Talvez - porque o tempo do nosso tempo é assassino e curto - pouca gente se recorde (ainda) do Eduardo Prado Coelho. Escrevia todos os dias no Público e, sinceramente, nem sei quem é que está no lugar dele. Também não interessa nada. Faz hoje dois anos que EPC morreu. Mesmo nos seus momentos mais insuportáveis - e, agora, ao folhear os dois volumes do diário redescobri tantos - EPC fazia parte de uma "paisagem" que desapareceu para sempre. A propósito do ódio e da utilidade dos inimigos, EPC escreve, citando Plutarco, que «convém afirmar que "a generosidade em relação a um inimigo é uma propedêutica à grandeza moral". Assim, "se nos habituarmos a permanecer justos em relação aos nossos inimigos, teremos a certeza de que nunca seremos culpados de injustiça e má fé em relação aos nossos íntimos e amigos." Além disso, se nada disto resultar em relação ao nosso inimigo, nada impede que lhe demos dois pares de estalos na primeira esquina em que o encontrarmos. Estóicos, sim, mas não tanto.»
Adenda: Um amável leitor, devidamente identificado, esclareceu-me. «Em vez de EPC, a única pessoa que escreve hoje diariamente no Público é Jorge Mourinha, no P2. Quem conseguir lê-lo mais de uma semana seguida, deixa de comprar o jornal para sempre.»
7 comentários:
Um par de estalos, nunca fez mal a ninguém. E há tanto javardo a precisar.
Sem precisar de citações: eu quero que os meus inimigos se fodam e que morram todos que nem moscas. Só assim terão o lugar que filosoficamente merecem, e eu também.
talvez escrevesse sobre uma notícia ocultada ontem por toda a comunicação social.
um grupo de cerca de centena e meia de pessoas de prestigio entregou à Chanceler(a) Merkel um documento onde que afirma que o aquecimento global é fraude fomentada pela onu.
a ser verdade gostava de ver o texto
Partilho consigo esta evocação. EPC tinha, de facto, por vezes, momentos irritantes (sobretudo quando carregava no elogio ao PS/Governo), mas era um grande pensador e escrevia como poucos. Do nada fazia uma crónica brilhante. Li-o sempre com o esforço de quem, jovem como eu, queria melhorar a sua escrita. E como aprendi! Deixou um grande vazio - no Público, no país e em mim.
A crónica de EPC que era na última página deixou de existir e essa página passou a ser repartida por alguns.
Quem escreve uma crónica diária parecida com a de EPC é MEC (Miguel Esteves Cardoso).
Sinceramente, prefiro o Mourinha ao EPC. Não só está vivo como também é o único crítico de cinema que leio que gosta realmente de cinema (ao invés de ser um crítico-de-cinema-que-não-é-mais-do-que-um-realizador-de-cinema-frustado como há tantos por aí).
Sem dúvida. Estoicismo sim, mas devagar.
Enviar um comentário