«Devemos combater sem tréguas
esta ideia de uma cultura sem esforço,
sem resistência, sem atrito, esta obsessão
de sermos todos divertidos e leves, com bolhinhas.»
esta ideia de uma cultura sem esforço,
sem resistência, sem atrito, esta obsessão
de sermos todos divertidos e leves, com bolhinhas.»
Eduardo Prado Coelho
Acabou a feira do livro de Lisboa. Fora os alfarrabistas, as editoras representadas são geralmente a evidência do imenso centro comercial em que se tornou a nobre actividade de editar livros. Não que uma editora viva para perpetrar caridade. Mas, pelo menos, devia existir, tendo anos em cima, dois ou duzentos, para respeitar alguns pergaminhos. A leitura não é um caminho da facilidade ou de fomento da idiotia para alcançar uma falsa felicidade terrena. Barraquinhas inteiras cheias daqueles nojos de "auto-ajuda" e de "auto estima", de escritores de aeródromos porque nem sequer de aeroportos conseguem ser, de noveleiros regedores camarários, de curas de emagrecimento físico e intelectual, de coisinhas para o criancismo dar largas à futilidade dos pais, etc., etc., por muito que vendam - porque saciadoras virtuais de desejos maioritários inconsequentes -, aviltam a ideia mesma de literatura. Talvez por isso muitos dos seus estudiosos digam que não vale a pena perder muito tempo com algo que, na verdade, não existe. Incluo, naturalmente, a poesia apesar de, talvez, ser a menos mal tratada pela feira. Esta divagação em dó (menor) veio porque, precisamente numa dessas barracas de centro comercial por onde passei várias vezes para ver que ainda lá estavam, repousavam, rente ao chão, duas caixas como as da foto. Ali devem ter estado, estas semanas, sem ninguém dar por elas, bem longe do vendável, do barulho, do atrito, do entra e sai sem comprar nada ou do comprar qualquer coisa que esteja ao sol (se está ao sol é porque é "bom" e da moda) ou de um senhor ou de uma senhora da televisão. A maior parte da clientela nem sonha que, muitas vezes, não são eles, os seus heróis da noite no sofá da sala ou das tardes na cozinha, os autores daquelas merdas. É infernal o circuito destes centros comerciais que tudo nivela por baixo, até a literatura. Neste sentido, Eduardo Prado Coelho ter literalmente desaparecido e ter sido arrumado a um canto, não deixa de fazer algum sentido. Um livro, como escreveu Vergílio Ferreira, também é - ou é sobretudo - o seu ambiente. Ora a feira do livro há muito que deixou de ser esse ambiente que sobra dos livros, da literatura. Não, não é por causa do Eduardo já não poder viver nesse ambiente. É porque nós já lá não vivemos. E é por causa de tudo.
Boa noite. Gostaria de saber a que livro pertencem estes versos. Saudações.
ResponderEliminar«la solita cagata»
ResponderEliminarnão comprei um só livro e 99% não aceitava gratuitamente.
em casa varro o lixo
É por causa de posts como este que continuo a ser leitor assíduo deste blogue. Embora sejam raríssimos, perdidos por entre o azedume quotidiano e as oscilações político-místicas...
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