31.3.10

TOMA LÁ A CARTA, DÁ CÁ A CARTA


Então o dr. Gama, 2ª figura do Estado, estava à espera que uma "vedeta" lhe mandasse a carta como? Pelo correio? Não se esqueça que, de acordo com os mais refinados tenores do regime, a senhora é uma "vítima" da maledicência, etc., etc. O dr. Gama ainda tem muito a aprender com estes cristãos-novos do seu partido de antes de "Abril". Isto é tudo "filhos da madrugada".

SOBRE AS RUÍNAS DO TEMPLO ABATIDO, 2

A "Casa Fernando Pessoa", da D. Pedrosa, já chegou a Júlio Magalhães, o escritor-jornalista que dirige a informação da tvi. Vai lá falar dos "livros que anda a ler" o que só nos elucida sobre a circunstância de ser alfabetizado. Não me digam que isto não dá vontade de morrer.

AS CIDADES QUE NÓS PERDEMOS


Notável texto de Tony Judt acerca dos equívocos identitários. Os nossos evangelistas e plumitivos da "identidade" deviam meditar nisto, tivessem eles uma cabeça. «I prefer the edge: the place where countries, communities, allegiances, affinities, and roots bump uncomfortably up against one another—where cosmopolitanism is not so much an identity as the normal condition of life. Such places once abounded. Well into the twentieth century there were many cities comprising multiple communities and languages—often mutually antagonistic, occasionally clashing, but somehow coexisting. Sarajevo was one, Alexandria another. Tangiers, Salonica, Odessa, Beirut, and Istanbul all qualified—as did smaller towns like Chernovitz and Uzhhorod. By the standards of American conformism, New York resembles aspects of these lost cosmopolitan cities: that is why I live here

DE ALCOCHETE À ALEMANHA

Uns espremeram-se para se encontrar com um ministro por causa de um centro comercial em Alcochete. Outros arranjaram maneira de se sentar com um primeiro-ministro por causa de dois submarinos teutónicos, todos, centro comercial e submarinos coisas que manifestamente tanta falta nos fazem. Não pressinto em nenhum dos casos qualquer cosmopolitismo a não ser o upgrade institucional - ministro, primeiro-ministro. Apenas e só provincianismo ou, de facto, a verdadeira "dimensão" dos intervenientes.

A SOLTURA DE CRAVINHO

Ontem esteve aí, pela enésima vez, o ex-campeão fictício nacional da luta contra a corrupção, João Cravinho. De vez em quando Cravinho desce do assento etéreo do BERD, em Londres, onde o PS o colocou, para nos vir dar lições tipo "a corrupção política anda à solta em Portugal". Anda? Então se anda, e uma vez que, desde os gloriosos tempos do MES, o eng. º Cravinho nos brinda com a sua inefável presença na vida político-partidária onde, aliás, se pratica o "filhismo" como "doutrina", qual é a efectiva prestação (para além da cansativa retórica vã exibida em rádios, televisões, comissões e colóquios para papalvos ouvirem e verem) da criatura para evitar tamanha soltura? É melhor poupar-se e poupar-nos, engenheiro. Estamos já razoavelmente bem servidos de líricos ainda por cima com "obra" publicada.

O COSTA


Existe, em Lisboa, mais propriamente nos Paços do Concelho, uma ficção. Chama-se António Costa. Esta improbabilidade autárquica - e quase uma certeza para substituir Sócrates, um dia qualquer, na agremiação a que ambos pertencem - apelidou de irresponsabilidade a não aprovação, pela oposição na assembleia municipal, do orçamento dele. Ora Costa, se por alguma coisa se tem distinguido, é pela invisibilidade do seu desempenho como presidente da CML. Desde que ganhou, Costa inexiste. Lembramo-nos infelizmente dele por causa do trânsito, da porcaria que consentiu no Terreiro do Paço, da Roseta, do Zé e da SICN. Assim sendo, para que é que ele quer o orçamento se até já veio dizer que vai governando com o do ano passado? Que grande barrete é este Costa.

30.3.10

PINTO DA COSTA

Quando Pinto da Costa estava acossado e era julgado na opinião pública - e publicada - como isto e aquilo, muita gente que dantes o bajulava abandonou-o e preferiu dar crédito a desgraças ambulantes. Até a circunspecta Maria José Morgado deu. Sei disto porque um amigo dele me disse na altura que ia daí a uns dias ao Porto a uma festa qualquer do FCP (de Pinto da Costa) precisamente para "sinalizar" que ele não deixava cair amigos nos seus momentos mais difíceis e, porventura, infelizes. E não estamos a falar propriamente de um anónimo sem história ou indecente. Lembrei-me desta conversa depois de ver Pinto da Costa na RTP. Detesto futebol, ignoro o que se passa nos "túneis" ou na "liga", mas aprecio o ironismo do presidente do Porto e, em certa medida, a sua coragem. Ao pé dele, qualquer presidente de outro qualquer clube parece um tolinho. Disse a Judite de Sousa que se recandidatava. Não voto, mas se votasse votava nele.

QUE FIGURA

Vi agora na tv um tal Osvaldo de Castro, deputado do PS, nuns propósitos dignos do estalinista que ele foi anos a fio até o PS o adoptar. O homem vociferava "fora" este e "fora" aquela como um doido. Isto em plena "comissão de inquérito", aquela a que preside o "branco" Mota Amaral e onde Pacheco Pereira tanto se empenhou como se fossem, ali, descobrir a roda. Bem feito. De Castro mais parecia o cruzamento de um peru com um bacorinho prontos para a esfola do que um deputado. Que figura mais repelente. Lembra estes.

NÃO SOMOS TODOS PARVOS


Também tem toda a razão. «Quem travou amizades na mailing list do circuito Lux-Frágil pôde discorrer entre vodkas-tónicos sobre as orgias homossexuais de um figurão das noites Lisboetas — eventos cuidadosamente encenados, dizia-se, em que os mais jovens não iam para a cama com o Vitinho. Fora de Lisboa o fenómeno tinha outro bucolismo: o pai chegava bêbado a casa, dava um sopapo na mulher e uma pinocada na filha. Na manhã seguinte esta ia guardar cabras, como de costume, e aos treze anos dava o salto para França com o irmãozinho nos braços. Agora, em 2010, a Igreja assume que encobriu a pedofilia. Dizem que leva umas décadas de atraso. Pois leva. Mas não é a única, nem somos todos parvos.»

AS CAPELISTAS E O CAVALEIRO

Tem toda a razão. Os nossos (nossos porque estão globalizados como moscas varejeiras) "esquerdinos" de capelista passaram pelas eleições italianas como cães (que me desculpa a boa espécie animal qualquer comparação com o homem) por vinha vindimada. Tomai lá, pois, do Berlusconi.

O LUGAR DELE

Aguiar-Branco - que obteve nas eleições internas do seu partido menos votos do que assinaturas para se candidatar - recusa presidir ao grupo parlamentar no debate quinzenal com Sócrates. Os amigos deste betinho desfocado deviam explicar-lhe que, se para alguma coisa ele foi eleito, foi para a função de chefe da banda parlamentar. E não consta que entretanto tivesse sido substituído. O dr. Passos Coelho tem aqui uma excelente oportunidade para mostrar que já manda, contrariando os presságios desta nossa sibila subitamente "socretinizada" (há quanto tempo não lhe lemos ou ouvimos qualquer coisinha de jeito contra o regime e, em compensação, lemos e ouvimos tanta empáfia despropositada contra o PSD como se este fosse o poder). Não é que Aguiar-Branco valha politicamente alguma coisa. Ao menos mostravam-lhe o lugar dele.

PÁSCOA

A Baixa de Lisboa cheia de coirões espanhóis com perguntas imbecis.

29.3.10

O ALIADO

Destes e deste é este aqui referido, o benemérito Agca. Estão bem uns para os outros.

RAMALHOTE DE TRAZER POR CASA

Como é que o Guilherme Silva, que é um homem civilizado, aceita "frente-a-frentes" na SICN com um alarve como o Ramalho da "fnat" socialista que bolça gargalhadas ridículas cada vez que se fala em Cavaco Silva?

TRÊS TRISTES LANCES



Passos começa mal. Refiro-me a três infelizes lances de "imagem" que é sempre o que conta nesta época "pingo doce". O primeiro, Ângelo - há quem o leve a sério - a fazer de "ponto" naquelas danças de ventre político em que é especialista a partir do médio-oriente e de África. A segunda, sentar-se atrás no carro com motorista contra a "prática" em vigor de os líderes se sentarem à frente. Talvez fosse para fazer companhia ao sr. Relvas, o terceiro.

