
«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
13.3.06
A BEM DA NAÇÃO

O MISTÉRIO DAS FINANÇAS
De acordo com um relatório do ministério das Finanças, a economia paralela- ou seja, a trafulhice - ocupa cerca de 22% do PIB. Fosse ela taxada, como o comum dos mortais e das empresas que se dão ao luxo de pagar impostos, o famoso défice desapareceria imediatamente. Porém, para que a referida economia paralela continue próspera e feliz, é mais fácil ao Estado "atacar" quem já está previamente identificado. São sempre os mesmos que pagam a factura, os que não podem "fugir" ao "sistema". Ciente desta evidência, o ministério das Finanças, no citado documento, promete "lutar" contra a evasão fiscal, um eufemismo recorrente em todos os anos económicos e comum a qualquer governo. Para o efeito, o fisco propôe-se a extravagâncias deste género que normalmente não querem dizer nada: "uma maior moralização no campo fiscal, por via de um firme combate à evasão representa uma prioridade nacional cuja prossecução importa fixar metas sucessivas e consistentes, pondo fim a alterações intermitentes, avulsas e de maior ou menor complexidade". Importam-se de repetir? Mas há mais. Esta "luta" também pressupôe outras coisas, designadamente que ela seja encarada "como um processo contínuo", "alterado e adaptado", já que "se move num conjunto extenso e complexo de variáveis que constituem uma ameaça à eficiência do sistema fiscal em vigor". Perceberam alguma coisa? Ao lado disto, e muito naturalmente, a economia paralela continuará a rir-se.
COMO ELE É

12.3.06
UMA PERGUNTA
À excepção do dr. Marques Mendes, de meia dúzia de intriguistas profissionais e de rameiras políticas de corredor, a quem é que interessa o congresso do PSD?
ESTILOS RADICAIS

COMEMORAÇÕES
O comemorativismo tem destas coisas. Comemorou-se a eleição de Sócrates o mês passado. E comemora-se agora a entrada em funções do seu governo. A falta de "agenda" dá nisto. Comemora-se um ano, um mês ou uma mísera semana de qualquer coisa como se fossem eventos transcendentes. Aproveita-se para botar cá fora umas trivialidades e aguçar o espírito tagarela do jornalismo doméstico, esprimido em "análises" e "comentários", neste caso, sobre cada ministro. Todavia parece-me que tudo se resume a uma feroz banalidade: nenhum governo de outra ou da mesma "cor" faria, nesta altura do campeonato, melhor do que a rapaziada de Sócrates. É claro que despontam nódoas, a seu tempo removíveis, porém nada que perturbe o fundamental do exercício que consiste metodicamente em incomodar a classe média. Podem, por isso, comemorar-se à vontade até ao dia que ela acorde e decida que já não há mais nada para comemorar.
11.3.06
A PLUMA CAPRICHOSA
Por causa disto, Clara Ferreira Alves decidiu processar Vasco Pulido Valente pelo alegado crime de difamação, conta o Expresso. Esta coisa da licenciosidade, introduzida em boa-hora pelo catequista Freitas do Amaral, começa a ter inesperados seguidores. Como boa cronista do regime, Ferreira Alves não suporta um murmúrio crítico que deve tomar por aleivosia maliciosa. Não é a primeira a cair na esparrela. Carrilho fez o mesmo a António Barreto e ficou a ver navios quando o Tribunal da Relação de Lisboa mandou arquivar o processo por entender que Barreto "agiu no âmbito da sua liberdade de expressão e de crítica". E, juro, estavam lá epítetos bem mais apimentados que as frases utilizadas por Pulido Valente no post sobre CFA, designadamente "um ministro rasca de um governo débil", "suburbano", "pavão", "grosso" e "sonso". O regime, desde os seus mais altos dignatários até aos seus ocasionais serventuários, não gosta de ser criticado. Curiosamente é da chamada crítica e do comentário que CFA vive, pelo menos desde que abandonou o sotão do PS no Rato onde tratava dos recortes de imprensa. Também se imagina escritora, mas daí não vem mal ao mundo. Basta consultar os escaparates da FNAC para emergirem imediatamente dezenas de "talentos literários" perfeitamente convencidos de que o são e que andavam, até ali, adormecidos. Agora apeteceu-lhe ser mesmo caprichosa, como a sua pluma, e atacar um blogue. Não deve ir muito longe.
10.3.06
LA CIFRA
La amistad silenciosa de la luna
(cito mal a Virgilio) te acompaña
desde aquella perdida hoy en el tiempo
noche o atardecer en que tus vagos
ojos la descifraron para siempre
en un jardín o un patio que son polvo.
¿Para siempre? Yo sé que alguien, un día,
podrá decirte verdaderamente:
No volverás a ver la clara luna,
Has agotado ya la inalterable
suma de veces que te da el destino.
Inútil abrir todas las ventanas
del mundo. Es tarde. No darás con ella.
Vivimos descubriendo y olvidando
esa dulce costumbre de la noche.
Hay que mirarla bien. Puede ser última.
Jorge Luis Borges
(cito mal a Virgilio) te acompaña
desde aquella perdida hoy en el tiempo
noche o atardecer en que tus vagos
ojos la descifraron para siempre
en un jardín o un patio que son polvo.
¿Para siempre? Yo sé que alguien, un día,
podrá decirte verdaderamente:
No volverás a ver la clara luna,
Has agotado ya la inalterable
suma de veces que te da el destino.
Inútil abrir todas las ventanas
del mundo. Es tarde. No darás con ella.
Vivimos descubriendo y olvidando
esa dulce costumbre de la noche.
Hay que mirarla bien. Puede ser última.
Jorge Luis Borges
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Jorge Ferreira, "O Presidente", in Tomar Partido
A MAIS

