Mostrar mensagens com a etiqueta Mário Cesariny de Vasconcelos. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta Mário Cesariny de Vasconcelos. Mostrar todas as mensagens

22.3.10

TERCEIRO, QUARTO E QUINTO "DIA MUNDIAL DA POESIA"


Organizado por não importa quem, o Hotel Fénix, em Lisboa ao Marquês de Pombal, recebe um leilão de coisas de Mário Cesariny de Vasconcelos. Da última vez que o vi, na sua casa/atelier ali para os lados do mausoléu da CGD, rondavam-no já umas figuras esquisitas que lhe pegavam num colo suspeito. Beijavam-no muito e ele, respeitosamente, de todos se despediu à saída com dois beijos na cara de cada um de nós. Adiante porque Cesariny está adiante de qualquer esterco imediato ou não imediato. Talvez, por isso, valha a pena lá passar e ver aquilo, entre terça e quinta-feira.

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes

O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso.

12.3.10

COMISSÃO DE ÉTICA E DEMAIS COMISSÕES POR VIR - LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE NEGÓCIOS EM PT, PORTUGUÊS, E AUDIÇÕES CONEXAS


Ela canta, pobre ceifeira,
Julgando-se feliz, talvez.
Canta, e roussa. E a sua voz, cheia
De alegre e anónima liquidez

É branca como um grito de ave
Num ferro de Alcácer-Kibir,
E há résteas de luz e de adarve
No som que ela faz a se vir.

Ouvi-la, alegra e aborrece.
na sua voz há recidiva.
E roussa como se tivesse
Mais fodas a dar do que a vida.

Ah! Poder ser tu sendo eu!
Ter a tua alegre limalha
E todo o ouro dela! Ó céu
Ó campo, ó canção,

O homem pesa tanto e a matriz é tão leve!
Entrai por mim dentro! Tornai
Meu ânus o vosso almocreve!
Depois, levando-me, passai.

Mário Cesariny, O Virgem Negra

O CONGRESSO DO PSD EXPLICADO ÀS CRIANCINHAS E AO COMENTARISMO NACIONAL PELO M.C.V. EM LOUVOR, AMOR E SIMPLIFICAÇÃO DE FERNANDO PESSOA


O Álvaro gosta muito de levar no cu
O Alberto nem por isso
O Ricardo dá-lhe mais para ir
O Fernando emociona-se e não consegue acabar.

O Campos
Em podendo fazia-o mais de uma vez por dia
Ficavam-lhe os olhos brancos
E não falava, mordia. O Alberto
É mais por causa da fotografia
Das árvores altas nos montes perto
Quando passam rapazes
O que nem sempre sucedia.

O Fernando o seu maior desejo desde adulto
(Mas já na tenra idade lhe provia)
Era ver os hètèros a foder uns com os outros
Pela seguinte ordem e teoria:
O Ricardo no chão, debaixo de todos (era molengão
Em não se tratando de anacreônticas) introduzia-
-Se no Alberto até à base
E com algum incómodo o Alberto erguia
Nos pulsos a ordem da kabalia
Tentando passá-la ao Álvaro
Que enroscado no Search mordia mordia
E a mais não dava atenção.
O Search tentava
Apanhar o membro do Bernardo
Que crescia sem parança direcção espaço
E era o que mais avultava na dança
Das pernas do maço de heteronomia
A que aliás o Search era um pouco emprestado
Como de ajuda externa (de janela ao lado)
Àquela endemonia
Hoje em dia moderna e caso arrumado.


Formado o quadrado
Era quando o Aleyster Crowley aparecia.
«Iô Pan! Iô Pã!», dizia,
E era felatio para todos
e pão de ló molhado em malvasia.

(...)

Mário Cesariny, O Virgem Negra

9.3.10

BEM FEITO

Alguns leitores ficaram "ofendidos" com o post anterior. Significa que levam, afinal, as coisas a sério tal como o "pec" lhes levará, paulatinamente, a massa a sério. É bem feito. Merecem, pois, este poema de Cesariny - que não vão entender, naturalmente - para se "ofenderem" um bocadinho mais. O "pec" vem nas duas últimas estrofes.

