
O que falta em autoridade nas escolas, nas ruas (salvo na obsessão persecutória contra os condutores de automóveis na cidade), nas famílias - em suma, a falta de uma coisa que um jurista famoso apelidou de sentimento jurídico colectivo - sobra em propaganda destemperada, em criancismo brutal, em engraçadismo idiota. A violência evidenciada alarvemente na internet é um sintoma demasiado burgesso disso. Quando a correcção política e social sai do papel e pára em pessoas (não exactamente em pessoas, antes em pedragulhos com olhos) desfaz-se o mito do "bom rapaz" e do "bom selvagem" alimentado desde sempre pela pior filosofia política, a do optimismo antropológico, que consegue, até, descortinar crianças num boi, numa vaca ou num penedo. É indispensável baixar a idade da imputabilidade penal. Se os monstros e monstras têm idade suficiente para "brincar aos médicos", para vadiar em vez de ir à escola, para incomodar os outros com a sua grosseria de bando, então não são eles quem está "em risco", essa desculpa "democrática" inventada por brigadas "multidisciplinares" e "comissões" criadas a torto e a direito para nada. Quem está em risco é a sociedade. E a possibilidade de uma ideia cada vez mais reduzida de civilização.