Mostrar mensagens com a etiqueta Marilyn Monroe. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Marilyn Monroe. Mostrar todas as mensagens

5.8.09

POR QUE É QUE A VIDA TEM DE SER ESTA PORCARIA?



«Marylin is gone. She has slipped away from us over the edge of the horizon of the last pill. No force from outside, nor any pain, has finally proved stronger than her power to weigh down upon herself. If she has possibly been strangled once, then suffocated again in the life of the orphanage, and lived to be stifled by the studio and choked by the rages of marriage, she has kept in reaction a total control over her life, which is perhaps to say that she chooses to be in control of her death, and out there somewhere in the attractions of that eternity she has heard singing in her ears from childhood, she takes the leap to leave the pain of one deadned soul for the hope of life in another, she says goodbye to that world she conquered and could not use. We will never know if that is how she went. She could as easily have blundered past the last border, blubbering in the last corner of her heart, and no voice she knew to reply.»

Norman Mailer

5.8.08

A BEAUTIFUL CHILD




Na morte de Marilyn

Morreu a mais bela mulher do mundo
tão bela que não só era assim bela
como mais que chamar-lhe marilyn
devíamos mas era reservar apenas para ela
o seco sóbrio simples nome de mulher
em vez de marilyn dizer mulher
Não havia no fundo em todo o mundo outra mulher
mas ingeriu demasiados barbitúricos
uma noite ao deitar-se quando se sentiu sozinha
ou suspeitou que tinha errado a vida
ela de quem a vida a bem dizer não era digna
e que exibia vida mesmo quando a suprimia
Não havia no mundo uma mulher mais bela mas
essa mulher um dia dispôs do direito
ao uso e abuso de ser bela
e decidiu de vez não mais o ser
nem doravante ser sequer mulher
O último dos rostos que mostrou era um rosto de dor
um rosto sem regresso mais que rosto mar
e toda a confusão e convulsão que nele possa caber
e toda a violência e voz que num restrito rosto
possa o máximo mar intensamente condensar
Tomou todos os tubos que tinha e não tinha
e disse à governanta não me acorde amanhã
estou cansada e necessito de dormir
estou cansada e é preciso eu descansar
Nunca ninguém foi tão amado como ela
nunca ninguém se viu envolto em semelhante escuridão
Era mulher era a mulher mais bela
mas não há coisa alguma que fazer se certo dia
a mão da solidão é pedra em nosso peito
Perto de marilyn havia aqueles comprimidos
seriam solução sentiu na mão a mãe
estava tão sozinha que pensou que a não amavam
que todos afinal a utilizavam
que viam por trás dela a mais comum imagem dela
a cara o corpo de mulher que urge adjectivar
mesmo que seja bela o adjectivo a empregar
que em vez de ver um todo se decidia dissecar
analisar partir multiplicar em partes
Toda a mulher que era se sentiu toda sozinha
julgou que a não amavam todo o tempo como que parou
quis ser até ao fim coisa que mexe coisa viva
um segundo bastou foi só estender a mão
e então o tempo sim foi coisa que passou


Ruy Belo

6.8.07

ESTA PORCARIA


A propósito da morte de Marilyn, Truman Capote, outro que tal: por que é que a vida tem de ser esta porcaria?

18.2.07

ANNA/MARILYN


Tinha 39 anos e chamava-se Vickie Lynn Hogan. De verdade. A natureza, ao contrário da vida, foi-lhe generosa. Graças ao corpo, Vickie passou a ser Anna Nicole Smith. Tinha intimamente a ambição de se tornar, primeiro, Norma Jean, e, depois, Marilyn Monroe. Porventura a cabeça não a ajudou a chegar ao patamar mínimo do esplendor trágico da carreira cinematográfica da original. Só se encontraram na morte, eventualmente tão desejada por Anna como por Marilyn, cada uma à sua maneira, depois te terem sido tudo e o seu nada. Juntaram-se nesse instante imperceptível que todos os artigos, fotografias, filmes, revistas, noites, livros e dinheiro do mundo não chegaram para o evitar. Jogaram o lance solitário definitivo das suas vidas nas quais, aliás, nunca existiu propriamente uma vida. Aos 18 anos, já Vickie/Anna era mãe involuntária de um filho que a precedeu na solidão e na morte. Norma Jean quis ser mãe para poder ser a mãe que não teve, e nunca conseguiu. No momento derradeiro, só tinham por companhia o álcool e esses falsos amigos que são os comprimidos, os únicos que ficam depois de tudo desaparecer. Para muitos, Anna era apenas um belo corpo e umas belas mamas, tal como Marilyn era suposto nunca ter aberto a boca. O lugar comum do "morrem cedo aqueles que os deuses amam" aplica-se a estas mulheres com que a vulgaridade ainda hoje sonha e se masturba. A celebridade traiu-as. No momento em que desapareceram, já só eram dois seres humanos que se aperceberam da sua dramática condição. Como escreveu Norman Mailer a propósito de Marilyn - e, porque não, de Anna - qualquer delas foi atraída por aquela eternidade "she has heard singing in her ears from childhood, she takes the leap to leave the pain of one deadned soul for the hope of life in another, she says goodbye to that world she conquered and could not use. We will never know if that is how she went. She could as easily have blundered past the last border, blubbering in the last corner of her heart, and no voice she knew to reply."