2.7.09

«Ó MEUS AMIGOS, NÃO HÁ AMIGO»


Há doze anos, por esta altura, depois de ter visto o anúncio no jornal, fui sozinho a Alvide, perto de Cascais, buscar o derradeiro cachorro de uma bela ninhada de puros Labrador Retriever. A mãe - Mimosa - anunciava um cão enorme. Custou trinta e cinco contos. O cachorro tinha menos de três meses. Foi "baptizado", ainda essa noite, como Bruno. Destruiu, entre outras coisas e como lhe competia, o braço de um sofá. Cresceu, agigantou-se, correu e tornou-se no companheiro inevitável dos passeios nocturnos. Gostava da janela onde chegava com a ajuda de um pequeno banco. Sabia-lhe bem sentir as pessoas. Quaisquer pessoas. Era acolhedor. Por vezes, maçadoramente acolhedor. Era, sem sombra de dúvida, mais simpático do que eu. Há pouco, de novo sozinho, fui despedir-me do Bruno onde estava internado há duas semanas. No espaço onde o puseram - não havia "gaiola" para cão tão grande - foi acesa uma vela por causa do cheiro porque o cão já não se mexia. Uma ironia. Assinei uma coisa chamada "termo de responsabilidade" para a veterinária proceder à eutanásia. À hora a que escrevo, já descansa. No caminho para uma casa mais vazia e ainda mais solitária, recordei o desabafo de Diógenes de Laércio na morte de Aristóteles: «Ó meus amigos, não há amigo.»

36 comentários:

ana disse...

É difícil perder um amigo.
O gato do icone da minha conta blogger já tem 13 anos. Companheiro de momentos muito difícies...
Não substituem os humanos, mas por vezes parecem ser os únicos que de facto nos conhecem

António Luís disse...

Sinto muito, João!
E quando os Brunos são tão mais fiéis que os humanos...Maior se torna a sensação de perda!
Fique bem!

Abraço.

Anónimo disse...

Embora você não mereça, que trata tão mal todos quantos não são da sua cor, mesmo com requintes de crueldade e baixaria, apesar disso, lamento e desejo-lhe coragem.

Anónimo disse...

Realmente, os nossos animais têm uma sensibilidade diferente (Mesmo um gato insensível e pouco sociável como o meu) e por causa disso perdoamo-lhes quase tudo. E tal como os humanos, são verdadeiramente insubstituveis.

Lura do Grilo disse...

Caro João

Só há uma maneira de vencer esta dor. Arranje outro! Foi o que eu fiz. E afinal braços de sofás há muitos e ao meu cão eu chamo-lhe "O amigo".

Nuno Ferreira da Silva disse...

Caro João:
Como te compeendo! Sinto muito e corroboro as qualidades que enalteces.
Talvez falte a muita gente para ser GENTE ter esta linha de afecto.Um Abraço NunoFS

Piotr Kropotkine disse...

Lamento. Há uns anos tive de fazer o mesmo. Não há palavras.

Perigoso pró-Israelita disse...

Lord Byron - Epitaph to a Dog

Near this Spot
are deposited the Remains of one
who possessed Beauty without Vanity,
Strength without Insolence,
Courage without Ferosity,
and all the virtues of Man without his Vices.

This praise, which would be unmeaning Flattery
if inscribed over human Ashes,
is but a just tribute to the Memory of
BOATSWAIN, a DOG,
who was born in Newfoundland May 1803
and died at Newstead Nov. 18, 1808.


When some proud Son of Man returns to Earth,
Unknown by Glory, but upheld by Birth,
The sculptor’s art exhausts the pomp of woe,
And storied urns record who rests below.
When all is done, upon the Tomb is seen,
Not what he was, but what he should have been.
But the poor Dog, in life the firmest friend,
The first to welcome, foremost to defend,
Whose honest heart is still his Master’s own,
Who labours, fights, lives, breathes for him alone,
Unhonoured falls, unnoticed all his worth,
Denied in heaven the Soul he held on earth –
While man, vain insect! hopes to be forgiven,
And claims himself a sole exclusive heaven.

Oh man! thou feeble tenant of an hour,
Debased by slavery, or corrupt by power –
Who knows thee well must quit thee with disgust,
Degraded mass of animated dust!
Thy love is lust, thy friendship all a cheat,
Thy tongue hypocrisy, thy words deceit!
By nature vile, ennoble but by name,
Each kindred brute might bid thee blush for shame.
Ye, who perchance behold this simple urn,
Pass on – it honors none you wish to mourn.
To mark a friend’s remains these stones arise;
I never knew but one – and here he lies.

http://fast1.onesite.com/my.telegraph.co.uk/user/jeanetrendhill/large/l1000973.jpg

Anónimo disse...