O BEATÉRIO PATRULHEIRO


A jacobinagem do "centenário" deve estar mortinha por voltar a rapar o cabelo aos padres e a exibi-los na praça pública como as marafonas que eles, os jacobinos, na sua maioria são. Um padre suspeito de cometer um crime é apenas um suspeito de ter cometido um crime que é padre. Como qualquer pessoa, é inocente até prova em contrário. Foi o que sempre se defendeu neste blogue em relação ao chamado "caso Casa Pia" quando, no lugar dos padres, estavam figuras públicas. E é o que se continuará a defender contra os beatos patrulheiros venham eles de onde vierem.

SENHOR, EU NÃO SOU DIGNO

Este cómico sistémico devia ser obrigado a virar-se para a parede e escrever cinquenta vezes estas palavrinhas de Herberto Helder antes de passar de leitão a suíno: passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona passou-se da puta da mona. Eu também me passei, obrigado. Mas não nego.

A PALAVRA

O Papa dirigiu-se aos fiéis em Dia de Ramos para repetir a única mensagem possível contra os fariseus, contra a baixaria e contra a vulgaridade. Essa palavra é Jesus.

28.3.10

LOUVOR E SIMPLIFICAÇÃO DE JOÃO GALAMBA



Vou lendo isto a partir daqui e reparo que, apesar de tanta "erudição", o deputado sublima a graça e supera-se.

«-Chamou "filho da puta" a João Gonçalves, por causa do que ele escreveu acerca de João Constâncio. ("Este é filho do outro. Expele exactamente o mesmo estilo de flatulência política do papá.") Foi um gesto impulsivo e irreflectido?

- Quando vi aquilo escrito sobre o João Constâncio, de quem sou amigo, e depois de ter estado até de madrugada a tentar convencê-lo a publicar um texto no blogue, dizendo-lhe que não tinha de temer e que as pessoas eram civilizadas, aquilo causou-me uma enorme indignação. Reagi a quente. Não sei se me arrependo. Aquilo era exactamente o que escrevi: uma filha da putice. Era inaceitável que alguém tivesse aquele tipo de registo num debate político que se quer civilizado. Trazer à luz a condição de alguém ser filho de outro é uma canalhice.»

Noto o upgrade vocabular. De "filho da puta" a "uma filha da putice", coisa mais séria e adequada a quem já leu Flaubert, Saramago (percebido só mais tarde) e Baudelaire entre pranchadas de bodyboard e "usos privados e públicos" de tal literatura. Rimbaud, porém, não temos a certeza que tivesse lido porque levava soberana e manifestamente no cu e, sobretudo, era um poeta, um usador de palavras fundador de uma palavra só, dessas que nos distinguem, diz o deputado lambuzando-se com Ricoeur, dos animais. É mesmo levado do caralho, este deputado. Ou será da falta dele? Tudo visto, um pouco de Sena dedicado - de Dedicácias porque sou obsessivo - à deputacional figura cuja reputação é imaculada (cuidado, diz o Sena que não consta do "cânone" pittico do deputado, «com a segunda e a terceira sílabas daquela palvra tão honrada como as outras, nestes tempos em que tais luxos de honra se vão perdendo no universo.»)

«Que estes senhores possam finalmente realizar
sem literatura a sua vocação: e gemam só
profissionalmente para maior satisfação do freguês.»

SOBRE AS RUÍNAS DO TEMPLO ABATIDO


Rui Ramos recordava ontem, no Expresso, Alexandre Herculano. Nasceu há duzentos anos. Agora que não há ninguém que não seja "liberal", Herculano - que o foi literal e visceralmente -, fosse ele vivo, ia fartar-se rir com os seus "descendentes", esta pobre elite caseira e videirinha que vagueia pelos partidos, pelos jornais, pelos blogues e pelas corporações do regime, sempre a cascar no Estado, mas sempre dele mamadora enquanto falsa e tosca "sociedade civil". Provavelmente esta "elite" não verá nele mais do que um pacóvio, um escritor "datado" e ilegível, um chato. E Herculano porventura olharia para ela, com desprezo e ironia, recomendando que «os pontapés ou arrochadas são sempre eficazes e salutares.» O alegado "poder espiritual" que exerceria sobre a nação, como sugeria Teófilo Braga, não serviu de nada nem a um nem à outra. Não se pode exercer poderes dessa natureza sobre broncos crónicos. Oliveira Martins percebeu-o perfeitamente. «E quando, ele que observara impenitente o velho Portugal, abandonado ao lodo utilitário os seus coevos, via também a mocidade mediocremente respeitosa por essa religião do Indivíduo que era a sua; quando via as tendências centralistas e socialistas - confessas ou inconscientes - dominarem nos governos e oposições, nos partidos conservadores e nos revolucionários, ele chorava, outro Isaías, sobre as ruínas do templo abatido, sem reconhecer que as pedras desse edifício derrubado já começavam a formar um novo monumento.» O "monumento" é esta miséria instintual e material e esta pequena burguesia de espírito a que chegámos por via de duas ditaduras e de um regime pseudo-democrático fundado há trinta e seis anos.«Isto dá vontade de morrer», murmurou Herculano, em Vale de Lobos, antes do fim. Nunca teve tanta razão.

TADINHOS

Como esta gente odeia, como espuma
por entre os dentes podres a sua baba
de tudo sujo sem sequer prazer !
Como se querem reles e mesquinhos,
piolhosos, fétidos e promíscuos
na sarna vergonhosa e pustulenta !
Como se rabialçam de importantes,
fingindo-se de vítimas, vestais,
piedosas prostitutas delicadas!
Como se querem torpes e venais
palhaços pagos da miséria rasca
de seus cafés, popós e brilhantinas !
Há que esmagar a DDT, penicilina
e paus pelos costados tal canalha
de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,
tratá-los como lixo de oito séculos
de um povo que merece melhor gente
para salvá-lo de si mesmo e de outrém .

Jorge de Sena

7 de Dezembro de 1971


Quatro "vítimas". Cambada de poltrões hipócritas.

UM PROGRAMA

«O liberalismo, em Portugal, é hoje um suicídio. E Passos Coelho não é um suicida.»

Vasco Pulido Valente, Público

27.3.10

WOLFGANG WAGNER (1919-2010)



Era o neto sobrevivo de Wagner e bisneto de Liszt. Dirigiu anos a fio o Festival de Bayreuth. Foi no seu consulado que Chéreau e Boulez apresentaram a versão "inspiradora" de todas as que se lhe seguiram, no mundo, de O Anel do Nibelungo. O pai gostava de homens e a mãe foi tida por amante de Hitler quando, na verdade, era a "mão de ferro" que aguentou Bayreuth depois da guerra. Os alemães nem parecem europeus. Destes patetas de Bruxelas e do "pec". Sorte a deles.

O MARTÍRIO NÃO ATRAI MUITOS CANDIDATOS


«A "liderança forte" é hoje, por isso, necessariamente, a liderança que reeduque os portugueses para um destino difícil e uma visão modesta do futuro. O que dantes se tomava garantido irá desaparecendo pouco a pouco: a ascensão social, o emprego, a carreira, os serviços do Estado, o consumo supérfluo. Fica, como de costume, o esforço, a poupança, a disciplina. A "liderança forte" não deve prolongar um mundo imaginário, que não voltará, ou não voltará tão cedo. Deve preparar o país para tempos duros. E se ela não emerge das profundezas da nossa melancólica política, é porque o martírio não atrai muitos candidatos.»

Vasco Pulido Valente, Público

A CANALHA


É um título de um poema daquele livrinho ali ao lado direito. Mas aplica-se aos canalhas anónimos e não anónimos que lançam aqui e em prostíbulos adequados cagalhões em forma de comentários dado que só sabem opinar pelo olho do cu. Quero lá saber se o PSD escolheu o senhor dos Passos ou se não escolheu o eurodeputado Rangel ou o betinho Aguiar ou o translúcido Castanheira. Desejo, naturalmente, que (fodendo-se todos, sobretudo vós, ó canalhas) ajudem - sobretudo o senhor dos Passos porque ungido pelos militantes dele - a acabar rapidamente com o regime protagonizado por este PS defendido nos referidos prostíbulos de vão de escada. O "destino" das luminárias e dos plumitivos que vão com uns e outros, como putas que imaginam que todos se lhes equivalem, é-me indiferente. Por isso sossegue a canalha que não me "estou a fazer" a nada. Apenas reclamo mais sol e dias longos de preferência mentalmente afastado dela, da canalha, a «tal canalha/de coxos, vesgos, e ladrões e pulhas,/tratá-los como lixo de oito séculos/de um povo que merece melhor gente/para salvá-lo de si mesmo e de outrem.»

