30.6.09

ADIANTADOS


Como para América Latina basta-me viver por aqui (repare-se como até o clima já se "adaptou"), não acompanho de perto o folclore político da região. Todavia, fico a saber que, na original, há tipos «muito mais adiantados do que o Sócrates.» O que é difícil.

O MÉTODO JUSTIFICÁVEL


Este amigo é um pessimista como eu. Mas, depois de lido por causa disto, revela-se, afinal, uma Ana Gomes virada do avesso. Basta esta frase - «a tortura pode acabar por ser um método justificável e inclusive necessário in extremis» - para o trair. E, perdoar-me-á, não há Adriano Moreira ou "teoria das relações internacionais" que o salve. Talvez Richard Rorty.

IRONIAS E CANSAÇOS

Escreve José Régio, no muito citado "Cântigo Negro", que «há nos meus olhos ironias e cansaços.» Há. Sobretudo quando ouço pessoas como o sr. Carrapatoso a discorrer sobre o Estado. Que o Estado deve sair disto e daquilo, que o Estado não dever interferir aqui e ali, que o Estado isto e aquilo... Não tenho o menor respeito intelectual por gente- os tais "liberais" - como o sr. Carrapatoso a quem o Estado não só não prejudicou como até "resolveu", a favor dele, um pretérito "contencioso" fiscal onde só o dito Estado, ambiguamente, acabou mal. Diz-se "atraído" pela "cidadania activa" e, como vaidoso que é, acha-se subtil, raro e candidato a eventual salvador da pátria, uma vez que se vai "reformar" da Vodafone. Deus nos salve permanentemente destes salvadores "iluminados" como o sr. Carrapatoso.

TENTAÇÕES PERMANENTES


Manuela Ferreira Leite fez bem em dizer que o PSD "fez mal" se, noutra encarnação, tentou "controlar", através da PT, conteúdos jornalísticos. É uma tentação permanente. Todavia, e para além disso, andam bem pior os jornalistas, os directores, os adjuntos e os "fazedores" de opinião que se deixam controlar. É outra tentação permanente. Porventura mais grave. Porque desonra uma profissão nobre e que serve de barómetro à qualidade de um regime. Se a do nosso não se recomenda, não é apenas aos objectos das notícias e dos comentários que se deve. Muita gente, antes de escrever ou de aparecer, devia proferir uma declaração de interesses. Sem a necessidade fútil de, por exemplo, recorrer a exemplos literários. Basta a integridade sem tergiversações de ocasião ou que decorrem de interesses pessoais.

A FASE COMPLEXA DO DR. SOARES


O dr. Mário Soares, o ayatolah do regime, opina no DN, um hebdomadário que faz as vezes do "Acção Socialista" que nem os militantes lêem. Desta vez, a "fase" é "complexa". Para o PS, claro, que, segundo Soares, é o menos responsável pela crise, uma manifesta "importação". O neoliberalismo, esse malvado, é que estragou tudo, até os resultados das europeias que o PSD não ganhou, como Soares não duvida. Foi - vá lá - o PS que perdeu. Todavia, o guardião dá o conselho. «Uma linha progressista clara que passe por uma autocrítica consequente - ou uma mea culpa - e por uma reaproximação ao mundo do trabalho», «o Partido [com P grande como deve ser] terá de ser mobilizado (parece-me desmoralizado e descrente, nas bases) e de fazer um discurso mobilizador, não só na forma, mas também no conteúdo [como se isto fosse possível com este secretário-geral, mesmo na versão "Bambi"]», «a JS, as Mulheres Socialistas, os imigrantes, as mulheres e os homens de cultura, os homossexuais [então e os heterossexuais, os transsexuais e os que não sabem o que são?], têm aí um papel decisivo a jogar.» Mais. Para estes justos desempenharem o referido "papel", «têm de estar convencidos que as políticas vão mudar, no sentido dos seus próprios interesses», ou seja, em sentido contrário ao que o admirável líder procurou "traçar" quando decidiu, há quatro anos, fazer de cada português um inimigo potencial, uma "corporação". E Soares pede o impossível. «Os dirigentes do PS deverão percorrer o País, ouvir e falar com as pessoas com humildade e espontaneidade. Sem promessas vãs e sem demagogia.» Na segunda parte do artigo, Soares considera, aliás, "pouco verosímil" que Sócrates ignorasse o "negócio da PT" com a Media Capital que posteriormente abortou. No fundo, Soares já percebeu que o PS de Sócrates - o que vai a eleições daqui a três meses - estaria melhor sem Sócrates. Mas é o que há, dr. Soares. Os seus amigos, "homens de cultura" como, por exemplo, o dr. Pulido Valente, que façam o favor de lhe explicar.

A PISCINA

«The media is like Madame de Staël who threw her friends into the pool for the pleasure of fishing them out again.»

Norman Mailer, 1998

29.6.09

OS ÚTEIS E OS INÚTEIS


Pior do que um idiota inútil é um amontoado de idiotas úteis. Provérbio português de 2009 encontrado na blogosfera. Numa espécie de "cadeia" blogosférica para ver quem consegue ser mais idiota do que o anterior, útil ou inútil.

OUTRO CLUBE

Parece que a dra. Ana Gomes lançou hoje a sua estrepitosa candidatura à Câmara de Sintra. Também consta que tem um cartaz onde aparece de braços cruzados, com ar de professora primária do tempo do Doutor Salazar, a dizer que é "uma mulher às direitas". E jurou deixar Bruxelas - como a congénere do Porto, a D. Elisa - caso alcance Sintra. Não alcança, graças a Deus. O tipo que lá está, mais da bola e do Benfica do que de outra coisa qualquer, só não fica se não quiser. Precisamente por causa da bola e do Benfica. A dra. Gomes que arranje outro clube em vez do PS.

A EVOLUÇÃO DA ESPÉCIE


Quase quarenta por cento dos portugueses inquiridos num estudo internacional sobre o uso da tortura como "método" para combater o terrorismo, concorda com esta "prática". O primitivismo também se mede por estas coisas.

OS CARRINHOS ELÉCTRICOS

«Depois do "Magalhães", Sócrates e a sua trupe descobriram os carros eléctricos. Sócrates até já sonha com uma cidade onde só haja carros eléctricos. Se Sócrates pudesse varrer as pessoas e a realidade da paisagem, e a deixasse entregue aos seus brinquedos e às suas fantasias, seria um homem ainda mais feliz do que é agora. E o mundo, o dele pelo menos, mais perfeito. (22.11.08)»

in Portugal dos Pequeninos, Bertrand Editora, 2009, pág. 455

GENTE FINA


Nos EUA, o sr. Madoff já foi condenado a perpétua. Cento e cinquenta anos pela trafulhice. Cá, a política e os tribunais cumprem calendários. Se bem nos recordamos, apenas Vale e Azevedo foi molestado e, mesmo assim, só depois de ter deixado a presidência do Benfica. E sabe-se o estado da arte. Não esperem nada de extraordinário contra os trafulhas domésticos. Gente fina é outra coisa. E a justiça portuguesa também.

O ENÉSIMO FIM DA CRISE

O governo, pela voz de vários ministros e do indispensável líder, já decretou por diversas vezes o fim da crise. A crise, como qualquer desatento percebe, não acaba por decreto ou por umas décimas. Mais. Quando a crise se atenuar lá fora, persistirá, sob uma forma dúbia chamada Portugal, cá dentro. Para a pura propaganda, talvez seja útil o exercício. Para "salvar" o país, não.

