30.9.10

ESTADO

De necedade.

DEDICÁCIA AO REGIME



A Canalha

Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo nem sequer prazer!
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta!
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas!
Há que esmagar a DDT, penicilina
e pau pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrem.


Jorge de Sena, 7.12.71

BIPOLARIDADE PERIGOSA

Este sujeito é o mesmo de há oito dias, em Nova Iorque? Ele terá mesmo uma cabeça onde se passe alguma coisa? Definitivamente trata-se de um homem perigoso.

CRETINICE COMEMOREIRA

No tempo em que o país ainda era vivo, a propósito de umas celebrações camonianas, cobriu-se de grandes tarjas negras a estátua do bardo no Largo do mesmo nome. Era o que devia ser feito no 5 de Outubro por todo o lado. Não por a monarquia ter sido deposta (coitada, também já era um cadáver em férias) mas porque comemorar o que quer que seja, nas actuais circunstâncias, ressuma a um verdadeiro insulto ao "povo". Como se isto não bastasse, os bonzos da comissão das comemorações pretendem que o "povo", num transporte tão eminentemente patriótico como cretino, cante o hino às tantas horas, de norte a sul. Desculpem-me o plebeísmo, mas a isto só se pode responder com um não menos solene "bardamerda".

A TUDOLOGIA


Devia haver um corte da ordem dos 5 a 100% nos "tudólogos" que, desde ontem, aparecem nas televisões a parafrasear as "medidas". Ainda agora Constança Cunha e Sá, armada em reputada especialista em despesa pública, praticamente sugeriu a intervenção da servilusa em relação aos funcionários públicos, os novos "sidosos" do regime, desde os órgãos de soberania até ao coveiro da última junta de freguesia. Que não chega, diz ela. E de "tudólogos", como esta querida, não chega?

O HOMEM DESFOCADO

Parece que houve debate parlamentar com Sócrates. Ainda tem cara para aparecer em público? E outros para falarem com ele?

A FACTURA DO DESLUMBRADO


«O deslumbramento é sempre a outra face de uma ofuscação, de um dogma, de uma cegueira. O deslumbrado olha, mas é incapaz de ver. Quando hoje analisamos a crise que temos vivido nos últimos anos, percebe-se que não foi por falta de saber que não se viu o que lá vinha, mas por excesso de deslumbramento: porque o deslumbramento desvaloriza a prudência, inutiliza o conhecimento e dilui o saber. E esta crise foi, em grande medida, a consequência de um duplo deslumbramento: com a nova finança e a sua delirante criatividade, com as novas tecnologias e as suas mirabolantes promessas, que se impuseram com uma tóxica cumplicidade. Foi este duplo deslumbramento que cegou e manietou tanta gente. E é ainda ele que, hoje, leva muitos a pensar que será com a retoma dos factores que provocaram a crise que se sairá dela. Isso acontece porque o deslumbramento, ao desprezar o passado e ao ignorar o futuro, vive e faz viver num presente completamente virtual. Num presente que é feito de activismo sem estratégia, colado a um imperativo de modernidade que se apresenta como um acelerador de tudo, mas que, na realidade, ninguém vislumbra ao que conduz. Ser moderno tornou-se simplesmente nisto, em ser deslumbrado!...»

Manuel Maria Carrilho, DN

29.9.10

E AGORA?

Cá estamos. Aflitos, como se escreve no livro ali à direita.

GRANDE BESTA

O ancião.

PARA CONTRABALANÇAR


No "pacote" de Sócrates devia estar incluída a demissão de alguns ministros e secretários de Estado, a saber, prof. Mendonça e ajudantes, Ana Jorge e ajudantes, Helena André e ajudantes, Maria Isabel Vilar e ajudantes, todos por acção, e Amado, Martins e Gago por inutilidade superveniente. A todos seria oferecido um livrinho de Manuel Alegre, devidamente autografado, a título de castigo. O de Sócrates, o castigo, fica para outra altura.

TRABALHAI, PERSEVERAI E POUPAI


Na Maçonaria recomenda-se trabalho e perseverança: "trabalhai e perseverai". O Doutor Salazar, sempre recorrente em momentos de aperto, acrescentaria poupança: "produzir e poupar manda Salazar". Poupai, pois, que é coisa para que não estais adestrados há, pelo menos, quinze anos graças à inconsequência socialista.

RESTINHO


Medidas duras e indispensáveis? Com certeza. Pena é que tenham sido anunciadas por quem jurou consecutivamente que as não ia tomar naquelas tendinhas da propaganda. Fosse este lugar um país sério e tamanha língua de pau teria a sua paga política. Assim sendo, a costumada mansidão, o consumo e o "povo" pagarão o resto com o restinho que lhes restar.

Adenda: Nogueira Leite, pelo PSD, fez bem em lembrar que não basta pôr cobro ao glorioso "investimento público" aplaudido pelo PS, pelo PC e pelo Bloco. Também as famosas "parcerias público-privadas" ou "público-público" devem ser postas rapidamente de lado. Era a "velha" que era "velha", não era? Há um ano fizeram tudo para a desacreditar. Agora tomem lá (tomemos lá, liberalóides de pacotilha incluídos: ou julgam que isto não se "comunica"?).

EM SÍNTESE



Adenda: Para "ajudar" alguns leitores sempre afoitos contra o PR, talvez este post ajude a perceber alguma coisa se não se tratar de cegos de profissão.

MAIS LIXO


Estão à espera de quê para demitir estes tipos? Ou para extinguir empresas ditas públicas (ou seja, que existem por causa e em função do "soberano") que não passam de albergues para os passageiros precários do vasto comboio político-partidário dos últimos trinta anos quando se passeiam entre estações, ou seja, entre governos?

28.9.10

TRAUMAS


Aos Trabalhistas ingleses aconteceu o mesmo que vai acontecer ao PS. Passará muito tempo e varrerão muitos chefes até, respectivamente, conseguirem superar os traumas Blair e Sócrates.

O DONO DA DELEGAÇÃO E O APRENDIZ DE FEITICEIRO

Passos Coelho esteve reunido com vinte economistas. Aparentemente para "preparar" o encontro com Cavaco Silva. Passos julgará que vai a alguma prova oral? Tamanha exibição pública de insegurança só serve uma pessoa, aquela que paira sobre a delegação do PS chefiada pelo astuto ancião Almeida Santos. O dono dela, aliás.

Adenda: Medeiros Ferreira, na sicn, apelidou Passos e o dono dos outros de adolescentes retardados. É uma bela síntese analítica. Tal como ter referido como boa a iniciativa do PR, uma maneira indirecta de chamar ao candidato do PE e do PS adolescente retardado. Que ainda por cima se exprime tão mal como perpetra versos.

UM PINGO AGRIDOCE

Não sou fanático da social-democracia nem deixo de ser. Mas estas coisas do António Barreto parecem revelar que, afinal, ele nunca viveu verdadeiramente em Portugal. A ideia é empurrar as pessoas ainda mais para o fundo à conta de uma tese?

A CABEÇA VAZIA DE JANUS


A cabeça de Janus às presidenciais apoiada por Sócrates e Louçã, consistentemente tão mau poeta quanto péssimo político, veio verberar o Presidente da República por receber os partidos. Segundo esta inocuidade caçadora e versejadora, Cavaco está impedido de exercer as suas funções porque, qualquer acção ou omissão sua, é campanha eleitoral. Alegre é sempre um mau candidato, seja à presidência do Burundi, seja ao que for. Consequentemente podia fazer um esforço para não se notar tanto o vazio.

Ó COUSAS, TODAS VÃS


Já não confio nem creo,
Já confiei e já cri:
mal assi, e mal assi.