DAS VACAS

A derrota de determinadas vacas sagradas do PSD não deixa de ter a sua graça, malgré Rangel. Importa agora, sobretudo, não dar pasto a novas.

A SEGUIR NO PRÓXIMO PSD

Até por ser corrosivo, sem respeitinhos tótós, mesmo quando não concordo bastas vezes com ele. Tudo menos marcos antónios, angelos, miras amarais socráticos e tretas adjacentes.

26.3.10

A "PRAÇA" DELE

Li no twitter esta "pérola" do filho do autarca de Gaia, uma inteligência partidária promissora: «a mobilizaçao em Gaia está impressionante. É a consolidaçao de uma grande praça da social democracia! Parabéns a todos os militantes!» É um misto de Júlio Diniz com Torga do PSD, de certeza.

NÓS, OS POR VEZES VENCIDOS DO CATOLICISMO*

Não deve ser fruto do acaso a "descoberta" de tanta pedofilia ligada a padres. Sobretudo quando alguns desses casos passaram pelo crivo do então prefeito para a congregação da fé, o cardeal Ratzinger, hoje Papa Bento XVI. Choca o silêncio burocrático, frio e racional do cardeal perante cartas e cartas em que era referido um padre abusador de crianças surdas-mudas? Faz impressão que o decurso do tempo e a remoção do indivíduo para outros lados tivessem "resolvido" o assunto que cessou, por morte natural do dito padre, em 1998? E custa, sobretudo a um cristão católico, apostólico, romano, tanto rumor de tanta nojice? Choca, faz impressão e custa, sim. Durante grande parte da minha vida vi a religião - a minha, a católica - de longe e como coisa resolvida de forma inteiramente privada. A agonia de João Paulo II e a escolha de Ratzinger para lhe suceder aproximaram-me, porventura por motivos puramente intelectuais, mais da Igreja. Mas continuei, como continuo, a sentir a fé como uma coisa pessoal. Nunca valorizei especialmente os intermediários, vulgo, os sacerdotes porque são homens e, por definição, desconfio da natureza humana. Um criminoso pode ser várias coisas tais como padre, dirigente partidário ou advogado. Isso não faz da Igreja, do partido ou das ordens dos advogados albergues de criminosos. Nem faz especialmente do Papa um cúmplice de criminosos. Apesar do horrível que existe nisto tudo, não há coincidências.

* o título releva de um conhecido poema de Ruy Belo:

Nós os vencidos do catolicismo
que não sabemos já donde a luz mana
haurimos o perdido misticismo
nos acordes dos carmina burana

Nós que perdemos na luta da fé
não é que no mais fundo não creiamos
mas não lutamos já firmes e a pé
nem nada impomos do que duvidamos

Já nenhum garizim nos chega agora
depois de ouvir como a samaritana
que em espírito e verdade é que se adora
Deixem-me ouvir os carmina burana

Nesta vida é que nós acreditamos
e no homem que dizem que criaste
se temos o que temos e jogamos
“Meu deus meu deus porque me abandonaste?”

O DECÚBITO DE RODRIGUES

Em que decúbito Ricardo Rodrigues pretenderá colocar o bardo Alegre por forma a um "entendimento"?

SENTIDO DE ESTADO

É estar num conselho europeu em Bruxelas e, na conferência de imprensa, falar das eleições internas de outro partido.

SERVIÇO PÚBLICO


Retirada a referência a Serra Formigal com a qual discordo, o Augusto M. Seabra coloca o nome na coisa,a relação custo/ benefício para o serviço público representado pelo Teatro Nacional de São Carlos de cada dia a mais que passa com Dammann (e "opartzinhos" de opereta) à frente daquilo. «Dado o carácter “blindado” do contrato de Dammann, válido até Agosto de 2012, e prevendo uma avultada indemnização em caso de rescisão, serão ainda necessárias conversações com vista a um acordo dos termos da saída. Mas, mesmo sendo esse um factor a ponderar, muito, muitíssimo mais gravosa para o serviço público que o São Carlos é, e para os níveis artísticos que estatutariamente lhe estão fixados, seria a permanência do senhor. A decisão de Canavilhas não pode pois ser senão vivamente saudada.» Acrescento o meu voto, insuspeito, no sentido do regresso de Paolo Pinamonti à direcção artística do nosso único teatro de ópera.

O PSD EM DIA DE DIVÃ

«O drama do PSD, que muito provavelmente não será ultrapassado com a escolha de uma nova liderança nas eleições internas de hoje, é ter não só perdido o contacto com a realidade e o sentimento do eleitorado, como não entender a importância do debate de ideias, antes valorizando o seu mítico "pragmatismo". Isto para além de o seu aparelho se ter tornado tão ou mais clientelar do que o do PS. De facto, se algo não aconteceu durante a campanha para a liderança do PSD foi aparecer alguém capaz de captar não só a imaginação, como, ao mesmo tempo, as expectativas do eleitorado.»

José Manuel Fernandes, Público

«O PSD deixou passar a resolução (sem dúvida com o acordo tácito de Coelho e Rangel) para não agravar um rating quase em queda livre, e claro que a esquerda do PS não se atreveu ainda a declarar guerra a Sócrates. Infelizmente, ganhou o "sim", com a ajuda do PSD. Mas ficou o problema. Na panela, a pressão continua a aumentar.»

Vasco Pulido Valente, idem

«Como aliás se foi percebendo do modo como o PSD foi formando o voto em relação ao PEC, está a germinar um bloco central de palácios, paradoxalmente construído entre São Bento e Belém. Se for este o caminho, chegaremos a 2013 com os partidos menorizados e um país politicamente ainda mais pobre.»

Pedro Adão e Silva, i

«Manuela Ferreira Leite despede-se da liderança do PSD depois de não ter negado Cavaco Silva por três vezes: no programa de governo, nos orçamentos, na resolução do PEC. Se há ainda Governo minoritário de José Sócrates o País o deve à Senhora. Agora que outro galo cantará para as bandas da S. Caetano, não é gratuita esta referência.»

José Medeiros Ferreira, CM



«Daí o absurdo da presente encruzilhada, onde as abstenções, à boa maneira salazarenta, contam como votos a favor. E Sócrates, mesmo sem aparecer, pode proclamar que quem não é contra ele é a favor dele.»

José Adelino Maltez

25.3.10

HONRA LHES SEJA

Depois da triste exibição parlamentar do PSD, o edil Costa, na "quadratura", permitiu-se "definir" o "âmbito" de actuação do próximo líder do maior partido da oposição que o PS, muito adequadamente e a pretexto do PEC, colocou no bolso de trás das calças. Felizmente está lá o dr. Pacheco - que me recorda palavras de Jorge de Sena sobre Herculano até pela proximidade geográfica -, «honra lhe seja», sempre «agoniado« e «na firme intenção de não ser outra coisa senão um bom burguês, já de bronze, para o respeito da posteridade.»

O LÍDER PROVISÓRIO


Depois disto tudo, qual é, afinal, o melhor presidente para o PSD? Rangel chega a esta eleição directa a milhas do extraordinário e solitário discurso que fez no Hotel Tivoli quando apresentou a sua candidatura. Qualquer coisa se perdeu, mais do que se ganhou, no caminho. Alguém entretanto explicou a Passos Coelho que precisava de afivelar uma gravitas porque o referido descaso de Rangel o podia colocar na frente. Era o que lhe competia fazer e foi o que ele fez porque ninguém, tipicamente, se lembra já do congresso de Mafra. Só falo por mim, que nem sequer militante sou, mas a minha não recusa absoluta de Coelho, nesta altura do campeonato, depois de tantos e tantos posts nada amáveis para ele, ocorrerá porventura a encartados que votam? Não sei. Um deles - Rangel ou Coelho - ficará com um partido provisório nas mãos porque aquela tralha senatorial que por lá se passeia há mais de trinta anos não larga o osso. E a pífia despedida freteira da dra. Manuela complicou a coisa. Não o invejo.

