança Cunha e Sá, editado no jornal Público de 3.4.08


«A reeleição do arcebispo de Braga, D. Jorge Ortiga, como presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) foi, se se quiser, a gota de água. Usando uma terminologia que se costuma aplicar ao Partido Comunista, o Diário de Notícias garantia, no dia seguinte, que a manutenção no mesmo cargo do "bispo que mais tem afrontado o Governo, nos últimos anos" confirmava a vitória da "linha dura" da hierarquia católica. Como seria de esperar, D. Jorge Ortiga correspondeu adequadamente a este tipo de expectativas: afirmou que "o Estado democrático não pode ser militantemente ateu"; referiu a "inaceitável exclusão da presença católica dos ambientes públicos e políticos"; exortou os católicos "a encetar acções tendentes a mostrar que nunca irão abdicar dos seus princípios"; e, como se tudo isto não bastasse, ainda se deu ao luxo de invocar a implantação da República "para reconhecer que os acontecimentos adversos suscitaram coerência e fidelidade". É verdade que D. Jorge Ortiga afirmou também que a presença católica não se deve impor "pela lógica dos comportamentos agressivos ou da ambição dos princípios mas pela diferença do amor", acrescentando que a Igreja "deve estar onde o humano acontece". Infelizmente, estes meandros da teologia interessam pouco aos "laicos de serviço", sempre prontos a denunciar a ingerência da Igreja e a defender a natureza inviolável do Estado.Esta separação radical, determinada pelo espírito do tempo, deixa ao Estado o monopólio do espaço público, remetendo a Igreja para o domínio privado, no qual a sua intervenção se limita a proclamações doutrinais que se dirigem apenas ao conjunto dos seus fiéis. Esta lógica que coloca a Igreja numa redoma, isolada da sociedade e do homem, ignora a aspiração "universal" de qualquer religião e a natureza pública do seu testemunho. Não por acaso, essas declarações doutrinais que supostamente só dizem respeito aos católicos são abundantemente comentadas - e ainda bem - por todos os que, embora não fazendo parte da Igreja, se sentem na obrigação de as analisar. Basta lembrar as inúmeras polémicas que acompanham invariavelmente as posições do Vaticano sobre determinadas matérias como a homossexualidade, o uso de métodos anticoncepcionais, o casamento dos padres ou o acesso das mulheres ao sacerdócio, para referir apenas as mais recorrentes. O interesse suscitado por estas questões mostra, ad contrarium, que mesmo os seus críticos mais contundentes dificilmente conseguem admitir que a actuação da Igreja se insere numa esfera meramente privada com a qual nada têm a ver. Em contrapartida, o facto de D. Jorge Ortiga ter dito que o "Estado democrático não podia ser militantemente ateu" (o que é razoável) ou ter considerado "inaceitável" a "exclusão da presença católica dos ambientes públicos e políticos" (o que se compreende) provocou, entre nós, como já é habitual, um ensurdecedor alarido. Aí estava a Igreja, mais uma vez, a "afrontar" o Governo. A exigir, mais uma vez, privilégios que fazem parte do passado. E a imiscuir-se, mais uma vez, onde não era chamada. Pelo meio, houve inevitavelmente quem lamentasse esta indesejável colagem à Igreja espanhola e à sua indecorosa oposição ao Governo de Zapatero. Mas o mundo, como se devia saber, não se esgota na Península Ibérica.Nos últimos tempos, a chamada "ofensiva" da religião já não se refere, apenas, ao florescimento de uma vaga espiritualidade que, há uns anos, se reflectia no sucesso de algumas seitas ou na importação de um orientalismo de trazer por casa, embrulhado no aperfeiçoamento pessoal e numa gama de "receitas" que levavam à "felicidade". Ao fracasso das ideologias e ao clima de insegurança juntou-se o "fundamentalismo" islâmico, que impôs ao mundo desenvolvido e às sociedades de bem-estar o "retrocesso" da religião. A sharia que o Ocidente tolera, ao ponto de o arcebispo de Cantuária pretender integrá-la na lei britânica, não deixou de abrir um caminho favorável ao regresso da religião numa Europa laica e desenvolvida. Num livro, publicado em Portugal, no ano de 1994, sob o título A Igreja e a Nova Europa, o então cardeal Ratzinger, recusando uma análise "simplista" sobre esta matéria, não deixava de concluir o seguinte: "O islão, seguro de si, exerce sobre o Terceiro Mundo um fascínio muito mais forte do que o cristianismo, a que falta paz interior." Dois anos mais tarde, na Universidade de Ratisbona, o mesmo Ratzinger, já como Papa Bento XVI, exortava as religiões do Livro a ocuparem o espaço deixado vazio pelas ideologias modernas e a tirarem partido destes tempos de incerteza e de mudança para regressarem ao centro da vida política - o que foi interpretado como uma legitimação da "cruzada" da Igreja espanhola contra o Governo de Zapatero. A mudança, no entanto, não se fez sentir apenas em Espanha. Em Itália, a Igreja deixou cair o primeiro-ministro Romano Prodi. Na Áustria, o arcebispo de Viena, num artigo publicado do New York Times, decidiu repescar o direito natural de inspiração divina por oposição às leis "demasiado" humanas que são aprovadas num Parlamento. E, por último, em França, no berço do Estado laico e republicano, o presidente Sarkozy surgiu como um baluarte da religião, defendendo as suas virtudes cívicas, ao mesmo tempo que afirmava que a moral laica se pode esgotar quando não é apoiada numa esperança que realiza as "aspirações do homem ao infinito". Pode-se dizer que tudo isto não é mais do que um fenómeno passageiro - principalmente se levarmos em linha de conta o divórcio que existe entre as exigências da religião e o modo de vida europeu. Como se pode dizer também que existe uma incompatibilidade de fundo entre o pluralismo da democracia e a Verdade única que emana de Deus. Mas não deixa de ser sintomático que este tempo de incerteza aliado a um laicismo exacerbado possa pôr em causa uma das principais conquistas do mundo ocidental.»

