
Com a sopa na mão, oiço José António Pinto Ribeiro a ser entrevistado por Mário Crespo. Quase ninguém dá por isso, mas o advogado é o ministro da cultura de Sócrates. Não é do país. É de Sócrates, o que é uma nuance relevante. Faz análise política e fala de "censura" ao governo em que ele participa como figurante evanescente. Defende a declaração extemporânea do 1º ministro sobre a falta de investimento na cultura. Pediu a alguém que fizesse um "levantamento" para o MC em regime de outsourcing para "apurar" o que deve e não deve ser considerado "indústria cultural". Quer, portanto, transformar o "ruído em saber". Quer "criatividade" e dotar as pessoas com os "instrumentos". Nem o pobre do Sena deixou de convocar já que "o trouxe para cá" (sic). Quanto a poder, a criatura revela que não teve muito tempo para o "conquistar" apesar dos colos que lhe deram em tudo o que é jornal "situacionista". Vai "globalizar" 242 jovens não sei bem para quê. Se forem sensatos, não voltarão, naturalmente. Porque ele quer que eles regressem para "contaminarem" (sic) mais uns quantos. Ribeiro "percebe" que existem muitos "doutores" mas que há "espaço" para outros "saberes". O "mais com menos", afinal, era fazer coisas mais "contaminantes" e formar "públicos", um desastroso lugar comum sem qualquer sentido. Também aprendeu a conversa dos "saldos" e da "flexibilidade" e está muito satisfeito com a sua extraordinária execução orçamental que deu em pouco mais que nada. Sobre o Museu dos Coches houve "várias e plurais decisões do governo". Não explicou se, por serem "várias e plurais", são coerentes. Nem interessa. Um "Museu da Viagem"? A "língua", claro, a colecção Berardo deste ministro, o seu pechisbeque do Ermitage. A sua língua de pau. Há "fundo" para o dito Museu. Ele ainda vai fazer um "concurso de ideias" para o Museu de Arqueologia. Olhe, dr. Ribeiro, eu dou-lhe já uma. Dedique-se ao teatro de rua. Que saudades de Carrilho.
Adenda: Um leitor recordou-me a improvável entrevista do actual director artístico do São Carlos, o sr. Dammann, ao Expresso. Apesar de a escolha do sr. Dammann preceder Pinto Ribeiro, a sua manutenção é da responsabilidade de Pinto Ribeiro. Se quiserem um monumento vivo aos quatro anos de MC de Sócrates, não percam o sr. Dammann. Até toca piano e canta...