9.3.06
QUANTO BASTA

O GESTO

8.3.06
HEIDEGGER

O CARTÃO

UM OUTRO DIA

7.3.06
UM DE NÓS

Por estranho que pareça, quase que subscrevo na íntegra o artigo de José Medeiros Ferreira sobre Jorge Sampaio, retirando-lhe as intimidades e as maldades. "Bati-lhe" forte e feio no ano em que aceitou a debandada de Barroso e em que foi complacente com a trapalhada de Santana Lopes. Não aprecio a sua visão timorata do cargo que deixa daqui a dois dias, já que, mesmo com as duas dissoluções, acabou por deixar um lastro de presidente parlamentarista. Todavia, agora que se aproxima do final dos seus dois mandatos, importa fazer-lhe alguma justiça global. Sempre considerei que Jorge Sampaio seria um Presidente próximo de nós e respeitador das nossas individualidades e diferenças. À sua maneira, não foi outra coisa. Também à sua maneira, quase como um mediano funcionário público, cumpriu o seu papel. Respeitou literalmente a Constituição – que lê mais como jurista do que como político -, sem excessos, rasgos ou concessões. Não julgo que tenha jamais feito “favores” a qualquer Governo - Santana Lopes foi uma espécie de “vício na formação do acto” -, nem que tenha ajudado a minar oportunidades à oposição. Considero, aliás, que a afectividade que colocou no exercício do cargo, apesar das trivialidades e da propensão doentia para a irrelevância, fazem dele, com naturalidade, um de nós. Para o melhor e para o pior.
EU VOLTO

6.3.06
PEQUENOS MONSTROS

SINAIS

5.3.06
UM RETRATO

ANIMALIDADES

4.3.06
DEFINIÇÃO

"O ser humano é um filho da puta. Assumamos esta realidade e aprendamos a viver com ela."
Arturo Pérez-Reverte, via Minha Rica Casinha
PRINCÍPIO DE CONVERSA