Apresentar-te aos deuses e deixar-te
entre sombra de pedra e golpe de asa
exaltar-te perder-te desconfiar-te
seguir-te de helicóptero até casa

dizer-te que te amo amo amo
que por ti passo raias e fronteiras
que não me chamo mário que me chamo
uma coisa que tens nas algibeiras

lançar a bomba onde vens no retrato
de dez anos de anjinho nacional
e nove de colégio terceiro acto

pôr-te na posição sexual
tirar-te todo o bem e todo o mal
esquecer-me de ti como o gato

8.9.09

«AFINAL O QUE IMPORTA É NÃO TER MEDO»


PASTELARIA

Afinal o que importa não é a literatura
nem a crítica de arte nem a câmara escura

Afinal o que importa não é bem o negócio
nem o ter dinheiro ao lado de ter horas de ócio

Afinal o que importa não é ser novo e galante
- ele há tanta maneira de compor uma estante

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os
olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

Não é verdade rapaz? E amanhã há bola
antes de haver cinema madame blanche e parola

Que afinal o que importa não é haver gente com
fome
porque assim como assim ainda há muita gente
que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de
muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra.


Mário Cesariny de Vasconcelos

8.8.07

MAIS UMA VEZ, SEMPRE A MESMA


Em homenagem ao Cesariny que, se fosse vivo, faria oitenta e quatro anos amanhã - o Crespo, sempre bem informado, enganou-se - devorei sozinho uma santola (€ 32, seus cabrões e putas invejosos) e deitei abaixo uma garrafa de Verde da Lixa, terra do meu querido amigo Coutinho, dos poucos homens com "H" grande que tive o privilégio de conhecer e com quem trabalhei, ainda do tempo em que a PJ era viva. Já percebi que os cortesãos do regime se preparam para "lançar" umas coisas dessa "velha desdentada que morava para as bandas de Benfica", como dizia o aldrabão do Pacheco sobre o Cesariny. A ver vamos, como pensava o cego. São todas muito finas, mas não arriscavam um terço do que o Cesariny arriscou. Em sua homenagem - e de tantos desgraçados pantomineiros que por aí arrastam o cadáver - aí vai, mais uma vez, sempre a mesma.

o regresso de ulisses

O HOMEM É UMA MULHER QUE EM VEZ DE TER UMA CONA TEM UMA PIÇA, O QUE EM NADA PREJUDICA O NORMAL ANDAMENTO DAS COISAS E ACRESCENTA UM TIC DELICIOSO À DIVERSIDADE DA ESPÉCIE. MAS O HOMEM É UMA MULHER QUE NUNCA SE COMPORTOU COMO MULHER, E QUIS DIFERENCIAR-SE, FAZER CHIC, NÃO CONSEGUINDO COM ISSO SENÃO PRODUZIR MONSTRUOSIDADES COMO ESTA FAMOSA "CIVILIZAÇÃO OCIDENTAL" SOB A QUAL SUFOCAMOS MAS QUE, FELIZMENTE, VAI DESAPARECER EM BREVE. PELO CONTRÁRIO, A MULHER, QUE É UM HOMEM, SOUBE SEMPRE GUARDAR AS DISTÂNCIAS E NUNCA PRETENDEU SUBSTITUIR-SE À VIDA SISTEMATIZANDO PUERILIDADES, COMO FILOSOFIA, AVIAÇÃO, CIÊNCIA, MÚSICA (SINFÓNICA), GUERRAS, ETC, ALGUNS PEDANTES QUE SE TOMAM POR LIBERTADORES DIZEM-NA "ESCRAVA DO HOMEM" E ELA RI ÀS ESCÂNCARAS, COM A SUA CONA, QUE É UM HOMEM. DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS, ANTES DA ROBOTSTÂNICA GREGA, OS ÚNICOS HOMENS-HOMENS QUE APARECERAM FORAM OS HOMENS-MEDICINA, OS HOMENS-XAMAS (HOMOSSEXUAIS ARQUIMULHERES). ESSES E AS AMAZONAS (SUPER-MULHERES-HOMENS). MAS UNS E OUTRAS ERAM DEMAIS. E DESDE O INÍCIO DOS TEMPOS QUE PENÉLOPE ESPERA O REGRESSO DE ULISSES. MAS O REGRESSO DE ULISSES É O HOMEM QUE É UMA MULHER E A MULHER QUE É UMA MULHER QUE É UM HOMEM.