Lamento que tenha sido obrigado a tomar tal decisão. Força, que foi de certeza o melhor para o seu amigo.

PC

Capitão Nemo disse...

Sei como é e por isso lamento muito

MINA disse...

Lamento sinceramente o evento, e lembro-me sempre do meu gato que teve de ser abatido 18 anos depois de ter entrado em minha casa. Também estragou algumas coisas, poucas, mas deixou uma eterna recordação.

Unknown disse...

Já passei por isso. Um grande abraço.

caozito disse...

Também tive um «dardo» que, após ter sido envenenado - um gesto 'demasiado' humano -, foi, piedosamente, abatido por um veterinário amigo (meu e do cão) que "cuidava" das suas maleitas.

Não teve uma vida longa, mas viveu o suficiente para deixar algumas boas recordações de companheirismo.

Nunca mais quis ter um cão, para não ter de lamentar quando 'partisse'.

Toninho disse...

Boas noites.

Como compreendo o momento do João Gonçalves, também eu sei o que é perder um AMIGO.

Entretanto ainda vou tendo aqui comigo um, com mais de 15 anos.

Chama-se "levezinho" e acreditem que está melhor que eu!

Abraço solidário.

Cumprimentos.

CAP CRÉUS disse...

Lamento imenso :-(
Força aí!

Rui Ferreira disse...

Lamento porque o compreendo. Perder um animal de estimação traz-nos sempre sentimentos de perda e tristeza. Temos sentimentos e eles parece que também.
Um abraço.

http://www.entropiassociais.blogspot.com/

observador disse...

Lamento o sucedido, pois não há nada como uma boa amizade e companharismo.

Observador

Anónimo disse...

A fotografia mostra um belíssimo animal. Tem um ar sério, meigo e responsável. Enfim, um amigo.

joshua disse...

Sinto-o, João.

Carlos Botelho disse...

Um abraço.

Unknown disse...

Aceite um abraço deste seu leitor.

angelo ochoa disse...

Quando morreu de trombose meu gato Caramelo, filhota actriz arranjou podengo rafeiro alentejano nascido no Porto (cadelo) de nome Maria. Quando Mirita, nome com que eu a rebaptizei, morrer, e vai com 70 humanos anos de idade, disponho-me a correr Alentejo em busca de «sósia» ou «sósio...»
Que, escreveu Nietzsche, e bem verdade é, «sei o que é ser amado desde que tive um cão...»

Karocha disse...

Lamento JG!
Arranje outro,foi o que eu fiz.

Anónimo disse...

Caro João Gonçalves,

Sei bem o que é pôr, por fim, um cão a "descansar"...Desejo-lhe coragem, e que não desista de ter outro amigo desse género assim que conseguir.
Abraço,
Ana Cristina Duarte Ferreira

Anónimo disse...

Meu caro,

Como eu compreendo o seu estado.
Tenho também um Retriever Labrador com dez anos e, embora seja um "anarquista" dentro de casa, é o melhor "relações públicas" da familia. Fico com os olhos molhados quando penso que o fim pode estar próximo.

Um abraço solidário, de Espinho.

C.A.

Anónimo disse...

Sinto muito a sua perda. Eu também tive um, era um golden retriever e foi, sem duvida alguma, o meu melhor amigo. Embora eu seja um não crente, gostava de poder reencarnar num cão, só para perceber o porquê de eles serem tão nossos e fieis amigos.
Ass:LM

LUIS BARATA disse...

Um abraço e renovo o conselho dado por outros leitores: Venha o Bruno II para destruir o outro braço do sofá!

rosebud disse...

Sei bem o que se sente.

A ver,urgentemente,"Umberto D",De Sicca

Anónimo disse...

Acabou de descrever o meu amigo labrador retriever negro (cancadiano, logo, uma bestinha). Também à janela, também fiel companheiro e também o mesmo desfecho. Custa muito. Lamento.

DSC

VANGUARDISTA disse...

Lamento a tua perda.
Aceita um abraço amigo.

Anónimo disse...

Abraço João.

Tenho um, e tenho sorte por "o ter".

A

Rui

Anónimo disse...