DEDICADO AOS DEPUTADOS DO "BLOCO CENTRAL", COM 20 EXCEPÇÕES ACOBARDADAS, EMBORA TENHA SIDO ESCRITO A PENSAR NOUTROS MERDAS


(...)
e agora,
mais de trinta anos na cabeça e no mundo,
e não,
não um dr. mas mil drs. de um só reino,
e não se tem paciência para mandar tantas vezes à merda,
oh afastem de mim o reino,
afastem-nos a eles todos,
atirem-lhes aos focinhos o que puderem dela,
sim até se acabar a mirífica montanha,
ó stôr não me foda com essa de história literária,
o stôr passou-se da puta da mona,
a terra extravaza do real feito à imagem da merda,
e então vou-me embora,
quer dizer que falo para outras pessoas,
falo em nome de outra ferida, outra
dor, outra interpretação do mundo, outro amor do mundo,
outro tremor,
se alguém puder tocar em alguém oh sim há-de encontrar alguém
em quem toque,
dedos atentos atados à cabeça,
luz,
um punhado de luz,
cada lenço que se ata a própria seda do lenço o desata,
a luz que se desata,
aí é que se ouve a gramática cantada, imagine-se, cantada para sempre sem se ver a quem,
baixo ressoando,
alto ressoando,
mexendo os dedos nas costuras de sangue entre as placas do cabelo rude,
rútilo cabelo e o sangue que suporta tanta rutilação, tanta
beltà, beauty, que beleza! diz-se, fique
aí onde está dr. porque para si já se reservou
um quilo, uma tonelada, desculpe,
estou com pressa,
alguém lá fora dança na floresta devorada,
alguém primeiro escuta depois canta através da floresta devorada,
desculpe dr. mas já desapareci como quem se abisma
num espaço de hélio e labaredas,
eu próprio atravesso o incêndio imitando uma floresta,
fui-me embora pela floresta infravermelha fora,
não estou para essas merdas floresta vermelha fora


Herberto Helder: A Faca Não Corta o Fogo - Súmula & Inédita. Assírio & Alvim

ADEUS, DRA. MANUELA

À abstenção do PSD relativamente ao PEC do governo deveria ter correspondido uma abstenção, por parte de Ferreira Leite, em justificar, de seguida, o injustificável. O argumentário, todo ele contrário ao conteúdo do dito PEC, seria risível se não fosse trágico. Manuela começa e acaba cativa de Cavaco. Gosto de Cavaco PR, apoio a sua recandidatura mas incomoda-me que faça do maior partido da oposição uma espécie de túnel do Rossio para ele se deslocar de um lado para o outro quando lhe dá jeito. O próximo presidente do PSD não deve hesitar em denunciar o PEC e esta vitória de Pirro do governo à conta de um gesto patético do seu próprio partido. Não há bom vento para quem não conhece o seu porto. Adeus, dra. Manuela.

DAMMANN OUT



Em entrevista à antena 2 - ouvi de madrugada - Gabriela Canavilhas finalmente percebeu que tinha de correr com o director artístico do São Carlos, Christoph Dammann. Percebeu que o público, a crítica, porventura o próprio Teatro não aguentavam tanta mediocridade junta. Devia completar a acção de limpeza com a remoção dos directores portugueses da OPART, esse imenso equívoco gestionário inventado pela prof. ª Pires de Lima e pelo ex-RDA Vieira de Carvalho. É tudo uma e a mesma coisa. E mais vale tarde que nunca.

O QUE PARECE É

Parece que a dra. Ferreira Leite quer deixar para a história do seu mandato - em que praticamente teve sempre razão - a memória de uma mãozinha final oferecida ao PS. Tudo em nome daquela maldição retórica que justifica os maiores disparates, o "interesse nacional". Se o PSD "negociar" com o PS uma abstenção - tanta pusilanimidade cortesã desnecessária e a troco de quê? - Ferreira Leite sai mal. Muito mal. E Passos Coelho ganhará com maior folga amanhã à conta de não ter sido obscuro nem "consensual" num momento decisivo de "identidade" partidária. As coisas são o que são. E o que parece é.

A EVIDÊNCIA


«O socialismo, a corrupção e a estupidez constituem a tripeça em que está sentado o regime. Supus que quebrar-lhe um dos pés era dar com ele em terra. Qual! O regime tem pés de carvalho, não se deixa serrar pelos lenhadores da blogosfera. Está aí para lavar e durar. Cada dia mais putrefacto; cada vez mais firme. Aparente paradoxo.» Errado, caro Bruno. Não se pode encerrar um blogue com tamanha evidência deixando florescer por aí tanto rabanete blogosférico, lambedor sofisticado das horríveis extremidades do regime.

24.3.10

OPOSIÇÃO OU FRAUDE?

Lê-se num título da net que o PS, o governo e o PSD tentam "salvar" (reparem no verbo e na troika envolvida) o PEC, isto é, a "resolução" inventada pelo PS para comprometer os outros partidos no parlamento. Se o PSD deixar ao CDS o papel que lhe cabia - votar contra, coisa que o dr. Portas, como lhe compete, vai fazer -, então o PSD assume a sua qualidade de fraude política, tão bem personificada no cinzentismo nulo do seu líder parlamentar por mais uns dias, o causídico regimental Aguiar-Branco, e naquela parva comissão de inquérito que tanto delicia algumas das suas "elites". O próximo presidente do PSD tem muito lixo para varrer.

FALÁCIAS

Perante chantagens óbvias, será que a oposição (e uma em especial) vai colocar-se em decúbito dorsal?

ESTE LIVRO QUE ELE VOS DEIXOU


Em Portugal, até as putas são senhoras
Que não fazem porcarias,
E só ao sábado fodem e em decúbito dorsal.


Jorge de Sena, Dedicácias

Em boa hora, a Guerra & Paz vai reeditar o livro Dedicácias de Jorge de Sena. São poemas sem complacências, de uma crueldade extrema, justa ou injusta, pouco importa, mas daquela que andamos carentes neste salsifré de frouxos delicados. Os "especialistas" execraram o livro aquando da primeira aparição a preço proibitivo. Desta vez vem "em conta" e anexaram-lhe o "discurso da Guarda" de 10 de Junho de 1977.

INÊS É MORTA*


Filipe Nunes Vicente, uma forma de vida inteligente que voa na blogosfera, apesar de atravessada pelo Mondego (e não manifestamente perturbada psiquiatricamente como eu), deu-lhe para defender, em vez do PSD, uma coisa em forma de assim que «reunirá a linguagem culta e elitista», presumo, do que restará do referido PSD depois das próximas eleições directas. Como em trinta e seis anos desta choldrice ainda não dei por nenhuma "linguagem culta e elitista" que ganhasse o que quer que fosse - o último a usá-la, mas em ditadura, foi o Doutor Salazar e para proveito próprio -, presumo que o Filipe esteja a pensar em mais uma "sedes" de onde brotaram "vultos" como esse combatente contra a corrupção que é Oliveria Martins, esse banqueiro salvífico que é João Salgueiro ou, mesmo, esse sublime transfuga católico apostólico romano Guterres que deu o mote para a actual "situação". Inês, a do António Ferreira que era a sério, é morta. E há muitos anos, Filipe.

*este post é dedicado ao João Pedro George e só ele sabe porquê

O PAPAGAIO ROSA

Ontem perguntava onde é que estavam os papagaios por causa disto. Hoje lá apareceu um, o sempre sinalizado para o mesmo lado. O do respeitinho socrático de que ele, coitadinho, é um dos mais provincianos epígonos.

MAIS OU MENOS ISTO


À noite, com o rádio ligado, ouço a voz do sr. Ricardo Rodrigues, do PS, que verberava a "ousadia" - "como é que ousam?" perguntava, qual balão vazio à espera que o enchessem, o deputado - de alguém querer levar Sócrates a depôr numa inútil comissão de inquérito parlamentar. Porquê? O 1º ministro é alguma vaca sagrada que emergiu em São Bento por obra e graça do Paracleto? Não se lhe pode tocar como se fosse a taça do Santo Graal? É algum místico encontrado na Serra da Estrela por um grupo de escuteiros da Buraca que andava a "limpar Portugal"? Não, sr. Rodrigues, o seu 1º ministro é mais ou menos isto que, uma oportuna "falha de impressão", não permitiu que fosse lido em papel em Lisboa. Nem vale a pena traduzir embora o senhor, que mal sabe português, deva ter dificuldades em entender. Mas amanhe-se como cobardemente o seu grupo parlamentar, cheio de "sensibilidade social" nas algibeiras, engoliu o PEC. Não é para isso que está na política e no PS? «A la manière d’un Sarkozy portugais, Sócrates est un fonceur, un communicateur zélé qui a phagocyté son parti et personnalisé à l’extrême l’exercice du pouvoir. Autres similitudes : il ne craint pas de tailler dans le vif, supporte mal les critiques, perd facilement ses nerfs et cultive la perméabilité entre la sphère politique et celle des affaires.»