PALAVRAS DE HOJE


«Tendo Jesus chegado às regiões de Cesaréia de Felipe, interrogou os seus discípulos, dizendo: Quem dizem os homens ser o Filho do homem? Responderam eles: Uns dizem que é João, o Batista; outros, Elias; outros, Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós, perguntou-lhes Jesus, quem dizeis que eu sou? Respondeu-lhe Simão Pedro: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.Disse-lhe Jesus: Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque não foi carne e sangue que to revelou, mas meu Pai, que está nos céus. Pois também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do hades não prevalecerão contra ela;dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares, pois, na terra será ligado nos céus, e o que desligares na terra será desligado nos céus.» (Mateus 16.13-19)

Foto: Povo

TENTAR PERCEBER


O Pedro Magalhães é dos raros politólogos que levo a sério. Primeiro, porque é a profissão dele. E tanto é que, lamentavelmente, escreve hoje o seu último artigo no Público para poder dedicar-se a um projecto de investigação sobre a qualidade da democracia. Em segundo lugar, porque, mais do que nos pretender conduzir ao seu moinho, o Pedro tenta perceber e procura explicar mesmo quando erra, como é próprio de quem caminha na floresta. Em certo sentido, o Pedro não tem agenda como têm os "politólogos" - na realidade gente de partido ou de facção e comentaristas de ocasião disfarçados de outra coisa - que diariamente invadem as redacções dos jornais e das televisões com o seu insuportável "achismo". «A verdade é que não há quase dia em que abra o jornal ou ligue a televisão sem encontrar politólogos, apresentados com tais, a pronunciarem-se sobre as últimas declarações do político x, as consequências da decisão y ou aquilo que irá acontecer se z. Por vezes, talvez mais do que, em retrospectiva, teria sido desejável, um deles era eu. Em parte, é compreensível. Com redacções encolhidas e a multiplicação dos estagiários, escrever um artigo "de fundo" com a ajuda de quatro telefonemas deve ser uma tentação irresistível. A busca da "imparcialidade" e da "objectividade" leva à procura de fontes que possam ser apresentadas como dispondo desses atributos. A pressão da actualidade faz com que aquilo que interessa aos jornalistas seja "prever" um evento concreto ou as suas consequências, matéria para a qual, sabemos de inúmeras situações passadas, os cientistas sociais não se encontram necessariamente mais capacitados que outra pessoa qualquer. E resistir as estas solicitações é igualmente difícil, na medida em pode parecer uma assunção de irrelevância daquilo que fazemos para os debates que interessam. Mas pergunto-me se não valerá a pena tentar resistir mais um bocadinho. O nosso "negócio" é simples: descrever o mundo político o melhor possível e procurar explicações plausíveis para que ele seja como é. Só isso já é bastante. Para pundits, creio, já bastam os que existem.» Volte sempre, Pedro.

A ESCOLA DA «TRANSPARÊNCIA»

Isto é um exemplo - apenas um - do país "tropical" (dito "moderno", das "novas tecnologias" e da "banda larga") que o admirável líder nos vai deixar daqui a três meses. Cria-se um "portal onde devem ser publicitados todos os ajustes directos e derrapagens, em nome da transparência e do rigor no uso dos dinheiros públicos," e o próprio portal é aberto sem concurso público. A coisa correu, imagine-se, por ajuste directo, a "modalidade" preferida pelos governos com pressa e pela propaganda. Já a elaboração do Código dos Contratos Públicos - como se no Estado não houvesse esquadrões de juristas capazes de o fazer - tinha sido entregue a uma famosa sociedade de advogados de Lisboa, "especializada" em direito administrativo, que andou um pouco por todo o país, em chorudas digressões, a "explicá-lo". É por estas e por outras que detesto a palavra "transparência". Onde ela aparece raramente faz escola.

28.6.09

«A MORTE VEM COMO NENHUMA CARTA»


Passaram cinco anos sobre a morte de Sophia de Mello Breyner Andresen. Os jornais dedicaram-lhe os usuais derrames feitos, salvo uma ou outra excepção, pelos usuais. A poetisa da política interessa-me pouco, salvo naquele lance magnífico do «dia inicial inteiro e limpo.» Prefiro o poeta do mar, das coisas, dos lugares certos e incertos, dos outros poetas. A "clássica", a enxuta. Agora que se preparam para "recuperar" Jorge de Sena, esta "Carta(s) a Jorge de Sena":

I
Não és navegador mas emigrante
Legítimo português de novecentos
Levaste contigo os teus e levaste
Sonhos fúrias trabalhos e saudade;
Moraste dia por dia a tua ausência
No mais profundo fundo das profundas
Cavernas altas onde o estar se esconde

II
E agora chega a notícia que morreste
E algo se desloca em nossa vida

III
Há muito estavas longe
Mas vinham cartas poemas e notícias
E pensávamos que sempre voltarias
Enquanto amigos teus aqui te esperassem -
E assim às vezes chegavas da terra estrangeira
Não como filho pródigo mas como irmão prudente
E ríamos e falávamos em redor da mesa
E tiniam talheres loiças e vidros
Como se tudo na chegada se alegrasse

Trazias contigo um certo ar de capitão de tempestades
- Grandioso vencedor e tão amargo vencido -
E havia avidez azáfama e pressa
No desejo de suprir anos de distância em horas de conversa
E havia uma veemente emoção em tua grave amizade
E em redor da mesa celebrávamos a festa
Do instante que brilhava entre frutos e rostos

IV
E agora chega a notícia que morreste
A morte vem como nenhuma carta

LÍNGUA DE PAU

Do sr. Carrapatoso, amigo de Pinho que por sua vez é amigo e ministro de Sócrates. Ou como um jantar privado - um "convívio" - pode constituir «um contributo para o debate de ideias no âmbito de um exercício de cidadania individual, para o qual sempre se mostrou disponível.» Muito gosta o Francisco Almeida Leite de brincar às casinhas.

POR UM HOMEM SEM QUALIDADES?

É uma dó assistir ao argumentário de pessoas inteligentes em prol de pessoas meramente espertas (ou já nem isso) como o admirável líder e a sua "dialéctica" de trazer por casa. Tiago Moreira Ramalho, no Corta-Fitas, diz tudo o que é preciso dizer a Eduardo Pitta que, nestas matérias, deu em meter os pés pelas mãos por causa de um homem sem qualidades, literalmente falando e não literariamente. «Quando anunciou que se iria opor ao negócio, José Sócrates não invocou argumentos sólidos, mais que não fossem os argumentos que o fizeram defender a lei do pluralismo e da não concentração. José Sócrates disse apenas que não queria que desconfiassem dele e do governo. Isto, por si só, diz tudo.» É que «infelizmente agora, o tecto caiu», como escreve Vasco Pulido Valente. «Ao contrário de Soares, Sócrates falhou. A direita não lhe agradece o esforço; e o eleitorado do PS desapareceu. Em quatro anos quase toda a gente ficou pior. Para quê teimar», Eduardo?

DESFAZER MITOS


«- Pelo menos, se ganhar Lisboa, recebe a câmara saneada financeiramente por António Costa!

- É falsa essa ideia. Quando saí da autarquia, a dívida da câmara era de 956 milhões de euros. Neste momento, até 2008, aumentou mais 116 milhões e o investimento foi reduzido para metade em relação a 2007. Quando João Soares saiu da câmara, em 2001, o passivo era de 561 milhões de euros e quando eu saí tinha assumido 150 milhões da Parque Expo e mais 50 milhões do Casal Ventoso. A dívida da câmara não é minha, foi criada por uma campanha de mistificação em 2005. António Costa saneou-a financeiramente, qualquer presidente de câmara tem a obrigação de o fazer, tal como eu procurei fazer, só que as contas estão desequilibradas à partida porque tem uma estrutura de despesa muito rígida e as receitas baixaram muito. Até por força de algumas medidas de Manuela Ferreira Leite naquele período de crise, com o endividamento zero, que durante mais de um ano baixaram a receita. O problema é que neste momento António Costa já apresentou pedidos de empréstimo de mais de 250 milhões de euros.»


Pedro Santana Lopes. Entrevista ao DN.

