«Somos poucos mas vale a pena construir cidades e morrer de pé.» Ruy Cinatti joaogoncalv@gmail.com
28.2.05
A MÃO ESQUERDA DE DEUS
MITTERRAND
É hoje posto à venda em França o livro de Mazarine Pingeot, Bouche Cousue (Editions Julliard), a "memória" da filha "ilegítima" de Mitterrand sobre seu pai. Existe uma vasta bibliografia "mitterrandista" plenamente justificada pela qualidade do objecto de estudo. Com a malícia soberana que o caracterizava, Mitterrand dizia que era o "último Presidente": "depois de mim só haverá administradores". Em parte não deixa de ter razão, da mesma forma que outros desparecidos ou retirados líderes mundiais podiam dizer o mesmo. De facto, os últimos anos têm sido caracterizados pela emergência de criaturas incaracterísticas nas cenas políticas domésticas e mundial. A ascensão do "homem médio" a lugares de destaque não trouxe mais felicidade ao universo. Pelo contrário, banalizou-se o ataque às elites e os povos passaram a estar entregues, de uma maneira geral, à mais confrangedora trivialidade. Mitterrand, um homem da "esquerda", com uma história pessoal e política suficentemente ambígua para ser grandiosa, constitui um dos últimos avatares da política com densidade. A recente descida de Bush à Europa foi uma excelente ocasião para tornar mediaticamente evidente a "qualidade" efectiva dos "produtos" actualmente em uso. A longevidade política de um Blair, por exemplo, já praticamente se confunde com uma sossegada carreira na função pública, feita de compromissos, de amabilidades inócuas e da ausência de melhores alternativas. Ou que dizer da colocação, pela mão dos actuais dirigentes europeus, de um "cinzentão" como Durão Barroso à frente da Comissão Europeia? De Chirac nem vale a pena falar. Por tudo isto, recorrer hoje à memória de Mitterrand pode parecer pura arqueologia política. Não por causa dele, mas essencialmente porque os mais jovens, sem o suspeitarem ou sequer se interessarem, mereciam e precisavam de dirigentes à altura dele. Nas suas contradições, no seu projecto de poder e no seu exercício, Mitterrand não pode deixar de ser uma enorme referência. Depois dele e de outros como ele, como diria Pessoa, faltará sempre qualquer coisa.27.2.05
LER OS OUTROS
TRABALHAR EM CASA
MUDAR DE VIDA...
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de
Mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens...que ser
assim?...
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de
mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar
Ver-te sorrir eu nunca te vi
E a cantar, eu nunca te ouvi
Será de ti ou pensas que tens... que ser
assim?...
Olha que a vida não, não é nem deve ser
Como um castigo que tu terás que viver
Muda de vida se tu não vives satisfeito
Muda de vida, estás sempre a tempo de
mudar
Muda de vida, não deves viver contrafeito
Muda de vida, se há vida em ti a latejar"

CRIME E CASTIGO
26.2.05
25.2.05
CESÁRIO VERDE (1855-1886)

Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das cousas!
BLOGS FOR THE BOYS
UM NOME
O PERDEDOR
24.2.05
UM LIVRO
Este livrinho de Jean D'Ormesson passa por ser um livro de memórias. Original, fragmentado, pedaços da "vida material" e da intensa vida intelectual do autor, breves recordações, alguns "heróis", C'était bien pode ser lido ao acaso. É uma reflexão, por vezes irónica e desencantada, sobre a vida e sobre um mundo que ainda nos está próximo na sua -já- infinita distância. Nous n'avons plus de héros, nous n'avons plus de maîtres. Nous avons remplacé la surprise par la fatigue et l'admiration par le ricanement. UM LOUVOR
Não é habitual neste blogue "dizer-se bem". Soube, no entanto, pela revista Visão, que o procurador-geral adjunto António Rodrigues Maximiano deixou a direcção da Inspecção Geral da Administração Interna. O "silêncio" do estranho dr. Sanches, o ainda ministro, quanto à renovação da comissão de serviço daquele magistrado, terá levado Maximiano a "juntar" os anos todos que dedicou ao serviço público e a partir. Não é meu costume falar aqui da minha pessoa, mas quero deixar uma palavra de agradecimento. Devo ao dr. Rodrigues Maximiano, apesar de algumas naturais divergências de circunstância, os melhores anos da minha vida profissional e a gratidão do privilégio de com ele ter colaborado nos primeiros e fabulosos anos da construção da IGAI. Rodrigues Maximiano pôs de pé uma estrutura do Estado português responsável, entre outras missões, pelo controlo da actividade policial e pela salvaguarda dos direitos de cidadania. A IGAI - agora que tanto se fala da "reforma da administração pública" - é um bom exemplo de como um organismo público pode simultaneamente servir com inteligência, eficácia e sentido de oportunidade os cidadãos e funcionar de uma forma flexível, aberta, criteriosa, "não sovietizada" e não burocratizada, inteiramente ao arrepio da maneira como a maior parte das instituições públicas funcionam. RASGO
23.2.05
LER OS OUTROS
O "POVO DE ESQUERDA"
22.2.05
FACTO CONSUMADO
LATA
LER OS OUTROS
21.2.05
MANUELA
VER

O MAL QUE FICA POR BEM
POR QUE SERÁ?