Ó cousas, todas vãs, todas mudaves,
Qual é tal coração qu'em vós confia?

Sá de Miranda

(«A arte poética de Sá de Miranda, que aflora logo como um sopro novo nos seus poemas «tradicionais» do
Cancioneiro Geral, é precisamente esta, de que não digamos que estamos isentos, apesar de os suicídios expiatórios de Antero e Sá-Carneiro terem propiciado a heteronímia, conservada em álcool até aos limites do fígado, de Fernando Pessoa: a arte, dolorosa e triste, de ser moderno em Portugal.»
Jorge de Sena)

LÓGICA


Wittgenstein não tinha meramente génio ou o sentido do dever do génio. Tinha dinheiro, era meticuloso e não suportava chatos: estúpidos ou intelectuais. Dava-se ao luxo de deambular, num "silêncio agitado" como um "animal selvagem", três horas seguidas diante de um Bertrand Russell perplexo e apaixonado por uma sujeita com um nome improvável (Ottoline), discorrendo. «É sobre lógica ou sobre os seus pecados que está para aí a falar?», perguntou-lhe o outro. «É sobre as duas coisas.» E com isto acordei. Tem lógica.

27.9.10

SÚPLICAS INATENDIDAS

O orçamento para 2011, que tantas súplicas inatendidas tem provocado, entrará em vigor quando? Em Junho? O actual entrou em vigor em Maio e ninguém morreu de indignação. Foram quatro ou cinco meses a "duodécimos". Agora rasgam-se fatos, soerguem-se sobrancelhas e dizem-se disparates em Nova Iorque e nos Açores como se o orçamento fosse a nova caravela fantasmagórica do Gama. Há que pôr rapidamente em sentido, e calada, toda esta tropa fandanga irresponsável e torpe. Estes burros, em suma.

OS DIAS CINZENTOS DE MÁRIO DIONÍSIO


Todas estas justas homenagens a Mário Dionísio incluem a menção da sua passagem, no PREC, como docente na Faculdade de Letras de Lisboa? É que mesmo as melhores almas têm (ou tiveram) os seus dias. Cinzentos.

ENERGIAS RENOVÁVEIS

Este extraordinário cv - «at the age of 18 he went to Coimbra, where he earned a degree in civil engineering (and) received an MBA in 2005 from the Lisbon University Institute»: que diabo será este LUI? - também terá sido patrocinado pela inefável edp que, por sua vez, patrocina a "cátedra" de Manuel Pinho nos EUA?

DO LIXO


Aos bocadinhos, Pacheco Pereira falou do lixo que é, genericamente, a vida pública portuguesa e de alguns dos seus protagonistas. Esqueceu-se, porém, de uma das mais eminentes carroças dele, o comentadeiro edil António Costa. Costa, putativo e desejado sucessor de Sócrates por algumas almas penadas do partido albanês, é um dos maiores cúmplices daquilo em que se tornou o PS e da cobardia genérica que dele se apoderou nos derradeiros cinco anos. Manuel Alegre, o "corajoso", é, aliás, a derradeira captura. Na semana transacta, Costa deu exemplo deste embotamento generalizado a propósito do "episódio Carrilho". Apenas lhe ocorreu informar que já tinha falado, em tempos, com o embaixador de Portugal na Índia, Castro Mendes, a propósito da candidatura do fado a património imaterial da UNESCO. A que título o fez? É amigo dele? Conversa da treta ou de café? Duplicidade? Nesses "tempos", há nove meses, o embaixador de Portugal na UNESCO era (ainda é, mesmo de saída) Carrilho e não consta que Costa tivesse protagonizado grandes iniciativas acerca da matéria. De Costa, entretanto, não brotou o mais vago murmúrio sobre o fundo do "episódio Carrilho" (Sócrates), tão somente uma outra evidência do lixo a que alude Pacheco (que também nada disse) e que o vago edil, putativamente sediado no Intendente, apascenta com uma complacência partidária que o define, de facto, como um bom delfim.

Adenda: Li por aí que quando a comissão parlamentar de Negócios Estrangeiros foi informada pela primeira vez do movimento diplomático, nada havia em relação à UNESCO. Às vezes, apanha-se mesmo mais depressa um mentiroso (ou dois) do que um coxo. Não é só coisa "popular".

26.9.10

O PAÍS DE SÓCRATES

«O meu país é um país que acredita no primado do direito», disse o regedor nas Nações Unidas. Deve ser um país dele. Exclusivamente dele. Que não existe.

UM PRESIDENTE NUM CONTEXTO "SEMI"


Escreve Vasco Pulido Valente: «O que admira é que os constituintes, por espírito republicano e parlamentar (e, argumentam eles, para evitar uma nova ditadura), tenham diminuído até à inexistência prática o papel do único magistrado da nação com legitimidade pessoal. Isto não veio do "estrangeiro" ou é o resultado do parasitismo de Estado tão tradicionalmente indígena. Isto demonstra o ódio atávico do país a toda a forma de autoridade e a sua velha persistência em impedir que alguém verdadeiramente mande nele. Na pior crise do Portugal contemporâneo, andamos por aí sem rei, nem roque. Cavaco não conta. E o nosso destino passou para as mãos de um principiante sobre o imaturo e de um funcionário do PS iletrado e cego, que se chama Sócrates. Mas nós gostamos.» Como eu não gosto, há aqui três coisas. A primeira - e é o que se tem defendido persistentemente neste blogue - consiste em acabar com este regime "semi" tudo e "semi" nada que nos conduziu a isto juntamente com a endémica periferia típica de pobres materiais e de espírito. A segunda, é que, neste contexto "semi", agravado pelo comportamento irresponsável dos partidos (todos, uns mais do que outros, mas todos) e pelo analfabetismo funcional do poder executivo e parlamentar (até há menos de um ano absoluto, convém não esquecer), o PR funciona como um estabilizador. Cavaco não impediu o governo de governar e de ser "julgado" pelo "povo" da mesma maneira que não cerceou ou impeliu a oposição a fazer o que quis e com quem quis. O resultado do "julgamento " popular foi, repito, há um ano e o presidente não foi ouvido nem achado nele. Cavaco não é Soares e, por consequência, não "conspira". E Soares, como é fácil recordar, fez do chavão "moderador e árbitro" uma gloriosa metáfora, não impedindo, mesmo com todas as "conspirações" do mundo, duas maiorias absolutas que lhe eram politicamente adversas ou um governo minoritário do seu partido de origem. Se Cavaco se tivesse "resignado", no ambiente "semi" em que vive e que jurou cumprir, não tinha dito o que foi dizendo ao longo deste mandato. Todavia, ao contrário de Sócrates e de outros distintos oficiantes da nomenclatura e da propaganda, Cavaco não parou no tempo, em 2007, antes da crise, como se nada se tivesse passado entretanto. Basta lê-lo e ouvi-lo. Podia ter feito mais e diferente? Podia. Como nós podíamos ter feito há um ano nas eleições legislativas e, como se nota, não fizemos. Resta uma terceira coisa. A reeleição de Cavaco tem, por tudo isto e neste famoso contexto, uma importância que não tiveram as reeleições de Soares ou de Sampaio (excluo Eanes porque os poderes presidenciais em 1980 eram outros que muitos dos que agora mordem as canelas de Cavaco - VPV, "político" ao tempo, incluído - não descansaram enquanto não os removeram: talvez por isso seja intelectualmente mais honesto sugerir um mandato único mais longo). Basta pensar no candidato que já por aí anda e que, no dizer das sondagens, é o que está menos afastado de Cavaco apesar das distâncias. Esse candidato é apoiado oficialmente pelo PS fascistóide de Sócrates e pelo delirante Bloco do dr. Louçã, do sr. Fazenda e da D. Drago. É possível alguém com dois dedos de testa resignar-se a isto?