UM GOVERNO QUE JÁ NÃO É DOS PORTUGUESES


«O governo, em especial Sócrates, tem uma fixação quase psicopática na TVI (e com o PÚBLICO). Jerónimo de Sousa definiu-a bem quinta-feira quando disse que Sócrates procurava fazer “um ajuste de contas” com José Eduardo Moniz. O Congresso do PS abriu e fechou com essa psicopatia, que é política, porque a linha editorial da TVI, ao mostrar como o “rei vai nu”, é fatal para um governo que vive da propaganda. No parlamento, na quarta-feira, Sócrates descaíra-se porque a obsessão foi mais forte que o controle dos nervos: centrou a questão na linha editorial da TVI e sugeriu que queria mudá-la. Há muitos outros sinais desta monomania com a TVI (e o PÚBLICO), como a prosa policial dum blogue deste governo (Câmara Corporativa). A Prisa esteve à beira de afastar Moniz por pressão do governo, quer quando comprou o canal quer durante esta semana. Não o fez agora porque houve uma fortíssima oposição política e da sociedade civil e porque esse servilismo contrariaria os seus interesses empresariais: estaria a provocar o fim da forte relação entre uma parte importante dos portugueses com a marca TVI. Se Moniz saísse por pressão política, seria o princípio do fim da TVI e da sua valorização bolsista. A Prisa teria mais a perder a prazo do que a ganhar. O “ajuste de contas” de Sócrates é revelador do desacerto a que chegou a acção governativa. As vantagens para Sócrates e o PS seriam nulas até Outubro, pois a reorientação da linha editorial não se faria num dia, mesmo que Moniz fosse afastado. Pelo contrário, os efeitos negativos viram-se de imediato: os portugueses ficaram furiosos com esta tentativa de intervenção, como se notou no forum Opinião Pública (SICN, 25.06) ou em caixas de comentários. Com esta e com outras evidentes desorientações, o executivo de Sócrates revelou que, se ainda tem a legitimidade política para se reclamar como Governo de Portugal, já não é o governo dos portugueses. As razões de mais esta tentativa frustrada de intervir na Media Capital são: a obsessão de Sócrates com a comunicação social e a propaganda; uma governação que vive dos eventos mediáticos, do palco, dos ecrãs; um afastamento tão grande da realidade que o governo já não prevê minimamente as consequências dos seus actos (outros exemplos: incapacidade de prever que perderia eleições, oposição generalizada no país às “grandes obras já”); a incapacidade dos dirigentes da PT de enfrentarem as loucuras dos governos, preferindo, para irem ficando, obedecer-lhes e tomar decisões erradas.E se essas são as razões concretas, a origem do problema é apenas uma: a golden share. Enquanto os governos puderem intervir, os governos intervirão. Aconteceu com o governo PSD de Santana Lopes, aconteceu agora com o PS, tinha acontecido antes com o governo PS de Guterres (em 2000 “ponderou” comprar a TVI à Media Capital através da PT). Com a golden share, o Governo pode intervir nos conteúdos. Se age como se sabe na RTP desde 1957 até 2009, fá-lo-á nos media que a PT controle. Daí que das duas uma: ou a PT não deve possuir órgãos de comunicação ou o governo não deve ter golden share. As duas em simultâneo é que não pode ser.»

Eduardo Cintra Torres, Público

O COVEIRO APOSENTA-SE


Por falar em função pública, recordei-me que, há uns tempos, na Fundação Gulbenkian, num seminário qualquer, o dr. João Figueiredo - o secretário de Estado da administração pública do admirável líder e responsável "material" por aberrações como o SIADAP, o novo regime de vínculos e carreiras da função pública ou os "disponíveis" - gabou-se das "reformas" gloriosas a que presidiu. Quando foi removido e substituído por uma pessoa improvável que pretende "trucidar" os funcionários que não "assimilem" as magníficas "reformas", Figueiredo regressou ao Tribunal de Contas (onde tinha o seu "vínculo") e, graças ao decurso do tempo (também andou por Macau, naturalmente), já se pode aposentar. Uma "aposentadoria" do Tribunal de Contas não equivale exactamente a um tipo aposentar-se como, por exemplo, coveiro de uma autarquia. Pelo contrário, Figueiredo, o coveiro da função pública (em sentido objectivo e subjectivo) é que sabe. Vejam lá se ele não sabe.

27.6.09

CONVERSA FRANCA? - 2

De alguma forma, o admirável líder já respondeu à "conversa franca". Participou em mais umas velhas "fronteiras" da "jota" onde prometeu extravagâncias como a «criação de cinco mil estágios profissionais por ano na Administração Pública, considerando que a promoção de estágios é também uma obrigação do Estado (li aqui).» . Como é que o homem que é responsável pelo maior apoucamento da função pública de que há memória vem agora, precisamente a três meses de eleições, defender isto? Conversa franca?

CONVERSA FRANCA?

A coisa começou pelo PS de Sócrates ter de falar com Alegre. Eventualmente coligar-se com Alegre. A coisa passou. Alegre passou até às presidenciais, segundo Louçã, e até "passou a perna" aos seus. Agora, após a derrota, os socialistas lúcidos e desconfiados sugerem uma conversa franca entre o PS e o próprio Sócrates. Como é que é possível uma conversa franca entre duas entidades quando uma delas tem uma relação tão comprovadamente complicada com a verdade?

GRANDEZA

28+51 MAIS O DR.LOUÇÃ


Depois dos "28", os "51", os "52" ou os "60" consoante a fonte. É um misto de brigada do reumático da esquerda "antiga" com a esquerda "moderna" do Holmes Place e do surf, com muito ISCTE à mistura e o dr. Louçã. Elegem o combate ao desemprego e o obreirismo (de obras, betão) "socrático" como a varinha mágica dos poderes públicos para a crise. Acusam os "28" de "posições político-ideológicas" (reaccionárias, suponho) como se as trivialidades que defendem não fossem outra coisa senão político-ideológicas. Destas múmias eternas, independentemente da idade, não há muito a esperar. O que vale é que ninguém lhes liga. O que são sessenta, setenta ou oitenta e tal almas para um país inerme e alheio a elites? Sobretudo a elites como estes "28" + "51" mais o dr. Louçã?

O CONSELHEIRO GRANADEIRO

Ainda hoje estou para saber como é que o sr. Granadeiro foi parar a chefe da Casa Civil do Presidente Eanes. Pode ser que Eanes me explique isso no livro de entrevistas que lhe quero fazer. Dito isto, Granadeiro, "conselheiro" privilegiado do admirável líder e presidente da PT, produz vinho no Alentejo. Dele. E até o quer exportar para os EUA segundo leio no rodapé de um telejornal. O que é que isto nos interessa?

MANIFESTAÇÕES "CULTURAIS" DA UNIÃO NACIONAL


A UNIÃO NACIONAL


Reparem nos "independentes do PSD" - é o título sui generis do "Diário de Notícias" que, julgo, ainda não é a "Acção Socialista" - com quem Sócrates conta como "grupo de reflexão": José Miguel Júdice, mandatário de António Costa em Lisboa e, de há muito, "socrático" convicto que só amuou por causa do Porto de Lisboa, o Mexia da EDP, o Carrapatoso da Vodafone e, last but not the least, o presidente da PT, o sr. Granadeiro, com quem aparentemente só fala de pastéis de bacalhau. Já nas velhas "Novas Fronteiras" (informa o mesmo jornal) vão aparecer "esquerdinos" alegadamente convictos e "cultos" como o blogger João Galamba que escreve com a D. Câncio ou uma tal Patrocínio, das revistas cor-de-rosa. A "união nacional" - a dos interesses - promete.

DEUS O GUARDE

Logo a seguir apareceu o novo Vitalino a explicar ao país por que é que não se deve votar no PS no dia 27 de Setembro. Até se lembrou da classe média, algo que, com método e precisão cirúrgica, a coisa de que ele é porta-voz tem vindo a destruir. Deus o guarde.

DIA 27 DE SETEMBRO, NO PAÍS


Só uma nota. O país dispensa criaturas como Aguiar-Branco que aparece sempre como o Vitalino do PSD.

NÓS, DESCONFIADOS


Hoje, na revista Nós do "i", um texto sobre nós, portugueses, enquanto desconfiados. «Não dar as costas à porta.»

26.6.09

AOS POUCOS



Paulo Tunhas fala em nave de loucos a propósito das reviravoltas governamentais em torno do "negócio" da semana que, afinal, já vinha de Janeiro. É mais um upgrade naquela relação difícil com a verdade que, aos poucos, o país vai conhecendo. Resta saber - com os calores e coisas do género - se está mesmo interessado em conhecer. Como diziam os anarquistas, os que obedecem mantêm os que mandam.

VIVER DE QUÊ?

«Este país vai viver de TGV's e de Ronaldos...?», pergunta Medina Carreira diante de Mário Crespo. E define bem os "comentadores": «conversa de café, de taberna... nem sei se é de Júlio de Matos.»

