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24.6.11

INCOMPETÊNCIAS


A um preço de capa superior a quarenta euros, é indesculpável que a mais recente edição da poesia completa de Eugénio de Andrade "troque" o título de um dos seus primeiros livros, Os Amantes sem Dinheiro, por "Os Amantes do Dinheiro", designação várias vezes referida ao longo do volume, por sinal bonito. Não há ninguém na editora Modo de Ler para rever os textos? E rever, aqui, é mesmo rever substantivamente o que implica conhecimentos básicos acerca daquilo que se está a rever? Uma pena mas tem de ir para o lixo.

19.3.10

ABENÇOADAS SEJAM TODAS AS PUTAS DO CÉU E DA TERRA


«Anoitecera. Eu falava de Morandi como exemplo de uma arte poética que, apesar da desmaterialização dos objectos e da aura de silêncio que os imobilizava na sua natureza, não se desvincula nunca da realidade mais comum e fremente, quando alguém me interrompeu: - Eu conheci-o, era intratável, vivia em Bolonha com duas irmãs, quase só saía de casa para ir às putas. - Está bem, volvi eu, se ele precisava disso para depois pintar como Vermeer e Chardin, abençoadas sejam todas as putas do céu e da terra. Amém.»

Eugénio de Andrade

24.8.09

UM POEMA

Tu partiste nos quatro versos
que antecederam estas linhas;
ou partiu o teu sorriso, porque tu
sempre moraste no teu sorriso,
chuva verde nas folhas, o teu sorriso,
bater de asas no pulso, o teu sorriso,
e o sabor, esse ardor da luz
sobre os lábios, quando os lábios são
rumor de sol nas ruas, o teu sorriso.


Eugénio de Andrade

2.7.09

ESSES MORTOS DIFÍCEIS



Esses mortos difíceis
Que não acabam de morrer
Dentro de nós; o sorriso
De fotografia,
A carícia suspensa, as folhas
Dos estios persistindo
Na poeira; difíceis;
O suor dos cavalos, o sorriso,
Como já disse, nos lábios,
Nas folhas dos livros;
Não acabam de morrer;
Tão difíceis, os amigos.


Eugénio de Andrade, Ofício de Paciência
, 1994

Clip: Wagner, Die Walküre (final), Hildegard Behrens, James Morris. Metropolitan Opera,1991. James Levine

26.5.09

SEM MEMÓRIA



Para a Joana - autora da foto - que faz o favor de me aturar mesmo quando não me atura, este poema de um homem da sua terra.

Haverá para os dias sem memória
outro nome que não seja morte?
Morte das coisas limpas, leves:
manhã rente às colinas,
a luz do corpo levada aos lábios,
os primeiros lilases do jardim.
Haverá outro nome para o lugar
onde não há lembrança de ti?


(Eugénio de Andrade, O Outro Nome da Terra)