UM REGEDOR EM NOVA IORQUE, 2

O regedor passou por Nova Iorque e talvez corra, a esta hora, na Vasco da Gama. Lá ameaçou demitir-se. Nova Iorque não é Sacavém. Tal como a realidade não é a cabeça do funesto regedor. Ela avança, mesmo sem esperar pela segunda-feira que, pelos vistos, será negra. A situação é excelente, como referia o desdentado Mao, de lenço ao pescoço, contemplando os destroços da velha China.

25.9.10

UM FAZER DE MORTO

Como é que um totó desta envergadura pode ser director de informação do canal generalista português com maiores níveis de audiência? Se calhar é por isso. Como recomendava o boneco do dr. Jorge Coelho na "contra-informação", aqui há uns anos, deve dar-se ao povo o que povo quer.

GRANDEZA



Bach: Missa. Agnus Dei. Hertha Töpper. Karl Richter. «Bach est la seul chose qui vous donne l'impression que l'univers n'est pas raté. Tout y est profond, réel, sans théâtre. S'il y a un absolu, c'est Bach (Cioran).»

DECIDIDOS ATÉ ONDE IR NÃO DEVEMOS IR MAIS ALÉM

Wittgenstein termina o afamado Tractatus com a não menos afamada frase que postula silêncio acerca daquilo de que não se pode falar. Aqui não se trata propriamente de não poder falar - é mais evitar a tagarelice. Gosto muito de Santana Lopes mas às vezes parece que se esqueceu da humilhação eleitoral a que Sócrates o sujeitou há cinco anos. Por isso, talvez o leitor Aires Vilela tenha razão quando escreve, e passo a citar, que «Santana já veio declarar na RTP que Passos Coelho foi infeliz ao dizer que não fala mais com o Sócrates sem ser perante testemunhas. Como se Santana não soubesse do que é capaz o grande aldrabão que nos desgoverna. A patetice devia ter limites, caramba!» Não iria tão longe, caramba.

COMO NUM VERSO DE HERBERTO HELDER*


Paulo Portas terrestre ao Expresso: «a reeleição de Cavaco Silva será também a derrota do candidato apoiado pelo PS e pelo BE e isso tem um significado.»

*Poeta português contemporâneo que não se pode confundir, a não ser a título de cegueira profissional ou de analfabetismo crónico, com versejadores da "escola" do candidato apoiado pelo BE e pelo PS.

CARLOS CASTRISMO MATINAL


Acordei com a voz de Pedro Rolo Duarte e de João Gobern na antena1 (há-de aparecer em podcast). Hesitante entre "bordel" e "hotel" babilónia, por minha culpa, Pedro começou o programa por me referir como "amigo" do (voltou a hesitar) doutor ("pronto, dr.") Manuel Maria Carrilho que, mais adiante, classificaria como "o pior da semana". A isto Gobern (com assinalável bom gosto e depois de uns minutos a regalar-se com a circunstância de ser o "1º" dos diáconos da bola no jornal Record - que categoria!) replicou: "não terás uma questão mal resolvida com a mulher dele"? Disse que não, o Pedro. Depois das antenas parabólicas do outro, as mulheres dos outros. O Pedro - que conheço e estimo desde os idos de setentas e muitos/oitentas quando ele usava uma farta cabeleira à Jimi Hendrix - tinha a estrita obrigação, pelo que fez e proporcionou em muitas saudosas publicações, de estar já noutras alturas e de deixar-se de vulgaridades (ou de dar azo a que o seu colega alarvemente as perpetre) as quais, mais do que merecerem uma resposta, apenas reclamam um bom par de bofetadas. A bofetada sempre teve a vantagem de, uma vez bem assente, poder seguir-se em frente e não se falar mais nisso. Digamos que faz parte da aprendizagem. Quanto ao meu "amigo" MMC, o Pedro tem de dobrar a língua. Para ele, Carrilho é o professor doutor Manuel Maria Carrilho.

UMA BOA VASSOURADA


«No seu pior, o FMI não deixaria de pôr as finanças em ordem, ou a caminho de uma certa ordem, façanha de que, por razões de oportunismo, os nossos partidos não são obviamente capazes. Mas talvez fizesse mais. Talvez convencesse o eleitorado da irremediável irresponsabilidade do regime e dos políticos que hoje o exploram e conduzem. Não acredito que, a seguir ao sarilho em que nos meteram e à cura brutal de uma intervenção estrangeira, os portugueses continuassem a votar imperturbavelmente no desastroso sr. Sócrates ou no sr. Passos Coelho e na tropa-fandanga que os segue e aplaude. Há limites, mesmo para a tradicional mansidão indígena. Com alguma sorte, uma boa vassourada permitiria um recomeço. E nós precisamos de um recomeço.»

Vasco Pulido Valente, Público

24.9.10

FILOSOFIA DA LINGUAGEM

Passos diz que não volta a falar a sós com Sócrates. Carrilho afirmou que passará a ter mais cuidado sempre que tiver de abordar Luís Amado. O que é que terão Sócrates e Amado em comum para unirem, na cautela, seres tão diversos quanto Passos e Carrilho?

UM LIVRO PARA COMPREENDER O PESSOAL DO CALÇADÃO, DE PORTUGAL A NOVA IORQUE

Que diabo são o Diabo e os seus anjos?

TRAQUINAS IRRESPONSÁVEIS

Pela primeira vez em cinco anos, Sócrates falou em demissão por causa do orçamento. Fê-lo em Nova Iorque, e não em Matosinhos, o que denota a dimensão de estadista e o sentido das responsabilidades - os credores ficaram a conhecê-lo melhor e talvez se revele isso logo pela fresquinha de segunda-feira. Mas, para a paróquia, trata-se de mais uma peça no jogo que trava com Passos Coelho, o brincalhão do outro lado. Não havendo, pelas regras, eleições antecipadas, o estado da arte fica nas mãos (que lindas mãos!) do parlamento. A Cavaco, a única pessoa a desempenhar funções políticas em quem se pode confiar, basta chamá-los a todos para depois os exibir publicamente como irresponsáveis que são. E o país que tire as devidas conclusões.

FRONTEIRAS DE PORTUGAL


TÉNIAS QUE TOCAM FLAUTA


Como se não bastassem os males gerais da pátria - dirigida e candidata a ser dirigida por megalómanos e puros vendedores ambulantes de farturas -, também temos o videirismo como forma de vida, passe a redundância. E quando se mexe no videirismo, acorre inevitavelmente alguém para defender a sua forma de vida e a dos seus. Chama-se a isto (na literatura, na política, nos jornais, nas televisões, nos prostíbulos, em suma) "meio". O "meio" defende-se atacando e emitindo grunhos sob a forma de firewalls para ter a certeza que ninguém penetra nos seus tão inexpugnáveis como infrequentáveis domínios. São aquilo que Carrilho designa por parasitas da actualidade. Estes parasitas - como vivem há muito alojados em tudo o que "dá" seja em que área for - estão sempre "em cima" de qualquer coisa ou de alguém que "dê". O Zé Ribeiro da Fonte tinha uma frase para isto - onde nós não estivermos, outros estarão por nós. Os parasitas da actualidade levam isto ao pé da letra. Encarregam-se de esmagar, por infecção já que não são expelidas como as ténias, tudo onde se alojam. Pergunta o leitor estupefacto: isto é para quem ou a que propósito? Não se preocupe, amável leitor. Elas, as ténias infectas, sabem perfeitamente onde estão. «J'irai vous applaudir lorsque vous serez enfin devenu un vrai monstre, que vous aurez payé, aux sorcières, ce qu'il faut, leur prix, pour qu'elles vous transmutent, éclosent, en vrai phénomène. En ténia qui joue de la flûte.»