DIA 11 DE OUTUBRO, EM LISBOA

DO DOSSIÊ FLAMINGO AO DOSSIÊ "ROQUE SANTEIRO"


«O Secretário de Estado de então, com competências delegadas, foi chamado como testemunha. Contudo, de acordo com o que se sabe e fazendo fé nas palavras do Primeiro Ministro, foi o próprio José Sócrates que, enquanto ministro e após telefonema do seu tio, participou na gestão deste processo. Por que é que ainda não terá sido ouvido como testemunha?» (Tiago Mota Saraiva, 5dias)

O PRETTY BOY NO SEU LABIRINTO

Não há outra maneira de dizer isto. Cavaco e Ferreira Leite obrigaram o admirável líder a "recordar-se" da "golden share" do Estado na PT. Manso, Sócrates deu o dito por não dito, o que lhe deve ter custado uns quantos cigarros fumados às escondidas. Segue-se aparentemente a Cofina. Mas isso são outros negócios.

RAPAR O TACHO

O "centrão" foi ao respectivo baú buscar o venerando Alfredo de Sousa - que antecedeu Oliveira Martins no Tribunal de Contas - para Provedor de Justiça. O homem, como lhe compete, é daquelas pessoas que não aquecem nem arrefecem. Não se distinguiu particularmente nas funções anteriores que desempenhou como um mediano funcionário público. Calhou-lhe este regime como lhe podia ter calhado outro qualquer. O "consenso" provoca situações e pessoas destas. Jorge Miranda ou Maria da Glória Garcia eram, sem malícia, bem melhores do que Alfredo de Sousa. É nestas coisas que os partidos do "rotativismo" se perdem. Se eu fosse deputado, no dia da votação ia para a praia.

DOS PROBLEMAS

Dá-me ideia que "o problema" é mais teu do que de Manuela. É mesmo (e o mesmo) velho problema "contra" Manuela a que, pelos vistos, o eleitorado que votou a 7 de Junho não ligou pevide. Um dos cursos de Foucault no Collège de France é dedicado à biopolítica. Como então se estava ainda longe de tanta tagarelice "liberal" e como o curso permanece tão verdadeiro. Aquilo é que era, na verdadeira acepção da palavra, problema algo que é sempre mais relevante do que a resposta. O resto são tretas de circunstância.

O FRACASSO ESSENCIAL


«As classes médias, que já não precisavam de poupar para a velhice e para a doença, ou para a instrução dos filhos, ficavam com um rendimento disponível, que, como é natural, usaram para "consumir" o que julgavam que a "Europa" consumia. Infelizmente, pouco a pouco a situação mudou ou, se quiserem, a sua intrínseca fraqueza (a penúria atávica de Portugal) acabou por se revelar. Hoje o desemprego aumenta dia a dia; Sócrates limitou e reduziu as pensões de reforma; os serviços de saúde (subfinanciados) não conseguem tratar em tempo útil uma parte considerável da população; e o ensino não passa de uma fraude irreformável e caríssima. Pior ainda, e antes de mais nada, o fisco é hoje pura e simplesmente punitivo. O Estado não cumpriu o contrato com as classes médias, que vinha do princípio da democracia. Votar em Sócrates, como por aí se aconselha, não esconde, ou alivia, esse fracasso essencial.»

Vasco Pulido Valente, Público

A DERROTA DO PENSAMENTO



As televisões e o resto na morte de Michael Jackson. We are the world, we are the children.

25.6.09

FOUCAULT OU O OLHAR RETROSPECTIVO SOBRE A VIDA

Falhou, por manifesta falta de comparência dos leitores (com uma honrosa excepção), a minha "ideia" de celebrar Foucault. O que me leva a perguntar se vale a pena comemorar Foucault, vinte e cinco anos após a sua morte. Maurice Blanchot chamava-lhe «um homem em perigo» e um «solitário». Perigo, enquanto homem Michel Foucault, o "amigo que (anos mais tarde) não me (a Hervé Guibert) salvou a vida". Perigo enquanto filósofo ocupado com o "cuidado de si", a única verdadeira preocupação da filosofia: cura sui ou epimeleïa heautou. Com os "discursos verdadeiros" e "racionais", os logoï : «são eles que nos permitem enfrentar o real.» Homens assim estão permanentemente na sombra da vida e da morte, iluminando-as. Não são, pela natureza deles e pela nossa, comemoráveis. Os cerca de doze anos de cursos (a "história dos sistemas de pensamento") no Collège de France constituem o Foucault essencial. A primeira lição, proferida a 2 de Dezembro de 1970, já introduz o "solitário homem em perigo". Foucault disse aí aos seus alunos que gostaria de se «insinuar subrepticiamente no discurso» que ia proferir naquele dia «e nos que deverei pronunciar aqui talvez durante dez anos.» Foram mais dois. A doença não lhe permitiu muito mais. Depois de escritos alguns dos mais tortuosos (porque geniais) parágrafos da sua (nossa?) filosofia, Foucault largava tudo para entrar perigosamente na "noite do mundo". O Outro, afinal, era um simples outro qualquer, a vida e morte juntas num só enunciado. «O que constitui o valor particular da meditação sobre a morte não é somente que ela antecipa aquilo que a opinião, em geral, representa como a maior das desgraças. Não é somente por permitir que nos convençamos que a morte não é um mal. É que ela oferece a possibilidade de lançar, digamos, por antecipação, um olhar retrospectivo sobre a própria vida.»

O QUE AQUILO NÃO É

João Cravinho - imagino que não seja conselheiro de Cavaco ou de Ferreira Leite - explicou tranquilamente a Mário Crespo por que é que não é possível haver um negócio com a dimensão do anunciado entre a Media Capital e a PT sem o consentimento (e muito menos a ignorância) de um accionista golden share com a natureza do Estado. Ou seja, se Sócrates, Lino e Silva Pereira ignoram o que, pelos estatutos da PT, deviam saber, resta-lhes tirar as devidas ilações, em assembleia geral da PT, relativamente à sua presidência. É que negócio entre "privados" é que aquilo não é.

Adenda: João Soares - um homem estimável mas politicamente imbecil - louvou-se neste post do Tomás Vasques para, diante do mesmo Mário Crespo, atacar o Chefe de Estado por se "meter em negócios privados". Crespo devia tê-lo virado para a parede, com umas orelhas de burro, e colocá-lo a ver e a ouvir a fala de Cravinho pelo menos umas trinta vezes.

Adenda2: O José Medeiros Ferreira, sempre sibilino e enigmático, coloca questões interessantes:«Afinal, entre os accionistas, quem estimula a PT a entrar e a sair dos «negócios» da comunicação e dos «conteúdos»? Só os efémeros tuteladores da «golden share»? Não haverá por aí outros agentes da compra e venda? Neste caso com a aparência de um favor a José Sócrates ?» Aparência ou realidade, pergunto eu? Mesmo assim, e como são toscos, se calhar vão ter de "engolir" o Moniz...

OS ANOS PS


Sessenta e um milhões de euros dos contribuintes já foram enfiados na "fundação" do eng. º Lino. Recordo-me que, em 2001, mais ou menos por esta altura, investigava-se a "fundação para a prevenção e segurança", uma invenção de ilustres membros do governo de Guterres. E também me recordo que, em 16 de Dezembro do mesmo ano, o mencionado Guterres descobriu que tinha atolado o país num pântano do qual ele, muito apropriadamente, fugiu nessa mesma noite. O resto é conhecido.

COSA NOSTRA

A PT, a EDP ou a GALP são exemplos de empresas que vivem paredes-meias com o Estado, com os governos e com partidos do governo. Servem de placa giratória para o pessoal do regime quando não está entretido no pastoreio da pátria. E servem o regime e os governos de circunstância. Anda bem o Chefe de Estado quando exige à PT - essa galáxia misteriosa que assume várias encarnações e aliados consoante os tempos e a economia - que esclareça o país acerca do alegado negócio com a Media Capital/TVI. Só um governo em fim de festa, desgastado e desgraçado, se pode dar ao luxo desta peripécia ad hominem. Na resposta que deu no Parlamento à interpelação de Diogo Feio, o admirável líder - cuja habilidade linguística não é assim tão famosa quando se irrita e esse é o seu estado "normal" - traiu-se na resposta. Ele pretende mesmo interferir na direcção editorial da TVI. Não é o CDS que está interessado nela. Andam aí uns quantos bloggers socialistas, esquerdóides e aparentados preocupados com o Irão e que não largam o Twitter, nem na sanita, por causa disso. Eu também estou incomodado mas todos os dias morrem centenas de crianças em África, com fome e SIDA, e não vejo ninguém com o Twitter ou o raio que os parta apontado para lá. Que tal olharem um pouco mais para as nossas coisas ou, como diria o outro, para a cosa nostra?