MORAL DAS HISTÓRIAS
20.2.05
O "PROGRESSO"
"Vous niez le progrès? Cioran: Je nie le progrès. Je vais vous raconter une anecdote qui est plus qu'une anecdote. C'est ici, pas loin de chez moi, qu'on a écrit le premier et le meilleur livre sur le progrès. Pendant la Terreur c'est ici que Condorcet s'est caché et qu'il a écrit son livre Esquisse d'un tableau des progrès de l'esprit humain, la théorie du progrès, la première théorie claire et militante de l'idée de progrès; c'était en 1794. Il savait qu'il était recherché, il a quitté sa pension de famille et il s'est réfugié dans un faubourg de Paris. Des gens l'ont reconnu dans un bistrot, ils lont dénoncé - et il s'est suicidé. Et ce livre est la bible de l'optimisme."VOTAR
19.2.05
O QUE DIZ MARCELO
18.2.05
O LIMBO
DAY AFTER
17.2.05
BACH
Ouvindo as "Variações Goldberg", por Glenn Gould. Se existe alguém que deve tudo a Bach, esse alguém é seguramente Deus, Cioran.DOMINGO, MALDITO DOMINGO II
ÓPERA "BUFFA" II
DOMINGO, MALDITO DOMINGO
16.2.05
PORTAS NA TENDA
A BABOSEIRA DO DIA
UM LIVRO
E.M.Cioran costumava dizer que só se domina verdadeiramente um livro depois de o ter lido umas seis vezes. Razão pela qual ele preferia "reler" a "ler". Vem isto a propósito de um autor, já aqui mencionado, que é seguramente um dos mais estimulantes e "cépticos" historiadores do nosso tempo. Refiro-me a A.J.P Taylor. Quem esteja interessado em percorrer o período, aliás fascinante, da história da Europa a partir da segunda metade do século XX, passando pelas duas guerras subsequentes e pelas biografias dos líderes que marcaram esses períodos, terá forçosamente de recorrer ao punho escorreito e tantas vezes cínico de A.J.P Taylor. O seu livro acerca das "origens da 2ª Guerra Mundial" continua, por exemplo, a ser incontornável. Sem o objectivo de ser lido de fio a pavio, recomendo a colectânea de ensaios, editada uns anos após o seu desaparecimento em 1990, sob o título From the Boer War to The Cold War - Essays on Twentieth-Century Europe (Penguin Books). Aqui se encontram recensões de livros e pequenos textos autónomos que, nalguns casos, dão origem a pequenas e curiosas biografias dos visados nos livros que Taylor analisa. A par dos políticos ingleses, encontramos peças muito interessantes sobre Mussolini, Trotsky ou Hitler. São escritos que abrangem praticamente toda a vida activa deste eminente professor de história e que nos dão um retrato simultaneamente realista, irónico e "humano" de criaturas que marcaram, por boas e más razões, um tempo desaparecido e, muitas das vezes, perdido. It is difficult not to be sorry for Mussolini, a pretentious scoundrel, caught up by reality. The truly contemptible figures were those of high culture and morality who were taken in by him, in Italy and elsewhere. I prefer Mussolini, commending his speeches as having resolved all the problems of modern society: "there is nothing left to discover, no question left unanswered".VEXAME
ATÉ AO FIM
15.2.05
NÃO, OBRIGADO
ÓPERA "BUFFA"
A MANHA
Adenda: Matilde Sousa Franco, a inexplicável "cabeça-de-lista" do PS em Coimbra, também apareceu. E parece que vão aparecer mais. Ainda temos muito que aprender com os franceses, por exemplo. E depois não me venham com a estafada "ética republicana"... Onde é que ela está escondida?