«MARAVILHAS NATURAIS DO SOCRATAL»


«Na "gala" das Maravilhas Naturais de Portugal (RTP1), estiveram em destaque três membros do PS-Governo: António Vitorino, Carlos César e um secretário de Estado. Alguém referiu nos media esta maravilhosa naturalização do Socratal?

Carlos Queirós foi despedido com intervenção violenta do secretário Laurentino Dias. Alguém mencionou que foi Sócrates, ele mesmo, quem mandou despedir?

Apareceu uma carta de Edite Estrela pró-Alegre e anti-Cavaco. Alguém perguntou pela autorização de Sócrates, ele mesmo, à carta?

Sócrates anda há seis anos em propaganda no Socratal, a que chamou na quarta-feira o "país real". Além de Bernardo Ferrão (SIC), alguém o interroga sobre o que se passa cá em baixo, em Portugal?

Manuel M. Carrilho foi despedido sem justa causa da UNESCO. Além de Carrilho, alguém mencionou que foi Sócrates, ele mesmo, quem mandou despedir?»

Eduardo Cintra Torres, Público

RIBEIRO LULA DA SILVA E CASTRO


Numa entrevista à regimental Flor Pedroso, Ribeiro e Castro (podia ser a minha padeira mas é Ribeiro e Castro), sugere a Cavaco que seja «mais Lula da Silva», mais «político» e menos «economista». É isto o que a "direita da direita" tem para oferecer ao país, um tontinho dum louvaminheiro do plutocrata "petralhista" Lula da Silva? É caso para recomendar a Castro, pensador durante quinze dias, que podia ser mais inteligente e menos Ribeiro e Castro.

CONTRA A DOXA


Estava a desfrutar da erudição histórica de Filipe Ribeiro de Meneses com o som dos "quadratura" como fundo. A coisa começou no metro e passou para o PS e o PSD, os dos calçadões de Agosto. Desliguei. E pensei que, cada vez mais, só se pode ser erudito cá dentro com profundo distanciamento, sempre doloroso, de tudo e de todos. Físico, ético, político e, sobretudo, cultural. A doxa partidária, limitadíssima, já não convence ninguém.

23.9.10

PASSOS PEDESTRE


O dr. Passos, contrariamente ao que parece, está apenas relativamente interessado no orçamento. O orçamento é um pretexto de que ele precisa para se estabelecer como líder do PSD, devidamente instigado por esse prodígio intelectual luso-árabe que é Ângelo Correia. Este e mais dois ou três oráculos obscuros terão convencido Passos a não ceder no orçamento e, se tal for necessário para preservar Passos, a acabar por o inviabilizar. Por causa do "interesse nacional"? Não. A coisa é mais pedestre. Passos e os seus - e Ângelo, desde a conspiração dos pregos na rua de 1981, é um reputado especialista em teorias dela - pretendem demonstrar que são "autónomos" de Cavaco e que, mais do que isso, receiam ficar "reféns" num segundo mandato do PR. Todavia, alguém poderia tentar explicar duas coisas a Passos. A primeira, dado o estado comatoso como nos apresentamos lá fora perante os credores, é que ninguém perceberia uma trapalhada doméstica por causa de ciúmes e de infantis necessidades de afirmação. A segunda, e aí entra Sócrates e a sua incansável trupe comunicacional, consiste em Passos ficar com o odioso de ter empurrado o país precisamente nos dois centímetros que faltavam aos quilómetros do outro para caírmos no abismo.

UM GOVERNO DE SALVAÇÃO NACIONAL?

O dr. Santana Lopes sabe tão bem como eu que, nos termos constitucionais (não os aprecio mas são os que estão em vigor e que Cavaco jurou cumprir: não andou o dr. Lopes mortinho para retirar ao PR, em 1983, a dependência política conjunta do governo face à AR e ao PR?), o governo forma-se a partir do resultado das eleições legislativas e em atenção à composição parlamentar delas decorrente. Quando foi removido por Sampaio, como se recorda, o que o então PR fez foi precisamente dissolver o parlamento convocando eleições. Quem pode ou não pode sustentar governos ditos de salvação nacional (como se algum salvasse isto de alguma coisa), é justamente o parlamento, mantendo o actual ou decidindo por forma a o governo em funções deixar de poder estar investido nas ditas. Aí, sim, o PR tem de pronunciar-se, coisa que Cavaco está famosamente impedido de fazer desde 9 de Setembro último por causa das regras. Não se pretenda agora "atribuir" ao PR - a este ou a outro qualquer - uma missão que a constituição, revista ad hominem em 1983, lhe sonegou: a de manter ou retirar a confiança política num governo, suscitando a formação de um outro.

MISSÕES

«Missão cumprida», a de Manuel Maria Carrilho na UNESCO. Os outros, os "amigos" dos Pedros Rolos Duartes destes tempos, também cumpriram a deles. Já António Costa, da direcção do partido albanês e candidato a candidato à sucessão do líder Kim, acha que a candidatura do fado a património imaterial da UNESCO em nada sai afectada por Carrilho ter sido demitido pelo referido Kim. A ele, Costa, que pouco ou nada fez pela coisa a não ser descerrar lápides em Paris e em Lisboa, é-lhe indiferente. Quanto à demissão de Carrilho, seria interessante saber a opinião do edil comentadeiro caso ele tenha uma e a possa exprimir.

A FAMÍLIA ADAMS DO MIÚDO


Aquele miúdo com idade para ter juízo e que pregava pregos numa tábua, de seu apelido Alegre, apareceu pela enésima vez num jantar íntimo estilo Ribeiro e Castro. Depois balbuciou umas trivialidades contra o FMI e sobre a despesa que Louçã lhe ensinou. A seguir surgiu o dr. Soares que talvez saiba, por experiência própria, o que é o FMI e que notou não ser propriamente uma desgraça a sua emergência, ressalvando que era melhor não ter de emergir. O miúdo vai andar nisto mais três meses e tal, a toque de caixa de dois "pais" distintos, até ao "auge rídículo do seu malogro" - o "padrasto", Sócrates, e o "afectivo", Louçã. Mas é ele quem diz que esta dupla "paternidade" abre "boas perspectivas" para o país. Então não abre, miúdo.

ISSO AGORA NÃO INTERESSA NADA


Ontem o 1º ministro, qual Teresa Guilherme (ela que me perdoe a comparação), com um bando de idiotas atrás dele muito satisfeitos por estarem a ouvi-lo, remeteu a questão da dívida pública para "depois", para um "isso agora não interessa nada". "Depois" porque havia um "antes", aquela parafernália estulta que ele, na sua contentinha inconsciência, toma pelo "Portugal real" exposto na FIL de Lisboa. Basílio Horta - que também lá estava e que o dr. Pinho encarregou de importar fartos negócios que nunca chegam - perguntava famosamente pelo dinheiro para tantas coisas, colando-se à realidade (mais uma destas e acaba como Carrilho que é como acabam todos os que não seguem, tão complacente como bovinamente, a "cartilha maternal" do chefe). Para impressionar os figurantes imbecis (e para as televisões), Sócrates "foi de metro". Era o falso dia sem carros que os mesmos imbecis inventaram há uns anos para os papalvos - o homem tinha de "dar o exemplo". Já não há, ou há pouco, teatro de revista. Mas, confesso, o tropismo revisteiro desta gente é inexcedível enquanto guião com compère. O pior é que é se trata de mera loucura com método paga essencialmente por aqueles que andam todos os dias de metro.