ENTENDIDOS?


Não gosto de trazer aqui saberes profissionais. Porém, desde ontem à noite que vários comentadores "especializados" em tudo e em nada atiram para cima de Manuela Ferreira Leite - a então ministra das finanças - a criação do chamado pagamento especial por conta. Saibam, pois, esses comentadores que o dito cujo foi introduzido na ordem jurídica portuguesa pelo Decreto-Lei nº 44/98, de 3 de Março (Guterres/Sousa Franco), com efeitos retroactivos a 1 de Janeiro de 1998, para possibilitar preencher os famosos "critérios de convergência" que nos conduziriam à zona "euro" e à moeda única. Os MF' s subsequentes limitaram-se a alterar os montantes e outros pormenores no pagamento especial por conta. Ferreira Leite, por exemplo, aumentou esses montantes em 2003 mas reduziu-os no orçamento seguinte. Entendidos?

FORA DE JOGO

Jorge Miranda é um homem de bem. Não estava a fazer nada num jogo de imbecis.

UMA QUESTÃO DE TEMPO


Mário Lino começou por não saber do que é que Rangel falava, algo sediado no 41 da Defensores de Chaves, em Lisboa. Depois, na televisão, já "explicou" para o que é que alegadamente servia a "fundação para as comunicações móveis". Qualquer coisa ligada à "e@escola" ou "e@escolinha" como se fossemos todos parvos. Lino nem tem sequer por que se queixar. O último governante do PS que se lembrou de criar uma "fundação" é hoje um luzidio gestor bancário. E a história ocorre primeiro como tragédia e repete-se como comédia, algo que, por acaso, assenta bem em Lino. É só uma questão de tempo, sr. eng.º.

FOUCAULT, 25 ANOS APÓS A SUA MORTE

FOUCAULT, 25 ANOS APÓS A SUA MORTE


«O Orientalismo romântico de Foucault», podia muito bem ser o título deste livro, que coloca, a partir de uma perspectiva feminista e de esquerda, questões profundas e particularmente incómodas sobre o pensamento de Foucault e a sua crítica enviesada da modernidade. Sendo um dos autores canónicos do actual pós-modernismo nas Ciências Sociais e Humanas, o assunto é tanto mais curioso quanto Michel Foucault ganhou fama pela sua «filosofia da suspeição» e pela «desconstrução» das grandes narrativas e utopias ocidentais. Ironicamente, Foucault, o «desconstrutor» e «genealogista», afinal também tinha a sua utopia romântica. Qual era? Vejamos os acontecimentos. Com o início da revolução iraniana, Foucault decidiu visitar o Irão para assistir ao desenrolar desta, que foi objecto do seu particular interesse e entusiasmo como intelectual «engagé». Na sua deslocação ao Irão assumiu um papel de jornalista de investigação, funcionando como correspondente especial do jornal italiano «Corriere della sera». Publicou também algumas das suas peças jornalísticas na imprensa francesa, nomeadamente no jornal «Le Monde» e na revista «Nouvel Observateur». Nesses textos, Foucault retratou de forma quase entusiástica o movimento islamista iraniano liderado pelo Ayatollah Ruhollah Khomeini, vendo-o como uma nova forma de «vontade política», perfeitamente unificada, que abria «uma dimensão espiritual na política». Isto, em contraste com as «cruéis, selvagens, egoístas, desonestas e opressivas sociedades» criadas pelo moderno capitalismo liberal. Como realçam Janet Afary e Kevin B. Anderson, uma ilação profunda resulta do episódio iraniano de Foucault e não está apenas relacionada com este pensador. A ilação é particularmente importante para a actualidade e está relacionada com o fenómeno geral do «fundamentalismo religioso», mostrando a existência de um bloqueio intelectual que afecta várias correntes da esquerda política, impedindo uma resposta adequada a este.»

José Pedro Teixeira Fernandes

24.6.09

SFF OU OUTRA FPS?

O pedido de um socialista livre. Talvez aqui o João saiba qualquer coisinha (a senhora da foto é a presidente da "fundação para as comunicações móveis"?)

QUERIDAS TELEVISÕES

É tão divertido ouvir o Ricardo Costa, da SIC, a defender a TVI contra o negócio da PT junto da Prisa/Media Capital. Aquele que Sócrates, o dono da "golden share" da dita PT - e o subsub-Sócrates Silveira -, jura ignorar.

Adenda: «Como não há economista credível que apoie a diatribe insana de Sócrates, no debate das 23h00 metem lá o ministro SS. Pobres, pobrezinhos, são estes de espírito e também materialmente o país se estes caciqueiros marquetistas por lá continuarem.» (do leitor Nuno Lebreiro)

O NOVO VITALINO

O betinho João Tiago Silveira, o novo "Vitalino" do PS, é, afinal, mais do mesmo. Nada.

A PRÓPRIA


Na sexta-feira que antecedeu as eleições europeias, disse aqui que «a presidente do PSD disputa, não um mero resultado "honroso", mas a vitória taco-a-taco com o PS, o dono e senhor absoluto do país e do Estado.» Quando, dois dias depois, Manuela Ferreira Leite ganhou efectivamente as eleições europeias recordei que «esquadrões de adversários, internos e externos, fizeram tudo para a apoucar, para a reduzir a pouco mais do que nada, para fingir que ela não existia.» Existia e «também Manuela Ferreira Leite percebeu que existe e que, finalmente, provou isso a si mesma.» Depois da entrevista a Ana Lourenço a presidente do PSD evidenciou que é a única alternativa credível e séria ao embuste que Sócrates representa. Não disse mal por dizer e até elogiou o que pode ser elogiado. Chama-se a isso sentido de responsabilidade contra o mero sentido da imagem em vigor. Já fazia falta alguma autenticidade à política portuguesa, isto é, uma relação não difícil com a verdade. Por consequência, não foi uma "nova" Manuela Ferreira Leite que apareceu na SIC. Foi a própria.

ACORDAI



Por falar em postos de trabalho, a cada dia e hora que passam há mais desempregados, mais empresas a recorrer ao lay off, mais dispensas de trabalhadores temporários, mais (diriam os liberais da Farinha Amparo) "mercado" a funcionar como se houvesse um mercado a sério em Portugal. Apetece voltar ao Pedro V (ou à Católica... sim, no coro da Católica cantava-se Lopes Graça) e cantar a canção do clip.

A BARRICADA


Foi o "animal feroz" de antes de 7 de Junho que respondeu a questões dos deputados sobre a TVI e a alegada entrada de capital da PT na mesma. Sócrates - e o ministro S. S. por maioria de razão - não sabe nada. Aquela candidatura frustrada do director-geral da TVI à presidência do clube do sr. Vieira não caiu do céu. Moniz prepara (mais) uma barricada. A ver vamos se é em Queluz.

ESTÁ CERTO


O comendador Berardo e o seu director artístico estão muito satisfeitos com o "sucesso" do Museu no CCB. O CCB, recorda-se, é um equipamento público que foi ocupado pelo senhor comendador, com a benção do líder supremo, acto aliás testemunhado por dois notários ilustres, a então ministra da cultura Pires de Lima e o insigne Mega Ferreira. Aos poucos, o senhor comendador foi fazendo do Museu - e do CCB que o acolheu - o que quis, mantendo aquele espaço cativo da sua colecção da qual foi retirando subtilmente uma peça aqui e outra acolá para exposições lá fora. No fundo, o CCB é o armazém do senhor comendador. Muita gente que não consegue distinguir um Matisse de um Balthus acorreu ao armazém para se lavar, durante breves instantes, em cultura. As borlas também ajudaram. Não admira, pois, que o director artístico do senhor comendador fale em «procurar o equilíbrio entre o grande público e o mais experimental.» O armazém em que se tornou o CCB - presidido ficticiamente pelo enorme Mega - é a nova feira popular. O senhor comendador fornece as barraquinhas de tiro, o carroussel e o trapézio. Ou seja, o «equilíbrio entre o grande público e o mais experimental.» Está certo.