O RESTO FIEL

1. Por causa deste texto de Vasco Pulido Valente, fui ler a "homília de quarta-feira de cinzas" do Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo. Fui ver onde é que "encaixava" a "crítica" ao "direito à blasfémia". Vale a pena ler a passagem completa (sublinhados meus). "A primeira interpelação da Quaresma é a de tomarmos Deus mais a sério. É o grito, em tom dramático, do Profeta Joel: “Convertei-vos a Mim de todo o coração, com jejuns, lágrimas e lamentações. Rasgai o vosso coração, não os vossos vestidos. Convertei-vos ao Senhor vosso Deus” (Jl. 2,12-13). E São Paulo, em tom igualmente sério, escreve aos Coríntios: “Nós vos pedimos, em nome de Cristo: reconciliai-vos com Deus” (2Cor. 5,20). Se nós, os cristãos, não acolhemos estes apelos, quem os há-de ouvir? Este é o maior problema espiritual, com consequências morais, da nossa cultura contemporânea: relativizou-se Deus. Está na moda fazer profissão de fé de agnosticismo; o homem, considerado como individuo e não como pessoa, necessariamente comprometido com uma comunidade, tornou-se o único critério de verdade e de discernimento ético; Deus deixou de ter lugar na história. Apesar do apregoado respeito pelas religiões e pela fé de quem acredita, alguns não hesitam em brincar com o sagrado; chegou-se mesmo a apregoar, em nome da liberdade, o direito à blasfémia. Fiquem sabendo que para nós que buscamos o rosto de Deus e procuramos viver a vida em diálogo com Ele, isso nos indigna e magoa, porque temos gravado no nosso coração aquele mandamento primordial: “não invocarás o Santo Nome de Deus em vão”. Como afirmou um prestigiado colunista, que aliás se confessa descrente, com o sagrado não se brinca. O respeito pelo sagrado é algo que a cultura não pode pôr em questão, mesmo em nome da liberdade. A todos esses que sentem não acreditar em Deus, eu digo em nome do povo crente: a vossa dificuldade em acreditar em Deus, não toca na realidade insofismável de Deus. Nós respeitamos a vossa descrença, e não hesitamos em dar-vos as mãos em todas as lutas pelo bem e por causas justas. Mas respeitai a nossa fé, mesmo no exercício da vossa liberdade; sobretudo respeitai Deus em quem acreditamos."
2. Duas ou três observações. O "relativismo" tomou conta dos costumes e é hoje, em praticamente todas as "áreas", o "pai espiritual" do "pensamento único". A forma mais fácil e simplificada de o homem se olhar e de olhar o mundo é a do filisteu. O filistinismo é, por essência, o paraíso do lugar-comum, do relativismo e da concepção da vida como pura "vida material". D. José Policarpo pergunta: "que significado tem a Quaresma no contexto da nossa sociedade contemporânea, onde muitos não acreditam em Deus, onde, mesmo muitos cristãos, não cultivam a fé como relação viva e confiante com Ele, onde a Sua Palavra não é luz que ilumina a vida, onde a Sua Lei não interpela a liberdade, onde a doutrina da Igreja é pura sugestão? A Quaresma é, para a Igreja, um momento de verdade, de se assumir como “resto fiel”, Povo que o Senhor escolheu e conduz. É tempo para assumirmos corajosamente a nossa diferença, no mundo em que vivemos: diferença na fé, nas motivações e nos critérios". Esta é efectivamente a Igreja de João Paulo II e, agora, a de Joseph Ratzinger. Duvidosamente podia ser outra coisa: "o resto fiel", diferente na fé, "nas motivações e nos critérios". Pedir-lhe "outra coisa" é pedir-lhe que deixe de ser Igreja, "esta" Igreja.
3. No livro O Sal da Terra, Ratzinger é muito claro: "A Igreja também adoptará outras formas. Parecer-se-á menos com as grandes sociedades para ser cada vez mais uma Igreja de minorias, para viver em pequenos círculos vivos de pessoas realmente convictas que tenham fé e que actuem a partir dessa fé. Mas é precisamente assim que se tornará outra vez, para usar uma expressão bíblica, no "sal da terra". Nesta mudança fundamental, a constante de que o Homem não é destruído na sua dimensão essencial, volta a ser mais importante, e as forças que o podem apoiar como Homem tornam-se tanto mais necessárias. Por isso, a Igreja precisa, por um lado, da flexibilidade para aceitar as atitudes e as regras que se transformaram na sociedade e para se desligar de interdependências anteriores. Por outro lado, ela precisa cada vez mais da fidelidade para preservar o que deixa o Homem ser Homem; o que faz com que ele sobreviva e mantenha a sua dignidade. Ela tem de manter tudo isto e de manter o Homem aberto ao alto, a Deus; porque só daí pode vir a força de paz neste mundo".
4. Quando, em O Sal da Terra, o entrevistador pergunta a Ratzinger se existem muitos caminhos para Deus, o então cardeal responde simplesmente:" tantos, quanto há pessoas". Os filósofos pragmatistas criticam a distinção platónica entre a aparência e a realidade, entre a "alma" e o "corpo" e não sentem qualquer tipo de necessidade "exterior", de um "mais-além". Eu, como bom céptico e péssimo crente, duvido embora acredite naquilo a que Nietzsche chama os "nós secretos da vida". Para a humanidade indiferente, não existe uma "moral" ou uma "estética". A sorte dessa mal chamada "humanidade" é que ainda há homens que contrariam o "humano" para tentar dar um qualquer "sentido" ao "resto", fiel ou não. Isto apesar de já nenhum "sentido" nos salvar ou danar, se existir algum.
3.3.06
O DIREITO À IRREVERÊNCIA