23.3.10

PAPEL HIGIÉNICO

A pianista Canavilhas, que está ministra da cultura, "reactivou" uma coisa chamada "fundação centro cultural de Belém", aquela coisa para os lados dos Jerónimos a que preside o insigne e sistémico "escritor" Mega Ferreira. Da direcção dessa "fundação" fazem parte, entre outros, as "escritoras" (sic) Lídia Jorge e Clara Ferreira Alves. Se já era discutível que Lídia Jorge fosse escritora, que dizer de Ferreira Alves, animadora televisiva de sucesso e conhecida engraçadista profissional? Realmente a "literatura portuguesa" serve para tudo. Até para papel higiénico.

ENCARDIDOS


Os traquinas que pilotam as aeronaves portuguesas, propriedade de uma empresa encardida que devia fechar mas que funciona como manjedoura, queriam parar porque ganham pouco. Ou porque não se previam actualizações. Essa rapaziada, que vulgarmente é vaidosa como se essa profissão não fosse uma fantasia e vivêssemos num passado tecnológico que fizesse deles verdadeiros astronautas, devia andar caladinha e envergonhar-se.

JOGOS FLORAIS


Os postinhos de Pacheco Pereira dedicados ao PSD revelam apenas uma coisa. Que algum PSD tenciona continuar a presentear Sócrates com jogos florais depois da eleição do novo presidente. Um partido não devia ser um programa de comentarismo televisivo. Mas parece que é isso que se pretende que o PSD continue a ser depois de dia 26. Ou Pacheco acha que angaria um voto para Rangel - ou comove o país - com aquelas conversetas dignas de "cartas ao leitor" da Maria? Parabéns à prima.

OS PAPAGAIOS NÃO COMENTAM ESTAS COISAS

«I. Na sua última edição, o Expresso noticiou o seguinte: o governo está a pensar em demitir Manuel Maria Carrilho do cargo de embaixador de Portugal na UNESCO. Isto porque Carrilho - contrariando as indicações deste governo - recusou votar em Farouk Hosni para o cargo de director-geral da UNESCO.

II. Vamos por partes. Manuel Maria Carrilho fez muito bem em recusar apoiar Farouk Hosni. Ou seja, fez muito bem em recusar seguir as indicações do governo. Porque Hosni é um conhecido anti-semita. É uma vergonha para a ONU ter um homem como Hosni à frente da UNESCO. É uma vergonha para Portugal ter um governo que apoia a nomeação de Hosni . E é um orgulho para Portugal ter alguém como Carrilho a criticar - nem que seja de forma passiva - a nomeação de Hosni.

III. É, no mínimo, vergonhoso que o governo de Portugal demita Manuel Maria Carrilho por causa disto. Os negócios com a Líbia e demais Estados anti-semitas não permitem tudo, meus caros José Sócrates e Luís Amado. Há limites. Uma coisa é fazer negócios com ditaduras. Uma coisa que toda a gente faz. Outra coisa, bem diferente, é esta bajulação torpe das posições anti-semitas da malta com quem Vossas Excelências fazem negócios. Se Manuel Maria Carrilho for demitido, muita coisa terá de ser explicaJustificar completamenteda. Portugal, meus caros, não pode apoiar, activa ou passivamente, pessoas ou Estados anti-semitas.

IV. Para terminar, não se percebem estas viagens de negócios feitas por Amado e Sócrates (Venezuela, Líbia, etc.). Uma democracia não corteja assim regimes ditatoriais. Os negócios devem ficar com os empresários, e não com os políticos. Lá fora, tal como cá dentro, José Sócrates prossegue na sua política de promiscuidade entre política e negócios.»

Henrique Raposo


Adenda: Nestas coisas como noutras - e há dias recordei que o "problema" Os Maias, de Eça, não era tanto o feito como o saber-se do feito - o que deverá verdadeiramente ter irritado o admirável líder (e o seu acólito nas Necessidades) foi justamente ter-se sabido. Assim como assim, Portugla não acabou a votar como ele quis?

22.3.10

CONTRA O RESPEITINHO


Visto o "debate" entre os três candidatos à presidência do PSD - o Tino de Barros não conta -, feito com um insuportável e pouco profissional ruído de fundo proporcionado pela RTP, ficam duas ou três observações. A primeira, é que Aguiar-Branco nem para presidente de junta de freguesia serve. É um horrível adepto do respeitinho, demasiado timorato para meu gosto. A segunda, que revela uma desilusão, é o respeitinho que o candidato da ruptura, Rangel, manifestou pelo conselheiro Pinto Monteiro como se o conselheiro Pinto Monteiro fosse a estátua do comendador. Por outro lado, não vejo que raio de "responsabilidade" justifica que o maior partido da oposição pareça ser responsável por consensos molengões e evasivos que não levam a lado algum. Finalmente, e como consequência disto tudo, dificilmente Passos Coelho deixará de ser eleito presidente do PSD. É a vida.

CIRCO SEM PÃO

Esta palhaçada - imagino que o governo faça a mesma coisa - é equivalente, em riso nacional, a coisas como "dias sem carros" e "limpezas de Portugal". É circo cada vez com menos pão.

A SEMANA DELES


Esta semana é a semana de todos os caciques do PSD, de todos os gangs do multibanco ao serviço dos candidatos, de todas a lamechices dos próceres deste e daquele, das mais e menos valias dos valetes de cada um, das sms, dos telefonemas, do "não te esqueças", do "já sabes o que te acontece", do "deves-me tudo e tens de ir lá", etc. etc. Já fui da coisa e sei como é. Ganhará quem conseguir "mobilizar" melhor esta tralha toda para cima do incauto militante até ao derradeiro momento na fila para o voto. Só muito depois desta enxovia é que virá, se vier, o país.

Foto: Ephemera

TERCEIRO, QUARTO E QUINTO "DIA MUNDIAL DA POESIA"


Organizado por não importa quem, o Hotel Fénix, em Lisboa ao Marquês de Pombal, recebe um leilão de coisas de Mário Cesariny de Vasconcelos. Da última vez que o vi, na sua casa/atelier ali para os lados do mausoléu da CGD, rondavam-no já umas figuras esquisitas que lhe pegavam num colo suspeito. Beijavam-no muito e ele, respeitosamente, de todos se despediu à saída com dois beijos na cara de cada um de nós. Adiante porque Cesariny está adiante de qualquer esterco imediato ou não imediato. Talvez, por isso, valha a pena lá passar e ver aquilo, entre terça e quinta-feira.

Ontem
às onze
fumaste
um cigarro
encontrei-te
sentado
ficámos para perder
todos os eléctricos
os meus
estavam perdidos
por natureza própria

Andámos
dez quilómetros
a pé
ninguém nos viu passar
excepto
claro
os porteiros
é da natureza das coisas
ser-se visto
pelos porteiros

Olha
como só tu sabes olhar
a rua os costumes

O público
o vinco das tuas calças
está cheio de frio
e há quatro mil pessoas interessadas
nisso

Não faz mal abracem-me
os teus olhos
de extremo a extremo azuis
vai ser assim durante muito tempo
decorrerão muitos séculos antes de nós
mas não te importes
não te importes
muito
nós só temos a ver
com o presente
perfeito
corsários de olhos de gato intransponível
maravilhados maravilhosos únicos
nem pretérito nem futuro tem
o estranho verbo nosso.

SEGUNDO "DIA MUNDIAL DA POESIA"


Não sei se há bola se não. "Bola" é um estado de espírito colectivo que é preciso, mesmo em minoria declarada e óbvia, denunciar. "Bola" é a existência de todos os grandes e pequenos poderes e todos os grandes e pequenos tiranetes sendo que, em Portugal, é tudo anão mesmo de saltos altos, atacadores, televisão ou jornal. "Bola" é tudo o que confina e é complacente, sobretudo os que tanto esbracejam contra a complacência a partir da cloaca dela. Por isso agradeço ao Joaquim ter-se antecipado com o Em Creta, com o Minotauro. Só o muito amor desenganado a um lugar que considerava Pátria pode "explicar" um poema destes. Percebam de uma vez, ó meias-tijelas intelectuais e "poéticas" que se atrevem a escrever "poemas" e patacoadas similares, o que é um poema.


EM CRETA, COM O MINOTAURO

I

Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.

II

O Minotauro compreender-me-á.
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine,
que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da "langue".
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.]
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no focinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.

III

É aí que eu quero reencontrar-me de ter deixado
a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia
aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque,
como toda a gente, não sabe português.
Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações.
Conversaremos em volapuque, já
que nenhum de nós o sabe. O Minotauro
não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia,
de toda esta merda douta que nos cobre há séculos,
cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos
os escravos de outros. Ao café,
diremos um ao outro as nossas mágoas.