DO COMENTÁRIO ENQUANTO FICÇÃO


Dá-me ideia, por alguns comentários já produzidos a propósito de Foucault, que o respeitável público (como se diz no circo) não percebeu o objectivo da coisa. O que não deixa de ser revelador. Uns porque não o percebem, outros porque não o querem perceber e alguns porque reduzem um dos maiores pensadores do século XX à sua vida privada. A dada altura, Foucault interrogou-se sobre se a sua obra não passaria de ficção. Mas depois explicou o que quis dizer com isso. Vá lá, cresçam.
Adenda: A coisa é mais grave do que eu previa embora me ria bastante (para dentro, claro). Não, esta questão da ficção é mesmo do Foucault (há quem tenha dito o mesmo de Heidegger pois o analfabetismo funcional está perfeitamente globalizado). Quanto às alusões ao "Pêndulo" - uma obra de ficção de Umberto Eco - apenas recordo o nome de um físico chamado Léon... Foucault. Parece que saíram todos do piquenique Tony Carreira/António Costa/Zé. Por amor de Deus.

AGENDAS

Faz sentido o Presidente da República marcar dois actos eleitorais com uma ou duas semanas de intervalo? A primeira (e única) AD ganhou as "intercalares" de 2 de Dezembro de 1979 e, menos de quinze dias depois, as autárquicas desse mesmo ano. Só que, como o nome indica, as primeiras não estavam previstas. Tanto mais que, menos de um ano depois, realizaram-se as "legislativas" de acordo com o calendário constitucional em vigor. No actual "estado da arte" vale a pena andar em fandangos consecutivos ou as elites duvidam da capacidade do "povo" em distinguir o sentido de cada voto?

«CUMPRIR CALENDÁRIO»


O processo"Casa Pia" - que é uma espécie de telenovela mexicana cuja verdadeira "trama" nunca será conhecida - realiza uma sessão fantasma do respectivo julgamento para "cumprir calendário". Quilos de papéis, de "provas", mais de quinhentas testemunhas, não sei quantos arguidos e proto-arguidos, a mudança abrupta de uma liderança partidária, dezenas e dezenas de sessões disto e daquilo e, afinal, um momento virtual para "cumprir calendário". Quando estudei direito, ensinaram-me que os tribunais administravam a justiça Agora "administram calendários". Com o sucesso que se vê, aliás. Ninguém se envergonha?

A DERROTA DA HIPOCRISIA


«Da burca e dos calções curtos», do Miguel Castelo-Branco. Para ler com atenção da primeira à última linha. Sobretudo os tagarelas do costume e dos costumes.

23.6.09

ELOGIO DO PASSEIO PÚBLICO


Não é todos os dias que este blogue é presenteado com um comentário de um escritor português contemporâneo. Pois a Filipa Martins - bonita que é, a nossa Filipa - concedeu-me o privilégio de umas linhas. O PPC das linhas da Filipa é Pedro Passos Coelho. Mas a Filipa, felizmente, é mais do que PPC. Sobre todos os aspectos. Tem a coragem de escrever livros num país em que os livros e a literatura são normalmente maltratados. Só por isso vai um beijinho e um muito português «desculpa qualquer coisinha». Porquê? Porque a Filipa revelou a sua maturidade ao aceitar, sem acrimónia e assinando por baixo, uma pequena polémica. Aprendam, anónimos. Querem melhor «elogio do passeio público» que é o que um blogue deve ser?

«Olá, João

Desde a última vez que tive o prazer de falar contigo pessoalmente no programa do Pedro Rolo Duarte. Antes de mais os meus parabéns pela publicação do blog em livro. Apenas um comentário ao teu post, que respeito, no que se refere a mim. Trata-se de uma questão de datas. Fui Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores em 2005 - um pouco antes da candidatura do PPC à liderança do PSD -, como tal torna-se complicado que ele me tenha produzido enquanto escritora...isto se acharmos possível que os escritores sejam produzidos por candidatos. De resto, fora as imprecisões, são opiniões que me escuso a comentar.

Espero que estejas bem.
Filipa Martins»

É A VIDA

O Tribunal de Contas do dr. Oliveira Martins "chumbou" as contas de um mandato camarário de Santana Lopes. Outras de Carmona. E já tinha feito o mesmo às de 2001, do Joãozinho. O TC é muito cioso destas coisas de se preterir concursos públicos e de se recorrer a permutas ou a ajustes directos. Não lhe vai faltar trabalho sobre esta legislatura. Santana entretanto pediu exame às contas de 2006 a 2008. Quando tive responsabilidades na gestão de um organismo público, em 2002, solicitei uma auditoria ao TC relativa ao triénio anterior. Que eu saiba, até hoje o TC nunca lá entrou. Passaram sete anos. É a vida.

É DIFÍCIL?

Dá-me vontade de fazer isto quando leio as baboseiras dos "passo- coelhistas". Não tanto pelas baboseiras em si - todos temos o direito a fazer de idiotas úteis - mas porque têm por objecto esse desvelo (desculpem o termo) cretino por alguém cuja cabeça é, pelo menos para mim, um mistério. O resto não é mistério nenhum. Basta estar atento a Ângelo Correia e a uma ou outra imitação do sr. Carrapatoso. É neles que reside Passos Coelho. Passos Coelho é o mero "homem de palha" que eles quiserem que ele seja. E eles querem que ele forneça lugares. Uma quota política. Se ele não o conseguir, mudam para outro Passos Coelho qualquer. Tal como os idiotas úteis. É difícil de entender?
(Foto gentilmente cedida pela Carla)

NÃO HÁ OUTRO


Com os calores, os bronzeadores, os assadores, os Ronaldos, as Ronaldas e outras infantilidades ao serviço de mentecaptização progressiva dos indígenas, com o egoísmo feroz, com a solidão disfarçada em alegrias fugazes e anónimas da madrugada, esquecemos o essencial. No Evangelho de hoje, a palavra do Senhor recomenda que entremos pela porta estreita. "Entrai pela porta estreita", ou seja, não escolham o espaçoso do fácil e do imediato. "Eu sou o caminho", dirá através de João. É estreito, sim. Mas não há outro.

COMO VOCÊS O IMAGINAM

Ao Foucault. Não se esqueçam do desafio. Os leitores a sério. Não os farsantes. A vida não é só (ou sobretudo) os videirinhos que enchem os posts do Portugal dos Pequeninos. Blanchot escrevia - dele? de Foucault? de nós? - que «ninguém gosta de se reconhecer, estranho, num espelho onde não distingue o seu duplo, mas aquele que gostaria de ter sido.»

A FICÇÃO DEMOCRÁTICA


«No meio da hecatombe, salva-se naturalmente o PS: o PS que quer ter uma palavra a dizer sobre o novo programa do dr. Vitorino, o PS que vai finalmente ser ouvido, o PS que já, na última Comissão Política, conseguiu debitar umas opiniões perante a complacência do chefe. Infelizmente, esse PS, com que sonha agora o PS, deixou pura e simplesmente de existir: neste últimos quatro anos, transformou-se numa mera caixa de ressonância do Governo, onde predominam Lelos e companhia, incapaz de transmitir qualquer sinal exterior de inteligência política. Resta, portanto, por muito que isso custe a algumas sibilas retroactivas, o eng. Sócrates e a sombra dos seus ministros. Com mais ou menos simpatias, com mais ou menos sorrisos, é ele que irá a votos nas próximas legislativas. Não o PS, essa ficção democrática que, com ele, deixou de existir. E, sem ele, pagará caro o facto de não ter existido.»

Constança Cunha e Sá, Correio da Manhã

JOGOS DE CADEIRA


O "jovem" Passos Coelho - o mais recente deslumbramento dos nossos liberais da farinha Amparo e que até produziu uma "escritora" - fez o enorme favor ao país de aparecer no conselho nacional do PSD. Porquê? Porque se aproxima o sublime momento da constituição das listas de candidatos a deputados. Ele bem babujou no final qualquer coisa sobre "rumos" e "diferenças". Todavia, no fundo, o que lhe interessa mesmo - e a outros que tais - são lugares para os apaniguados. Afinal, para que é que serviram anos e anos de "jota"? E para que é que servem as "jotas" senão para jogos de cadeira?