22.9.10

A ARMA DE ARREMESSO


Consta que vão ser entregues às escolas mais três mil Magalhães. O Magalhães, ou outro computador qualquer, só devia entrar numa sala de aula pela mão do professor e não pela mão das criancinhas. Para as criancinhas, o Magalhães é apenas mais um brinquedo. Para o professor, é mais um passo para a sua desautorização dentro de uma sala de aula. Por isso, o Magalhães funciona como dupla arma de arremesso. Contra a qualificação e contra a figura tutelar e indispensável do professor. A insistência na "quantidade" - vejam lá, seus retrógados, mais 3 mil representações do "progresso" e do que é hoje Portugal na "visão" do querido líder - demonstra o propósito que, desde o início, presidiu à "ideia". Mil ou milhões de computadores não resolvem um átomo de nada se não forem antecedidos pela aprendizagem e pela educação nos sentidos mais nobres denotados pelos termos. Por natureza, burros e estúpidos, por muito que andem acompanhados deles, ficam na mesma. À propaganda do regime isto não importa. À sociedade, aos pais e à escola, devia importar. Mas isto já é uma conversa demasiado sofisticada para rebater a "quantidade" e o deslumbramento parolo do Portugalório socrático-tecnológico. Há, aliás, quem faça de ambos um modo de vida. Bom proveito.

A BABUGEM DO NADA


Um amigo meu tem um jovem amigo seu, estrangeiro, que vive cá há anos, e que lhe disse ontem esta verdade de forma lapidar: "não sei porque é que em Portugal têm imprensa se não resulta nada das notícias".

OS SOBREVIVENTES

«É inadmissível que o mentiroso sobreviva politicamente quando a verdade se souber»? É perfeitamente admissível. Não o fazem vai para seis anos?

UM REGEDOR EM NOVA IORQUE


Para além da triste figura, o que é que Sócrates foi fazer a Nova Iorque?

21.9.10

OS DA "CASA"


«Claro que as «esquerdas» várias, às quais não pertenço com cartão do padre-cura, não sairão a defender-me: vós, por aí, agora, guardais todos o silêncio, ou só piais para o partido respectivo. Viva a democracia, mais o Portugalório cadaveroso. E de resto, eu sou um estrangeiro e um estrangeirado, lá onde sempre mandaram os da «casa».


De uma carta de 8 de Setembro de 1976, dirigida por Jorge de Sena, desde os EUA, onde vivia e ensinava, a José-Augusto França, em Lisboa

DA OUTRA BABILÓNIA

A uma pessoa que vai a tribunal testemunhar contra um colega de profissão - caso RTP vs. Eduardo Cintra Torres - recomendar-se-ia um módico de contenção "moralista". Mas a vida é cada vez mais um bordel, perdão, um hotel babilónia, não é verdade?

E O FMI

Que não há meio de chegar. Sempre é dirigido por um tipo decente.

A "CARREIRA" E A "POSIÇÃO NACIONAL"


Um leitor, comentando outro leitor ("Apesar do inegável brilho intelectual de MMC, um embaixador em funções não se pode dar ao luxo de ter estados de alma públicos que comprometam a posição nacional"), comentou assim: "Pois não. Mas depois correm todos a inaugurar ruas e praças com o nome de Aristides de Sousa Mendes, porque o outro, o das botas, é que era mau!» Tem razão. Quando a "posição nacional" é idiota, quem a representa tem o dever de protestar a idiotice e de poder delegar num inferior hierárquico a assunção pública da idiotice. Que não deixa de ser uma idiotice por ser "nacional" (se calhar até é mais idiota precisamente por isso: porque despreza o contexto internacional em que era preciso tomar a posição). O embotamento "nacionalista" de Pedro Santana Lopes releva do mesmo equívoco. Como ensina história diplomática de Portugal, devia saber que "a carreira" nunca se distinguiu pela subtileza. As constantes da dita história (bem como a sua complexidade) surpreendem apenas decisões políticas, umas acertadas, outras menos a que "a carreira" se limitou a aquiescer sem jamais pensar nelas. Não pertencendo à "carreira", Carrilho, nomeado pela política, tomou, no caso do director-geral da UNESCO, uma posição política. Que, como se viu, nada teve de idiota.

Adenda: O MNE Amado - um dos sessenta e nove candidatos a candidato à sucessão do querido líder - "desmentiu" Carrilho, quer dizer, informa que o informou em Abril de que, na "rotação de Outono" dos senhores embaixadores, o "rodava" para casa. Isto tudo foi "informado" pela chefe de gabinete de Amado, cujo nome não retive, e suscita esta notícia online subscrita por um jornalista e pela directora do jornal. A directora do jornal não terá mais nada para fazer ou uma chefe de gabinete impressiona? Por que é que não seguem, antes, o trilho dessa "rotação"? Será que ela só foi decidida na passada segunda-feira, coincidentemente com a saída do livro ali à direita (e de uma entrevista), ou os senhores embaixadores que "rodaram" já sabiam para onde iam e de "papel passado"? E por que é que Amado só "reagiria" ao episódio "director-geral da UNESCO" em Abril deste ano quando ele ocorreu em Setembro do ano passado? Vá lá, senhora directora e Luciano Alvarez, é só mais um esforço.

PROCESSOS DE CENTRIFUGAÇÃO

«Manuel Maria Carrilho aceitou ser embaixador na UNESCO e saiu da Assembleia da República para o efeito. Dois anos depois é substituído. Como entretanto houve eleições para a AR, Carrilho perdeu também o cargo de deputado. Carrilho é uma personalidade política competente, estudiosa, com ideias próprias e com a coragem necessária para as defender. Mais um em processo de centrifugação. Depois queixem-se da qualidade dos políticos...»

20.9.10

O REGRESSO DE KIM-IL-SÓCRATES


Entretanto, o responsável político por isto, Kim-Il-Sócrates, prosseguiu a sua incansável actividade de propaganda em torno do "plano tecnológico". Hoje chamou-lhe "agenda digital 2015" mas a conversa deslumbrada e palonça é a mesma de sempre. Alheio a tudo o que não diga respeito à sua gloriosa pessoa, o líder avança, inefável, para o fundo. Não o lamento. Até o desejo. Seria escusado, porém, levar-nos todos, respeitosamente direitinhos, atrás dele. Chegam os sabujos, os complacentes e o "corajoso" Alegre.

MOVIMENTOS PEQUENINOS

Deve ser coincidência - uma rápida coincidência - depois disto e disto. Carrilho, ao abrigo da famosa "rotação" dos embaixadores (ele deve "rodar" para casa, naturalmente), sai da UNESCO. Para o seu lugar vai Castro Mendes que muitos já lá haviam colocado antes dele ir. A intendência faz muito jeito em certas coisas. Pequeninos, lembram-se?

Adenda: Os serventuários para a blogosfera não perderam tempo a dar o flanco. Assim ficamos todos esclarecidos. Como se fosse preciso.

«QUANTO MAIS ESPERAM MAIS DESCEM»


Por falar em Medeiros Ferreira, a sua capacidade de síntese substitui com proveito cinquenta tagarelas inúteis dos jornais e das televisões. «Quanto mais esperam mais descem.» Refere-se àqueles que fizeram das suas candidaturas às presidenciais de 2011 nada mais do que uma "espera a Cavaco". Pelos vistos o "povo" não aprecia provocações.

ÀS AVESSAS?


