2.4.07

OPART, A INCÓGNITA CONVENIENTE


Lida a lei orgânica do Ministério da Professora Pires de Lima e do Intendente Vieira de Carvalho, fica-se sem saber ao que vem a OPART, a entidade pública empresarial que vai gerir – fundindo mas preservando as respectivas “autonomias artísticas” (o que é isto?) – o Teatro Nacional de São Carlos e a Companhia Nacional de Bailado. Quanto à segunda, Ana Pereira Caldas, a directora, não se mostrou favorável à OPART, mas não foi até agora prejudicada por delito de opinião pelo Intendente Carvalho. Pelo contrário, Paolo Pinamonti, até ao final deste mês o director artístico do São Carlos, já foi sumariamente removido por carta. A OPART é um daqueles mistérios próprios de quem, possuindo uma estratégia de dirigismo político-cultural digno da Coreia do Norte – já que aprendido na defunta RDA – precisa de um instrumento adequado, de carácter administrativo-financeiro, para que a dita estratégia funcione. Os nomes contam pouco. Quaisquer serviçais do regime servem e o novo director artístico da única ópera de Lisboa tem o recado bem estudado. Mesmo que, neste momento, os contornos da OPART sejam uma incógnita conveniente e a “experiência Fragateiro”, no D. Maria (ensaio nº 1 da dita estratégia), esteja a soçobrar por todos os lados. Dammann, o homem que vai “preservar” a “autonomia artística” do São Carlos, vem de Colónia e Colónia não é propriamente um lugar indiferente em matéria de música contemporânea. Há dias, na Casa da Música, onde passava um trecho de Emmanuel Nunes, ministra, Intendente e o ilustre compositor fecharam-se num gabinete durante o intervalo e ninguém os viu na segunda parte. Nunes, é bom recordá-lo, tinha uma ópera encomendada por Pinamonti para o São Carlos. A instâncias dele, compositor, a entrega da encomenda foi sendo adiada. A dada altura, Emmanuel Nunes deu uma entrevista em que anuncia melhores tempos – para ele, naturalmente – para o São Carlos. Ou seja, Nunes antecipa a saída de Pinamonti antes de o Intendente a consumar. Pierre Boulez, o “patrão” do IRCAM a que pertence Nunes, consta estar farto do português. Mais. O português ensina em Colónia, onde existe o Studio der Neue Musik Köln. Em suma, Nunes “precisa” de um teatro de ópera. Ninguém é ninguém na música contemporânea sem estar ligado à “galáxia” IRCAM, ao referido Studio de Colónia, sem ser “compositor aprovado” no Instituto Internacional de Música de Darmstadt e sem ter obra aceite no Festival de Royan. O Intendente Carvalho sabe da poda. A OPART é apenas o proscénio.

Nota: Este texto está publicado no nº 3 da Revista Obscena (em pdf) e deve-se a um amável convite de Miguel-Pedro Quadrio e à amizade do Tiago Bartolomeu Costa. Quando foi escrito, Paolo Pinamonti já sabia que ia deixar a direcção artística do São Carlos, embora não soubesse que não teria o apoio de Mário Vieira de Carvalho para assegurar a transição até ao final de presente temporada, apesar da sua (a meu ver errada) disponibilidade. Carvalho que a garanta já que Pires de Lima, para este efeito e outros, não existe.

5 comentários:

Anónimo disse...

Outra notícia que os jornais não dão é a contratação de joão morgado fernandes como spin doctor do ministro Mário Lino para a Ota e o TGV. Parece que começou hoje: a luta continua, agora no Governo.

Anónimo disse...

Pinamonti saiu...foi posto fora do São Carlos pelo tal Intendente!!!
Dizem-me que é uma "questão política"...Eu sei que é, mas, exactamente por UMA QUESTÃO POLÍTICA é que ELE TAMBÉM DEVERIA FICAR!!!

A CULTURA está de LUTO!!!

Mas, para os políticos portugueses, saberão o que isso significa? Claro que não....

Na TERRA DE CEGOS...QUEM TE OLHO É REI!!! Mesmo que o Rei vá Nú!!!!

Anónimo disse...

Nunca comenta que Pinamonte foi o pior director das ultimas décadas para o pessoal do Teatro de São Carlos. Um prepotente que despedfiu tpdoso os vogais que lhe entravassem o caminho do seu despotismo. Que so dividiu os trabalhadores uns contra os outros, para melhor reinar. Que so deu aumento aos seus protegidos. Que nunca assinou os regulamentos dos quadros artistcios. Foi um artista do Nim, o mesmo Nim que mandou para a Secretaria de estado quando o convidaram para se manter como Director Artistico. Ele na realidade o que queria era ficar como Presidente da Opart

Anónimo disse...

É claro que Pinamonti foi tudo isso que está escrito pelo anónimo anterior.....e ele pensou é que, com o apoio dos GRANDES (pseudo)-amigos que conseguiria derrubar os patéticos MC e Sec....e ser tudo como Pinamonti desejava...É certo que foi sendo ao longo do tempo tudo aquilo que quis....mas acabou-se!

Ele não queria a OPART porque pretendia continuar como Presidente e Director Artístico o que a OPART não lhe faculta pelos estatutos.....

Daí, esperneou, gritou, fez DEMAGOGIA....(poucos o sabem...)mas foi-se...
Espero que tenha aprendido a lição!!!

Não deixo, no entanto, de o elogiar como um GRANDE DIRECTOR ARTÍTICO e que, como tal, faz falta ao Teatro São Carlos, à Cultura e, portanto, a Portugal. Mas isto também não interessa muito aos políticos da cultura....Eles também só estão no Poder para se servirem a si próprios....Ora, ora...em que é que eles são melhores que o Pinamonti??!!....

Anónimo disse...

Cada governo que chega tem um SEC que resolve brincar ás experiências com a CNB, sem que para isso tenha qualquer conhecimento profundo desta instituição ou desta arte,qualquer projecto fundamentado ou estudo de fundo realizado.Veja-se a CNB foi fundada em 1977, em 1985 foi integrada no TN S.Carlos com a justificação de melhor aproveitar recursos ( onde é que eu ouvi isto recentemente?), em 1990 a empresa foi extinta alegadamente devido ás elevadas dividas acumuladas, em 1994 passou a ser gerida por um instituto privado (!!!) - IPBD. Em 1997 passou a instituto público. Agora Voltamos à velha formula ...(OPART?). "Os directores artisticos terão liberdade total para gerir os orçamentos" Ah!ah! a CNB até já teve um director art. que nunca tinha dançado e que de BALLET sabia tanto como uma galinha ... Agora deve vir outra vez um destes, para depois fazerem como ao Ballet Gulbenkian!