COMO VOCÊS O IMAGINAM


Na próxima quinta-feira, 25 de Junho, passam vinte e cinco anos sobre a morte de Michel Foucault. Reservo para esse dia a minha opinião. Porém, lanço um desafio aos leitores que leram, leiam, conhecem, gostam, odeiam ou outra coisa qualquer Foucault. Enviem para aqui (joaogoncalv@gmail.com) uns "posts" originais devidamente assinados sobre o dito cujo, até amanhã à meia-noite, para serem publicados no dia seguinte. Puxem pelo bestunto que era coisa que sobrava em Foucault. E sempre nos aliviamos "disto" por um dia.

FINALMENTE...

De acordo.

22.6.09

E NÃO SE PODE SUBMERGI-LOS?


Passo na RTP e vejo a inevitável Fátima das segundas-feiras enfiada numa gruta numa espécie de "novas fronteiras" dedicadas ao turismo. E apanhei um tal Seruca, autarca, a elogiar o "Allgarve" e o dr. Pinho diante dele. De Pinho propriamente dito. "Espectacular", babou-se o tal de Seruca para cima do hotel que o Júdice Júnior (também lá está, porque quer fazer um "hotel de gelo...") pretende construir na referida gruta. A Fátima, coitada, quer apenas "criar emoções", "subir a saia". Tenham medo. Muito medo. Eles (e elas) existem e garantem-nos que a gruta do "Allgarve" é o lugar mais seguro do mundo. Por que é que não ficam todos por lá?

GRANDEZA



Herbert von Karajan dirige os 3º e 4º andamentos da 5ª Sinfonia de Beethoven. 1966

SAUDADES DE CARRILHO


Com a sopa na mão, oiço José António Pinto Ribeiro a ser entrevistado por Mário Crespo. Quase ninguém dá por isso, mas o advogado é o ministro da cultura de Sócrates. Não é do país. É de Sócrates, o que é uma nuance relevante. Faz análise política e fala de "censura" ao governo em que ele participa como figurante evanescente. Defende a declaração extemporânea do 1º ministro sobre a falta de investimento na cultura. Pediu a alguém que fizesse um "levantamento" para o MC em regime de outsourcing para "apurar" o que deve e não deve ser considerado "indústria cultural". Quer, portanto, transformar o "ruído em saber". Quer "criatividade" e dotar as pessoas com os "instrumentos". Nem o pobre do Sena deixou de convocar já que "o trouxe para cá" (sic). Quanto a poder, a criatura revela que não teve muito tempo para o "conquistar" apesar dos colos que lhe deram em tudo o que é jornal "situacionista". Vai "globalizar" 242 jovens não sei bem para quê. Se forem sensatos, não voltarão, naturalmente. Porque ele quer que eles regressem para "contaminarem" (sic) mais uns quantos. Ribeiro "percebe" que existem muitos "doutores" mas que há "espaço" para outros "saberes". O "mais com menos", afinal, era fazer coisas mais "contaminantes" e formar "públicos", um desastroso lugar comum sem qualquer sentido. Também aprendeu a conversa dos "saldos" e da "flexibilidade" e está muito satisfeito com a sua extraordinária execução orçamental que deu em pouco mais que nada. Sobre o Museu dos Coches houve "várias e plurais decisões do governo". Não explicou se, por serem "várias e plurais", são coerentes. Nem interessa. Um "Museu da Viagem"? A "língua", claro, a colecção Berardo deste ministro, o seu pechisbeque do Ermitage. A sua língua de pau. Há "fundo" para o dito Museu. Ele ainda vai fazer um "concurso de ideias" para o Museu de Arqueologia. Olhe, dr. Ribeiro, eu dou-lhe já uma. Dedique-se ao teatro de rua. Que saudades de Carrilho.

Adenda: Um leitor recordou-me a improvável entrevista do actual director artístico do São Carlos, o sr. Dammann, ao Expresso. Apesar de a escolha do sr. Dammann preceder Pinto Ribeiro, a sua manutenção é da responsabilidade de Pinto Ribeiro. Se quiserem um monumento vivo aos quatro anos de MC de Sócrates, não percam o sr. Dammann. Até toca piano e canta...

A SOMBRA DE SARAMAGO


No Diário de Notícias escrevem, pelo menos, umas quatro ou cinco pessoas que conheço. Algumas há muitos anos e em "áreas" diferentes. Outras mais recentemente. E outras que deixaram de me conhecer. Todas, porém, formas de vida inteligente. Eu próprio fui convidado, pro bono, a escrever lá por alturas da campanha sobre a interrupção voluntária da gravidez. Fi-lo com todo o gosto mesmo sabendo que ia perder. Esses textos saíram aqui. Registo que, passados mais de quinze dias sobre o lançamento do livro aí à direita, nem uma linha lhe foi dedicada nem que fosse para dizer mal. É evidente que este blogue não se caracteriza pelo temor reverencial pela opinião que se publica. Muito menos pelo que o actual DN publica. Situacionismo? Não sei. Todavia, tudo indica que a sombra de Saramago ainda vagueia por ali.

OS RAPAZES DE COSTA

Pacheco Pereira só se esqueceu de mencionar que o seu colega de Quadratura - o Costa de Lisboa e "aspirante" ao lugar de Sócrates cujo principal ódio de estimação interna se chama António José Seguro - é o "paizinho" espiritual do novo porta-voz do PS, o betinho Tiago Silveira. Foi ele que o levou para as lides e para os gabinetes tal como, no passado, foi ele quem apresentou Silva Pereira a Sócrates para o coadjuvar, como jurista, nas pastas por onde passou no tempo de Guterres. Pereira, militante com menos de nove anos no PS, já "vai" em ministro da Presidência. Quando Sócrates estiver esgotado, estes homens de mão de Costa (como Perestrello, o da "máquina") ficam. Com ele, naturalmente.

KIM-IL-INGRATO

«A cena começou com a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, estendeu-se às grandes obras públicas do regime, na pessoa do impagável ministro Mário Lino, e ameaça estender-se ao odiado ministro Jaime Silva, da Agricultura. Com uma máquina calculadora na mão, o ainda presidente do Conselho deste sítio cada vez mais mal frequentado ataca sem qualquer pudor as reformas que defendeu ferozmente no passado. Quando veio a público afirmar que a contestada avaliação dos professores era, afinal, tão exigente, tão complexa e tão burocrática, está tudo dito sobre a falta de vergonha de um senhor que não olha a meios para atingir os fins. A partir de agora, o senhor presidente do Conselho vai fazer tudo para salvar a sua pele. E vai, um a um, sacrificar em público os ministros que andaram quatro anos a dar o corpo ao manifesto pelas suas políticas, pelas suas reformas, pela sua arrogância, pela sua propaganda e pelas suas mentiras eleitorais.»

UM PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO

O Provedor de Justiça acusou o Banco de Portugal de ter "um problema de comunicação" com outras instituições, designadamente com ele. Colabora pouco, diz o Provedor. Sucede que o BP, na extraordinária e também admirável pessoa do dr. Constâncio, só faz o que lhe dá na telha. E só diz o que lhe apetece. Tem-se visto, aliás. Não tenho dúvidas que o dr. Constâncio, não fosse dar-se o caso de estar (ainda) onde está, também assinaria o "manifesto dos vinte e oito". Constâncio tem-se em muito boa conta. E, praticamente, só conta com ele e considera dispensável "comunicar" seja com quem for. O país é que não tem nada com isso. O país dispensa perfeitamente Constâncio.

21.6.09

UM SINAL


Quando ouvi a declaração de Moniz (sobre a presidência do Benfica), recordei as primeiras investidas de Manuel Alegre para Belém. Parecia que a meio avançava e, por fim, desistia. Acabou, todavia, por avançar. Perdeu e voltou para o seu lugar de deputado e de vice-presidente do "Solene Congresso". Ora se calhar Moniz não tinha a mesma certeza de, perdendo, poder manter-se como director-geral da TVI. Seja como for, ficou o sinal. Moniz já está a prazo em Queluz. Em televisão, o que parece é.

