«Hoje em dia, é nos crentes que certos princípios fundamentais para a nossa liberdade encontram a voz mais desassombrada. Por exemplo, a ideia da dignidade e da autonomia da pessoa como limite para experiências políticas e sociais. Numa cultura intoxicada pela hubris da ciência e das ideologias modernas, certas religiões conservaram, melhor do que outros sistemas, a consciência e o escrúpulo dos limites. O mesmo se poderia dizer da questão da verdade, que a ciência pós-moderna negou, sem se importar de reduzir o debate intelectual ao choque animalesco de subjectividades. Não, não é preciso fé para perceber que das religiões reveladas (e doutras tradições de iniciação espiritual) depende largamente a infra-estrutura de convicções e sentimentos que sustenta a nossa vida. O seu silenciamento no espaço público não seria um ganho, mas uma perda. No dia em que não pudermos ouvir Bento XVI, seremos
mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto.»
mais obscurantistas e menos livres. Obrigado aos "sábios" de Roma por nos terem dado ocasião para lembrar isto.»
Rui Ramos, in Público
Caro João Gonçalves
ResponderEliminarExcelente artigo do historiador Rui Ramos, um dos poucos cronistas que escreve com objectividade e inteligência. Este artigo devia ser lido 200 vezes (no mínimo) seguidas a muitos parôlos que poluem os jornais diariamente com o fundamentalismo laicista.
Congratulo-me, também, por este blogge ser um portal para outros artigos e cronistas.
Continue assim, Caro João Gonçalves.
João Amorim
Falando do fundamentalismo que o João tanto despreza...que tal a frequência com que coloca no blog ataques a tudo o que é laico? Eu sou ateu, desprezo profundamente as religiões organizadas - melhor dizendo, as organizações religiosas - e nem por isso retiro a quem pertence ou acredita nessas organizações capacidades intelectuais. Sim, Ratzinger é inteligente, Policarpo é inteligente - apesar da sua homilia de natal indiciar uma estadia demasiado longa no monte das oliveiras. É como ORGANIZAÇÃO politicamente influente - mais do que o comum cidadão e por meios pouco claros ou injustos (temer a deus, por exemplo) que as religiões devem ser balanceadas (porque é impossível, na prática, mudá-las). As igrejas têm 100% de direito à sua opinião, seja ela fascista, tolerante (seria refrescante), etc. O que não deve acontecer é um político decidir com base em crenças religiosas - que NÃO são o mesmo que crenças morais ou éticas, nem são impossíveis de escamotear no acto de decisão - e portanto demasiado subjectivas. Não há provas de que deus despreze os homossexuais, ache que as mãos de bandidos devam ser amputadas, recuse ver a face de uma mulher ou matasse todos os ateus. Dizer que a religião estabeleceu todas as bases para uma boa sociedade é profundamente ignorante, principalmente vindo de um historiador, e é ignorar que o "valor" da intolerância tem um cunho religioso enorme, bem como grande parte das guerras. Os fundamentos para uma sociedade melhor estão nos tolerantes de qualquer credo ou de nenhum. E ser tolerante não é amarmo-nos uns aos outros - e muito menos pregá-lo sem o fazer - é discordar, repudiar e detestar. Mas, como dizia o outro, bater-se pelo direito de o outro o dizer. Se realmente quer combater o "estado de crise moral", João, reconheça os erros nas facções que apoia. Não seja mais um adepto ferrenho
ResponderEliminarCaro Gant
ResponderEliminarNão percebi bem o sentido global do seu texto.
Eu, sou crente e desprezo todas as seitas organizadas, digo seitas protestantes e as seitas laicas e também "não retiro a quem pertence ou acredita nessas organizações capacidades intelectuais"(!) Contudo sou apologista de se ser muito, mesmo muito tolerante que o Gant. Só não posso seguir a sua tese senão passaria a vida a discordar muito, dar porrada e a odiar!!
Caro jb
ResponderEliminarEu passo realmente a vida a discordar muito e, como todos, tenho ódios de estimação. O sentido do meu texto é o do direito a odiar e a ser odiado sem cair em verdadeiros excessos (i.e. tentativas de "abafamento", silenciamento, etc.). E, especialmente, a moderação do "amor à camisola" religioso e a capacidade de assumir os erros das "facções" em que cada um se insere. Considero-me tolerante a partir do momento em que defendo incondicionalmente o direito à opinião de quem não gosto. No geral, acho que estamos na mesma linha de pensamento, aparte as crenças. Quanto ao seu realce às "capacidades intelectuais", ignorar as dos adversários é a atitude de quem não possui argumentos ou crenças fortes, ou simplesmente não reconhece aos outros direito à opinião. Aparentemente, e este o caso dos Srs. Sapienza