Prossegue o "bate-boca" entre Passos e Sócrates para melhor evidenciar lá fora a nossa irremediável mediocridade. O segundo falou em necedade e o primeiro acha que está tudo às avessas. Pois está. Terem ambos chegado onde chegaram é a prova viva de tamanha inversão. Nos "27 mil dias da rádio", da antena 1, uma coisa que comemora os 75 anos da rádio pública, José Nuno Martins recordou hoje, de viva voz, José Medeiros Ferreira. A 20 de Setembro de 1976, enquanto MNE, Medeiros Ferreira assinava um acto adicional ao acordo de 72 com a então Comunidade Económica Europeia para preparar a adesão. Ouvir M. Ferreira em 1976 e ouvir esta gente de agora é como passar da contemplação da montra de uma loja Prada na Avenida da Liberdade para um bazar chinês no Intendente. Quem fala por um país também define esse país. Depois admiram-se de, na Suécia, ex-bastião da social-democracia, o "povo" ter enfiado 20 deputados ditos da extrema-direita no respectivo parlamento.

19.9.10

PEQUENINOS, EM SUMA


Pergunta um leitor: «Onde estão as «elites» académicas, cientificas, politicas, empresariais ou sociais que seria suposto que esta «democracia» tivesse criado? Estão ainda nas «gavetas» ou nos «armários»?» Não, prezado leitor. Dividem-se pelos tagarelas de serviço. Porque não existe em Portugal essa coisa nobre chamada independência de espírito. Entre nós é tudo aconchegado. Pequeninos, em suma.

PIOR

Um tipo chega a casa, regressado de uma soberba praia do Guincho e, em meia-hora, estraga-se toda essa ideia de beleza porque em torno da sua casa (vastas redondezas) não consegue estacionar o carro. Motivo? Porque estava tudo atascado de viaturas do ululante "povo" da bola. Merecem o Socrátes? Merecem pior que o Sócrates e para aí umas setenta pragas do Egipto.

DOIS TAGARELAS


Os jogos florais entre Sócrates e Passos Coelho, no momento que o país atravessa, são a perfeita demonstração de que, de estadistas, não têm nada. São apenas dois homens pequeninos, perfeitamente adequados um para o outro, que vivem fora da realidade.

A LITERATURA NÃO ENDIREITA O ÓRGÃO ESPIRITUAL DO HOMEM


Muita gente - académicos, prémios Nobel ou da Betesga, escrevinhadores simples e "complexos", ensaístas a sério ou a brincar, etc., etc. - morreu sem chegar a uma conclusão acerca do "é" da literatura. Aliás, pelo mundo fora, milhares de pessoas continuam atrás dele e a prova consistente disso mesmo reside em outros tantos milhares de livros que revelam (brilhante ou irrelevantemente) essa busca. Por isso é mais verosímil dizer do referido "é" da literatura aquilo que ele não é. Aparentemente foi o que Nabokov conseguiu dizer em meia dúzia de palavras que antecedem o livro da foto (Desespero, ed. Teorema, 2010), das quais Ana Cristina Leonardo deu ontem nota na recensão que elaborou para o Expresso. «Não tem comentário social a fazer, não traz mensagem nos dentes. Não endireita o órgão espiritual do homem nem mostra à humanidade a saída justa. Contém muito menos "ideias" do que qualquer um desses ricos romances populares tão histericamente aclamados na curta câmara de eco entre o aplauso e a vaia.»

OS LOUCOS DA SEMANA


«O país vai cada vez mais depressa a caminho de um desastre. Mas vai sem a identificação dos culpados. Tudo se passa como se o destino nos levasse para o fundo contra a vontade de toda a gente. O que não é manifestamente verdade. A lista dos loucos da semana - e só desta semana - chega para mostrar a nossa complacência com a irresponsabilidade, o erro e o delírio. José Sócrates - A dívida pública aumentou 14,2 mil milhões de euros do princípio de Janeiro ao fim de Agosto. A dívida directa líquida do Estado está hoje em 147 mil milhões de euros, 90 por cento do PIB (quando devia ser no máximo de 60 por cento). O défice excedeu no segundo trimestre em 6,2 por cento o défice do ano passado e o volume previsto no Orçamento (quando devia diminuir). Os peritos falam em recessão e numa intervenção iminente do Fundo Monetário Internacional. Angela Merkel prometeu sanções. O sr. primeiro-ministro (onde foram descobrir este homem?) mandou um secretário de Estado garantir à populaça que as coisas correm lindamente. E anda, entretanto, em campanha eleitoral, como campeão do "Estado social", para que não tem, ou terá, dinheiro. Pedro Passos Coelho - A Constituição da República, por obra da esquerda (sempre lúcida) e em particular por obra do ilustríssimo dr. Cunhal, é programática e deve ser revista. Acontece que a revisão não é uma prioridade, excepto para o sr. Pedro Passos Coelho, que não consegue perceber a evidência, mesmo se tropeça nela. Desviar Portugal para uma questão neste momento frívola e teórica (e descer nas sondagens) não o incomoda. Consta que o eng. Ângelo Correia (onde foram descobrir este homem?) o aconselha e o aprova. Alegremente, o suicídio do PSD continua. Ribeiro e Castro - Quem convenceu esta soturna mediocridade que alguém o queria para Presidente? Se por acaso, num espasmo de loucura, a que frequentemente é sujeito, Portugal lhe desse meia dúzia de votos, dividindo a direita, metade da população fugia a nado para Marrocos. Não se compreende como Paulo Portas não lhe aplicou ainda uma urgente e necessária martelada. Deputados do PS, PSD e CDS - Anteontem, os deputados do PS, do PSD e do CDS recusaram condenar Sarkozy pela expulsão dos ciganos. Não vale a pena comentar. A Assembleia da República é hoje o centro da desvergonha nacional. Merecia que a deportassem para a Bulgária.»
Vasco Pulido Valente, Público

18.9.10

À FRENTE

Rui Ramos sugere que temos uma classe dirigente sem condições para ir à frente dos acontecimentos. Era bom que as presidenciais pudessem ser uma ocasião para que alguém se pudesse colocar à frente deles.

O LUGAR VAZIO DA JUSTIÇA

O senhor conselheiro Pinto Monteiro praticamente deixou de existir enquanto PGR. Todas as notícias conhecidas apontam para uma aboluta desconsideração da sua figura institucional - desde o conselho superior do Ministério Público aos seus imediatos inferiores hierárquicos: Cândida Almeida pretende aposentar-se e os restantes procuradores afectos ao DCIAP querem partir e estão desmobilizados - a qual apenas se mantém à conta do poder político. Uma vez resolvida a eleição presidencial, o presidente reeleito deve imediatamente (porque a legitimidade eleitoral refrescada lhe confere tanto o direito como o dever de o fazer perante o sentimento jurídico colectivo) suscitar ao governo a proposta de novo nome para substituir Pinto Monteiro. Também se soube que o STJ "perdeu" processos. O próprio presidente do Supremo Tribunal de Justiça confirmou a jornalistas tais "desaparecimentos", alguns dos quais de processos já resolvidos. A coisa vai para a PGR, para os tradicionais inquéritos, e a pescada fica pronta para mordiscar o rabo. Finalmente o acórdão daquele "processo-de-que -se-não-pode-dizer-o nome" é aquilo que se pode ler em qualquer pc se se tiver pachorra. Repito-me. A justiça denota a medida da nossa periferia mais do que qualquer orçamento (sempre controlado lá de fora) ou qualquer putativa revisão constitucional (cujas propostas, até agora, pura e simplesmente a ignoram). Por isso nenhum programa de candidatura presidencial - sob pena de falácia - pode ignorar esta evidência e este descalabro com a desculpa de que "outros valores mais altos se levantam". Haverá outro mais crítico para uma democracia do que não se poder confiar na justiça?