A CAIXA DE PANDORA


«Estiveram à espera que o PS perdesse umas eleições para falar», escreve, com propósito, o Jorge Ferreira sobre o "manifesto dos vinte e oito". É que, se atentarmos bem na coisa, estão lá alguns dos que opinaram junto de Sampaio que Santana Lopes devia suceder a Barroso - sem votinhos do povo por causa da "economia" e da "estabilidade" -, outros (os mesmos) que a seguir imploraram ao resoluto Sampaio que expulsasse Lopes por causa da "estabilidade" e da "economia" e, finalmente, outros (porventura sempre os mesmos) que, nos primeiros tempos de Sócrates, tornaram imediatamente admirável, "reformista" e "corajoso" o nosso homem de Vilar de Maçada. Também, claro está, em nome da "economia" e da "estabilidade". Impressionaram-se, então, com a "determinação" da criatura e, na sua imensa vacuidade política e em nome da "decência", supuseram que Sócrates era melhor do que qualquer direita. Levaram quatro anos a perceber que, afinal, a caixa de Pandora estava vazia. Em 1928, ainda houve um jurista, especialista em direito fiscal e orçamental, que percebeu imediatamente o "sistema". Nesta nossa actual elite tão incensada e tão cheia de diversificada "massa crítica" - e por mais que puxe da lanterna como Diógenes - não enxergo um.

FALTA DE UM LADO E SOBRA NO OUTRO

Não se esqueçam de votar neles. E não é aos poucos e poucos. É muito. E, sobretudo, é muita falta de vergonha.

ATÉ O TONY


Disseram-me que o antigo "Zé que faz falta", o Fernandes do Costa, mais o dito Costa, António, incumbente da CML e palrador num programa de comentário político na SIC- Notícias, andaram a mostrar-se num piquenique qualquer organizado pelos supermercados Modelo e em que a "estrela" - para além daquele dueto da corda - era o "nosso" Tony Carreira. Isto passou-se em Lisboa, na mesma Lisboa onde o dueto espera ser reeleito nas autárquicas deste ano. Serve tudo. Até o Tony e os "preços do Modelo".

DE KIM-IL-SÓCRATES A KIM-IL-BAMBI


Depois das cadeiras vazias do Altis, as cadeiras cheias das velhas "novas fronteiras". Com os mesmos dependentes e os mesmos figurantes. E o mesmo-que-é-outro admirável líder a jurar que não é a gata borralheira. Pelo contrário, lá onde outros vêem arrogância, ele vê compreensão e amor. Lá onde as más línguas revelam um provincianismo táctico indisfarçável, ele aposta numa "coligação com o país". Não sei se gosto mais do Kim-Il-Sócrates se deste Kim-Il-Bambi. Na dúvida não suporto nenhum. Ou como, escreve o António Barreto, «é difícil que a democracia, em Portugal, conviva com a seriedade.»Vai dar ao mesmo.

AINDA SENA


Perguntam-me pelo "discurso da Guarda" de Jorge de Sena. Está - pelo menos é onde o tenho - num dos dois livros (o tomo II) do autor intitulados Trinta Anos de Camões, das Edições 70. Se não erro, a Quetzal (ou a Guimarães...?) irá em breve reeditar Sena tal como está a fazer com Vergílio Ferreira.

«Porque os portugueses são de um individualismo mórbido e infantil de meninos que nunca se libertaram do peso da mãezinha; e por isso disfarçam a sua insegurança adulta com a máscara da paixão cega, da obediência partidária não menos cega, ou do cinismo mais oportunista, quando se vêem confrontados, como é o caso desde Abril de 1974, com a experiência da liberdade. Isto não sucedeu só agora, é não é senão repetição de outros momentos da nossa história sempre repartida entre o anseio de uma liberdade que ultrapassa os limites da liberdade possível (ou sejam as liberdades dos outros, tão respeitáveis como a de cada um) e o desejo de ter-se um pai transcendente que nos livre de tomar decisões ou de assumir responsabilidades, seja ele um homem, um partido, ou D. Sebastião.(...) Deixem-me todavia recordar-vos que o grande aproveitacionismo de Camões para oportunismos de politicagem moderna não foi iniciado pela reacção. Esta, na verdade, e desde sempre, mesmo quando brandindo Camões, sentia que as mãos lhe ardiam. Aqueles oportunismos foram iniciados com o liberalismo romântico e com o positivismo republicano. E se o Estado Novo tentou apoderar-se de Camões, devemos reconhecer que ele era o herdeiro do nacionalismo político e burguês, inventado e desenvolvido por aquele liberalismo e aquele positivismo naquelas confusões ideológicas que os caracterizavam e de que Camões não tem culpa (...). Ele é o homem em si, aquele ser que se busca continuamente e ao amor que o projecta para dentro e para fora de si mesmo, e é, como Luís de Camões, o predestinado para ser, ao mesmo tempo, o poeta-herói supremo que realiza, isto é, torna real para a eternidade da poesia, a história de Portugal, e a embarca nos navios de Vasco da Gama para unir o Ocidente ao Oriente. Ao mesmo tempo, este poeta-herói-épico, e o poeta-homem, exemplo de ser-se português, em exílios e trabalhos, em sofrer incompreensões e injustiças , e - ao contrário do que sucede ou sucedeu a alguns - regressar com as mãos vazias, apenas rico de desilusões, de amarguras e do génio que havia posto numa das mais prodigiosas construções jamais criadas, desde que o mundo é mundo (...). Tudo existe na sua obra: o orgulho e a indignação, a tristeza e a alegria prodigiosa, a amargura e o gosto de brincar, e desejo de ser-se um puro espírito de tudo isento e a sensualidade mais desbragada, uma fé inteiramente pessoal, pensada e meditada como ele a queria e não como uma instituição , e a dúvida do presdestinado que se sente todavia só e abandonado a si mesmo. Leiam-no e amem-no: na sua epopeia, nas suas líricas, no seu teatro tão importante, nas suas cartas tão descaradamente divertidas. E lendo-o e amando-o (poucos homens neste mundo tanto reclamaram amor em todos os níveis, e compreensão em todas as profundidades) - todos vós aprendereis a conhecer quem sois aqui e no largo mundo, agora e sempre, e com os olhos postos na claridade deslumbrante da liberdade e da justiça. Ignorar ou renegar Camões não é só renegar o Portugal a que pertencemos, tal como ele foi, gostemos ou não da história dele. É renegarmos a nossa mesma humanidade na mais alta e pura expressão que ela alguma vez assumiu. E esquecermos que Portugal como Camões, é a vida pelo mundo em pedaços repartida.»

20.6.09

O PREÇO DE NÃO RECUAR


Com aquela beatitude ignorante e a costumeira hipocrisia de circunstância, o regime prepara a transladação do corpo de Jorge de Sena para Portugal. Esta semana, em nome de uma coisa que não existe chamada ministério da cultura, Pinto Ribeiro e o sr. Couto, da Biblioteca Nacional, assinaram umas papeletas que resumiram a entrega do "espólio" do escritor, poeta, engenheiro (de verdade) e ensaísta à dita instituição, tudo devidamente acompanhado pela exposição da praxe. Sena já tinha sido maltratado pelo "fascismo". E o regime do "25 de Abril" a que, para felicidade dele, pouco mais sobreviveu não fez melhor. A "academia" - a mesma e os seus nefastos "herdeiros" que agora derramam lágrimas de crocodilo - nunca suportaram o homem. Um engenheiro não podia, por acaso ou exemplo, ser um grande camonista. Como em tudo neste país, tudo tem donos. E os donos não abdicam das suas pequeninas trelas, das suas capelinhas, dos seus cortesãos. Sena voltou a Portugal para o "10 de Junho" de 1977, a convite de Eanes, e fez o melhor discurso até hoje proferido nessas tétricas comemorações. Desfez-nos, como lhe competia, e deu-nos um Camões humano e sofrido como só um emigrante altivo e solitário como ele nos podia ter fornecido. Não admira, pois, que Sena seja o poeta deste versos,

Esta é a ditosa pátria minha amada. Não.

Nem minha amada, porque é só madrasta.
Nem pátria minha, porque eu não mereço
a pouca sorte de nascido nela.

Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta
quanto esse arroto de passadas glórias.
Amigos meus mais caros tenho nela,
saudosamente nela, mas amigos são
por serem meus amigos, e mais nada

e o escritor desta prosa:

«[A vida] só é monstruosa, não porque algo o seja em si, e sim porque o repouso egoísta, a ignorância, a falsa inocência, são sempre feitas de um crescente juro de monstruosidade. Nenhum realismo o será, se recuar aflito, mas porque, aflito, não recua.»