
Agostinho era um pessimista relativamente à natureza humana. Ratzinger também desconfia dela, como lhe compete. Para mim, essa linha separadora - entre o optimismo e o pessimismo - é intelectualmente mais estimulante do que as tretas esquerda/direita ou liberal/mais ou menos Estado. É a que vale, embora Alain tenha escrito que quem pensa assim é de direita. Não faz mal. O Henrique Raposo define-se no livro da foto como um "liberal triste". Ainda tem a ilusão de que, um dia, esta pátria será "liberal". Isso é bom enquanto utopia e aí nos afastamos. De resto, um "liberal triste" como o Henrique está a meio caminho entre o optimismo e o pessimismo. Caso contrário, confundir-se-ia com alguns liberais de opereta, cúmplices do regime e do "sistema", que se vendem por um prato de lentilhas e que sobrevivem, contentinhos, atascados na sua pobre retórica livresca julgando que vivem onde verdadeiramente não vivem. Em certo sentido, o Henrique está mais do meu lado do que ele imagina. Porque a cidade dos homens não faz qualquer sentido se não for, também, cidade de Deus. É um pouco como a fé que se dirige exclusivamente à razão humana mesmo que esta a rejeite, como tu. Levei anos, uns porventura perdidos (a maioria), outros porventura ganhos na cidade dos homens até aprender isso. Lá chegarás se tiveres de chegar. Queres mais "liberal", e triste, do que isto?
Adenda: O José Medeiros Ferreira é meu amigo. Sem homens como o Medeiros - um "velho senhor da esquerda", como escreves, mas certamente mais jovem de espírito do que muitos ditos de direita precocemente envelhecidos - não haveria tantos furiosos liberais em Portugal no ano da graça de 2009. Devemos-lhe (desde a Europa quando muitos dos "liberais" de hoje a negavam a outras coisas) isso.
Adenda: O José Medeiros Ferreira é meu amigo. Sem homens como o Medeiros - um "velho senhor da esquerda", como escreves, mas certamente mais jovem de espírito do que muitos ditos de direita precocemente envelhecidos - não haveria tantos furiosos liberais em Portugal no ano da graça de 2009. Devemos-lhe (desde a Europa quando muitos dos "liberais" de hoje a negavam a outras coisas) isso.