Mario Vargas Llosa, El Derecho a la irreverencia, La Nacion, traduzido e publicado na "6ª", suplemento do Diário de Notícias
O RIDÍCULO MATA

PORTUGAL DOS PEQUENINOS

Não bastaram os altos “exemplos” da defunta Alta Autoridade para a Comunicação Social. A mania interventora e regulamentadora que caracteriza um certo “Portugal dos Pequeninos”, comum à ditadura e aos melhores dos democratas, produziu a “Entidade Reguladora para a Comunicação Social, uma espécie de lápis-azul democrático destinado a velar pelos bons costumes, para já, jornalísticos. Também não bastavam os “agentes de autoridade” que temos por aí espalhados atrás das secretárias, dos balcões ou de uma moita, no meio da estrada. Os “novos reguladores” são, de acordo com a lei, “agentes da autoridade”, o que, em linguagem chã, quer dizer que podem “aceder às instalações, equipamentos e serviços” das entidades que estão sujeitas à sua “regulação”, bem como "requisitar documentos para análise e requerer informações escritas” como quaisquer outros agentes de investigação criminal ou vasculhadores de veículos em circulação. E para estas meritórias funções nem sequer é preciso um mandado judicial. A “Entidade” é, nesta matéria, um “deus ex machina” que pode irromper em qualquer altura na redacção de um jornal, de uma rádio ou de uma televisão para “aceder” ao que lhe aprouver ou para “requisitar” o que lhe apetecer. O país, entediado pelos milhões prometidos pelo “plano tecnológico”, pela OTA ou pelo TGV, não dá praticamente por nada. Até Jorge Sampaio não parece muito incomodado com este sibilino ataque à liberdade de imprensa – é sempre por onde se começa – e o amável dr. Santos Silva, que via “golpes de estado constititucionais” a espreitar por detrás de Cavaco Silva, é tão-somente o ministro socialista da tutela e o “pai espiritual” desta “Entidade Reguladora” destinada, pelos vistos, a evitar a famosa “licenciosidade”, um jargão introduzido noutro contexto pelo seu inspirado colega dos Negócios Estrangeiros. Os partidos nunca souberam lidar convenientemente com a comunicação social e sempre oscilaram entre o temor reverencial e o controlo abstruso. O poder aprecia vigiar. Hoje os jornalistas. Amanhã nós.
(publicado no Independente)
2.3.06
"PARÂMETROS"

"CHEGAR À FRENTE"

O IPO

Há cerca de três, quatro anos, passei uma lúgubre temporada em que corria todos os dias para o Instituto Português de Oncologia de Lisboa. Tive tempo suficiente para ver morrer muita gente de idades variadas enquanto esperei pela morte, felizmente tranquila, do meu pai. No meio da coisa, ficou-me uma boa impressão geral do pessoal do IPO. Médicos, enfermeiros, pessoal auxiliar. Leio que o dr. Correia de Campos e que o director do IPO pretendem "vender" os terrenos de Palhavã e mudar o IPO para Oeiras ou para outro lugar qualquer. O IPO não é um hospital vulgar. Centenas de pessoas vêm dos locais mais remotos de país para tratamento ou internamento em Palhavã. É verdade que os oitenta anos das primeiras instalações pesam. E que aparentemente quaisquer obras adicionais não resolvem a questão, segundo o director. Todavia não pode ser indiferente à decisão a localização do Instituto. É, parece-me, importante manter a "centralidade" do mesmo e não pensar sequer dois minutos em transpô-lo para os arrabaldes de Lisboa. Este é um daqueles serviços públicos que não pode estar à mercê do caprichismo político. Que a criatividade incontinente do dr. Correia de Campos não lhe limite a visão razoável da realidade.
TRIVIA