E AGORA?


No abrasileirado Expresso vem uma história edificante. Um rapaz de Esposende, com 23 anos, frequentou as "novas oportunidades" de Sócrates. Antes tinha desistido do liceu mas o referido Sócrates permitiu-lhe - com o seu irresponsável programa - obter a equivalência ao 12º ano numa rapidinha, com um exame de inglês. Acabou de ser admitido na universidade com 20 valores e concorreu em condições de igualdade com todos os outros que frequentaram a escolaridade obrigatória. Tornou-se, como explica o título da notícia, "o melhor aluno do país". No mesmo hebdomadário, Manuel Maria Carrilho é entrevistado a propósito da publicação do seu livro «E agora? - por uma nova República», da Sextante. Não é segredo para quem lê este blogue que Carrilho é das pouquíssimas pessoas por quem nutro uma profunda e sincera estima intelectual. Contrariamente à generalidade da trupe que tomou conta do PS, pensa. E pensar, para aquela como para as nomenclaturas dos outros partidos, é incómodo. As suas palavras, sem querer, "interpretam" a história do rapaz de Esposende e anunciam milhares de histórias como as do rapaz de Esposende: não se deve confundir certificação com aprendizagem. Afirma Carrilho que «seria incapaz de passar este período sem propor um desígnio para o país» (ninguém, no "activo", parece ter um a escassos meses de uma eleição presidencial) e esse desígnio é a «qualificação do território, das instituições e das pessoas.» Não é «o deslumbramento tecnológico» que, de pequeninos, começa a "treinar" as criancinhas para a facilidade e para o "tudo feito", agora ou quando lhes apetecer, em meia dúzia de meses. Carrilho representa o país na UNESCO mas, num certo sentido, é mais um "exilado", daqueles a que Jorge de Sena aludia na Guarda, em 10 de Junho 1977, num discurso previamente escrito em Paris - «o homem que se sente moralmente no direito de verberar com tremenda intensidade os erros ou vícios da sociedade portuguesa» por causa da sua «fidelidade a Portugal», um lugar onde as gentes «disfarçam a sua insegurança adulta sob a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega ou do cinismo mais oportunista.»

17.9.10

O COMBOIO APITOU VÁRIAS VEZES


A confissão de um fracasso. E a realidade do fracasso.

ESPECTÁCULO

A investigação criminal deve ser discreta. Mas, entre nós, criou-se o hábito de tornar espectaculares determinadas acções de investigação. Se olhamos para trás, quantos processos ditos mediáticos começaram com não menos mediáticas actuações e terminaram em pouco mais do que nada? Ao fim do dia, anunciou-se com estrondo que a PJ irrompeu pelo porto de Lisboa e pelos escritórios de uma empresa ligada ao negócio dos contentores de Alcântara. Quem viver, verá no que é isto vai dar.

DO FIDELISMO AO ALEGRISMO NACIONAL

«A esquerda portuguesa que anda por aí a prometer a defesa do Estado social e a jurar que sem ele não há democracia, não percebeu ainda ao que leva essa tão benemérita política: leva inevitavelmente a um colapso como o do "fidelismo". A realidade não se muda com demagogia. Ou, se preferirem, com bons sentimentos. (VPV, no Público)» Descontada a comparação com a ditadura cubana (aquilo nunca se confundiu com qualquer democracia mesmo considerando isto aqui como tal), a asserção é adequada. Até tivemos um PR, Sampaio, que se babou consistentemente para cima do homem. E temos agora um anacrónico candidato presidencial que levanta o punho para saudar os seus apoiantes do Bloco e camaradas avulsos de partido como as sras. donas Edite e Maria de Belém. Mas, de facto, a realidade não se compadece com pantomimeiros, seja em ditadura, seja em arremedos democráticos. Veja-se, cá, o caso do TGV ou isto. Como pergunta e escreve o leitor Nuno Lebreiro:


«Já estará o revisionismo histórico naturalmente implantado na enxurrada atávica que nos inunda a mente que ninguém repare na magnífica contradição a propósito do TGV? É que Manuela Ferreira Leite, a Senhora do tempo da outra senhora, a maluca que queria dar cabo da economia nacional ao pretender impedir a marcha inabalável do progresso socretinista através da oposição ao TGV e demais devaneios histriónicos, pelos vistos tinha razão. Como teve a propósito da crise (antes de todos os outros), do desemprego (antes de todos os outros) ou do endividamento (antes de todos os outros) enquanto esta cambada de incompetente ignorância que elegemos para nos guiar ao abismo defendia com estridentes latidos e berros a imperiosa necessidade do investimento público. E agora? Nada? Numa democracia minimamente responsável esta, e apenas esta contradição, seria suficiente para que se exigisse a demissão do governo; isto, claro, sem falar no embuste que foram as manipulações estatísticas em torno do déficit na campanha eleitoral e deixando de lado a evidência da irresponsabilidade governativa na situação para que somos atirados. Realmente, cada vez que penso que isto bateu no fundo, lá vem a apatia generalizada demonstrar-me que pior será sempre possível.»

A TRIVIALIDADE E A EXCEPÇÃO



Passa-se os olhos pelos jornais, pelas crónicas dos jornais, pelos comentários dos jornais - e, todos juntos, são às dezenas - e não há uma palavra que valha a pena. Parece que é isto a democracia comunicacional - a trivialidade e não a excepção. Por isso, quando alguns imaginam "modelos" nos que apanham dos jornais ou das televisões, fazem-no porque, fora dois ou três, eles dizem precisamente o que eles esperam ler ou ouvir. Seja sobre bola, sobre os partidos, sobre o clima ou sobre supermercados. Chama-se a isto lugares-comuns, algo que Vladimir Nabokov definia como cruzamentos entre elefantes e cavalos. É geralmente entre cruzamentos de cavalos com elefantes que a opinião, lida e ouvida, navega sem a menor imaginação ou o mais leve interesse. Leiam antes livros.

UM LIVRO

«Um ensaio sobre acção, explicação e racionalidade.» Tudo, em tudo, o que faz falta.

16.9.10

PILRITEIROS

Pilriteiro, dás pilritos
Porque não dás coisa boa?
Cada qual dá o que tem,
Conforme a sua pessoa.

(Cantiga popular numa epígrafe de Jorge de Sena em O Reino da Estupidez)


Os mais reputados comentadores televisivos nacionais, os "quadratura do círculo", passaram o seu bem remunerado tempo a discutir um não-assunto, a revisão da constituição, o "big Mac" das "elites" políticas que temos e que vivem quase todas numa outra dimensão e galáxia. O que as define como as insanes tagarelas que são.

UM FILME, UM PAÍS

Isto diz mais acerca do país (ou acerca "deste" Carlos Abreu Amorim, por exemplo) do que setenta teses académicas, oitenta subsidiadas por fundações e apadrinhadas pelo António Barreto ou repastos até cem pessoas com Ribeiro e Castro.

DECLÍNIO E QUEDA DE UM TEATRO DE ÓPERA




Há trinta e três anos, em Paris, morria Maria Callas. Escuso-me sublinhar quem foi. Em 1958, cantou La Traviata em São Carlos, altura em que o São Carlos tinha um director que é coisa que, desde a remoção de Paolo Pinamonti pelo governo da maioria absoluta socialista, nunca mais teve. Ignoro - e não me apetece saber quem é - o nome do que actualmente passa por tal. Este programa é um sinal do ponto de quase não retorno a que chegou o teatro lírico nacional. O único. Trata-se de uma falácia onde passam por "óperas" coisas que não temos a certeza que o sejam. Pelo menos não o são no sentido em que estamos habituados que sejam. De repertório, o São Carlos apenas assume uma Carmen em Junho ou, com benevolência "não repertoriana", um Janácek e um Humperdinck. Há Keil a abrir - seguramente por conta do nefando centenário - e umas parvoíces apelidadas de "contar uma ópera". Gabriela Canavilhas apadrinhou isto tudo com o seu sorriso levezinho e indiferente. O São Carlos, quando era vivo, recebeu os melhores intérpretes líricos do mundo. Aliás, faziam questão em vir cá. Agora o São Carlos prefere "contar" óperas em vez de as cantar. A saída do alemão Dammann augurava melhores dias. Puro equívoco. Callas desapareceu duplamente.