Eu tenho um cão maravilhoso, não o queria cá em casa, por ser muito grande, coisas de filhos, também me destruiu uma parte de um sofá, chinelos, roeu um móvel... O cão adora água e piscinas e atira-se à água. No Verão podia levá-lo para o Algarve, mas as pessoas são muito chatas e depois têm cães e este só gosta de cadelas, vou deixá-lo num canil para não me chatear, sei que vai sentir a minha falta, mas eu também vou sentir a falta dele. Sempre tive cães, mas mais pequenos. Este é cruzado de uma mãe labradora precisamente.

João Villalobos disse...

Só li isto agora. Imagina que nem sabia que o Bruno existia e agora descubro que morreu. Grande abraço então.

Anónimo disse...

Tens bons conselhos. Encontra outra e dá-lhe o nome de Bruna. Faz isso! Será tua amiga também. Um abraço.

Anónimo disse...

Sinto a sua dor e lamento-a. Também tive de eutanasiar a minha gata cinzenta, Frilinho e sei que, tal como as pessoas, não é substituível. Para facilitar a evocação e as lágrimas, escrevi-lhe o que aqui segue:
FRILO
Sinuosa sombra cinzenta segues-me, sei-o
Como viveríamos sem esse toque suave e mágico?
Vejo-te nas árvores e cascas parecem tombar sob as tuas garras fantásticas.
Estás sobre a cama no teu lugar verde, hoje branco
E a saudade assombra-me de visão.
Vens toda de prata arquear no fogão o teu dorso frágil
Nas casas que tivemos e hoje são só tuas,
Num cobertor que se desdobra nos ares e polvilha o mundo com a cinza dos teus olhos para sempre abertos.
Vens quando outros a mim acorrem e me sentem tua
Pairarei então, fantástica enua, sentir-me ão ausente
Mas de novo comigo estás, suave e quente
Cantas para mim e só eu te ouço pela noite fora até que adormeço
Vens então nos sonhos e és ave, nuvem, viagem,recomeço
Beijo-te, beijo-te e o redondo concêntrico dos olhos deslumbrado se funde, se funde para sempre
Onde não sei.
Fica o beijo leve e improvável a minha boca vulgar e o mistério da tua aflorando como quem flutua, não sei, não sei onde.
Não há vida em mim,não há morte em ti, tudo é completo neste encontro improvável e discreto que não vê
ninguém
Sinto como nunca que fui um dia tua mãe e que o sou agora e sem ninguém ver, o meu ventre chora,alaga-me, afoga-me...
Vem, desse teu fantástico Oriente, no teu salto felino e esguio
Rebola na relva o teu eterno cio
Desce a velha escada rangente
DE novo correndo,ágil e contente
E mostra-me o vento nas orelhas ágeis
O sol rebrilhando nas patinhas frágeis.
Sei que és o amor esse que não morre que corre nas veias, para sempre corre
E só o sentimos e não o explicamos menos o entendemos
Corrente de alma, sopro de vidamorte
De lés a lés em tudo oque somos
E hoje, noite adentro, és minha vigília e a tua tumba suavemente me abre os braços
Nela deposito os meus cansaços e o teu canto de sereia quegra todos os mastros
Foges, foges, figura esguia, meu pai, minha mãe, minha tia, meu amor, equando vens arrastas-me e não me reconheço
Olho-me no espelho, sou fim ou começo mas faço sentido
Parte de mim sobe
Parte de mim desce
Abismo-me e pela noite fora teu corpo macio se enrola no meu será que sou tu ou tu que és eu
Mas sou mais real do que à luz do dia
Não somos daqui, minha estrela-guia.

Joaquim Amado Lopes disse...

Lamento a sua perda.

A minha cadela, de nome Tootsie (meio Serra da Estrela, meio Castro Laboreiro) morreu há 2 anos. Senti como se tivesse morrido uma pessoa próxima, ainda me vêem as lágrimas aos olhos quando penso nela e questiono-me constantemente se a tratei tão bem quanto ela merecia, incluíndo no final.

Poucos meses depois, adoptei um Rottweiller adulto, na União Zoófila, chamado Norte.
"maçadoramente acolhedor" assenta-lhe que nem uma luva.
É o cão mais amigável que já vi. Dirige-se a toda a gente a pedir festas e adora esfregar-se nas pessoas.

Já há muito aprendi que os amigos vêm e vão. Os que vão deixam saudades mas os que ficam e os que vêm ajudam a suportá-las.

Um grande abraço.