IV

Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta
de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha]
de não pertencer a elas. Nem eu, nem o Minotauro,
teremos nenhuma pátria. Apenas o café,
aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil,
da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café
contudo e que eu, com filial ternura,
verei escorrer-lhe do queixo de boi
até aos joelhos de homem que não sabe
de quem herdou, se do pai, se da mãe,
os cornos retorcidos que lhe ornam a
nobre fronte anterior a Atenas, e, quem sabe,
à Palestina, e outros lugares turísticos,
imensamente patrióticos.

V

Em Creta, com o Minotauro,
sem versos e sem vida,
sem pátrias e sem espírito,
sem nada, nem ninguém,
que não o dedo sujo,
hei-de tomar em paz o meu café.

Jorge de Sena

21.3.10

MONKEY BUSINESS

Ao ver aqueles atrasados mentais a sair do estádio e que "comentam" na tv a vitória do Benfica sobre o FCP (cujos respectivos atrasados mentais se entretiveram a exibir a sua deficiência pelo caminho até Faro) ocorre-me que gente desta natureza não merece um Sócrates. Merecem dez. E para os comentários fanáticos, deixo Jorge de Sena: «o que eu quero é sossego, e, como disse num poema, tão chocante pela má-criação para as almas delicadas daquela bosta ibérica, acabando em paz o meu café, em Creta, com o Minotauro, sob o olhar de deuses sem vergonha.» Noutro dia de bola - é todos os dias - ponho o poema.

LATINO-AMERICANOS E EUROPEUS

Em França, nas eleições regionais, Sarkozy é fortemente penalizado por ter dito e prometido uma coisa e, a seguir, com a mesma veemência, redito e dado por desprometido a mesma coisa. Como cá, aliás, com a desculpa da "crise". Porém, em França a opinião pública e a que se publica não padecem da bovinidade acívica que grassa por aqui apesar dos alegados "controlos" de Sarkozy. As televisões não páram de mostrar Sarkozy no "antes" e no "depois". E há sempre mais vida para além do "chefe" mesmo dentro das hostes do "chefe". Aqui, desgraçadamente latino-americanos, as trelas estão bem apertadas.

"DIA MUNDIAL DA POESIA"


À medida que o gado avança para o sul - na auto-estrada, onde grunhos apedrejam e insultam na maior impunidade, ou para a televisão à espera de mais um "evento" da bola - vejo no quiosque onde fui comprar um jornal a capa de uma revista supostamente sobre livros. Tem ervilhas na capa e uma delas remete para o que deverá ser um artigo ou uma entrevista de um deputado do PS. Esse deputado é muito apreciado por alguns dos meus leitores que deixam muitas vezes aqui derramado, em recatado anonimato, o orgulho que sentem por ele, um dia, me ter chamado filho da puta. E também goza de grande popularidade na blogosfera, da esquerda à direita, como um inofensivo ovo cozido. A frase é qualquer coisa como "Teixeira dos Santos é um grande escritor cujo talento ainda não se revelou absolutamente." Ainda vamos descobrir, graças à inteligência prospectiva deste deputado, que Sócrates, por exemplo, verseja e que, afinal, é um heterónimo da Florbela Espanca criado nas Beiras. É disto que se alimentam as "revistas literárias" domésticas? Parece que se sim e de algum "frissonzinho". Tem razão o Cesariny. A poesia não é para um par de sapatos. Mas este poema é para o deputado.


É importante foder (ou não foder)?
É evidente que não, não é importante.
Fode quem fode e não fode quem não quer.
Com isso ninguém tem nada
Mas mesmo nada
A ver.


O que um tanto me tolhe é não poder confiar
Numa coisa que estica e depois encolhe,
Uma coisa que é mole e se põe a endurar e
A dilatar a dilatar
Até não se poder nem deixar andar
Para depois se sumir
E dar vontade de rir e d'ir urinar.


Isso eu o quiz dizer naquele verso louco que tenho ao pé:
«O amor é um sono que chega para o pouco ser que se é»
Verso que, como sempre, terá ficado por perceber (por
mim até).

....................................................................................

Também aquela do «outrora-agora» e do «ah poder ser tu
sendo eu» foi um bom trabalho
Para continuar tudo co'a cara de caralho
Que todos já tinham e vão continuar a ter
Antes durante e depois de morrer.


Mário Cesariny de Vasconcelos, O virgem Negra - Fernando Pessoa explicado às criancinhas Naturais e Estrangeiras, Assírio & Alvim, 1989

COISA DELE

Assuma-o Você.

A LERDICE DE ESTADO


Li aqui, na net, no site do Público, uma entrevista surrealista de Jorge Sampaio. Lê-se e pergunta-se (pergunto-me) como é que aquele homem pôde presidir a isto durante dez anos. O que diz sobre o governo Santana Lopes (a irresponsabilidade do que diz quando refere a sua "ansiedade" (sic) na altura), o que diz acerca dos poderes presidenciais e das "sereias do presidencialismo" (sic) e o que diz - ou não - sobre o estado a que tudo chegou e que resume em "dizer não a homens providenciais" e em dizer sim a "compromissos", no fundo, às suas "ansiedades", não revela um homem de Estado. Revela uma lerdice imperdoável.

20.3.10

PRIMAVERA



Camille Saint-Saëns: Samson et Dalila. Agnes Baltsa, Plácido Domingo. Jacques Delacôte. Barcelona, 1990

APETECE CHAMAR-LHES TODOS OS NOMES

Um exemplo do "género" de CML a que preside o paineleiro de tv António Costa. A profissional da indignação fácil, a arq.ª Roseta, não diz nada?

A LUZ SEGUNDO MEXIA

Na capa do "i", António Mexia, um dos sobas das empresas do regime, tem a lata de afirmar que Portugal caminha para uma "mediocridade lenta" como se ele fosse de Marte. Não deve estar a referir-se aos lucros dessas empresas, de certeza. Sobretudo da dele.

OS NOVOS VELHINHOS

Aquelas enjoativas "novas fronteiras" parecem uma feira da ladra decadente. E destinada exclusivamente a impingir um só produto, gasto e desacreditado. Estão cada vez mais bacoramente fascistas, estes velhos fronteiriços de meia tijela.

A "LEI DA ROLHA"


Os escribas e demais categorizados avaliadores do estado das coisas continuam insuflados com a chamada "lei da rolha". Esquecem-se que, daqui a duas semanas, noutro congresso do PSD, a coisa morrerá de morte natural e não se falará mais nisso. Porém, e segundo o Expresso, numa semana em que o preclaro Assis chegou a sugerir que o parlamento se pronunciasse sobre a "matéria", o governo de que o dito Assis é privilegiado apoiante pensa alegadamente em substituir Manuel Maria Carrilho (que, sozinho, vale bem mais que os deputados do PS todos juntos como se viu ontem naquele animalesco momento dos computadores) como embaixador de Portugal na UNESCO. E precisamente por causa de uma "lei da rolha" inventada circunstancialmente pela dupla Sócrates/Amado, em Setembro último, aquando da eleição do director-geral da organização. A dupla pretendia que Carrilho votasse num horrível egípcio dado à queima de livros e o embaixador, muito naturalmente, explicou-lhes a natureza da criatura o que não comoveu aquelas raras inteligências que o "obrigaram" a cumprir a ordem. Para o efeito, foi lá votar o número dois da embaixada - Carrilho, e bem, recusou prestar-se a fazer de bonzo útil - o que, conhecendo-se o "espírito" humanista e tolerante do actual 1º ministro e a irrelevância de Amado, deve ter ficado devidamente registado na mesquinha conta-corrente do mandarinato em vigor no qual tudo gira à volta do narcisismo doentio do chefe. Estamos, pois, falados sobre "leis da rolha".

O PAPA E OS PULHAS


O Papa - os Papas são muito dados a isto - decidiu "pedir desculpas" por actos de pedofilia perpetrados um pouco por todo o lado por padres católicos. O Papa, enquanto tal, não tem de pedir desculpa por a Igreja, como qualquer organização, albergar pulhas. Não se vê chefes de Estado a pedir desculpa por presidirem a regimes onde há o mesmo ou outro tipo de pulhas. Não se vê chefes de partidos a pedir desculpa por alguns dos seus militantes serem rematados pulhas da mesma ou de outra índole. Não se vê presidentes de corporações profissionais, de sindicatos ou de outras trampas congéneres a pedir desculpa pelos seus pulhas. Parece que só o chefe da Igreja católica tem o dever de se virar para muros e pedir desculpa ou ir para os jornais nos mesmos preparos. Em vez disto, que nem para consolo dos seus inimigos serve, a Igreja pura e simplesmente devia limitar-se a expulsar estes vermes sem mais. Se Deus lhes perdoa ou não, não é problema de intendência. Por cá, à medida que se aproxima a vinda de Ratzinger, nota-se perfeitamente o incómodo jacobino traduzido em exacerbar "casos" reais ou virtuais. Mais valia que muitos desses jacobinos se olhassem ao espelho.

