
Há dias, no suplemento "cultural" do Expresso, um colunista indignava-se pelo aparente estado de degradação - penso que não se tratava de nenhuma metáfora ou de um delíquio a que o cronista é dado - da casa onde viveu Eugénio de Andrade, no Porto. Parece que ele passou por lá, contemplou melancolicamente o imóvel e desfez-se, no texto, em lamentações arcádicas. O colunista em causa aparentemente lamentava-se "para" os poderes públicos que teriam deixado a memória "física" de Eugénio em péssimo estado. Logo ele, o cronista, que lá tinha estado tantas vezes e degustado chá e outros poetas em forma de bolinhos com o bardo de "A mão e os Frutos". Acontece que o cronista em causa - apresentado como "gestor cultural" na "comissão de honra" do dr. Costa em Lisboa - faz parte dos quadros de uma poderosa fundação cultural de uma das mais influentes e seguras empresas portuguesas. Uma daquelas que, por natureza, nunca acaba porque o Estado lhe garante o monopólio do serviço que presta. Ou seja, se há coisa que não deve faltar à fundação dessa empresa é dinheiro. É só desviar algum para a casa-museu Eugénio de Andrade que, certamente, nem a empresa, nem a fundação vão abaixo. Por que é que o cronista não trata disso em vez de nos massacrar com tanto berloque místico?