
Passaram quarenta anos sobre o parisiense Maio de 68. Segundo alguns, os das diversas esquerdas, aquilo foi um acto generoso, fundador e revolucionário que representou, nas palavras de António José Saraiva, "a crise da civilização burguesa". Durante uns dias, De Gaulle, o chefe de Estado francês, andou vagamente desaparecido enquanto nas ruas de Paris se viravam carros e, na Sorbonne, chamavam "crápula estalinista" a Sartre. Um Sartre que imediatamente se pôs ao lado da racaille, então filha precisamente desse "estado do mundo burguês" que diziam combater, e não aquela - pobre, desempregada e imigrada - que queima agora carros nos arredores da capital. O folclore acabou na manifestação de 30 de Maio, de apoio a De Gaulle, que mais tarde, em eleições, voltou a ganhar. Só se foi embora, pelo seu próprio pé, quando perdeu o referendo sobre a regionalização. Mitterrand, desprezado pelos "heróis" esquerdistas de 68 (na ausência de De Gaulle, em plena crise, anunciou uma pífia candidatura ao Eliseu), só lá chegou treze anos depois. E, para quem apelidava o regime da constituição de 1958 de "golpe de estado permanente", Mitterrand passou catorze anos presidenciais bem sentado nele, comportando-se muito mais como um monarca pré-1789 do que como um republicano pós-68. Foi o primeiro a "enterrar" os despojos políticos e culturais do militante Maio ao dar o "abraço do urso" ao PC (que não lhe fazia falta alguma) e a ter aos seus pés os "novos filósofos", um híbrido anti-soviético e social-democrata resultante das perturbações intelectuais de 68. Sarkozy, num comício eleitoral em Bercy (ver o livro da foto), também apoiado por estes já velhos filósofos , reclamou a necessidade de acabar com a "herança soixante-huitard" embora, ironicamente, talvez fosse improvável sem ela. Não obstante todo o folclore "ideológico" doméstico, traduzido em prateleiras e prateleiras de livros, a "herança" desse Maio longínquo passou pela humilhação de um Le Pen na segunda volta de 2002 e por ter de se curvar perante Chirac, esse político com ar de entertainer televisivo, para evitar o pior. Por cá, o Maio de 68 só chegou uns anos depois, com o PREC (Sartre veio dar lições "revolucionárias" a um quartel...), prolongando-se nas "refiliações" esquerdistas nos partidos do poder - PS e PSD - que deram no que sabemos. Eduardo Prado Coelho terá sido o mais genuíno mandarim "intelectual" do que restou de 68 aqui. O resto são imitações baratas e "pequeno-burguesas", para recorrer à langue de bois desse Maio longínquo para sempre perdido. Até por isso, ele faz falta. Nunca houve nenhuma praia debaixo da calçada.
constou que De Gaule esteve na Alemanha com Massu general dos paraquedistas que lhe garantiu o regresso. teria confessado "je suis un vieille connard"
ResponderEliminartal como disse o almirante Cândido dos Reis "quando há revolução: metade aplaude, a outra metade borra-se"
E o Reis deu um tiro na cornadura, coisa única que deu nome a avenida. Aliás, a única coisa que o notabilizou.
ResponderEliminarQuanto aos antepassados do senhor Louçã, pouco há para dizer, a não ser que se espera ansiosamente o seu desaparecimento. Nada me convence acerca do alegado romantismo das refregas e depredações, nem sequer da justeza da sua luta. Muito menos ainda, a sabujagem ideológica por ali andou. Bem razão tinha o general De Gaulle, o verdadeiro e único chefe da Resistência* :
-"la France n'est pas preparé pour un totalitarisme lugubre"...
No dia seguinte tinha uma colossal manifestação de apoio e soixante-huitards escorriam para a sarjeta da história.
*Enquanto o senhor Mitterrand era funcionário do regime de Vichy e ostentava la francisque.
Enquanto o senhor Laval, ex-membro do governo da Frente Popular, desempenhava as funções de ministro dos negócios estrangeiros de Vichy.
-Enquanto uma parte substancial de deputados do PCF criava o Parti Populaire Français com Jacques Doriot como Fuehrer, aliando-se ao Reich.
Enfim, histórias... e lérias!