Mostrar mensagens com a etiqueta Richard Rorty. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Richard Rorty. Mostrar todas as mensagens

7.8.09

«TENTAR ENCARAR A COISA FILOSOFICAMENTE»


«Anda para aí um gajo, pá, que virou-se para outro e disse assim: pá, bora discutir a obra toda do Rorty? E um gajo aqui pensa: hã? Ao menos, podia ser a do Coleridge, do Kleist, do Strindberg, pronto, pá, ou uns excertos do Eça, do Carducci, do Sterne, vá. Se o gajo mesmo assim fizesse birra, pronto, a gente dava Ockham ao menino, um niquinho de Bergson, que a obra toda dava-me muito trabalho agora ir ler (que raio de língua é esta?).(?) Melhor: dizia-se assim, doutor - só me dá vontade de rir -, vomite aí o Hegel ou a theory of comunicative action (em inglês, a língua de Platão, Malebranche e Schiller), ou lá o que era aquilo, do Habermas, para a gente rir mais um bocadinho e adormecer. Isto era tudo muito giro, não fosse o gajo dizer: a malta não é imbecil. Lá agora. Ocorreu-me que esta nabiça mandou a boca da virtude àquele balofo de barbas, o Aristóteles explica e não sei quê; ora, que eu saiba, e sabe Deus que eu nunca li nadinha do Aristóteles, a gente para dizer uma coisa destas tem de ler o Homero todo, e, já que estão todos se cagando para o Teógnis e para o Píndaro, o Platão todo. Porque, como qualquer leitura desatenta da Ética ao Nico, da Política, dos Analíticos Posteriores e das coisas que o Platão escreveu demonstra, o pensamento destas duas alminhas assenta na ética aristocrática da Grécia arcaica e a palavra certa não é "virtude", mas "arete". E, para isso, ignorante dum cabrão, não é preciso ir ler o Aristóteles; basta olhar para Aquiles.»

11.4.09

MAIS POSSIBILIDADES DE LIBERDADE COM MENOS SOFRIMENTO GERAL


«Em Contingência, Ironia e Solidariedade, Rorty (...) prefere a diversidade wittgensteiniana, a sucessão contingente de teorias, vocabulários, sociedades, formas de vida, prefere a leitura genealógica do devir, de Nietzsche, às tentativas de ver essa sucessão como processo de aproximação relativamente a uma verdade ou a uma finalidade (ou, na mesma perspectiva, como alienação relativamente a essa verdade ou finalidade). Assim, quando Rorty defende o ideal liberal de sociedade (na acepção que Rorty colhe de Judith Shklar, a saber que "os liberais são as pessoas que pensam que a crueldade é a pior coisa que podemos fazer"), não o legitima através de qualquer necessidade intrínseca (no que se demarca, por exemplo, de Habermas); defende-o porque entende tratar-se do modelo que, até à data, oferece mais possibilidades de liberdade com menos sofrimento geral (no que se opõe a Foucault) e que, de resto, permite a existência de intelectuais "ironistas".»

Nuno Fonseca, tradutor de um dos meus livros preferidos

5.7.08

ESPERANÇA, GRATIDÃO E CARIDADE

O livro da foto, da Angelus Novus, inclui dois ensaios, um de Richard Rorty e outro de Gianni Vattimo, e um "apêndice", que contém uma "conversa" inteligente sobre, no fundo, os préstimos da religião (a católica fundamentalmente) num mundo dominado pela contingência. Vattimo é católico, um "meio crente" na sua expressão, e Rorty era alguém que considerava mais decisivos os eventos doutrinários e revolucionários dos finais do século XVIII do que propriamente a distinção entre "a.C" e "d.C". Para Vattimo, "o niilismo pós-moderno é a verdade do cristianismo", um niilismo manifestado no escândalo da Cruz e na "encarnação". Livro de diálogo - tanto quanto possa haver "diálogo" dentro da cultura em vez de meras "solidões" que por vezes se encontram para falar -, O Futuro da Religião deve ser lido juntamente com as encíclicas de Bento XVI, Deus Caritas Est e Spe Salvi, e com a "lição de Ratisbona" sobre a fé e a razão. «Mal procuramos dar-nos conta da nossa condição existencial, que nunca é genérica, metafísica, mas sempre histórica e concreta, descobrimos que não nos podemos colocar fora da tradição aberta pelo anúncio de Cristo.» Rorty diria que isto corresponde a uma "gratidão injustificável" tal como, para ele, a "social hope", a "marca" da sua obra, é uma "esperança injustificável". Esta "diferença" faz com que Rorty e Vattimo, nas palavras do primeiro, "não entrem em conflito". E que se produzam livros admiráveis como este.

13.6.07

RICHARD RORTY (1931-2007)


Veio a Portugal pela mão de Manuel Maria Carrilho. Está traduzido na Asa (um livro colectivo sobre o pragmatismo), nas Edições Piaget (péssimas traduções), na Presença (o excelente Contingência, Ironia e Solidariedade) e na Dom Quixote (A Filosofia e o Espelho da Natureza). Richard Rorty seria o equivalente ao filósofo social-democrata "ideal", se tal categoria existisse. O seu conceito de liberalismo nada tem a ver - como o liberalismo norte-americano, em geral, aliás - com o que passa por tal no "continente" e, muito menos, com o tosco "liberalismo" doméstico que nem sequer "doutrina" possui, apesar dos muitos "liberais" de pacotilha das revistas, dos blogues, dos jornais e da "academia". "A ideia de uma componente humana central e universal chamada "razão", faculdade que seria a fonte das nossas obrigações morais, embora tenha sido muito útil na criação das sociedades democráticas modernas, é agora uma ideia que podemos dispensar. As nossas responsabilidades para com os outros constituem apenas o lado público da nossa vida, lado que se encontra em concorrência com as nossas afecções privadas e com as nossas tentativas privadas de autocriação e que não tem nenhuma prioridade automática sobre esses motivos privados." Fim de citação.