"MEDIDAS"

Eu não devo nada ao Fisco. Normalmente o Fisco é que me deve todos os anos alguma coisa. Como solteiro e sem filhos, uma maldição fiscal, pago mais que o comum português cheio de crias e de esperteza saloia. Acresce que trabalho "por conta de outrem" pelo que não tenho maneira de escapar. Aliás, são os "por conta de outrem" e o IVA quem paga o "sistema". O resto é praticamente "peanuts". A boca do cofre, previamente escancarada pela "retenção na fonte", encarrega-se do exercício. Apesar das evidências, este governo, como os anteriores, supôe que vai combater a "evasão fiscal". O dr. Teixeira dos Santos, um voluntarista simpático, anunciou para Julho a exposição pública, via internet, dos contribuintes devedores de determinados montantes, montantes esses que irão baixando ao longo dos anos e, presume-se, "engrossando" a lista. O governo espera que, com esta medida, os devedores se comovam e se envergonhem e, mansamente, paguem o que devem. Por outro lado, o dr. Teixeira dos Santos também decidiu "atacar" as reclamações. Quem reclamar, fica automaticamente sujeito à quebra do sigilo bancário e pode ver as suas continhas devassadas. Trocadas por miúdos, estas "medidas" representam mais um avanço do Estado contra o "indivíduo", pessoa ou empresa, no sentido de lhe criar um sentimento de culpa "social" e simultaneamente fazer cair sobre o devedor o opróbrio colectivo. Vizinhos, inimigos de estimação, invejosos e simples voyeurs têm aqui "pano para mangas" sem sequer o Fisco ter a certeza de que os visados se importem excessivamente com a exposição e passem a cumprir automaticamente. A verdade é que quem foge ao Fisco é visto pela populaça como um herói e o pagador respeitável como um tanso. Por isto, não tenho a certeza de que estas "medidas" representem um passo em frente ou se, pelo contrário, são mais uma máscara para tapar o essencial que continuará, evidentemente, escondido.
1.3.06
A LISTA DE MAILER

A REALIDADE

28.2.06
LIMITAÇÕES - 2

ALEGRIA PASMADA

Pasmaceira é a palavra que me ocorre para definir o presente "estado da arte". O Carnaval é um período deprimente destinado a evidenciar, de forma colorida e brutal, a nossa endémica miséria. Basta olhar para as barriguinhas proeminentes das sambistas de província para perceber do que falo. Os pais das criancinhas esmeram-se por as idiotizar um pouco mais. E, em casos mais graves, são os próprios adultos que dão margem à sua alegria forçada exibindo trajes e trejeitos adequados à época. Uma das piores coisas do mundo consiste em fingir a alegria. Entre nós - país periférico, pobre, sem memória seja do que for e pronto a render-se ao primeiro espectáculo "mediático" que lhe aparecer pela frente justamente para se esquecer daquilo que é - é normal que se "finja" a alegria e que se afogue a tristeza em álcool ordinário. É por isso que esta nossa alegria é uma alegria pasmada, sem conteúdo real. No fundo, queremos gritar ao mundo que estamos na merda, mas que estamos vivos. Que fraca consolação.
27.2.06
ATLÂNTICO

Comprei e fui ler, bem mandado pelo Steiner, para um café. Ficaram lidas as duas prosas de Maria de Fátima Bonifácio, um excelente "obituário político" do "soarismo" (a ele voltarei) e uma outra sobre "costumes", a de Filomena Mónica sobre a ausência de Deus na vida dela (e só Deus sabe como ela tem andado às voltas com a sua "identidade"), a de Constança Cunha e Sá que termina com a sua chegada à blogosfera e a de José Manuel Fernandes. Há muito mais (a Carla, por exemplo, disserta sobre blogues), naturalmente, para ler aos bocados. De qualquer forma, era só para dizer que vale a pena.
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