De amor eu nunca amei senão desejo visto
ou pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto.
E nunca de paixão sujei o meu prazer
ou o de alguém. Por isso posso
mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem
o paguei comigo ou com dinheiro.
E só lamento as vezes que perdi
retido por algum respeito. Errei
por certo - mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou
no puro estéril quanto esperma pôde
gastar assim. O que me mata agora
é este frio que não está em mim.
Jorge de Sena, 1967
ou pressentido. Um corpo. Um rosto. Um gesto.
E nunca de paixão sujei o meu prazer
ou o de alguém. Por isso posso
mesmo as audácias recordar sem culpa.
Tudo o que fiz ou quis que me fizessem
o paguei comigo ou com dinheiro.
E só lamento as vezes que perdi
retido por algum respeito. Errei
por certo - mas foi nisso. O que me dói
não é tristeza de quem dissipou
no puro estéril quanto esperma pôde
gastar assim. O que me mata agora
é este frio que não está em mim.
Jorge de Sena, 1967
O que diabo - o termo é adequado no contexto - será o "totalitarismo do orgasmo"? César das Neves parece um velho Reich, o Wilhelm, invertido, justamente quando alguns parágrafos do texto batem certo e umas quantas frases não. «A democracia (pode) estar a passar por um momento muito perigoso» mas não, de todo, por causa do dito "totalitarismo". Aliás, Sócrates e o seu regime são a própria antítese do orgasmo "reichiano". Para além disso, como reconhece César das Neves, «a nova lei, apesar de ser um marco milenar em termos formais, poucas consequências práticas terá (...) e as coisas ficarão quase na mesma.» Então para quê tentar o demónio?