Adenda II: Perdi um momento único na minha vida, o de ter visto Zita Seabra de luto e de ramo de flores na mão a caminho do Carmelo prestar homenagem à irmã Lúcia. Juro que se tivesse sabido que o milagre de Fátima iria ter esta 'réplica' também lá teria ido! (Correio da Manhã Link). No Jumento.
E SE MELHOR FOR IMPOSSÍVEL?
14.2.05
"REACÇÕES"
A OPÇÃO
13.2.05
IRMÃ LÚCIA (1908-2005)
MUDAR
CRIADORES E CRIATURA
A BABOSEIRA DO DIA
12.2.05
E AGORA?
11.2.05
PONTO FINAL....
... colocado pela Procuradoria Geral da República no "nevoeiro" do dia: "(...) tanto quanto os elementos indiciários reunidos até ao momento permitem avaliar, não existe nenhuma suspeita de cometimento por parte do engenheiro José Sócrates de qualquer ilícito criminal com o aludido processo de licenciamento.".
Adenda: Não houve cão nem gato que não batesse no O Independente por causa da "notícia". Que me lembre, li sensivelmente o mesmo pelo menos no Público e no Correio da Manhã.
FLORILÉGIO ELEITORAL
Debate. O "debate", tão pirosa e ansiosamente aguardado, resolveu alguma dúvida aos indecisos levando-os a decidir? Perdoem-me as boas consciências de serviço, mas penso que não. Santana - e nisso Sócrates foi muito claro - tentou falar de um futuro cujo presente ele não soube minimamente tratar. Quanto ao resto, percebemos que decorou uns números e evidenciou a mesma falta de credibilidade que o acompanhará melodramaticamente até ao fim.
Destino. Estes dias vão ser os mais longos da vida política de Santana Lopes. Tem algumas qualidades e imensos defeitos, raramente acertando no aproveitamento das qualidades e esticando até um limite insuportável os defeitos. O que eu verdadeiramente aprecio no homem, é ele não ser trivial nem previsível. E um primeiro-ministro deve ser trivial e previsível.
Objectivo. Procurar não perder demasiado eleitorado e evitar que o PS tenha maioria absoluta, é o "rendimento mínimo garantido" para Santana Lopes afrontar os que, dentro do PSD, "andam a fazer contas", como ele disse. Se o PSD perder as eleições - e perder é objectivamente não as ganhar -, há que arrepiar caminho. E, malgré tout, eu acho que Santana Lopes vai querer continuar no meio do caminho, tipo "empata".
Utilidade. As "convicções" e a "competência" incluem criaturas como Celeste Cardona, Mariana Cascais ou Teresa Caeiro? Ou o dr. Portas esqueceu-se entretanto destes seus extraordinários "valores"? O PP só é "útil" nestas eleições precisamente para ser julgado por igual com o seu parceiro maior. Este "fazer-se de desentendido" para babujar uma migalha de poder no futuro, não dá bem com a "ética" cristã de que o PP se mostra tão insigne guardião. E nós sabemos perfeitamente que eles sabem que nós sabemos quem eles são.
Zoom. Guterres pediu a maioria absoluta para o PS, sabendo que, quanto mais próximo dela o partido estiver, mais longe fica ele de Belém. E a Santana Lopes convém manter-se para "espantar" Cavaco. Salvo o devido respeito por Guterres e por Santana, eles representam respectivamente um passado esquecível e um passivo inesquecível.
10.2.05
O CABELO ERA AZUL
SONDAGENS "SECRETAS"...
A CAMPANHA NEGATIVA
ESCRIBAS
9.2.05
PONTO FINAL
LER
DER UNTERGANG
Joachim Fest, Inside Hitler´s Bunker. The Last Days of the Third Reich, Londres, Macmillan, 2004.
Não sei quantas vezes li descrições dos últimos momentos de Hitler no seu bunker berlinense, mas o próprio facto de ter acabado de ler mais uma mostra o fascínio que esses momentos têm. Não sou só eu, é uma multidão de pessoas que esgota e torna em best sellers tudo o que diga respeito a estes dias de Abril de 1945. Em bom rigor, sabe-se muito, e o que não se sabe dificilmente se irá saber. Não é sequer o mistério das versões contraditórias sobre os momentos finais de Hitler que explicam, nos dias de hoje, o interesse pelo fim do Reich. É o pathos da personagem Hitler e da sua corte final, e a tentativa de explicação de algo muito difícil de explicar: a pulsão destrutiva, o Gotterdamerung macabro desses dias. Pode também ser que procuremos encontrar uma racionalidade para algo intrinsecamente irracional e inexplicável, e o nosso fascínio seja afinal o traço de uma recusa psicológica face ao que não tem explicação, ao que de todo não controlamos.
