"A lei das chefias da Administração Pública, ditas de "confiança política" e cujos mandatos cessam com novas eleições, foi um gesto fundador. O bilhete de identidade "quase único" foi um sinal revelador. O Governo queria construir, paulatinamente, os mecanismos de controlo e informação. E quis significar à opinião que, nesse propósito, não brincava. A criação de um órgão de coordenação de todas as polícias parecia ser uma medida meramente técnica, mas percebeu-se que não era só isso. A colocação de tal organismo sob a tutela directa do primeiro-ministro veio esclarecer dúvidas. A revisão e reforma do estatuto do jornalista e da Entidade Reguladora para a Comunicação confirmaram um espírito. A exposição pública dos nomes de alguns devedores fiscais inscrevia-se nesta linha de conduta. Os apelos à delação de funcionários ultrapassaram as fronteiras da decência. O processo disciplinar instaurado contra um professor que terá "desabafado" ou "insultado" o primeiro-ministro mostrou intranquilidade e crispação, o que não é particularmente grave, mas é sobretudo um aviso e, talvez, o primeiro de uma série cujo âmbito se desconhece ainda. A criação, anunciada esta semana, de um ficheiro dos funcionários públicos com cruzamento de todas as informações relativas a esses cidadãos, incluindo pormenores da vida privada dos próprios e dos seus filhos, agrava e concretiza um plano inadmissível de ingerência do Estado na vida dos cidadãos. Finalmente, o processo que Sócrates intentou agora contra um "bloguista" que, há anos, iniciou o episódio dos "diplomas" universitários do primeiro-ministro é mais um passo numa construção que ainda não tem nome. Não se trata de imperícia. Se fosse, já o rumo teria sido corrigido. Não são ventos de loucura. Se fossem, teriam sido como tal denunciados. Nem são caprichos. É uma intenção, é uma estratégia, é um plano minuciosamente preparado e meticulosamente posto em prática. Passo a passo. Com ordem de prioridades. Primeiro os instrumentos, depois as leis, a seguir as medidas práticas, finalmente os gestos. E toda a vida pública será abrangida. Não serão apenas a liberdade individual, os direitos e garantias dos cidadãos ou a liberdade de expressão que são atingidos. Serão também as políticas de toda a espécie, as financeiras e as de investimento, como as da saúde, da educação, administrativas e todas as outras. O que se passou com a Ota é bem significativo. Só o Presidente da República e as sondagens de opinião puseram termo, provisoriamente, note-se, a uma teimosia que se transformara numa pura irracionalidade. No país, já nem se discutem os méritos da questão em termos técnicos, sociais e económicos. O mesmo está em vias de acontecer com o TGV. E não se pense que o Governo não sabe explicar ou que mostra deficiências na sua política de comunicação. Não. O Governo, pelo contrário, sabe muito bem comunicar. Sabe falar com quem o ouve, gosta de informar quem o acata. Aprecia a companhia dos seus seguidores, do banqueiro de Estado e dos patrícios das empresas participadas. Só explica o que quer. Não explica o que não quer. E só informa sobre o que lhe convém, quando convém."
António Barreto, in Público
António Barreto, in Público
Diz o A.B.: "No país, já nem se discutem os méritos da questão em termos técnicos, sociais e económicos. O mesmo está em vias de acontecer com o TGV"
ResponderEliminarÉ caso para perguntar: Onde andava este gajo quando foi a história de Foz Côa?
O Prof. Marcelo R. de Sousa veio hoje dizer na RTP que tudo isto se devia a uma certa «desconfiança» induzida talvez pelo Cartão Único. Pois, pois, pois ...
ResponderEliminarÉ tudo isto, mais a nova jurisprudência da “indemnização punitiva” do STJ, muito acariciada pelo respectivo Presidente STJ, que vai colocar a liberdade de expressão sob o cutelo da indemnização calculada não para reparar o dano ou ofensa mas para punir, mais o novo regime jurídico das universidades que as retira do espaço de liberdade quase milenar que sempre foi seu jus, mais tudo aquilo que ainda estará para vir…
ResponderEliminarA primeira república teve a ditadura de Sidónio apoiado pelos “velhos republicanos”, a terceira tem o que se está a ver e sentir, apoiada pelos filhos, netos e afilhados do mesmos velhos republicanos, camuflada numa “maioria absoluta” e na “cooperação estratégica” que cada vez mais se expande a outros órgãos de soberania e membros de altas funções no Estado.
R.A.I.
A.Barreto tem toda a razão....como sempre!
ResponderEliminarAplaudo de pé até ficar com as palmas das mãos dormentes!
ResponderEliminarFazem falta no país, Homens e Mulheres com esta "garra" e que não tenham medo de falar/escrever.
Quero mais, sff!
Um paspalho do socialismo de merda teve a estultícia de afirmar: Quem se mete com o PS leva.Esta afirmação foi confirmada pela reacção do bacharel arvorado em engenheiro contra o autor do blogue onde a sua tortuosa carreira académica foi posta a nú.
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