FIGURAS TRISTES

Em plena felicidade "guterrista", apareceu uma coisa ridícula que foi o "dia sem carros". Estava de férias em Marrocos mas recordo que me contaram as figuras que o poder andou a fazer à conta daquele pequena demagogia. Sampaio, provavelmente de alpercatas, foi de eléctrico para Belém. Não me lembro se Sócrates, já nessa altura, usou a licra e desatou a correr até ao seu gabinete. E Guterres, seguramente, comoveu-se muito. Hoje, uns patuscos quaisquer, decidiram promover uma "limpeza geral" de ruas e matagais. Como chove, a porcaria deve ser mais que muita. E Cavaco alinhou com a palhaçada, em Colares, onde foi simular a limpeza de um pinhal. A bosta geral deprimente que é este país não muda por causa de meia dúzia de escuteiros mesmo se um deles for o presidente da República ou uma ministra de nome Pássaro. Metam isso, de uma vez, na cabeça e deixem-se de figuras tristes.

JÁ QUE HÁ COMISSÃO, MESMO «PEQUENA», ENTÃO...

«Um regime em que o primeiro-ministro mente não merece a ninguém a mais leve confiança. A defesa de Sócrates não se distingue da defesa da democracia. Uma evidência que, manifestamente, nunca penetrou na peculiar cabeça do homem.Por isso mesmo, e para não agravar o geral descrédito da República, há certas medidas que são obrigatórias. Em primeiro lugar, as sessões da comissão devem ser de "porta aberta" e num lugar digno (a "sala do Senado", por exemplo). Em segundo lugar, a televisão deve transmitir em contínuo o processo inteiro, para garantir a cada português que não lhe escondem nada e permitir que se forme cá fora uma opinião independente. E, em terceiro lugar, a comissão deve exigir desde o princípio que Sócrates se apresente, para que não fiquem dúvidas sobre o significado da sua eventual ausência. Vivemos num clima de suspeita e sombras. Chegou a altura de clarificar as coisas.»

Vasco Pulido Valente, Público

19.3.10

AS PRATELEIRAS DA IGNORÂNCIA


«Há uma insistência em classificar Alice in Wonderland como "literatura infantil" ou "literatura infanto-juvenil". Por mais graça que uma criança ache ao Coelho, ao Humpty Dumpty ou mesmo ao Gato de Cheshire (ou a qualquer outra personagem), não alcança o significado da complexa narrativa non-sense de Carroll. Aliás, nem estou certo de que non-sense seja um termo correcto neste caso. Alice é uma obra demasiado grande para ser metodicamente arrumada nas prateleiras do "infantil" das nossas pobres livrarias. Mas, verdade seja dita: não se pode esperar muito de um "mundo literário", ou de um "mercado livreiro", que arruma a maior parte (toda?) a literatura de fantasia na secção "juvenil".» Como é que se explica isto à literatice doméstica lambuzada por tanto burro que sonha um dia, chegar a cavalo, sem ironia de espécie alguma para as geniais transumâncias de Carroll?

QUASE NADA

A dra. Ferreira Leite concedeu uma infeliz entrevista radiofónica. Não muito provavelmente por causa do seu conteúdo genérico. Mas porque dela pouco mais ficou do que o apelo aos militantes para que não olhassem para os "aspectos físicos" dos candidatos à sua sucessão. Politicamente isto é pobre. É quase nada.

UM OUTRO PS

Isto podia ter sido escrito por mim. Aqui, onde tantas vezes se criticou o autor do texto, tira-se-lhe hoje o chapéu pela coragem e pela clarividência.

ABENÇOADAS SEJAM TODAS AS PUTAS DO CÉU E DA TERRA


«Anoitecera. Eu falava de Morandi como exemplo de uma arte poética que, apesar da desmaterialização dos objectos e da aura de silêncio que os imobilizava na sua natureza, não se desvincula nunca da realidade mais comum e fremente, quando alguém me interrompeu: - Eu conheci-o, era intratável, vivia em Bolonha com duas irmãs, quase só saía de casa para ir às putas. - Está bem, volvi eu, se ele precisava disso para depois pintar como Vermeer e Chardin, abençoadas sejam todas as putas do céu e da terra. Amém.»

Eugénio de Andrade

LER

A Helena Matos. Acerca das ilusões do multiculturalismo.

CONTRA A INDECÊNCIA


Li para aí uns quinhentos artigos sobre o "pec" e ouvi outros tantos especialistas e proto-especialistas. A única pessoa que resumiu elegantemente a coisa foi Bagão Félix. Falou em decência e na falta dela. Decência por parte de quem subscreve o "pec" (ou a mais certa falta dela) e um módico de decência na vida das pessoas (ou, na realidade, a falta dela "garantida" pela "esquerda moderna" com apoios que vão de Belém a Bruxelas). Ignoro, porque estéreis, os argumentos que o Estado assim e o Estado assado, e a iniciativa privada assim e a iniciativa privada assado como se, fora o eng. º Belmiro e mais dois ou três, houvesse semelhante coisa "privada" em Portugal que não andasse sempre a cheirar o rabo do Estado e vice-versa. Mas os nossos incorrigíveis liberais - e candidatos a liberais - persistem em imaginar que vivem nos EUA e, lá, dentro de manuais e não na rua. Por isto tudo, os militantes do PSD devem eleger quem denunciar frontalmente a indecência que constitui o "pec", este sim comprometedor da vida das pessoas e não o Pedro Santana Lopes como tantos plumitivos andam há uma semana a impingir-nos como o novo dogma regimental para idiotas. E esses candidatos a presidente do PSD fariam igualmente bem - porque não há iluminados solitários - em dizer aos militantes e ao país quem vão ser os seus lugares-tenentes, desde os vice-presidentes ao secretário-geral passando pelos ornamentos que tencionam indicar para a comissão política. Basta de cortes eunucas no poder e fora dele.

18.3.10

PARABÉNS ÀS PRIMAS


Tomou posse a tal comissão de inquérito parlamentar que vai descobrir a roda. O 1º ministro - direito dele - já informou que só lá vai por escrito. A dra. Ferreira Leite tem "todo o gosto" em ir. E a tudo isto preside esse nenúfar deste regime e do outro, o amável dr. Mota Amaral. Parabéns às primas.

O AMIGO DO PINTOR

DO ESTADO COMO CADÁVER ADIADO

Depois de umas balas, por certo sem intuitos homicidas, terem ido parar às cruzes de um indivíduo que ninguém sabe quem é, o dito partiu para a estratosfera. Como tantos outros casos iguais, o homem, em vez de permanecer na respeitável insignificância que era em si mesmo, chega quase a mártir e a autoridade posta no indivíduo que a representa deve, como de costume, levar com o cutelo. Ao mesmo tempo, um tolo sindicalista da PSP que ontem deu à luz a si mesmo nas televisões, pede mais treino de tiro como se isso não fosse um enviesamento esquizofrénico da questão. Assim sendo, Portugal tem o que merece. Um ilustre funeral. De Estado.

OS "MELHORES POEMAS DE 2009" OU A SUPERIORIDADE SATISFEITA DE QUEM TEM OS PARAÍSOS POR SUA CONTA


Esta "iniciativa" diz muito do que é o caldo editorial comádrico em Portugal. Na circunstância trata-se de poesia e, até por isso, provavelmente todos os cuidados são poucos. Se uma criança, no infantário ou no básico, for instada a fazer "um poema" ao pai (por causa do comercial dia dele e que é escrito pela educadora ou pela professora), foi acrescentada poesia ao mundo dela, da poesia? Todos os dias e a todas as horas há milhares de pessoas a escrever coisas a que chamam poemas e poesia e que não são nem uma coisa nem a outra. São ajuntamentos de palavras que os seus autores - e alguém por eles - colocam no exterior com esse rótulo e com essa irresponsabilidade. A tal "iniciativa" intitula-se "Resumo - a poesia em 2009" como se, a menos de um ano distância da evacuação dos ditos "poemas", os pudéssemos apelidar de tal e aos escribas (salvo um ou outro "nascido" enquanto poeta muito antes do "resumo"), poetas. E, ainda por cima, "os melhores", como vem na propaganda. Lembro aos adeptos desta literatice "tolentina" resumida as palavras sábias de Jorge de Sena em 1948. «A poesia, para possuir aquela eficiência que lhe desejamos, para afinal ser poesia, necessita de uma veemência, de uma paixão, de uma força convocatória das mais primárias volições do homem, o que é incompatível, quer com os trenos mais ou menos amáveis, quer com a expressão de superioridade satisfeita de quem tem os paraísos por sua conta.»

