17.11.10

«MAS AGORA QUE VAI DESCER A NOITE NA MINHA VIDA»


Um livro, na circunstância o ali à direita, leva a outro livro. De poesia. De Fernando Assis Pacheco. A um poema específico de Assis Pacheco. Há resmas de livros sobre poesia justamente quando, se calhar, nada se deve ou pode dizer acerca dela. Prado Coelho sugere que a poesia é feita para secar a emoção. Deste ponto de vista, sempre da cegueira para usar termos de Paul de Man, este poema é perfeito.

Triste de mim mais triste que a tristeza
triste como a mão que segura o copo
como a luz do farol esgaçando a névoa
triste como o cão manco
deixado na estrada pelos caçadores

triste como a sopa entretanto azeda
mais triste que a idiotia congénita
ou que a palavra ampola

triste de mim triste e perdido
entre duas ruas
uma que vai para o Norte outra para o Sul
e ambas cortadas aos peões
que não cooperam devidamente
(com este governo de merda é claro)

triste como uma puta alentejana
num bar de Ourense
que me viu à cerveja e lesta
me chamou compadre
vozes que a gente colecciona
a tarde triste os anos tristes

a grande costura da tristeza
do esterno ao baixo ventre

triste e já sem nenhum reparo
a fazer à metafísica
senão que é um défice
porventura do córtex cerebral

3 comentários:

  1. Lembro o Assis em Pardilhó a andar de bicicleta com a Maria João
    Ruella Ramos (a da SIC) não muito longe.
    Este cidadão fez ainda umas singelas plaquettes de Poesia (nunca em venda) com edição de Autor e de tiragens limitadíssimas que oferecia pelo Natal a amigos selecionados. Sou o feliz possuidor de várias. Um Homem Poeta verdadeiramente subestimado, neste desgraçado País de best sellers de supermercado.

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  2. Já agora, o poema citado está completo? E chama-se "Mas agora que vai descer a noite na minha vida"?

    É que tenho andado à procura deste poema há uns tempos...

    PS - parabéns pelo Blog - continue...

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  3. Uma palavra ao Assis pá checo:
    pedra me chamaste e achaste gordo
    magro me querias na noite dos dias
    noite que não vives porque em noite te somes
    coração que partiste galego de talega
    abraço-te post mortem que post mortem sou
    faço contigo manguito da bicleta do ausente sonho
    te reencontro aqui senhor da pedra dormente imerso em mar oque de mar não viu senão ar
    de rua de descaminhos a sorrir des
    graça
    teus filhos são meus filhos e ainda não chegámos a netos
    neste diário de lisboa que de lisboa só nome tem boa dose de caraculu a rimar com chôa pessoa malhôa
    numa boa
    amarga amêndoa que não bebo
    amen
    doa-te amigo em mim
    a antever céu numa antemanhã
    que vai quedando terna de e-terna
    rais partam la vida e quem lá ande
    meu cante jondopara ti da checa paz pacheco pá pai papai que não
    papaia!
    praia de arcozelo miramar sem mar pra mirar, a amar, ochôa

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