O livro de Joachim Fest é magnífico porque combina uma descrição narrativa depurada dos últimos dias do bunker , incluindo o que se sabe das fontes soviéticas entretanto tornadas disponíveis, com uma interpretação sobre Hitler e os seus companheiros dos últimos dias, em particular Goebbels. A sua tese - Hitler nunca "construiu", só destruiu, era movido por uma vontade de destruição que nos últimos dias da guerra se voltou também contra os alemães - salienta a singularidade da personagem. Sem Hitler tudo seria diferente, mas Hitler é uma excepção histórica, nunca quis deixar qualquer "obra" que não fosse a terra queimada, onde povos e nações sucumbiram. Pouco a pouco, a força da sua personalidade, a sua vontade inquebrável, seleccionou uns poucos seguidores que espelhavam a mesma vontade de destruir, hipnotizou muitos outros numa obediência cega, e depois, pela corrupção do dinheiro e do poder, alargou essa base dos fanáticos para os oportunistas. Estes deixaram-no no fim , os outros acabaram com ele ou como ele. E não foi só Goebbels e a mulher, que se suicidaram depois de matarem os seis filhos, mas muitos outros oficiais das SS, motoristas, secretárias, que ficaram até ao fim, quase cem pessoas nos últimos dias de Abril.
Fest retrata bem essa comunidade alucinada, que tentou continuar a guerra até ao último berlinense, até ao último alemão, uma guerra já perdida. Uma das perplexidades nesta atitude é o seu carácter pouco "moderno", numa época em que as guerras terminam quase de forma burocrática, algo para que o regime nazi tinha também apetência. Veja-se Eichmann revisto por Hanna Arendt.
Mas não. Hitler queria levar tudo e todos consigo, num acto de imolação que incluía uma suprema vingança contra todos os que o tinham "traído", inclusive o povo alemão, e, de certo modo, contra si próprio, porque tinha mostrado "fraqueza", tinha-se enredado em compromissos a que agora atribuía a derrota.
8.2.05
INDIGNIDADES
A MANOBRA
A BABOSEIRA DO DIA
UMA "NOTÍCIA"
Adenda: Ler "Detector de spin", de hoje, do Paulo Gorjão. Eu não disse?
UM LIVRO
LER OS OUTROS
TEM RAZÃO
7.2.05
TEM A CERTEZA?
O OXÍMORO SOCIALISTA
O TERCEIRO HOMEM
A VANTAGEM
6.2.05
LER OS OUTROS
DA PARÓQUIA
LER OS OUTROS
GUTERRES
A QUEDA DE UM ANJO
5.2.05
LAÇOS DE TERNURA
ÚTEIS VALORES
Este cartaz, aparentemente espalhado por Coimbra, não abona o partido "dos valores" e da "convicção". Um conselho ao dr. Guedes: antes de pedir a cabeça de alguém, certifique-se primeiro se ele próprio tem uma. É mais... "útil".
Agradecimentos ao Causa Nossa e aos Manos Metralha.
SUBSCREVO
OS ROSTOS DA DESILUSÃO

Durão Barroso e Santana Lopes encontram-se hoje em Lisboa. O primeiro, envolto na capa de presidente da Comissão Europeia, "mostra-se" ao lado do seu sucessor calculado. Este encontro simbólico, destinado a abrilhantar a campanha de Lopes, tem um lado negro. Estas duas figuras, a quem deve juntar-se Paulo Portas, agora entretido ora a "fazer de morto", ora a lançar olhares lúbricos a uma qualquer perspectiva de poder, são os maiores responsáveis pelo estado de desalento instalado no país e no eleitorado do PSD. Os indecisos e os abstencionistas que tanto preocupam o dr. Lopes são uma criação perversa dele próprio e do dr. Barroso. A fria ambição de Barroso permitiu Santana Lopes. Santana Lopes permitiu o caos. Ambos deram azo ao afastamento natural de milhares de pessoas que confiaram em Barroso, em 2002, contra o "porreirismo" vazio de António Guterres. A maior parte dessas pessoas está agora em casa a ruminar no que há-de fazer no dia 20. É quase obsceno Santana Lopes pensar que ainda pode contar com elas para alguma coisa. Portas não interessa. Barroso e Santana deixam como herança um grande partido ferido na sua dignidade histórica e política. Para milhares de portugueses como eu, eles são verdadeiramente os rostos da desilusão.