17.3.10

RIEM DE QUÊ?


Escreveu-se aqui que António Costa inexistia como presidente de câmara e que apenas se dedica ao paineleirismo político às quintas-feiras. Enganei-me. Costa, afinal, existe mas para tratar de coisas transcendentais como os aviões do Red Bull em Lisboa e no Porto. E de forma idioticamente divertida como a foto documenta. Quando os dois presidentes das duas maiores câmaras municipais do país - de duas cidades abandonadas à má sorte e ao mau gosto - se reúnem por causa de tal coisa, estamos conversados acerca desse país e desses presidentes de câmara.

CLAREZA

Gostava de ver os outros candidatos à presidência do PSD a ser tão claros acerca do senhor conselheiro Pinto Monteiro como Passos Coelho tem sido. Ou em recusar o vergonhoso "pec" apresentado às pressas na A.R., no dia 25, não vá o diabo tecê-las. Logo quando o diabo chega em tal forma, em forma de "pec".

NÃO TÊM VERGONHA?

Por que é que o insuportável sr. Nogueira, o sr. Silva e a escritora Alçada não se entendem sobre o medo que alunos sentem de ir a locais mal frequentados a que os três chamam escolas? Não têm vergonha?

"CARÁCTER"

Quando se fala em "ataques de carácter" a alguém convém previamente verificar se o objecto do "ataque" o tem. Isto é uma coisa e, vasculhando bem lá por baixo, talvez haja um. Outra são aquelas coisas patéticas que se sentam no parlamento chamadas ricardo rodrigues e lello. Por definição, é difícil encontrar um nelas.

LEBENSRAUM SEM PONTO DE INTERROGAÇÃO



Este post causou alguma comoção junto de inesperados "rabinos" de circunstância. Que mal lhes pergunte, por que é que não vão viver para a região? Quanto ao mais, e parafraseando o César Monteiro, quero que se fodam. E assim sucessivamente.

DA CORRUPÇÃO MORAL

Mário Vieira de Carvalho - o ente que colocou o São Carlos literalmente a pão e água com um rol incomensurável de cúmplices "culturais" -, ex-adepto da RDA e ex-secretário de estado da cultura da "esquerda moderna" na encarnação absolutista, escreve no Público que «a corrupção económica e a corrupção moral transformaram-se no reverso da corrupção político-partidária.» Até pode ter razão mas algum pudor devia obrigá-lo a não aparecer em público a perpetrar auto-retratos. O que se passa no São Carlos, toda aquela porcaria em forma de "espectáculos", de anacoretas passivos e activos que ele permitiu que lá se instalassem, é o mais parecido com corrupção moral que existe. Ou destruir um teatro de ópera, o único que temos, de forma deliberada, consistente e metódica é o quê?

ELIS



Se não fosse a porcaria da vida, fazia hoje sessenta e cinco anos. Mas a vida é mesmo uma porcaria.

A VIDA PARA ALÉM DE UM PAINEL

Mais logo* - devem estar agora a gravar a coisa - há mais uma insuportável "quadratura do círculo". Nela, convém lembrar, sentam-se um presidente de câmara, um deputado da nação e uma pessoa amável e perspicaz que passa a vida a invocar "conflitos de interesses" para se poupar. Ou seja, senta-se o regime. Deverá ser mais uma ocasião para exercitarem colectivamente a musculatura anti-santanista entremeada com "pec". E para quê? O edil paineleiro nada faz na Câmara onde tem maioria absoluta. Alguém, tirando os balões vazios da sua intelligentsia privativa, dá por António Costa em Lisboa? Ou pelo deputado da nação em São Bento? Ou pela labuta política concreta nalgum lado onde seja preciso sujar as mãozinhas, postos os "conflitos" em pousio, do terceiro homem? Isto provavelmente é muito cruel para duas destas pessoas. Costa é-me indiferente. Mas a vida é muito cruel para as pessoas que vivem fora daquele painel. E é essa que me interessa.

*O dito programa é amanhã mas, para o argumento, é como se fosse todos os dias. Recordou-mo uma ternurenta leitora que devora a "quadratura" como uma adolescente devora Barbies e "after eights". «Andas, como diz o povo, "desorientado". A quadratura é a quinta e não à quarta. Dito isto, para além do "desorientado" ou desnorteado" que andas, ainda és muito injusto (unfair, diria eu). Ninguém mais do que o deputado da nação para se atirar a inseriedade e inverdade da "esquerda moderna". Ninguém mais e melhor do que o deputado da nação para semana após semana, no Público, na Sábado, na QC se insurgir contra a "esquerda moderna". Conheces alguém que mais faça pela sanidade política do país.» E depois continua com trivialidades acerca de duas pessoas que estimo como estimo o deputado da nação e o empresário/professor. Não valia a pena.

A "ESQUERDA MODERNA" E O ESBULHO


O "pec", não é esdrúxulo repeti-lo, é um esbulho à classe média. Que um governo da "esquerda moderna" pense que pensões ou salários de 500 euros são um luxo passível de tributação progressivamente agravada diz tudo sobre essa "esquerda moderna". Ainda por cima são os quinze anos dessa "esquerda moderna" que conduziram ao esbulho chamado "pec". E também diz algo sobre essa "esquerda moderna" a circunstância de, em vez desta facilidade - a do ataque ao que não pode tugir nem mugir -, não arriscar, por exemplo, um adicional sobre os lucros dos bancos. Não arrisca porque ela, a "esquerda moderna", por interpostas pessoas, está hoje instalada nos bancos e nas principais empresas "lucrativas" do sistema, tais com as "edps", as "galps" ou as "pts". Esbulho sim, mas só para os mesmos cornos de sempre.

16.3.10

PEC OU PSL?

Independentemente do (mau) fundo da questão, ter-se-á dado o caso de o Pedro Santana Lopes ter estado sozinho em Mafra, no domingo passado, entre as duas e as três da tarde? Na tv parecia que estavam mais pessoas ou era mera ilusão de óptica? E o art. 94.º dos estatutos do PS também é? Grande país que não tem mais nada para discutir que o Pedro Santana Lopes.

MUDEM-LHE O EMPREGO

O sr. Metello, que comenta a economia na TVI a partir do PS, defendeu aquela ideia (em si louvável) de que quem está desempregado deve "agarrar" tudo. Por que é que Metello não dá o exemplo e troca as patacoadas que anda a repetir há anos a fio pelo lavar das escadas da estação de Queluz?

A IGNÓBIL

Mote para o "pec", por M.C.V.

Contemplo o lado mudo
Que uma brisa sacode.
Não sei se fôdo tudo
Ou se tudo me fode.



O "pec" - a nova ignóbil porcaria para a saison 2010-2013 que o país vai acatar sem preservativos ou lubrificante - dará metodicamente cabo da mirífica classe média que vota nos partidos "com representação parlamentar" e que tenderá a reeleger o actual Presidente, outro entusiasta da dita porcaria. O "pec", em sociedades maduras e esclarecidas, daria origem a tumultos cívicos e a demais provas de vida humana inteligente e não exclusivamente animal. Aqui não. Está tudo bem assim e não podia ser de outra maneira.

AMOR E MELANCOLIA


Pouca gente em Portugal sabe falar de literatura. O facto de tantos tagarelas e de tantos prosélitos julgarem que dela falam - nos jornais, nas revistas e mesmo nas academias - não faz de nenhum deles crítico literário. Quando muito, faz ter dó deles e, como escreveu Sena noutro contexto, um burro nasce burro e ao fim de vinte anos não é cavalo. Vítor M. Aguiar e Silva é dos poucos vivos que é crítico verdadeiro. Foi distinguido com um prémio (que leva o nome de Eduardo Prado Coelho) pelo livro da foto. Jorge de Sena foi outro que tal e, porque era engenheiro de formação e não era "correcto", teve de ir lá para fora fazê-la e ensiná-la. Este livro é a leitura de um camonista por outro camonista - se é que tal coisa existe e não apenas Camões. Se tivesse tempo e engenho, escreveria de bom grado a biografia literária de Sena. Para já, este ensaio é já uma boa lembrança de quem vida só a teve, como o outro, em pedaços repartida.