1.4.08

O GOVERNO SOCIALISTA EM CONFRONTO CRESCENTE COM A IGREJA

A jornalista Fernanda Câncio - sem dúvida a pessoa mais indicada, dentro da redacção do DN, para escrever sobre igreja e religião - obrou uma prosa com este título: «uma igreja em confronto crescente com o governo socialista.» Se a Fernanda não fosse tão "isenta" na matéria, como nós sabemos que ela é, talvez o título pudesse ter sido escrito ao contrário. Ou isto serei eu a raciocinar como um perigoso beato reaccionário?

3.3.08

SEM DEUS


Em tempo pascal, é interessante recuperar o tema do inferno. A coisa parece-me relativamente simples, como católico, apostólico, romano. O inferno é estar no deserto, sem Deus. E recusar Aquele que, depois de trespassado na cruz, ressuscitou e que afirma: «quem me vê, vê o Pai.» Onde habita Jesus, não há inferno.

23.1.08

AS BENEVOLENTES - 2

«Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada. Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades. Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos
mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto.»



Rui Ramos, in Público

14.10.07

FÁTIMA


Peço desculpa aos amáveis leitores que "comentaram" os posts sobre Fátima. Os posts sobre a fé são os únicos que são verdadeiramente pessoais. O teor de alguns desses comentários vulgarizam um tema que não aprecio vulgarizar. Nesta matéria sigo intransigentemente o Papa. Sou um humilde servo na vinha do Senhor que não aprecia que espezinhem a vinha.

13.10.07

«EU VENCI O MUNDO» - 2


Excelente homilia do Cardeal Bertone, hoje, em Fátima. Contra "os senhores destes tempos", os da retórica da "sociedade aberta". "Face aos pretensos senhores destes tempos - acham-se no mundo da cultura e da arte, da economia e da política, da ciência e da informação - que exigem e estão prontos a comprar, se não mesmo a impor, o silêncio dos cristãos invocando imperativos de uma sociedade aberta", face aos que, "em nome de uma sociedade tolerante e respeitosa, impõem como único valor comum a negação de todo e qualquer valor real e permanentemente válido, face a tais pretensões, o mínimo que podemos fazer é rebelar-nos com a mesma audácia dos apóstolos perante idêntica pretensão dos senhores daquele tempo: «Não podemos calar o que vimos e ouvimos.» Contra aqueles que julgam "que a vitória depende essencialmente do talento, da habilidade, do valor dos que escrevem nos jornais, dos que falam nas reuniões, dos que têm um papel mais visível e que seria suficiente animar e aplaudir estes chefes como se anima e aplaude os jogadores no estádio", Bertone explica que "não existe erro mais temível e desastroso" e que "se os soldados algum dia chegassem a pensar que a vitória já não dependia deles, mas somente do Estado-Maior, esse exército marcharia de desastre em desastre". E para evitar este desastre, conta o esforço do "mais insignificante, dos servos mais humildes, dos servos de um só talento". Por isso Fátima é "conversão, emenda de vida, deixar de pecar, reparar a Deus ofendido no irmão", em suma, "a aceitação submissa da vontade de Deus".