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3.11.10

«NÃO SE MUDA JÁ COMO SOÍA»


Calhou ouvir, num programa sobre os 75 anos da rádio pública, a voz do então ministro do Ultramar, Adriano Moreira, em 1961 à chegada a Moçambique. Entre outras exaltadas tiradas de defesa da então nação pluricontinental, Moreira manifestou-se, por entre fartas palmas e vivas, contra, e passo a citar, "o partido racista da ONU". Passaram quase cinquenta anos sobre isto e não sei, porque não leio, se os "manuais" escolares do prof. Moreira ou os seus artiguinhos de jornal ainda tratam a inócua ONU nestes termos. Suspeito que não e que, pelo contrário, a ONU seja hoje para o distinto mestre uma prestigiadíssima organização internacional e não o "partido racista" de outros tempos. Nem vale a pena citar o famoso verso do prestigiado zarolho acerca da "mudança". Todavia, é bem certo que «afora este mudar-se cada dia,/outra mudança faz de mor espanto:/que não se muda já como soía.»

28.7.10

A AVE DE MINERVA


Adriano Moreira alterna com Mário Soares no lugar cativo das entrevistas de Constança Cunha e Sá na tvi24. Para satisfação de alguns prebostes que imaginam que não simpatizo com o dito professor, fica estabelecido, de uma vez por todas, que não e que isso não tem a menor relevância cósmica. Detestava Marcello Caetano - Moreira aspiraria a "delfim" do seu antigo Presidente do Conselho - e Caetano devolvia-lhe a "graça". Nas "confidências do exílio" feitas a Joaquim Veríssimo Serrão, Marcello classificou o teórico do "Estado exíguo" como «o filósofo da traição» venerado, já então, como «reserva nacional». E continuava. «Nunca se consolou de, após tanta manobra para vir a suceder ao Doutor Salazar, ter sido unanimemente rejeitado pelas pessoas ouvidas acerca da sucessão.» Já nas suas "Memórias de Salazar", Marcello fora impiedoso na única referência a Moreira - «antigo aluno meu da Faculdade de Direito, rapaz esperto embora não muito brilhante.» Moreira tornou-se lamentavelmente em apenas mais um "senador" tagarela deste regime. No dia em que passavam 40 anos sobre a morte de Salazar, Constança entendeu não questionar o seu guru acerca do "antigamente" porventura para não o maçar. Pelo contrário, deixou-o falar como se ele estivesse em lição numa universidade de verão de um híbrido do Bloco, do PC, do PS, do PSD e do CDS. Uma verdadeira ave de Minerva, este sr. prof. Moreira.

25.8.09

O GRANDE ADOPTADO


Mário Crespo passa a vida a levar o Prof. Adriano Moreira aos seus telejornais. Dá-me ideia que, se o Doutor Salazar fosse vivo, também seria convidado de Crespo. Com a vantagem de termos um original que, bem ou mal, nunca tergiversou. Adriano Moreira é um caso sui generis na vida pública contemporânea. Tudo lhe aconteceu cedo ou tarde de mais. Esteve, muito novo, detido no Aljube o que lhe valeu as graças eternas do dr. Soares. Isso não impediu o Doutor Salazar de o escolher como secretário de Estado e, depois, como ministro. Do Ultramar. Durou pouco na sequência de um périplo ao autre-mer que não agradou ao então presidente do conselho. Podia ter sido o "delfim" até porque, a avaliar por um texto de Vitorino Magalhães Godinho escrito na altura em que Moreira o varreu do seu Instituto da Junqueira- a ele e a outros como Jorge Dias -, possuia todos os "requisitos". O que lhe sobrava em manha, faltava-lhe, segundo o maroto do Godinho, em "ciência". No Instituto (parece que é uma maldição da casa) comportou-se sempre como um supra-Salazar. Assim se manteve até ao "25 de Abril" altura em que, como era de esperar, sofreu uns safanões. Tudo passou, porém. Moreira filiou-se no CDS onde chegou a presidente. Adoptou a democracia e a democracia adoptou-o a ele. É tão consensual e venerado como um monumento nacional. Convence pela retórica sempre luminosa. Aquando do apoucamento das universidades por este governo - em especial por este nulo Gago do superior - não poupou na crítica. É um sobrevivente da nossa e da sua história. O que não é pouco.

3.7.07

MEMÓRIAS DE ADRIANO


Estive a ler um bom bocado do último livrinho das memórias de José Hermano Saraiva. Passa-se na década de 60 e era então professor no famoso Instituto de Estudos Ultramarinos, à Junqueira, que ficou sempre conhecido pela escola de Adriano Moreira - com benevolência - ou pelo curso "da banana", com maldade. Percebo pelas palavras de Saraiva que, apesar da admiração pelo fulgor e pela inteligência de Adriano, não se gramavam. Aliás, Saraiva faz questão de frisar que é a única pessoa com quem não mantém relações. Esta leitura coincidiu com uma entrevista que Mário Crespo efectuou ao antigo ministro do Ultramar a propósito da inevitável presidência europeia. De facto, Adriano Moreira é um caso sui generis. Tudo lhe aconteceu ou muito cedo, ou muito tarde. Foi, muito novo, secretário de Estado e depois ministro de Salazar. Saiu cedo. Podia ter sido um "delfim" até porque, a avaliar por um texto de Vitorino Magalhães Godinho, escrito na altura em Moreira o varreu do seu Instituto - a ele e a outros como Jorge Dias -, possuia todos os "requisitos". O que lhe sobrava em manha, faltava-lhe, segundo Godinho, em "ciência", mas isso são contas de outro rosário. No Instituto, comportou-se sempre como um supra-Salazar. Assim se manteve até ao "25" onde, como era de esperar, sofreu uns safanões. Com a emergência das universidades privadas, Moreira aparece a dar aulas, muito concorridas, à António Maria Cardoso. Até eu, na ingenuidade deslumbrada dos meus dezanove anos, corri a ouvi-lo. Também dirigiu o CDS onde acabou por filiar-se. Recordo ter ido ouvi-lo num comício no Pavilhão dos Desportos e de o homem, com o entusiasmo, às tantas já falar como se não tivessem passado vinte anos. O resultado é conhecido. Apadrinhou Manuel Monteiro e este resultado também é conhecido. Moreira, estulto como sempre foi, adoptou a democracia e a democracia adoptou-o a ele. É tão consensual e venerado como o último democrata ou o primeiro anti-fascista. É escutado em silêncio e arrebatado na exposição. Convence pela retórica sempre luminosa. Aquando do apoucamento das universidades por este governo e por este Gago, não os poupou à sua acutilância. Não quer dizer que, se for preciso e se lhe acenarem com a veneração e o respeito a que está habituado, não lhes devolva o cumprimento. Adriano Moreira, numa palavra, aguentou-se. É um sobrevivente da sua própria história, em alguns momentos - como os relatados no 3º volume das memórias de Saraiva -, desagradável. Não admira, pois, que este regime o tenha como "senador" por entre Mário Soares, Dias Loureiro, João Salgueiro, Freitas do Amaral ou, até, já Jorge Coelho. Moreira sempre foi um institucionalista e, para o pior e para o melhor, esta gente já tem trinta anos disto enquanto ele tem seguramente mais umas boas duas dezenas deles. Como se costuma dizer, ele é que os topa. Eles, coitados, nunca o toparam.