Há muitos anos, num livrinho da maior utilidade para percebermos com que raça lidamos, Jorge Dias definiu, tanto quanto pôde, "o carácter nacional português". Chamou à raça "contraditória e paradoxal", a querer sempre o mesmo e o seu contrário. Se ele cá voltasse, andaria por aí a rir-se, pelo menos, durante quinze dias. Vejam-se, por exemplo, as sondagens, as "honestas" e as outras, ou os "movimentos de opinião". O tuga quer o aborto liberalizado até às dez semanas de gestação, mas acha que as mulheres não devem ter a última palavra e que, a final, a coisa é mesmo crime. O tuga detesta o governo e as suas "medidas", mas acha sublimes o senhor engenheiro e o PS. O tuga abomina o antigo regime e o PC, mas está à beira de eleger Salazar e Cunhal como dois "grandes portugueses". O tuga derrama honestas lágrimas pelo destino da Esmeraldinha, mas aprecia o respeitinho togado. O tuga é muito dado aos direitos humanos, desde que não seja nada com ele. O tuga baba-se de gozo quando vê uma "corporação" a ser atacada (nem que sejam as mulheres da limpeza) e rosna quando é a sua. E por aí fora. Chama-se a isto esquizofrenia. Só um país de esquizofrénicos, a caminhar rapidamente para a oligofrenia, pode ser tão coisa nenhuma.