9.8.10

O SUMO-SACERDÓCIO OU OS DONOS DA LEITURA ALHEIA


Entre nós existe uma espécie de sumo-sacerdócio da orientação literária onde oficiam apenas três ou quatro pessoas. São elas que escolhem o que se deve ler, como se deve ler o que eles querem que se compre e que reduzem o "universo" dito literário às suas escolhas e manias, invariavelmente ditadas pelo filão comercialeiro mais primitivo. Aí, o sumo-sacerdócio passa a comparar-se com as saudosas mercearias Vale do Rio sem a qualidade dos produtos que estas vendiam. O "meio" é pequeno e grosso e o sumo-sacerdócio pode arrotar postas de pescada à vontade porque está sempre, por assim dizer, em família. Se alguém não compra o produto e se atreve a pô-lo em causa, é notoriamente um bruto desqualificado e ressentido que aspira a ser "escritor". Nem sempre, porém, é assim. Pode tratar-se de alguém que goste simplesmente de livros e de literatura (tenha ela a forma que tiver) e que o mais que deseja é que todas essas capelinhas sejam alvo da famosa martelada do Nabokov (ou em alternativa, para a música, da lança do incansável Wagner da Tetralogia) e que sejam todos muito felizes. Não andem é sempre a fazer de anões Alberich a cobiçar a tutela do ouro e a lançar maldições por todo o lado. Não existe tal coisa como uma tutela da cabeça do leitor sério e a sério. E ao Bolaño preferirei sempre o shaggy-dog Sterne. Diverte-me e esclarece-me. Até, imagine-se, acaba por "descrever" este ridículo afã do sumo-sacerdócio como se tivesse sido escrito ontem.

5 comentários:

  1. Anónimo1:35 p.m.

    Chamar a esta cleptocracia, "regime chavista", é uma grande ofensa, ao Presidente Chavez.

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  2. pois fique com o shaggy-dog e deixe o sr bolaño em paz, que nada tem a ver com nenhum sacerdócio nem capela nem sacristão

    desconfio até que o shaggy-dog e o bolaño trocam opiniões e despedem gargalhadas lá onde as almas estão em paz a ver esta procissão de enganos.

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  3. Anónimo7:46 p.m.

    Ó JG, já fez o nosso Chico chorar, caramba! http://origemdasespecies.blogs.sapo.pt/1213218.html
    Vá lá, envie-lhe um mimo qualquer que a coisa não deve andar boa lá para o lado das "quetezais" para a criatura estalar o verniz porque há gente que não gosta de "bolanhadas".

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  4. Não é do "José" (Canavilhas "dixit") Luís Borges a observação de que "a crítica serve para dar de comer aos críticos"?...

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  5. Anónimo2:00 a.m.

    «Que vivemos, há muito, num regime "chavista" tropical formalmente democrático.»


    Acho mais apropriado dizer que na Venezuela se vive num regime socrático.

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