Estava a ler no "hors-série" do Magazine Littéraire dedicado a Martin Heidegger que, por ocasião do seus oitenta anos, Hannah Arendt disse uma coisa certeira: que o pensamento de Heidegger contribuiu decisivamente para determinar a fisionomia do século XX. Eu, modestamente, considero-o "apenas" o melhor filósofo desse século inacabado.
segundo Heidegger
ResponderEliminar“Os seres humanos são, colocados num mundo que eles não fizeram, mas que é constituído de coisas potencialmente úteis, incluíndo objectos naturais e culturais. Estes objectos chegaram à humanidade vindos do passado, são usados no presente, para atingir objectivos futuros”
Ainda defende
“A relação fundamental entre o modo de ser dos objectos, a humanidade e a estrutura do tempo. O indivíduo, entretanto, está sempre em risco de ser submerso num mundo de objectos, rotina diária e no comportamento trivial das pessoas. Daí a sensação de medo e angústia, que trás o indivíduo a uma confrontação com a morte e com a inutilidade da vida. Porem só com essa confrontação é que se pode alcançar a autêntica sensação de liberdade e exististência.
Ele percebeu
“Que, em contraste com a concepção Grega do ser, a moderna sociedade da tecnologia favoreceu simples atitudes manipulativas, que retiraram o significado da vida. A humanidade esqueceu-se da sua vocação original, que é recuperar um profundo entendimento do ser, que foi conseguido pelos Gregos e perdido pelos filósofos subsequentes“
... aqui está tudo dito
... melhor será ler o que foi escrito
... e, na realidade tambem penso como o João é “"apenas" o melhor filósofo desse século inacabado”
Ouvi dizer que MH teve um "flirt" com o nazismo...
ResponderEliminar... uma coisa é "ouvir dizer" outra bem mais "concreta" é "ter a certeza"
ResponderEliminar... e, é pois com "certezas" e, "coisas concretas" que devemos intervir e falar
... assim, meu caro, está sujeito a perder qualquer "razão" que possa ter
Caro anónimo das 6:58
ResponderEliminarFalando de certezas: Martin Heidegger inscreveu-se no partido nazi em 1 de Maio de 1933, pouco antes de se tornar reitor da universidade de Freiburg, onde esteve pouco tempo, é verdade, mas não seria possível ocupar um tal cargo sem apoio das autoridades alemãs.As simpatias nazis de MH, a que chamei "flirt" por ironia,tornaram-se públicas já há uns anos.Creio que vi a notícia pela primeira vez na revista Time, em meados dos anos 80. Além disso quem ler o romance "O último encontro" de Caterine Clement, não tem dúvidas sobre as inclinações de juventude do pai da fenonenologia.
Boa noite.
O argumento "nazi" dá normalmente pano para mangas. Nem Ratzinger escapou. Aconselho, no entanto, a leitura de um livrinho de George Steiner,um autor perfeitamente insuspeito, chamado "Heidegger", traduzido- e bem - na Dom Quixote. A mim só me interessa o filósofo e não propriamente a sua biografia enquanto funcionário público.
ResponderEliminarHannah Arendt era judia e parece nunca ter concordado com essas supostas certezas... Eu só penso que na altura devia de ser difícil ser alemão, a mim por exemplo é-me difícil ser portuguesa.
ResponderEliminarEspeculações à parte eu não concordo que ele tenha sido o melhor filósofo do século XX, temos a própria Hanna Arendt, Nietzsche e na minha opinião o melhor dos melhores de todos os séculos Gilles Deleuze... gostos também à parte há que concordar que a concorrência a Heidegger é feroz.
"Anónimo" das 9:16 então porque é que não "comentou" convenientemente?
ResponderEliminarNão é porque eu não soubesse, porem acho que quando se faz um "comentário", ou se faz bem "feito" e "fundamentado" ou "não se faz"
e, como diz o João e, tambem estou de acordo
"A mim só me interessa o filósofo e não propriamente a sua biografia enquanto funcionário público"
... e, ainda
ResponderEliminarNo livro “A origem da obra de arte” – M. Heidegger diz
“A arte é um enigma.
Nela se revela e esconde a verdade daquilo que é”
E, neste livro, por exemplo ele tenta mostrar como
“através de uma obra, poderemos aperceber-nos do outro lado das coisas e, como deveremos utilizar o que vemos como ponto de partida para uma reflexão sobre o sentido último da arte”
... podendo lêr-se um poema de Meyer que, ele usou para demonstrar o que atrás é relatado
A Fonte Romana
Eleva-se o jacto de água e, caindo, enche
Por inteiro o redondo da taça de mármore,
E a taça, enchendo-se, extravaza
Sobre o fundo de uma segunda taça
E a segunda, tomando água a mais,
Dá à terceira, em ondas, o seu jorro,
E cada uma ao mesmo tempo toma e dá
E jorra e repousa
No fundo, procura a realidade na obra de arte, para aí encontrar realmente a arte, que nela impera
... isto interessa-me mais, do que comentários “toscos” e, sem conteúdo, que por aqui passam
Coitadito dele ao pé de um Russel, Bertrand, mesmo sem o "Sir".
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