"O direito de não pagar impostos com carácter retroactivo é um direito fundamental dos cidadãos" e "não pode admitir-se uma lei retroactiva em matéria fiscal em qualquer país do mundo". Todavia, num lugar tipicamente bovinizado como o nosso, quem é que sabe o que é um "direito fundamental" a um metro de vista e desde que inexista uma bola diante das trombas? Mesmo no estado deles, os tribunais ainda praticam uma coisa chamada reconhecimento de um direito. Lembre-se alguém de solicitar o reconhecimento desse direito e os tribunais ficam sem férias. Tinha graça.
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
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16.6.10
26.6.08
O BARRACÃO
Enquanto almoçava, via ao longe, na televisão do restaurante, as imagens de um barracão. O barracão estava atafulhado de papéis e de secretárias separadas por uns quantos biombos. As câmaras aproximaram-se dos biombos e podia ler-se "tribunal do trabalho", "ministério público", etc. Aí percebi que se tratava de um tribunal. Era em Portugal, na Feira, no ano da graça de 2008, em pleno "progresso" e em pleno "choque tecnológico" promovidos pela "esquerda moderna". O barracão fora pedido emprestado aos bombeiros porque o edifício original, com pouco mais de quinze anos, ameaçava ruir. Foi nos balneários dos bombeiros que, soube-se depois, juízes se esconderam para fugir às agressões das famílias de uns arguidos quaisquer. Não é virgem a situação de violência perpetrada em plena audiência. O que é menos comum, partindo do princípio que isto não é a Somália, é administrar a justiça num barracão. Todavia, se reflectirmos um pouco mais, talvez a imagem não seja, de todo, desproporcionada. A maturidade de uma democracia, como ensinam os "especialistas", mede-se pelo seu sistema de justiça. E o "sistema" reflecte o estado de um regime no fátuo da sua miséria. É, afinal, como estamos de democracia. Enfiados no barracão.
3.4.08
RES, NON VERBA
O dr. Marinho Pinto, cuja eleição para bastonário da Ordem dos Advogados apreciei, veio criticar a decisão do Conselho Superior da Magistratura que veda aos juízes pronunciarem-se publicamente sobre processos, mormente de outros. Falou em "lei da rolha". Não tem razão. A justiça não deve ser secreta mas só será eficaz se for discreta. Não se exibem e discutem processos como se vendem tapetes nas feiras. Não é por se lhe exigir discrição que a justiça é menos "democrática". Pelo contrário. É justamente uma garantia da democracia que a justiça seja oportuna na decisão e resguardada do espalhafato mediático. A incontinência verbal e a vaidade de alguns magistrados não se podem sobrepor ao interesse abstracto da justiça. O mesmo se diga do bastonário. Res, non verba.
12.7.07
PERDAS SIMBÓLICAS
Um tribunal desautorizou as chefias militares ao dar razão à tropa que pretendia exibir-se à porta do primeiro-ministro, depois de uma providência cautelar contra a proibição da marcha. É um mau precedente. Não basta declarar "legal" a marcha folclórica. É preciso perceber do que se trata para além do mero cumprimento da lei. Apesar de apoucadas ao longo dos últimos trinta anos, as Forças Armadas são um símbolo e possuem uma hierarquia que em lado algum no mundo jamais foi, ou poderá ser, democrática. Um país que não sabe respeitar os seus símbolos, não merece o respeito de ninguém.
8.3.07
O DIREITO À INOCÊNCIA

Não me passa normalmente pela cabeça recomendar livros de ou sobre direito. De qualquer forma, este ensaio de Fátima Mata-Mouros merece ser lido por qualquer cidadão interessado em saber da sua vida e por duas simples razões. A primeira, decorre do espalhafato com que os media - tv's e jornais - acusam e absolvem quem quer que seja com uma presunção insuportável e deontologicamente discutível. Só a título de exemplo, e por ser mais remoto, lembro o espectáculo montado em permanência à frente da penitenciária de Lisboa quando o deputado Paulo Pedroso esteve detido. Foi dos raros momentos em que estive de acordo com António Guterres que, ao sair de uma visita ao seu antigo ministro, colocou literalmente em sentido a histeria idiota dos "profissionais" de serviço: "não sejam ridículos". A leviandade e a ignorância manifestadas em tantas "peças" jornalísticas de incidência judiciária recomendam, à partida, a leitura deste livro. Depois - e nunca é excessivo recordá-lo - até prova e condenação em contrário, todo o arguido se presume inocente. "Telenovelizar" um processo judicial é o pior serviço que se pode prestar à justiça material e aos direitos dos cidadãos. As audiências e o protagonismo, por muito sul-americanos e coloridos que sejam, não justificam tudo. A ética não consiste apenas em estar à altura do que nos acontece, mas igualmente em não forjar o "acontecimento" antes dele acontecer.
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