3.5.10

ALGUNS ANTECEDENTES MITOLÓGICOS*


Ameinias canta no sémen de Narciso
a muralha cujo saque findou. Esmaga
no dardo duma fonte o ermo do fascínio.
Hastes de sangue rompem em corola. Rude
a praga súbita da alma, o encontro,
corusca na sorte dos pinhais. Talvez
haja nas calamidades um resto que
não é calamidade: isso nos faz viver.



*título - e poema - de um livro de Joaquim Manuel Magalhães com ilustrações de Ilda David', de 1985, que não existe mais por vontade do autor.

1 comentário:

  1. Aproveito para recordar convívio de Coimbra (após isso só o vi uma vez e muito de fugida pelo Rossio de Lisboa) o amigo Joaquim Manuel Magalhães, amigo de antigas lidas e de Fé.
    E como não fui a tempo quando J G postou O'Neill lhe dedico este meu poema que já pessimamente disse em cd
    «remorso comigo mesmo Portugal»
    :
    ‘Remorso comigo mesmo Portugal.’
    Ilusão madrasta que me mata,
    condição que me morres meu lugar.
    Aproximaste a irreal cadeira,
    a que me acomodasse.
    Diluíste, tornaste monótono o rigoroso fervor.
    Era fado tropeçar nesse remorso,
    teu corpo irmão jactado aí à vala.
    No deserto tóxico, ante a infestação, e o desastre,
    clareava, teimosamente, a fina tonalidade
    da quase mediterrânica feiticeira luz.
    Umas mil e uma vezes fiquei desse quê,
    outras tantas vezes tombarei, literalmente ébrio,
    até renascer da poalha cremada que sou,
    na aurora alçar, parar, sumir da tua vista.

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