CONTRA O SECULARISMO AGRESSIVO


Num certo sentido, a Igreja não merece o Papa que tem. Joseph Ratzinger, não me canso de repetir, é um homem notável. Espiritualmente (o que em tempos de vazios mais ou menos cândidos e, sobretudo, tolos e supersticiosos, é uma diferença essencial) e intelectualmente (porque é um contemporâneo mais moderno que todos os broncos que se intitulam "modernos"). Ratzinger é hoje a força da Igreja e não o contrário. Ao clarificar e separar, assume-se como seu chefe e crítico - atento e simultâneo. Até na escolha milimétrica dos países que visita, coisa que analfabetos simples e funcionais não conseguem entender. Bento XVI pretende uma Igreja (um termo que significa "partilha" e "comunidade") unida nos seus fundamentos milenares e não humilhada ou complacente com os desmandos e os crimes cometidos pelos seus membros. Nunca um Papa trouxe tão à luz do sol, para as denunciar, tantas sombras como Ratzinger. Nunca um Papa foi tão longe na expiação pública mais autêntica e profunda dessas rasuras indesculpáveis como Ratzinger. Ao reduzir a Igreja àquilo que ela deve ser - o mais pequeno grão lançado à Terra -, Bento XVI obriga à adesão ou à renúncia sem ambiguidades. Homem perplexo, de fé e sem ilusões acerca do homem (e, por consequência, da Igreja), Ratzinger é um exemplo (se é que ainda alguém valoriza "o" exemplo) num século que leva já dez anos de frustrações e de profunda miséria moral e material. As suas viagens pastorais, por exemplo, são disso prova. Quem as apouca, apouca-se apenas a si mesmo e dilui-se no horroroso espectáculo da vulgaridade que é, afinal, o do mundo.

ASPIRAÇÕES


Estava a comer uma sopa e, no rodapé do lcd do restaurante, li que Ribeiro e Castro tinha uma "aspiração" qualquer. A seguir, outra frase elucidava o excelentíssimo público que, afinal, à "aspiração" não corresponderia uma "possibilidade". Ou corresponderia mas era "difícil". O país estará interessado nas "aspirações" e nas "dificuldades" de Ribeiro e Castro (aliás, quem é Ribeiro e Castro, uma pergunta não meramente retórica?)? Eduardo Pitta parece que está o que, valendo o que vale, quer dizer que entidades como Ribeiros e Castros são "aspiráveis" por entidades como Eduardos Pittas que, alegadamente, são opostas às primeiras. O termo é, inequivocamente, "desejados". Sem querer ser um lógico de trazer por casa, percebe-se porquê. Ora enquanto Ribeiros e Castros e Pittas se debatiam com as mesmas "aspirações", o país - o a sério - endividava-se lá fora mais uns quantos milhões. Pobres "aspiradores".

15.9.10

UM MINISTRO A PRECISAR DE APERFEIÇOAMENTO


«O processo Casa Pia arrastou-se durante muito tempo porque era de especial complexidade. Esta lata de cerveja demorou doze (12) anos a ser resolvida porque também era muito complexa.» A nota de Filipe Nunes Vicente responde à locução vazia do ministro da justiça, uma coisa em que ele, Alberto Martins, gongoricamente (não saberá linguagem comum?) confia e que, mergulhado em centenas de inúteis comissões, pretende "aperfeiçoar". Porventura em "complexidade" que foi só o que se fez nos últimos anos criando a mais metódica insegurança jurídica e legislativa de que há memória. Em Portugal e em português, "aperfeiçoar" denota normalmente o contrário do que o verbo significa. Tal como a palavra "justiça". Uma das razões pelas quais somos periféricos reside na justiça. Nas eleições presidenciais, para variar, podiam pensar nisto.

O REBOTALHO

O brilhante Passos, junto do não menos brilhante professor Seara (da bola e, nas horas vagas, edil em Sintra), defendeu a regionalização. Falou numa "região-piloto" para experimentar a coisa. Volta não volta, aparecem uns prosélitos com a conversa da regionalização que é o que mais falta nos anda a fazer. Acontece que Passos pretende substituir Sócrates e, para isso, qualquer rebotalho que agrade aos caciques locais serve. O da regionalização está sempre a jeito. Que imaginação prodigiosa.

OS EDITES DA DIREITA


UMA AVENTURA COM ISABEL


«... lembrando a importância de dormir e de tomar o pequeno-almoço.» Julgará que está dentro de algum dos livrinhos dela?

ESQUIZOFRENIA ALEGRISTA


De um lado, isto. Do outro (dos outros), uma sessão de propaganda na universidade do Porto em que alunos do Bloco fizeram o seu número de circo contra o governo presente nas pessoas do inútil Gago e do "todo-o-terreno" Sócrates. Na mesma sala, afinal, estavam apoiantes de Alegre contra apoiantes de Alegre. Também Assis passou um atestado de ignorância comunitária ao seu candidato por causa do alegado "visto prévio" de Bruxelas (da Alemanha) aos orçamentos periféricos, matéria em que Alegre (que não sabe nada de nada) alinha com o Bloco. Quando tiverem de se juntar todos ao triste bardo (e o triste bardo a eles para atenuar a humilhação), como é que vai ser?

UM GRANDE PAÍS


Contrariamente a esta choldra onde pululam césares e pusilânimes de trazer por casa, a França é, por mérito próprio, um grande país. Complexo, contraditório e luminoso como tudo o que é grande deve ser. Ontem, uma missionária da comissão europeia foi buscar o infalível "argumento" da 2ª guerra mundial para ameaçar a França com tribunais e mais não sei quê por causa da expulsão da ciganada romena e búlgara, em situação ilegal, de solo gaulês. Respondeu-lhe, à altura, um mero secretário de Estado. «Roissy, ce n'est pas Drancy (...). Ce genre de dérapage n'est pas convenable. Sa passion a sans doute dépassé sa pensée. (...) La patience a des limites, ce n'est pas comme cela que l'on s'adresse à un grand Etat.» E o ministro da imigração foi ainda mais claro. «D'ordinaire, elle est plus pondérée. Elle dérape, elle utilise une expression qui est à la fois choquante, anachronique et qui procède d'un amalgame.» Os socialistas franceses no activo- quase tão cretinos como os nossos não fosse o caso de alguns deles saberem ler e escrever muito bem -, pela voz da senhora Aubry (a rever certamente o PSF ao espelho), sugerem que «l'image de la France est abîmée, pas seulement en Europe d'ailleurs.» Nada disto tem a ver com os ciganos, evidentemente, mas antes com as presidenciais de 2012. Sarkozy é uma desilusão política (não por causa desta parvoíce) e simultaneamente um osso duro de roer que não deve ser subestimado. Todavia, e é esse o ponto, um "grande Estado" como a França está acima destas personagens todas de circunstância e desta ridícula amálgama promovida pela correcção global. Aqui estamos todos muito bem uns para os outros porque grandes é coisa que nunca fomos nem seremos.